2015/04/14

A OVELHA PERDIDA



“Lc 15”
 Introdução.
Se a situação do mundo é fatal em função da crise que o assola, devemos perceber também que há uma crise na ordem espiritual. Essa crise desencadeou-se porque muitos homens se auferiram a patente de “Pastor”. Essa patente foi dada pelo Senhor para que houvesse uma edificação espiritual e eclesiástica para crescimento e fortalecimento do ministério. Um ministério oferecido pelo Senhor chamado de “dons”, como diz as Sagradas Escrituras: “Subiu aos céus e deu dons aos homens”... Com tanta calamidade acontecendo simultaneamente nos quatro cantos da terra, é natural que haja uma contrafação no meio evangélico porque, somente, desta maneira será percebido a presença do verdadeiro pastor. Não o pastor ausente ou apenas visto através da mídia!... Mas, o pastor presente que assiste, na ordem pessoal, o rebanho ao qual foi conferido para manutenção física e espiritual.

Comercializando Com a Lã e a Gordura da Ovelha.
Os “Pastores” da atualidade além de engomados, não exalam mais o cheiro de aprisco que é próprio de quem está em meio às ovelhas. Hoje, eles espiram o fedor da carnalidade, que se prestam pelo ato de comercializar com a lã e a gordura do rebanho. São “Pastores” que pastoreiam a si próprios com o fim único de estarem envolvidos com tal prática comercial, apresentando-se como quem está disposto a dar sua vida pela vida de alguém... Na verdade, muitos estão “granjeando amigos com as riquezas da injustiça, para que, quando estas lhes faltarem, sejam recebidos nos tabernáculos eternos. Quem é fiel no mínimo também é fiel no muito; quem é injusto no mínimo também é injusto no muito” (Lc 16.9,10). A situação circunstancial, destes dias hodiernos, revela que a apostasia é crescente por causa dos falsos pastores que despojam as ovelhas de Jesus Cristo.

Lobos em Pele de Cordeiro.
São verdadeiros “lobos em pele de cordeiro” (Mt 7.15) que entram sorrateiramente no aprisco do Senhor e as roubam, arrancando-lhes a fé e a confiança. Minam as expectativas espirituais deixando uma seqüela profunda... Estas ovelhas são as que estão desgarradas do rebanho, feridas e moribundas entre as montanhas da iniqüidade e os vales da pecaminosidade. Além disso, existem outras ovelhas que não são deste aprisco, mas que convém arrebanhá-las para que Jesus as possa curar restaurar e salvar-lhes da vida pregressa desde então. É fácil falar de rebanho, de ovelhas, das melhores e maiores igrejas... Mas, será que elas representam o verdadeiro conceito de pastor, inseridas no contexto da “Parábola do Bom Pastor”? O que podemos observar, diante da preposição factual do ensino, é totalmente contrário aos desmandos da atualidade eclesiástica... O que vemos é a concorrência frenética por um “ranking” mercadológico estabelecido à custa da gordura e da lã das humildes ovelhas.

Predadores Espirituais.
As disputas, por maiores e melhores apriscos (igrejas), têm levado muitos homens a investirem no conforto físico, em detrimento do espiritual. Como conseqüência deste empreendimento, válido até certo ponto, quando não oferece riscos para as ovelhas, é a preocupação extremada na intenção de perpetuar uma história que já foi contada através dos séculos. Uma história que, sempre, coloca por terra toda a intenção exclusivista e antropológica da humanidade. Esta humanidade é conceituada como ovelhas que não têm pastor e ficam à mercê dos lobos devoradores, que devoram sem qualquer sentimento de piedade. São presas fáceis levadas pelo engodo do maligno, que conta com uma matilha feroz de verdadeiros predadores espirituais. A ovelha perdida está a um passo de ser devorada e morta. Muitas ovelhas foram estraçalhadas pelos caninos enfurecidos de quem, sempre, está ávido por gordura e lã das humildes ovelhas remidas pelo “Pastor Celestial”. Portanto, observe constantemente a “Parábola do Bom Pastor”, e compare com a situação atual evangélica.

Um Caminho Solitário.
Os “líderes” religiosos determinaram que, qualquer pessoa que confessasse ser Jesus o Messias, fosse excomungada, expulsos da sinagoga o aprisco deles (Jo 9.22). O cego, curado por Jesus, insistiu na sua lealdade ao Senhor, então,“expulsaram-no” (Jo 9.34). Havia vários graus de excomunhão; a forma mais severa, chamada “querem”, fazia com que o excomungado fosse contado como, virtualmente, morto: “Não tinha licença de estudar com outras pessoas, e ninguém devia lhe oferecer convívio; nem sequer indicar-lhe a direção a seguir quando viajava”. Embora fosse permitido comprar mantimentos para sobrevivência, proibia-se que outras pessoas comessem ou bebessem com ele. O cego curado fizera a escolha certa. Embora tenha sentido pesar pela rejeição dos “líderes religiosos”, repudiado pelos que o viram passar pela rua e sem o direito a convivência com homens bons, o que o ajudaria em sua vida.

Falsos Dominadores.
O Mestre não o deixou desamparado. Quando os falsos pastores o colocaram fora do aprisco deles, Jesus o Bom Pastor, procurou-o para abrigá-lo no seu. Fechou-se a porta da sinagoga; abriu-se a porta do reino dos céus. É em face de tal situação que Jesus declara: “Eu sou a porta das ovelhas... Eu sou o Bom Pastor”. O próprio Messias, o Pastor de Israel, ofereceu acesso à segurança e ao gozo espiritual, cancelando a sentença injusta dos falsos dominadores do rebanho, que nenhuma autoridade tinha para admitir ou demitir pessoas na vida espiritual e na verdadeira comunhão. Jesus é a suprema autoridade em assuntos espirituais, e quem nele crê está livre da tirania de falsos líderes religiosos. Jesus, então, aplica a si duas expressões tipificadas: “Ele é a porta e o Pastor das ovelhas”.

A Porta das Ovelhas.
Jesus sempre usava ilustrações do dia-a-dia para que o povo pudesse entender. À noite, as ovelhas são levadas para o aprisco, um abrigo com altos muros e portão bem protegido com ferrolhos, onde descansavam sob a vigilância de um porteiro. De manhã, cada pastor chega, e, é admitido pelo porteiro mediante sinal combinado; então, cada um, chama suas ovelhas. As ovelhas seguem-no ao reconhecer sua voz; não reconhecem a voz do estranho, e o próprio porteiro não admitiria um estranho. Deste modo, qualquer falso pastor, querendo furtar as ovelhas, teria de pular o muro. As indicações das características da liderança espiritual são: há meios corretos e incorretos de se obter acesso às pessoas e assumir autoridade sobre elas. Há o caminho certo, divino, para entrar no ministério cristão, e há o caminho errado e humano. Qualquer que quiser ministrar às almas tem que passar por Cristo, a Porta, recebendo vocação e ser enviado, comovido pelo espírito de compaixão. Somente através de Cristo que pastores assistentes têm acesso ao rebanho. Paulo deu frutos porque entrou pela Porta, mediante a chamada de Jesus. Já, os filhos de Ceva “tentaram invocar o nome de Jesus” sem serem servos de Cristo, fracassaram (At 19.13-16).

Privilégios e Direitos.
Jesus chama de ladrão e salteador o falso pastor que entra no ministério por motivos egoístas – não para fazer o bem às ovelhas, e sim tirar vantagens delas, visando os próprios propósitos (Mt 7.15; At 20.29,30). Muitos queriam assumir a condição de pastor diante do rebanho de Deus sem a vocação espiritual. Insistiam nos privilégios e direitos, pensando que as tradições que representavam eram os mandamentos de Deus, e afligiam as almas famintas e angustiadas com interpretações próprias da Palavra de Deus e demonstravam, no geral, não ter acesso aos corações humanos. As palavras de Jesus se referem aos líderes religiosos dos seus dias, que excomungaram o pobre cego pela corajosa lealdade àquele que lhe abrira os olhos. Mas, suas advertências devem ser aplicadas aos eclesiásticos tirânicos de todos os tempos e lugares. Ninguém pode cuidar do próximo como verdadeiro pastor se não possuir simpatia (amor) por ele.

Ciúmes.
“Todos quantos vieram antes de mim são ladrões e salteadores; mas as ovelhas não os ouviram” (Jo 10.8). As palavras não são contra os profetas ou homens de Deus que vieram antes do Senhor. Ele se refere aos falsos profetas e falsos messias que exigiam direitos pertencentes somente a Cristo. Refere-se, também, a líderes religiosos sedentos pelo poder, que alegavam ter domínio sobre as almas que só a Cristo pertencia. Há a alusão aos sacerdotes e fariseus dos seus dias, que usurpavam o direito de expulsar do aprisco os que reconheciam Jesus como o Cristo. Foi por causa da paixão e santo zelo pelas almas? Não. Foi por ciúmes da autoridade e prestígio (cf. Mt 23.1-33; Jo 11.47-53; 12.10,11). Quem representa a figura do “porteiro”? O Espírito Santo, supervisionando a obra de vocacionar homens para o ministério cristão (Jo 16.14; At 20.28; 13.2).

A Porta da Salvação.
“Eu sou a porta; se alguém entrar por mim, salvar-se-á, e entrará, e sairá, e achará pastagens” (Jo 14.6). O cego deve ter pensado: “Graças a Deus! Os anciãos da sinagoga nenhum dano pode fazer; não podem admitir ou excluir ninguém do Reino de Deus. Porém esta pessoa, compassiva, semelhante a Deus, tão poderoso – Ele é a porta”. Deste modo, podemos desfrutar de três bênçãos que alcançamos ao passar pela Porta e pela viva comunhão com Cristo:
1º.    Segurança. “Salvar-se-á”. No contexto da vida terrena, significa segurança; cura; proteção por e em Cristo, até que a comunhão, além da morte, se revele pela salvação eterna. Pela contínua proteção, “o Senhor me livrará de toda a má obra, e guardar-me-á para o seu Reino celestial” (2 Tm 4.18).
2º.    Liberdade. “Entrar e sair” são frases usadas para expressar o livre uso da moradia por parte daquele que habita seu lar. O cristão em comunhão com Deus, recebendo a salvação, não “entra e sai” com respeito ao relacionamento; mas, como filho de Deus, desfrutando da comunhão com Deus em família.
3º.    Sustento. “Achará pastagens”. Em Cristo temos as coisas que a alma precisa para o crescimento espiritual. “Pastagens”podem ser aplicadas aos “meios da graça” – a oração, a Palavra, a comunhão com irmãos nos cultos...

O Pastor das Ovelhas.
Este relacionamento das almas com Cristo se compara ao da ovelha com o pastor. Esta ilustração é normal nas Escrituras (Sl 23; 80.1; Is 40.11; Ez 34; Mq 5.4; Zc 13.7; Hb 13.20; 1 Pe 2.25). Tal ilustração diz muitas coisas ao coração, especialmente quando levamos em conta as semelhanças entre ovelhas e homens. Os homens tendem a seguir um líder; facilmente se extraviam (espiritualmente); precisam de proteção; de sustento. O que o Pastor faz pelas ovelhas? Observe o seguinte:
1º.    Conduz. “E, quando tira para fora as suas ovelhas, vai adiante delas, e as ovelhas o seguem, porque conhecem a sua voz” (Jo 10.4). Davi disse: “Guia-me mansamente a águas tranqüilas... guia-me pelas veredas da justiça por amor de seu nome” (Sl 23.2,3). Ele guia e conduz mediante o seu exemplo. Esta é a mais sublime forma de liderança (Jo 13.15; 1 Pe 2.21; 1 Jo 2.6). Diferente dos falsos pastores que buscam popularidade, ele conduz as ovelhas, vai adiante delas e não as segue. O falso pastor dá o que querem; o verdadeiro dá-lhes o que necessitam. Arão era um verdadeiro sacerdote; mas, caiu no erro ao seguir a vontade do povo (Êx 32.1-5). Não impele, porque uma das características do Messias é: ternura e mansidão (Is 40.11; cf. 1 Pe 5.2).
2º.    Conhece. “As ovelhas ouvem a sua voz, e chama pelos nomes às suas ovelhas... e as ovelhas o seguem, porque conhecem a sua voz. Mas de modo nenhum seguirão o estranho, antes fugirão dele, porque não conhecem a voz dos estranhos” (Jo 10.3, 4,5). Disse Davi: “O Senhor é o meu pastor”. As almas sequiosas reconhecem seu Pastor (I Pd 2.25). Ele nos conhece pelo nome (Is 43.1; 45,3; 49.1; Ap 3.5; 2.17). O Pastor Divino conhece os nomes dos milhões de ovelhas, bem como cada aspecto da personalidade. Vários homens, na Bíblia, usufruíram de íntima experiência, ao serem chamados pelo nome para conversar com o Senhor: Abraão; Moisés, Saulo de Tarso; Ananias (At 9) e Pedro; Maria (Jo 20) e Samuel, entre outras. As ovelhas o conhecem e o seguem.
3º.    Dá vida às ovelhas. “O ladrão não vem senão a roubar, a matar e a destruir; eu vim para que tenham vida, e atenham em abundância”. O senhor tem em mente o falso pastor, o ladrão das almas – o homem que, sem amor pela causa, se estabelece como líder baseado no próprio egoísmo. O homem que não deseja que as ovelhas tenham acesso ao Reino dos Céus (Mt 23.13). O “ladrão” representa Satanás, inimigo das almas, que quer tirar a paz e alegria e dar o golpe mortal na vida espiritual. Em contraste com os falsos pastores, Jesus declara: “Eu vim para que tenham via, e a tenham em abundância”.Jesus oferece a plenitude da vida. O melhor exemplo para estas palavras é o Salmo 23, do Bom Pastor. Os cristãos não são vocacionados para viver uma vida de fraqueza e incapacidade; e, sim para ter vida abundante, vida vitoriosa. Muitas pessoas apenas existem, mas Cristo quer que elas vivam.
4º.    Morre pelas ovelhas. “Eu sou o bom Pastor; o bom Pastor dá a vida pelas ovelhas”. Jesus se destaca do mercenário (Jo 10.12), que pensa que o pastorado é profissão como a do porqueiro, vinhateiro, pedreiro, advogado, médico ou negociante. O “mercenário” não se preocupa com as ovelhas; procura apenas salário. Sua disposição não é dar de si às ovelhas; mas, o que pode arrancar delas. Naturalmente, foge diante do perigo, porque o motivo dominante no trabalho não é a autopreservação. Em contraste, o verdadeiro pastor procura para as ovelhas uma vida abundante. Jesus considera a humanidade necessitada como seu rebanho (Mt 9.36), fazendo por ela o maior sacrifício. Não somente morreu por ela (raça humana), mas também ressuscitou para dar-lhes vida (Hb 13.20) – voltou ao Céu com intenção de levá-las consigo. Removeu a morte, para transformá-la em soporífico para um despertar saudável, de modo que seus seguidores possam dizer como Davi: “Ainda que eu andasse pelo vale da sombra da morte, não temeria mal algum, porque tu estás comigo”.

Conclusão.
O profissionalismo religioso surge quando o pastor usa a posição e pessoas como trampolim para autopromoção, realização profissional em posição e salário. Transforma-se em “mercenário” que vive à custa das pessoas e não em prol delas. Não entra no ministério pela porta que é Cristo – força caminhos por meios humanos. O cristão é dominado pelos únicos motivos aceitáveis – amor a Cristo e paixão pelas almas.


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