Ebionismo
O termo ebionitas deriva de uma palavra hebraica que significa "pobres" e designa uma seita de judeus cristãos ascéticos que sobreviveram à destruição de Jerusalém no ano 70, indo para o leste do rio Jordão. Sendo judaizantes, criam na salvação pela obediência à lei, rejeitavam os escritos de Paulo e davam ênfase às cartas de Tiago e Pedro. Para eles, Jesus era um profeta humano, o novo Moisés; era o filho de José que, ao ser batizado, foi adotado como Filho de Deus por causa de sua obediência à lei. Por serem poucos e estarem isolados, não subsistiram por muito tempo.
Gnosticismo
O gnosticismo foi uma filosofia religiosa altamente especulativa e sincrética que floresceu no século II, reunindo elementos mitológicos, helenísticos, cristãos e outros. Consistia acima de tudo numa doutrina de salvação. Na sua base estava um dualismo radical que colocava em oposição o mundo espiritual e o mundo material. O Deus supremo era o criador das realidades espirituais, incluindo a alma humana. Desse Deus procedia, por emanação, uma hierarquia de divindades inferiores, a última das quais, por vezes denominada no Pleroma (o mundo espiritual), as almas ficaram aprisionadas em corpos materiais. A salvação consiste na libertação do espírito imortal aprisionado na matéria, para que retorne ao seu mundo original divino. Para isso é necessário o conhecimento (em grego, gnosis), ou seja, a compreensão da situação humana. Esse conhecimento especial teria sido transmitido por Jesus a alguns de seus seguidores e agora era possuído somente pelos gnósticos, que o comunicavam aos seus iniciados (esoterismo).
O profundo desprezo pela matéria fez que os gnósticos representassem uma ameaça para várias convicções cristãs: a doutrina da criação e do governo divino sobre o mundo, o entendimento da salvação, a natureza da pessoa e obra de Cristo e a ressurreição do corpo. O gnosticismo não era um movimento homogêneo, mas muito diversificado. Havia várias escolas gnósticas, como a de Cerinto, na Ásia Menor, e as de Carpocrates, Basílides e Valentino, em Alexandria. Esse último foi para Roma, sendo excluído da igreja por volta de 155. Ensinou que o Cristo divino desceu sobre o homem Jesus em seu batismo e o abandonou antes da sua paixão. Sua missão foi trazer a gnosis, para que por ela os espíritos humanos pudessem retornar ao Pleroma de onde vieram.
Docetismo
O docetismo foi uma antiga manifestação de tendências gnósticas em certos setores do cristianismo primitivo. Em virtude do seu desprezo pela matéria, os docetistas negavam que Cristo tivesse um corpo real, dizendo que ele possuía apenas uma aparência de corpo. Daí o termo "docetismo", do verbo grego dokéo, "parecer". Esse ensino, que questionava a encarnação e a morte de Cristo na cruz, é claramente combatido tanto na literatura joanino do Novo Testamento (cf. 1Jo 4:2s; 2Jo 7) quanto nas cartas de Inácio de Antioquia.
Marcionismo
O marcionismo derivou seu nome de Marcião, também conhecido como Márcion, filho de um bispo de Sinope, na província do Ponto, no norte da Ásia Menor. Por volta do ano 144, ele chegou a Roma e passou a divulgar idéias, sendo expulso da igreja.
Influenciado por conceitos dualistas e gnósticos, Marcião estabeleceu um contraste radical entre o Antigo e o Novo Testamento: o primeiro representa o reino deste mundo e a lei (retribuição); o segundo representa o reino celestial e o evangelho (graça). Para ele, Jeová o criador do mundo material, é um ser imperfeito e vingativo; o Deus verdadeiro - o Pai de Jesus - é amoroso e perdoador. Portanto, cristãos nada têm a ver com o Antigo Testamento e sua divindade. O Deus verdadeiro perdoa a todos e assim toda a humanidade será salva. A salvação é do espírito, não do corpo.
Marcião foi o primeiro a elaborar um cânon do Novo Testamento. Para ele, as Escrituras cristãs deviam incluir somente o evangelho de Lucas e as cartas do apóstolo Paulo às igrejas, sem as pastorais. Os marcionitas formaram uma igreja, que subsistiu por alguns séculos.
Montanismo
Denominado "Nova Profecia" por seus adeptos, o movimento visava preparar o caminho para a iminente volta de Cristo e o milênio. A Igreja devia ter uma vida moral rigorosa e sofrer martírio. Por entenderem que eram dirigidos diretamente pelo Espírito, os montanistas se inclinavam a desprezar a Igreja institucional, atraindo a oposição dos seus líderes. Sob pressão intensa, o movimento sobreviveu no norte da África até o século V e na Frígia até o VI.
Monarquianismo
O monarquianismo não foi propriamente um movimento ou grupo organizado, mas um entendimento sobre a doutrina cristã de Deus. Os monarquianos eram fortes defensores da unidade do Ser Divino (monarquia ou monoteísmo) e queriam evitar que a noção de Deus como Pai, Filho e Espírito Santo resultasse em triteísmo (três deuses). Nesse esforço, eles acabaram adotando duas posições: alguns negaram a divindade de Cristo, afirmando que só o Pai é Deus; outros afirmaram a divindade de Cristo e do Espírito, mas negaram que havia distinções pessoais no ser de Deus.
A primeira posição é conhecida como "monarquianismo dinâmico" ou adocionismo: o homem Jesus foi adorado por Deus como filho e recebeu o poder divino (dynamis). Foi essa a posição dos ebionitas e de Paulo de Samosata, bispo de Antioquia (c. 260), para quem o Verbo era apenas a razão, o poder ou a sabedoria de Deus que habitou no homem Jesus desde a sua concepção.
A segunda posição, denominada "monarquianismo modalista", afirmava que Deus é uma só essência e uma só pessoa, com três "modos" ou manifestações sucessivas - Pai Filho e Espírito Santo. Esse ensino também é conhecido como "sabelianismo", por ter sido defendido no início do século III por um certo Sabélio. Uma variante conhecida como "patripassianismo", abraçada por indivíduos como Práxeas e Noeto, afirmava que o Pai sofreu e morreu na cruz.
Com o passar do tempo, a Igreja acabou condenando como antibíblicas essas posições.
Fonte: Alderi Souza de Matos, Fundamentos de Teologia Histórica, Mundo Cristão, 2008, pp 38 - 41.
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