2015/03/17

Os Desigrejados e a Igreja

Os Desigrejados e a Igreja





A dissidência dos Evangélicos na igreja brasileira é fato notório e verdadeiro. Pesquisas recentes relatam um número assustador de crentes que preferem manter-se distantes da igreja-instituição. Este movimento crescente tem gerado preocupação por parte de pastores, líderes e pensadores no meio cristão. O anseio e preocupação por parte destes,  dar-se pelo fato de entender a igreja de nosso Senhor Jesus Cristo não como um templo ou espaço onde as pessoas se reúnem, nem tão pouco um sistema ou organização governamental-institucional pois isto reduz a igreja de Cristo a uma invenção humana e não divina, mas refletimos sobre a questão por entendê-la a partir de sua verdadeira natureza. Ou seja, compreender a igreja como um ajuntamento de pessoas seguidores de Jesus Cristo, um organismo que tem vida gerada por Deus e os que fazem parte dela desejam imitá-lo em sua maneira de viver.  

Alan Corrêia em seu Livro "Dissidentes da Igreja" comenta sobre uma  recente pesquisa quanto esta presente realidade:

"Este movimento não é uma especulação e nem mesmo previsão de uma estatística. Ele é fato em nosso país, sua evidência aparece nos órgãos de pesquisa mais fidedignos como o IBGE, que aponta que os evangélicos "independentes" cresceram mais de cinco vezes em uma década: Era menos de 1,7 milhões em 2000 e passaram para 9,2 milhões em 2010. Em proporção foi um salto de 1% da população brasileira para 4,8%, um crescimento assustador para o curto período. Essa porcentagem representa 4 milhões de cristãos que, em muitos casos, resolvem manter uma distância segura da igreja organizada." (CORRÊIA P.13). 

Pergunto, qual a razão de tantos desigrejados? O que tem levado milhões de pessoas a criarem um abismo entre eles e as igrejas organizadas?


Dentre as diversas razões, podemos citar algumas: 

Uma das razões é o sentimento de profunda decepção. Muitos são atraídos pela Graça de Deus para arrepender-se, crer em Jesus e fazer parte do corpo de Cristo que é a igreja. Contudo, o que é oferecido pelo sistema religioso é algo bem distante da realidade da Cruz, do amor sacrificial de Cristo, do amor ao próximo e dos valores do Reino de Deus. O que é outorgado em muitas das denominações não é o Evangelho de Cristo, mas um produto de consumo para satisfazer aos anseios de uma clientela consumidora em massa.  

A pregação das boas novas do Reino é reduzida a uma proposta de barganha, onde a bênção é o produto que está em alta no mercado religioso. A proposta de uma vida próspera, livre de sofrimento com garantia de prosperidade financeira, resulta em decepção por parte de muitos dos adeptos. Quando não há uma resposta positiva que atenda as expectativa dos desavisados, a maioria tornam-se dissidentes.

O sentimento de decepção é resultado da espera de uma realidade não existente e que está fundamentada em uma mentira do diabo. Deus não disse em sua palavra que nossa espiritualidade seria medida pela quantidade de bens acumulados que podemos ter, nem que ser espiritual é sinônimo de ausência de sofrimento. Não é bíblico uma esperança focada nos valores terrenos e, portanto podemos concludir que a decepção é precedida pela mentira. Esta é uma das fortes razões do crescimento de dissidentes na igreja brasileira. Estes perceberam a contradição entre esta "teologia" e sua realidade prática. 

Outra razão da dissidência é o sufocamento causado pelo tradicionalismo. Muitos estão afadigados pelo sistema religioso tradicionalista. Em nome da tradição denominacional muitos dos líderes exaltam a tradição em detrimento da missão entregue por Jesus à Igreja. Ideias e visões inovadoras são descartadas no sistema tradicional. Pensamentos contrários a "santa tradição" não são bem vindos resultando assim em uma igreja que prioriza escavar o passado em detrimento do avanço e progresso do Evangelho do Reino. 

Isto também gera dissidentes. Gente que pensa, que reflete, que não é induzido pelas massas e pelas frases prontas, são irmãos e irmãs que tem formação de opinião, são bem intencionados pois querem ver a igreja do Senhor Jesus realizando a missão. Neste caso, em sua maioria são a juventude cristã da igreja local, que tem energia, que querem ver mudanças, pois o tradicionalismo os sufoca. Lembrando que a igreja do Senhor Jesus deve expressar em sua maneira de vida uma comunhão em que todos participam independente das diferenças e visão.   

Esta pode ser uma das razões pelas quais encontramos igrejas minusculas, pois muitos já se foram, e os que chegam não demoram para partir por experimentar um ambiente onde não há nenhuma perceptiva de visualizar novos horizontes, de acolhimento alegre e de uma comunhão viva e vibrante.

O tradicionalismo certamente tem dado forte contribuição para o crescimento de desigrejados. O grande desafio para aqueles que decidiram trilhar neste perigoso caminho é arrepender-se e tomar uma nova postura ante a realidade presente, abrindo espaço para um diálogo promissor, para que a igreja de Jesus seja sal e luz para o mundo.  

Uma liderança dominadora também produz dissidentes. Não são poucos os "SEM IGREJA" que foram expulsos de suas denominações por não comungarem com um sistema dominador. Não lhes foram concebido o direito de discordar, foram banidos da igreja por não se submeterem a proposta dos ególatras que em seu desejo dominador, aceitaram a sugestão do diabo de que todas as coisas devem girar em torno deles. Irmãos e irmãs que saíram de suas igrejas debaixo de opressão, feridos, na esperança de serem acolhido em outro lugar que não seja uma igreja-instituição. 

Em alguns casos, esta sofrida experiência tem gerado doenças graves como depressão, medo e outras doenças mentais. 

A problemática dos dissidentes da igreja é uma questão complexa, e que desafia a todos nós. Ao mesmo tempo que os "sem igreja" tem boas razões para se afastar da igreja institucionalizada, é impossível viver e ser igreja sem estar junto, ressaltando que isto digo para os desigrejados solitários. 

Ser igreja implica também em viver perto do outro. Sofrer e se alegrar, oferecer ombro amigo e procurar consolo em momentos de aflição e dor. Como igreja que somos, também estamos sujeitos a decepcionar e sermos decepcionados, amar e não ser amado, perdoar e não receber perdão, dar e não receber. Esta é a dinâmica da igreja que caminha ao encontro da estatura da mediada de Cristo.    

Esta realidade é fato porque fazemos parte da igreja que ainda não chegou ao ápice de sua maturidade mas está em processo contínuo, é imperfeita porque a velha natureza ainda habita, estamos rodeados de pecadores,ainda que remidos, e, provavelmente esta seja a maior razão da dissidência gritante. Nossa própria ausência de maturidade. 

É na edificação mútua que a igreja poderá caminhar ao encontro da maturidade. Percebe-se que grande parte da dissidência da igreja está relacionada a uma postura imatura e deficiente de nossas lideranças. É preciso uma quebra de paradigmas, abertura para novos diálogos e uma visão renovada. Um olhar mais focada no Reino de Deus. 

Antes de sermos da igreja é preciso ser do Reino. Encarnar seus valores nos faz entender a igreja não apenas como uma instituição ou denominação, mas uma agente do Reino de Deus no mundo, a comunidade dos "do caminho", um grupo de seguidores de Jesus de Nazaré, a igreja viva que é sustentada por Aquele que deu seu sangue por ela. 

Logo, quem é do Reino está e é igreja, ambos estão profundamente ligados, pois é por meio da igreja que os sinais do Reino são manifestos. Amar, suportar uns aos outros e liberar perdão são veredas espinhosas, mas não há outra direção a tomar. O Reino está entre nós, dentro de nós,  e, portanto é sinalizado através de nós.

 Lutemos pela igreja ! 

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