Tenho enorme predileção pelo profeta Jeremias. Não é porque meu pai me tenha emprestado o seu nome (com "G" por erro do escrivão), mas por perceber que o seu fecundo ministério é o inverso do que hoje se chama de sucesso no meio evangélico. Para começar, considerou-se incapaz para a tarefa e só seguiu adiante por ter sido "empurrado" para ela pelo próprio Deus.
Jeremias não via em si qualidades e nem ficou na fila para ser agraciado com um título que lhe abrisse as portas dos "palácios". Aliás, o cerne de sua pregação era a apostasia dos proprios governantes, disseminada também entre o povo. Ele não foi um profeta estadista, profissional, mas alguém que, desvencilhado do próprio sistema, foi a voz de Deus em uma nação conturbada e rebelde, onde a prostituição cultual predominava até no próprio templo em Jerusalém.
Nos dias de hoje mede-se o sucesso de um "profeta" pela sua capacidade de arrebatar auditórios, pelos aplausos que recebe como um "grande artista do evangelho", pelo número quase desumano de agendas que consegue cumprir e pelo triunfalismo de suas mensagens, onde pode até falar em desertos pontuais na vida de seus ouvintes, sem deixar de concluir, todavia, que o destino de cada um deles será a vida no "palácio", regada de todo o conforto do mundo consumista, para a frustração de seus inimigos. Tenho certeza que Jeremias não passaria no teste. Seria um fracassado para os padrões modernos.
Jeremias, ao invés de um palácio, enfrentou a prisão; ao invés dos holofotes da plataforma, foi parar no calabouço; ao invés dos aplausos humanos, recebeu o desprezo; ao invés de qualquer suporte, foi alvo da calúnia e difamação; ao invés de multidões ávidas para ouvi-lo, pregava na solidão. O profeta teve momentos de grande agonia, quase depressão, ao perceber que malhava em ferro frio e por não ver repercutir a sua mensagem. Morreu lá pelas bandas do Egito, não porque quisesse ir para lá, mas em razão de os remanescentes que ficaram em Jerusalém não lhe darem ouvidos, na hora do desterro, preferindo fugir naquela direção e levando-o como prisioneiro.
Mas aos olhos de Deus Jeremias foi um sucesso. Cumpriu com integridade a sua chamada. Considerado o profeta das lágrimas, prefiro denominá-lo de o profeta da esperança. Pregou o juízo, a destruição, a deportação para o exílio por causa dos pecados do povo, mas não deixou de proclamar, também, por ordem de Deus, a restauração, a cura das feridas, o retorno à terra. Chegou a comprar, com escritura lavrada, um pedaço de terra para mostrar que a terra outra vez floresceria. Mas ele não pôde contemplar esse novo tempo. VIveu apenas o período da destruição. O seu fim foi o ocaso... Aliás, minto, o seu fim foi a glória de se encontrar com Aquele a cujo chamado obedeceu e a quem serviu por toda a vida. Ele foi aplaudido no céu!
Que tipo de profetas o mundo de hoje precisa?
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