2015/04/17

Coreografia na Igreja - A Dança da Ignorância!





Estive pregando em um congresso para jovens presbiterianos, e fiquei decepcionado ao ver que, o culto desses jovens nada tinha a ver com o presbiterianismo histórico, nem com o sistema calvinista de adoração. Não sei quem é o culpado por tantos descaminhos dentro de nossas igrejas; o que sei é que o culto presbiteriano está aleijado em muitas igrejas; precisa de muletas para andar. O princípio que subjaz esta enfermidade é o fato dos líderes acharem que só a Palavra de Deus e os sacramentos já não podem mais ter tanta graça, e para isso insistem em trazer algo com mais engraçado. O que pude observar naquele congresso não posso chamar de culto. Não tive impressão de que as pessoas ali estivessem com suas mentes voltadas para Deus. Palco com muitas luzes pondo seus holofotes em moças maquiadas, brilhando à luz dos reflexos de sapatilhas prateadas, com vestidos multicoloridos, contorcendo seus corpos como serpentes, e até, sensualmente mostrando o contorno de seus corpos, dançando e sinalizando com os membros superiores e inferiores, gestos obscuros que ninguém entendia o que queriam dizer com aqueles movimentos. 





O meio mais direto, perfeito e objetivo de nos comunicarmos com Deus é por meio da palavra inteligível. Os movimentos corporais podem representar simbolismos nas muitas religiões pagãs e de mistérios pelo mundo afora; mas só o culto revelado a Israel (Rm 9:4) contém os verdadeiros elementos que agradam a Deus. Nada há no culto de Israel que lembre o culto pagão das nações vizinhas, que era recheado de danças folclóricas. O louvor de Israel sempre foi por meio de palavras inteligíveis, e não por expressões corporais. Além disso, teria que haver uma codificação dos movimentos, para que a igreja pudesse ler e decodificar o significado de cada movimento, o que é impossível, pois como é uma dança ao som de músicas, as letras das músicas confundiriam as letras expressas pela linguagem corporal. Ainda assim, a expressão corporal seria inviável para o culto porque o corpo é mudo e seus movimentos limitados, tendo-se que repetir as mesmas coisas significadas, e caindo no erro das vãs repetições. 








O culto foi uma das dádivas pactuais dadas ao povo de Israel, e sobre o qual a nova aliança é inspirada. Não há nenhum registro do culto no Antigo Testamento que danças fizeram parte do culto israelita no templo. O culto de Israel era santíssimo, e jamais seria profanado por elementos de cultos pagãos. Os povos vizinhos de Israel adoravam o sol, as estrelas, gatos, serpentes, jacarés, deusas, e deuses, dançando religiosamente para eles. Esse culto dançante era originado da própria vontade humana, mas o culto do Deus de Israel tinha origem divina, e foi revelado pelo próprio Deus ao seu povo, (Rm 9:4); em nenhum lugar da revelação Deus requereu danças; elas eram exatamente o elemento mudo das religiões pagãs daqueles tempos. O mesmo pode-se entender no Novo Testamento. Nenhuma evidência há para uma tradição pagã entre os crentes da igreja primitiva. 















Ao olharmos para o Salmo 150:4 (“Louvai ao Senhor com adulfes e danças”), o termo hebraico mahol “dança”, é um termo usado como símbolo de alegria após uma vitória. Normalmente uma mahol era acompanhada de adufes (tof); por isso o salmista usa o conjunto “adulfes e danças”. A expressão hebraica do Salmo 150:4 é exatamente a mesma encontrada em referência à dança de Miriam em Êxodo 15:20, em sua forma verbal (“tocaram adulfes e dançaram”). Algo muito importante que muitos deixam de esclarecer é que a dança de Miriam nada tem a ver com o moderna coreografia praticada nas igrejas. Vejamos as diferenças: 1) A dança de Miriam foi resultado de uma alegria de vitória do povo de Israel sobre os egípcios; 2) Foi acompanhada por um instrumental próprio; 3) Constituiu parte do ato de louvor a Deus pela vitória, que compunha-se de repertório, som, e dança. Daí podemos concluir: a) que Miriam não coreografou apenas gestos mudos; b) Que é errado referir-se a Miriam apenas à sua dança, pois ela tocou, cantou, e dançou; c) Que a parte mais importante do seu ato não foi a dança, e sim a letra da música que ela proferiu; d) Que o que louvou a Deus não foi o movimento do seu corpo, e sim as palavras que proferiu para engrandecer e bendizer a Deus; e) Que a dança de Miriam não foi uma parte integrante do louvor, e sim o resultado da alegria que sentiu, sendo apenas uma manifestação contingente. 



Grande parte do erro da coreografia deve-se à visão errada que as pessoas têm dos Salmos. A maioria acha que os salmos são mandamentos; e quando lêem o Salmo 150:4, acham que o salmista está ordenando ao povo de Deus a dança como louvor. Os salmos são poemas musicais compostos pelos israelitas da antiguidade para serem usados como hinos na adoração. Ao invés de dançarem por causa da expressão do salmo, eles apenas cantavam o salmo; não há nenhum indício de que os israelitas dançassem no templo. Na verdade, o Salmo 150:4 não foi dado para imitar Miriam, mas para cantar a vitória redentiva que ela celebrou. Portanto, o Salmo 150:4 não é para ser dançado, e sim cantado. Bater tambores e movimentar o corpo nada diz acerca das grandezas de Deus; portanto, não é à dança ao que o salmista está se referindo, e sim ao que foi dito por Miriam quando dançou. 





Antigamente, antes das missões protestantes alcançarem as Américas, a roupa comum dos crentes era, naturalmente, o paletó. O pregador usava paletó porque era a roupa de todos os homens presentes na igreja; não havia destaque do pregador pela roupa ou qualquer outro utensílio. Hoje as igrejas buscam destacar cada vez mais o pregador da multidão. Contrariamente aos reformadores do passado, o Catolicismo procurou enaltecer infinitamente seu clérigo, pondo sobre ele roupas, cores, e objetos, que o tornam o centro da missa. O papa católico, com seus grandiosos palácios e fortunas, com tantos aparatos, ouro, e finíssimas roupas sobre si, nunca poderia ser o representante de Cristo na terra; Cristo morreu nu, desprezado, sem riqueza, e abandonado numa cruz. Por este motivo, o verdadeiro culto cristão é aquele que melhor representa a humildade do nosso Senhor. Implementar o culto com tantas paramentas é voltar à ostentação do culto católico romano, culto abominável a Deus. 






O culto cristão é um momento onde todos os crentes devem estar quebrantados de espírito, arrependidos de seu mal, perdoado o próximo, e na mais total dependência de Deus. O sentimento de igualdade e dependência mútua como partes de um corpo deve permear o ambiente sagrado, fazendo de todos um único organismo. Quando o culto é recheado de destaques, privilégios, participações “especiais”, apresentações e representações individuais, (cores, movimentos, sons, personalidades centralizadas no palco, concorrências, etc.) elementos chamativos da atenção da congregação para um único indivíduo ou grupo, perde-se então, a verdadeira natureza de culto a Deus; a adoração é transformada em relações psico-sociais e antropológicas. Personagens se tornam o foco das atenções, as mentes são desviadas de Cristo, e o interesse aumentado em direção aos talentos, cores, sons, gestos e aplausos. 







A palavra “sacrifício” da expressão “sacrifício de louvor”, representa a adoração a Deus no Antigo Testamento. O autor está citando a mesma idéia contida em Oséias 14:2 (“sacrifícios de nossos lábios) para afirmar a verdade comparativa com o Antigo Testamento: enquanto a adoração da Antiga Aliança era por meio de sacrifícios de animais, a adoração da Nova Aliança é por meio de um outro tipo de sacrifício,“o sacrifício que procede dos lábios”. O autor desta epístola é unânime com a doutrina apostólica, quando fundamenta toda a adoração do Novo Testamento sobre o louvor dos lábios dos crentes. Indiscutivelmente, quando alguém tem dúvida sobre a adoração do Novo Testamento, podemos dizer-lhe que aquilo que era para o antigo culto de Israel, é hoje o louvor dos lábios dos crentes. Esse é o modelo neotestamentário de adoração da Nova Aliança, não havendo nenhuma outra forma de adorar a Deus, além de nossos lábios. 





Como já vimos anteriormente, a prática da coreografia na igreja é uma prática mundana que entrou no culto dos mais desinformados. A liderança que compartilha de tais “expressões de louvor” desconhece a história do Calvinismo, ignora os símbolos de fé reformados, não tem raciocínio teologicamente preciso, e nunca aprenderam teologia reformada. Cansam-se de dizer que são reformados, quando na verdade só acreditam, com reservas, no sistema de governo e na doutrina da predestinação. Se olharmos para o presbiterianismo histórico, veremos que os antigos líderes eram homens mais conscientes da doutrina reformada, e detinham certa cultura teológica; essa é razão porque nunca encontramos coreografia na igreja quando recuamos um pouco na história. A maioria da liderança perdida com coreografia representa um pessoal que nada lê ou estuda; ignora a teologia, as letras, e o conhecimento. Assim, perecem no paganismo de sua própria ignorância. 

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