2015/04/20

DEVEMOS VIVER BASEADOS NO QUE SABEMOS E NÃO NO QUE SENTIMOS

“Portanto, irmãos, exorto-vos pelas compaixões de Deus que apresenteis o vosso corpo como sacrifício vivo, santo e agradável a Deus, que é o vosso culto racional. E não vos amoldeis ao esquema deste mundo, mas sede transformados pela renovação da vossa mente, para que experimenteis qual seja a boa, agradável e perfeita vontade de Deus” (Romanos 12:1,2).
Certa vez um pastor foi convidado para pregar num grande congresso de jovens de uma importante Denominação. Depois do “louvorzão” que deixou os jovens bem animados, o pastor perguntou: “Quantos aqui estão sentindo a presença de Deus?” A galera respondeu energicamente com os mais diversos tipos de gritos. Ao que o pastor dissera depois que os gritos silenciaram: “Engraçado, eu não estou sentindo a presença de Deus”. E foi aquele constrangimento... Ele completou seu pensamento dizendo o seguinte: “A presença de Deus independe dos vossos sentimentos. Ela existe independentemente daquilo que sentimos”.
Atualmente nas igrejas muitas pessoas afirmam que um culto foi excelente por causa daquilo que elas sentiram no culto. “O culto hoje foi uma bênção”, normalmente esta afirmação está ligada a algo que a pessoa sentiu. Quando os sentimentos não são sacudidos ou massageados, o culto não é lá essas coisas.
Na mente da geração atual, a presença de Deus está vinculada àquilo que elas sentem no ambiente religioso. Em outras palavras, o julgamento que se faz de uma reunião abençoada está diretamente ligada aos sentimentos. Será que é assim mesmo? As coisas deveriam caminhar por aí? É isso que as Escrituras nos ensinam?
Alguém já disse, acertadamente, que nós somos a “geração sensação”. Por isso que se multiplicam expressões do tipo: “Eu sinto que você não gosta de mim”. “Eu não sinto que Deus me ama”. “Eu não sinto que Deus me perdoou”. “Eu não me sinto filho de Deus”.
Grande parte de nossas decisões e de nossas atitudes são baseadas naquilo que sentimos. “Desculpe, mas eu não consigo controlar os meus sentimentos! É mais forte do que eu”. “Eu estou com uma sensação esquisita”, não tem motivo pra isso, mas a pessoa acha que tem. “Eu sinto que isso não vai dar certo”, muitas vezes esse “sentir” é fruto de preconceito.
É por isso que somos seduzidos o tempo todo em nossas emoções e sentimentos. Por que trocar de carro quando o nosso possui os itens de conforto e segurança funcionando perfeitamente? Porque alguém colocou na nossa cabeça que no carro novo nós vamos nos sentir melhor. Por que é que a depressão e o vazio acabam quando entramos na porta do Shopping Center?
A nossa sociedade é guiada muito mais pela emoção do que pela razão. E aí é muito natural que as igrejas venham a utilizar ferramentas emocionais o tempo inteiro. As liturgias são direcionadas muito mais à emoção do que à razão. O culto abençoado é aquele onde os sentimentos estão positivamente em ebulição. As músicas apelem muito mais aos sentimentos do que ao entendimento. Por isso que as composições atuais são extremamente pobres e não existe mais poesia nas músicas que entoamos. O que existe é um refrão repetido o tempo inteiro, pois isto satisfaz as emoções, não a razão. “São sempre variações do mesmo tema, meras repetições”. (João Alexandre)
As pessoas querem sentir, não querem pensar. Existem alguns fenômenos que comprovam esta tese. Já reparou que existem pessoas que quando acaba o chamado “período de louvor” elas saem do templo? Já observou que o tempo utilizado para o louvor é muito superior ao utilizado na pregação? Já constatou que é fácil ficar horas assistindo um filme, um jogo de futebol, na internet, mas incomoda muito quando o pastor passa dos trinta minutos na pregação? As pessoas querem sentir, não querem pensar!
Nesta “geração sensação” pessoas e igrejas racionais e pouco emocionais, não possuem grande valor. Muita gente ao buscar uma igreja no domingo, procura aquela que tenha a liturgia do Roberto Carlos: “Se chorei ou se sorri, o importante é que emoções eu vivi”.
Este estilo de vida influencia a maneira como nos relacionamos com a igreja, com o próximo e com Deus. Esta é uma das razões pelas quais ao sermos feridos em nossos sentimentos, faltamos aos cultos, chegamos tarde e saímos cedo, damos um tempo... Quando o culto não mexeu com nossos sentimentos, dizemos que o louvor foi frio e a mensagem foi apática. Em quase todas as áreas da nossa vida somos guiados pelos sentimentos e não por aquilo que sabemos e conhecemos.
Neste contexto é de grande relevância a palavra do apóstolo Paulo aos crentes de Roma. “Rogo-vos, pois, irmãos, pelas misericórdias de Deus, que apresenteis o vosso corpo por sacrifício vivo, santo e agradável a Deus, que é o vosso culto racional.E não vos conformeis com este mundo, mas transformai-vos pela renovação dos vossas mentes, para que experimenteis a boa, agradável e perfeita vontade de Deus”.
É interessante observar que as Escrituras apelam muito mais à nossa razão do que à nossa emoção. Existem vários exemplos bíblicos que nos mostram a verdade de que não é certo viver com base naquilo que sentimos, mas naquilo que sabemos. Eu sei em quem tenho crido!” (II Tm. 1:12) “Eu sei que o meu redentor vive e por fim se levantará sobre a terra” (Jó 19:25) Sabemos que todas as coisas cooperam para o bem daqueles que amam a Deus” (Rm.8:28)Sabendo que não foi mediante coisas corruptíveis, como prata ou ouro, que fostes resgatados do vosso fútil procedimento que vossos pais vos legaram, mas pelo precioso sangue, de cordeiro sem mácula, o sangue de Cristo”.(I Pe. 1:18,19Sabemos que o Filho de Deus é vindo e nos tem dado entendimento para reconhecermos o verdadeiro”. (I Jo. 5:20) “Iluminados os olhos do vosso entendimento, para saberdes qual é a esperança do seu chamamento”. (Ef. 1:18)“Amados, agora já somos filhos de Deus, mas ainda não se manifestou o que havemos de ser, mas sabemos  que quando ele se manifestar seremos semelhantes a ele, pois o veremos como ele é”.(I Jo.3:2)
E os exemplos continuam... Apanhe uma concordância bíblica e você ficará impressionado com a quantidade de versos que falam da necessidade de pautarmos o nosso comportamento naquilo que sabemos.
Apanhe os escritos de Paulo, ele está o tempo todo dizendo: “Eu sei que sou filho de Deus”. “Eu sei que Deus me ama.” “Eu sei que Deus me perdoou”. “Eu sei que o Espírito de Deus está sobre mim”. “Eu sei que posso vencer a luta contra o mal”. Indiretamente ele está dizendo o seguinte: “Cuidado quando você baseia a sua vida naquilo que você sente. O melhor caminho é basear a sua vida naquilo que você sabe”.
Este texto de Romanos 12 é mais um exemplo de como o apóstolo apela à nossa razão. “Transformai-vos pela renovação da vossa mente”. Segundo Paulo é necessário usar o entendimento, o conhecimento, a reflexão, a análise, a ponderação. É preciso estudar, ler, aprender, refletir, questionar, duvidar, arguir... “crer é também pensar” já dizia John Stott.
Fé não é suicídio intelectual. O autor de Hebreus diz que “pela fé entendemos” (Hb.11:3) Ou seja, não aceitamos as coisas cegamente. Ser cristão não é "apenas ter fé". É ordem bíblica conhecermos o conteúdo da nossa fé e saber porque este conteúdo é verdadeiro, darmos respostas àqueles que questionam a nossa fé (I Pe. 3:15) e destruirmos os argumentos levantados contra a fé cristã (II Cor. 10:4,5)
Usar a razão é parte do maior de todos os mandamentos: "Ame o Senhor de todo o seu coração, de toda a sua alma e de todo o seu entendimento". (Mt. 22:37) Escrevendo a Timóteo, o apóstolo Paulo o exortou, dizendo: Pondera o que acabo de dizer, porque o Senhor te dará compreensão em todas as coisas”. (II Tm. 2:7)
A nossa relação com Deus, com o seu Reino e com os nossos irmãos na fé deve se basear muito mais naquilo que sabemos do que naquilo que sentimos. Você sabe que é correto perdoar, mas você não sente vontade. Você sabe que é certo andar a segunda milha, mas você não está inclinado a isso. Você sabe que deve demonstrar compaixão, mas os seus sentimentos não permitem. Você sabe que não deve fazer fofoca, mas seu impulso carnal, movido por um sentimento de vingança é mais forte. Você sabe que não deve comer aquele Petit Gatou, mas o olho... é grande. Não se deixe guiar pelos seus sentimentos e instintos.
Se você me perguntar: “David, você sempre sente a presença de Deus nos cultos em que participa?” Eu vou lhe dizer o seguinte: “Raramente”. Ou se você perguntar: “Quando você está orando, você sente que Deus está lhe ouvindo?” Na verdade, eu não me preocupo muito com isso. Digo isto, porque eu sei que Deus está me ouvindo! E se você ainda perguntar: “Você sente que Deus te ama?”. Eu não preciso sentir isso. Eu sei que Deus me ama!
Na verdade, sentir a presença de Deus é para mim uma experiência muito rara. Ser tomado por aquela sensação de que Deus está presente não acontece muitas vezes. Eu tenho certeza de que quando você perceber que a presença de Deus envolveu tudo ao seu redor, você não ficará pensando nos seus compromissos da semana,  não ficará olhando no relógio pra ver se o culto está acabando, não vai levantar para beber água ou ir ao banheiro enquanto a Palavra está sendo exposta, não vai ficar conversando, não vai ficar disperso, não vai ficar passando mensagem, não vai usar o celular ou o i-pad no momento da pregação.
Na Bíblia, todas as vezes que as pessoas sentiam a presença de Deus, acontecia pelo menos três coisas.  Primeiro, um profundo senso de temor, quase um pânico. A primeira coisa que estas pessoas ouviam de Deus era: “não temas, não tenha medo”. Segundo, uma vergonha enorme, uma sensação de inadequação inenarrável por causa do pecado. Algo parecido com o que sentiu Pedro: “Afasta-te de mim que sou pecador” (Lc.5:8), Isaías: “Ai de mim, pois os meus olhos viram a glória de Deus” (Is. 6:5) e Manoá: “Eu vou morrer, pois acabo de me encontrar com Deus” (Jz. 13). E por fim, a terceira reação que as pessoas tinham ao ter consciência da presença de Deus era um amor profundo pelo Senhor. Era algo tão extraordinário que chegaríamos a dizer: “Eu ficaria aqui para sempre”. Foi o que Pedro, Tiago e João desejaram fazer no Monte da Transfiguração. Essa é a ideia do salmista quando diz que: “Na presença de Deus há plenitude de alegria e delícias perpetuamente”.
Portanto, se você me perguntar: “Você tem este profundo senso de temor, quase um pânico?” Raramente. “Você sente esta vergonha, possui este senso de inadequação?” Não muito, mas com uma frequência maior do que a sensação de pânico. “Você sente vontade de nunca mais sair do lugar de culto onde está?” Dificilmente. Mas deixe eu lhe dizer uma coisa, eu não preciso sentir estas coisas para saber que Deus se faz presente. Eu sei, por causa de várias promessas das Escrituras, que Deus está guiando a minha vida.
Existe alguma coisa mais oscilante, e por isso mesmo, desconfiável, do que os nossos sentimentos? Por que é que ouvimos as pessoas dizerem que não devemos tomar decisões no calor do momento? Por que é que grandes amigos brigam num jogo de futebol? Por que existem discussões ásperas em contextos onde os sentimentos “estão à flor da pele”?
O escritor Don Miller certa vez afirmou o seguinte: “O sentimento é algo muito subjetivo, muito transitório, muito interior, muito fugaz, muito ligado a fatores fisiológicos para ser um guia digno de confiança para fé. Confiar em nossos sentimentos é colocar a nossa fé à mercê do nosso fígado, de nossas glândulas endócrinas, da qualidade de nosso sono em qualquer noite, do estado da nossa digestão ou dos problemas do nosso trabalho. O sentimento deve estar sempre sujeito à autoridade da obra salvadora de Deus em Jesus Cristo como declarado na Bíblia.
Certa vez uma mãe que acabara de perder seu filho num acidente de carro, perguntou a um pastor: “Como Deus pôde permitir uma coisa dessas? Onde Ele estava quando permitiu que uma tragédia como essa acontecesse?” O pastor não disse muita coisa, até porque nessas horas não há muito o que se falar, contudo, ele disse o seguinte: “Minha irmã eu não sei lhe dizer muita coisa sobre isso. Mas sei que não devemos nos relacionar com Deus naquilo que sentimos, mas naquilo que sabemos”. Quando os grandes problemas da vida baterem à nossa porta é o que sabemos sobre Deus e não o que sentimos no momento que irá nos sustentar.
Inácio de Loyola, fundador da ordem dos jesuítas, notou que grande parte dos seus discípulos no mosteiro passava por períodos de intensa tristeza. Este sentimento era produzido, principalmente, pelo sentimento de inutilidade. Muitos destes jesuítas questionavam sinceramente a fé que um dia afirmaram possuir. Diante daquele cenário de angústia, Loyola afirmou o seguinte: “Em momentos de desolação e tristeza nunca faça mudanças, mas permaneça firme e constante nas resoluções e determinações que foram tomadas no dia anterior ao desânimo ou em um período anterior de consolo”. O que ele estava dizendo é que nós não podemos confiar em nossos sentimentos. Nossas atitudes e decisões não podem ser pautadas nos sentimentos que possuímos, mas naquilo que aprendemos e sabemos ser o correto a ser feito.
Lutero certa vez disse o seguinte: “Eu sei que não sou tudo o que devo ser, eu sei que não sou o que serei, mas pela graça de Deus eu sei que já não sou mais o que eu era”.
Pautar a nossa vida pelos nossos sentimentos é algo muito perigoso. E quando isto acontece em nossa relação com Deus, aí é mais perigoso ainda.
SOLI DEO GLÓRIA!

Romanos 11:36

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