2015/03/30

Retrato em preto e branco da Babilônia religiosa


Jardins Suspensos da Babilônia
Segundo notícias da mídia, começa hoje à noite uma nova novela na Rede Globo: Babilônia é o título. Mas não é sobre ela que eu quero escrever algumas poucas palavras. Minha mente se volta para a Babilônia religiosa, como prevista no Apocalipse, e viaja no tempo para trazer à memória a grandiosidade, a opulência e o luxo do Império Babilônico no auge de Nabucondonozor. Foi tamanho o seu orgulho que Deus o humilhou e o fez pastar entre os animais no campo até que reconhecesse a soberania do Altíssimo. Teve de deixar o trono para viver no pasto.

Esse é, também, o grande pecado da Babilônia religiosa contemporânea. Não me refiro aqui a uma instituição de per si, mas a um complexo religioso cristão, que junta sob o mesmo guarda-chuva distintas estruturas detentoras dessas características. Devo ser sincero e reconhecer que tal perfil já não é "privilégio" apenas de um grupo vistoso e midiático, mas se tornou tão eclético que inclui as mais diferentes tendências cristãs. Elas estão aí bem diante de nossos olhos. Não é difícil identificá-las.

Mas qual é, mesmo, o perfil da tal Babilônia religiosa?

Ele se caracteriza, em primeiro lugar - não necessariamente nessa ordem - pelo ecletismo de sua mensagem centralizada no homem em que se buscam quaisquer recursos, quaisquer fórmulas, para massagear o seu ego e colocá-lo no topo do mundo como "senhor da terra". A heterodoxia predomina nos sermões, na liturgia e em eventos nos quais tudo é organizado e conduzido para que ele ocupe o seu lugar no panteão das vaidades humanas. Não importa se o que diz não se submete ao crivo da Escritura e, sim, se agrada aos ouvidos de quem ouve. A Babilônia religiosa é eclética e também pagã, pois presta culto ao homem!

Outra característica predominante é o mercantilismo. A Babilônia religiosa mais se parece com um "mercado árabe" ou com um desses "camelódromos", onde se negocia de tudo e se barganham as coisas mais inimagináveis desde que se ouça o som da moeda caindo na caixa, ou melhor, o barulho das maquininhas de cartão de crédito ou débito, fazendo, em alguns casos, vultosas transferências. Não é nada tão distante da venda de indulgências e da prática de simonia dos tempos medievais. Lembro-me de que na época em que presidi um Conselho de Ordenação de Ministros, na Convenção Estadual a que pertencia, rejeitamos um candidato por não preencher os critérios bíblicos e convencionais. O pastor que o apresentou entrou em pânico. Tinha-lhe "vendido" a ordenação! Enquanto lá estive, a nossa posição foi mantida. Mas na Babilônia religiosa é daí para pior!

Não quero, com isso, contraditar a necessidade de recursos financeiros para a realização da obra de Deus. De maneira geral, nada é feito sem custos e contribuir é parte de nossa adoração. É o reconhecimento de que tudo o que temos lhe pertence. O próprio Cristo tinha um tesoureiro e o apoio de mulheres que lhe ofertavam de sua renda familiar. A Bíblia diz, ainda, que o obreiro é digno do seu salário e os que ministram em tempo integral devem receber duplicados honorários. O ponto, portanto, não é esse. É a mercantilização pura e simples. É transformar a fé em negócio lucrativo, é enriquecer-se em nome do Evangelho, é deixar de lado as "sandalhas da humildade" pelos opulentos sapatos do orgulho, é massacrar o povo, enquanto se esbalda em cofres abarrotados, assim como faz o Tio Patinhas.

É por isso que outra característica marcante da Babilônia religiosa é o luxo, a opulência, a grandiosidade (no sentido pior do termo), a suntuosidade e a altivez de tudo o que se faz e se constrói. Já não basta um templo simples e funcional! Já não bastam as catedrais! O referencial, doravante, é o Templo de Salomão! Não o de Jerusalém, mas o de São Paulo. Quem construir algo menor do que isso não é digno de assentar-se no trono! Não nos esqueçamos, também, da vida nababesca dos líderes da Babilônia religiosa. Mansões, iates, jatinhos e carros luxuosos são alguns dos itens que compõem a sua vida regalada. Para se ter uma ideia, segundo o site de notícias da CNN (veja aqui), o pastor Creflo Dollar, nos EUA, teria pedido há poucos dias que 300 mil pessoas, entre membros da igreja, mantenedores e parceiros, doassem 300 dólares cada um para a compra de um Jato Gulfstream G650 orçado em cerca de 65 milhões de dólares! Não tenho dúvida que esse não é o espírito do Novo Testamento!

Na Babilônia religiosa, os líderes sugam as ovelhas ao máximo, tirando-lhes o sangue, para satisfazer as suas paixões carnais. Esforçam-se para ficar o mais distante delas, até com forte aparato de segurança, pois não querem ter o trabalho de cuidar das que estão doentes, com o pé quebrado, enfraquecidas, desgarradas, desprotegidas, abandonadas, perdidas e quase mortas. Mas cevam-se sem pudor de suas lãs. São pastores de si mesmos e não do rebanho de Deus, como descreve o profeta Ezequiel acerca dos líderes do povo de Israel. Querem títulos e mais títulos, se possível até de "semideus". Estão inebriados pelo vinho da religiosidade fútil, prostituída, insana, que se oferece no banquete de sua egolatria.

Que mais poderia eu acrescentar? A lísta não termina aí. É longa e poderia incluir muitos outros tópicos. Mas a natureza do blog não permite textos mais densos. Assim, gostaria de concluir com a seguinte afirmação: se você quer servir a Deus numa comunidade de fé comprometida com os fundamentos bíblicos, que não esteja maculada por nenhuma das características aqui descritas, procure encontrar aquela que valorize a comunhão entre os irmãos, faz da Escritura o seu pão de cada dia, viva a simplicidade do Evangelho e cujo pastor se assenta no meio da relva com as ovelhas, não como senhor, mas como servo do Pastor do rebanho. Já aos que estão em sistemas identificados com a Babilônia religiosa, levem a sério a recomendação bíblica:

- Sai dela, povo meu, Apocalipse 18.4.

Geremias Couto

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