Introdução
Por favor, abram suas Bíblias em João 14 e deixem abertas. Leremos conforme avançarmos na exposição. Vamos ter uma palavra de oração.
Senhor, abra nossos olhos para que possamos ver as maravilhas da tua Lei. Ajuda-nos a entender tudo o que tens ensinado nessa passagem. Aplica o ensino aos nossos corações. Traz conforto aos que estão aqui hoje com corações com problemas e ajuda-nos a entender como essa esperança de ir para a casa do Pai pode ter impacto em nossas vidas hoje. Em nome de Jesus. Amém.
João 14:1-14. Jesus disse estas palavras quando estava com os discípulos no cenáculo, na noite que foi traído, como bem sabem. Mais cedo, ele entrara em Jerusalém como o tão esperado rei dos judeus, montado em um burrinho, para a festa da Páscoa. Isso está no capítulo 12:12-19. Alguns gregos vieram vê-lo durante a festa. Jesus agora sabia que chegara a hora dele sofrer e morrer pelo seu povo, ambos judeus e gentios. Ao mesmo tempo, os judeus, abaixo dos fariseus, escribas e do sumo sacerdote, aumentaram sua oposição a Jesus, recusando-se a acreditar nele como o Messias, o Filho de Deus, apesar dos vários sinais que ele havia feito.
Jesus, então, volta sua atenção para os discípulos, aqueles que creram e o seguiram. Ele os traz para o cenáculo, onde começa a prepará-los para sua paixão e sua partida para o Pai. Ele os limpa, lavando os pés deles; significando, claro, sua purificação espiritual pelo sangue dele: 13:1-20. Ele separa o traidor do meio deles. Judas se vai, depois de Satanás ter entrado nele: 13:21-30.
Então, Jesus começa a dar instruções a seus discípulos sobre o que estaria para acontecer e as coisas que estavam por vir. E ele começa dizendo que está prestes a partir do meio deles e iria para onde não poderiam segui-lo. Apesar disso só vir a acontecer depois. Ele dá um novo mandamento: Amar uns aos outros. Então Pedro fica bastante perturbado por causa das palavras de Jesus, que ele iria embora. E fica ainda mais quando Jesus diz que Pedro o negaria, não menos que três vezes aquela noite: 13:36-38.
Tudo isso monta o palco para o conhecido discurso de Jesus sobre a casa do Pai e o caminho até lá: capítulo 14:1-14. O propósito prático naquela noite era acalmar a ansiedade dos discípulos. Penso que a passagem pode ser dividida em cinco partes, se vocês me seguirem. Primeira parte, Jesus diz para não se preocuparem. Isso é apenas o verso 1. Segunda, ele dá três razões para isso (versos 2 e 3). Há muitas moradas na casa do Pai. Ele está indo lá para preparar um local para eles. E ele voltaria para buscá-los e estar com eles para sempre. Agora, a terceira divisão: ele ensina o caminho para a casa do Pai. Isso está do verso 4 ao 6. Quarta, ele diz que eles podem alegrar-se com o Pai aqui e agora, antes de irem para a casa do Pai pela fé nele, Jesus (versos 7-11). E finalmente, além de conhecer o Pai, aqui e agora, eles seriam capazes de continuar o ministério de Jesus pela fé nele (versos 12-14). Então vamos tentar desempacotar cada uma dessas partes para vocês agora.
1) Jesus diz para não se preocuparem
Número 1: Jesus diz para não se preocuparem. Vamos ler o verso 1: “Não se turbe o vosso coração; credes em Deus, crede também em mim.” Mesmo Jesus estando perturbado, assim como lemos no capítulo 12, verso 27, ele continuava preocupado em consolar seus amigos perturbados. E isso mostra o coração do nosso Salvador. Mesmo no meio de suas provações, ele foi atencioso e cuidou dos que eram seus.
A razão para Jesus dizer “Não se turbe vosso coração”, ele disse isso porque eles estavam tristes e perplexos com duas coisas que Jesus acabara de dizer nos versículos anteriores.
Primeiro, ele os deixaria e iria para um lugar onde não poderiam encontrá-lo. Jesus estava se referindo a sua morte iminente. Eles ainda não tinham entendido isso, mesmo assim estavam tristes com a ideia que Jesus iria deixá-los e eles não seriam capazes de achá-lo. Eles não estavam somente tristes, mas confusos e perplexos. Como a sua partida se encaixava com a expectativa de que ele era aquele que traria o tão esperado Reino de Deus?
A segunda razão pela qual estavam preocupados era a afirmação que Pedro o negaria não menos que três vezes. Não é difícil de imaginar a agitação nos seus corações, a vergonha, o medo.
É por isso que Jesus diz primeiro: “Não se turbe o vosso coração”; e, daí, ele coloca numa forma positiva: “Credes em Deus, crede também em mim” (verso 1). Vocês sabem que há várias formas de traduzir esses verbos. Não posso entrar na discussão aqui. Eu assumirei a posição que se encaixa melhor no contexto: isto é, que os dois verbos estão no imperativo. Credes em Deus, credes em mim.
O significado do que Jesus está dizendo aqui, aparenta ser este: “Crer nele”, quero dizer, “crer em Deus e nele, Jesus Cristo” preveniria os discípulos de estarem preocupados com a expectativa da partida iminente de Jesus e a negação de Pedro. Deveriam crer nele, assim como creem no Pai, porque Jesus e o Pai são um. Isso quer dizer que, como Deus, Jesus nunca os deixaria sozinhos para sempre, nem abandonaria Pedro após sua queda. Então, esse é o mandamento que ele dá para eles.
2) Razões para não se preocuparem
Número 2: as razões que Jesus dá para eles não ficarem preocupados. Então iremos para os versos 2 e 3. Ire ler: “Na casa de meu Pai há muitos quartos se não fosse assim, eu vo-lo teria dito: Vou preparar-vos lugar? E se eu for, e vos preparar lugar, virei outra vez, e vos levarei para mim mesmo, para que onde eu estiver estejais vós também.”
Há aqui basicamente 3 razões para os discípulos terem paz em meio à perplexidade. Primeira: Há muitos quartos na casa do seu Pai. Isso é o que Jesus diz no verso 2: “Na casa de meu Pai há muitas moradas”. Segunda, ele iria lá para preparar um local para eles. No verso 2, ele diz: “vou preparar-vos lugar”. Então, número 3: ele voltaria para eles e estariam juntos com ele para sempre. Isso está no verso 3: “virei outra vez, e vos levarei para mim mesmo, para que onde eu estiver estejais vós também.”
Agora vamos olhar para a primeira razão: por que eles não deveriam se preocupar. A razão é: “Na casa do meu Pai há muitas moradas.” Nesta passagem, são estes dois pontos que precisam de uma explicação: primeiro, o que é a casa do Pai e, segundo, qual é o significado das muitas moradas.
Acredito que a melhor interpretação para os dois pontos e a passagem seja esta: Jesus está dizendo que depois da sua morte e ressurreição, ele irá para o Paraíso. O local onde o Pai está, o local da sua habitação. Jesus chama de casa do Pai, não somente para confortar os discípulos com uma metáfora aconchegante, mas talvez em contraste com o templo de Jerusalém, a casa terrena de Deus, da qual os discípulos seriam logo expulsos.
As muitas moradas na casa do Pai, simplesmente significa que há lá espaço suficiente para eles e para todos aqueles que vissem depois. Por exemplo, aqueles gregos que queriam ver Jesus, e todos os outros gentios e judeus que creriam depois; e até mesmo nós.
A segunda razão, para eles não deixarem seus corações se preocuparem é que Jesus diz que vai preparar um local para eles. E no verso 2, “vou preparar-vos lugar”. E o começo do verso 3, “E, quando eu for e vos preparar lugar”. E obviamente o ponto aqui é: qual é essa preparação?
Não devemos imaginar que o Senhor Jesus Cristo está de certa forma construindo casas e mansões para nós no céu. Ele não está nem sequer melhorando ou reparando o que estava pronto desde a fundação do mundo. Na verdade, ele diz no evangelho de Mateus, para aqueles que serão salvos: “Vinde, benditos de meu Pai! Entrai na posse do reino que vos está preparado desde a fundação do mundo.” E em Hebreus, ele diz, em referência ao descanso de Deus: Suas obras estavam terminadas desde a fundação do mundo.
Então, o que é essa preparação? Eu acredito que a morte e a ressurreição de Cristo seriam a preparação em si mesmas. Ele iria preparar morada para eles e para nós justamente por ir para lá através da sua morte e ressurreição. As moradas estão prontas, mas nós não estamos prontos para entrar. Jesus prepara um lugar para nós ao morrer na cruz por nossos pecados. Ele abre o caminho para a casa do Pai. E se não fosse assim. Ele teria dito.
Portanto, o que aparentava, a primeira vista, ser uma causa para agitação em seus corações era, na verdade, o oposto. Era motivo de alegria, esperança e conforto. Sua partida era necessária para nossa entrada na casa do Pai.
A terceira razão que Jesus lhes dá para não se preocuparem é esta: depois de ter preparado um quarto para eles, ele voltaria para recebê-los, e eles estariam com ele para sempre. Isso é o que ele diz no verso 3, que lerei novamente. “E se eu for, e vos preparar lugar, virei outra vez, e vos levarei para mim mesmo, para que onde eu estiver estejais vós também.”
Existem vários pontos neste texto que demandam atenção, em especial estes dois: Quando Jesus voltaria para levá-los? Segundo, o que ele quer dizer que eles ficariam juntos para sempre?
Vamos olhar para o primeiro: quando Jesus voltaria de acordo com o verso 3? Como sabem, têm-se dado diferentes interpretações para essa questão. Alguns diriam que Jesus voltaria depois da ressurreição. Outros, que ele viria pelo Espírito no dia de Pentecostes e já está conosco até o presente dia. Outros diriam que Jesus virá a nós quando morrermos, como veio até Estevão quando ele foi apedrejado pelos judeus. Outros dizem que Jesus está falando da segunda vinda. E outros dizem que essa declaração foi deixada em aberto intencionalmente para poder acomodar todas essas possibilidade.
Acho que a melhor interpretação é que Jesus está se referindo a sua segunda vinda. É claro que isso não exclui as outras vindas porque a ideia de Jesus vir aos seus discípulos ocorre várias vezes em João com todos esses sentidos. Mas a ideia da segunda vinda se encaixa melhor no contexto de: “Eu voltarei da casa do meu Pai, eu os levarei comigo e nós estaremos juntos para sempre.”
Em outras palavras, Jesus estava dizendo: “Não se turbe o vosso coração, eu morrerei, sim, mas eu viverei novamente, eu irei para o céu, e então eu voltarei pública e abertamente, diante dos olhos do mundo todo para levá-los para ficarem comigo para sempre. Eu acho que essa é a melhor explicação do texto.
Agora, isso levanta a questão e também é uma questão aqui, nessa parte. Onde exatamente eles estariam juntos para sempre depois da volta de Jesus? Conforme lemos no texto, fica claro que é da casa do Pai que Jesus voltaria e iria recebê-los. E é lá, seguindo o fluxo do texto, que eles estariam para sempre.
Note que Jesus diz: “Eu voltarei e os levarei para mim mesmo”. John Piper tem um sermão muito bom sobre isso, no qual ele demonstra que Jesus não está preocupado com um lugar, ele está preocupado com sua pessoa. Ele está vindo para buscá-los para si mesmo, para si mesmo. Então, no fim, o texto é sobre estar com Jesus.
No verso 2, fica claro que a casa do Pai é o céu, o local de habitação de Deus. Porém sabemos que o céu não é nosso destino final; não iremos continuar no céu para sempre; é um estado intermediário. Agora, no verso 3, Jesus parece expandir o significado da casa do Pai para incluir o novo reino o novo mundo que ele vai trazer na sua volta, no qual ele, então, permaneceria para sempre com o seu povo e o paraíso continuaria na terra.
A casa do Pai, colocando em outras palavras, parece ser o reino de Deus tanto o paraíso depois da morte quanto o novo céu e a nova terra onde estaremos com Jesus para sempre e o que junta esses dois estágios é que Jesus estará lá. A sua presença é a essência do Reino onde quer que consideremos.
O que John Piper e Don Carson disseram sobre profecias serem como ver duas ou três montanhas em uma, eu tenho que dizer que é a mesma coisa aqui. Quando Jesus fala da casa do Pai, ele tem em mente não só o céu para onde iria depois da sua morte e ressurreição e para onde vamos depois de morrermos, mas também o novo céu e a nova terra, que é, de certa forma, uma continuação do céu.
Então é dessa forma que Jesus conforta o coração dos discípulos apontado para o reino no qual entraremos depois de morrer e onde viveremos para sempre.
3) O Caminho para a casa do Pai
Vamos para a divisão número 3, quando Jesus explica para eles o caminho para a casa do Pai. Versos 4 a 7, que lerei agora. “E vós sabeis para onde vou, Disse-lhe Tomé: ‘Senhor, nós não sabemos para onde vais; como podemos saber o caminho?’ Disse-lhe Jesus: ‘Eu sou o caminho, e a verdade e a vida; ninguém vem ao Pai, senão por mim. Se vós me conhecêsseis a mim, também conheceríeis a meu Pai; e já desde agora o conheceis, e o tendes visto.'”
No começo, Jesus parece assumir que os discípulos sabiam do que estava falando, isto é, o caminho para onde ele estava indo; no verso 4: “Vós sabeis para onde vou”. É fácil entender porque Jesus disse isso. Jesus esteve lhes ensinando por três anos acerca do reino de Deus, sua unidade com o Pai e a necessidade de se crer nele para ter vida eterna. Naquele ponto, eles deveriam ter pelo menos uma pista do que Jesus dizia.
A reação de Tomé, entretanto, parece demonstrar que os discípulos não estavam bem certos sobre o que Jesus estava dizendo. Verso 5: Tomé, falando pelos outros, declara abertamente que eles não sabiam para onde Jesus iria e, portanto, não tinham ideia de como chegar lá.
Não devemos pensar que Jesus cometeu um erro em sua avaliação do nível de entendimento dos discípulos. Lembre-se que os discípulos são consistentemente retratados nesse evangelho como tardios em entendimento e frequentemente interpretam mal as palavras de Jesus.
O que Jesus provavelmente queria era provocar o que viria a seguir, quando então apresenta a si mesmo como o caminho para a casa do Pai. Verso 6: “Eu sou o caminho, e a verdade, e a vida; ninguém vem ao Pai senão por mim.” Não somente ele iriar à casa do Pai para preparar morada, mas ele próprio era o caminho para lá, o único caminho pelo qual os discípulos poderiam ir, para a casa do Pai.
E não somente isso, mas por ser o caminho, ele também é a verdade e a vida. A verdade porque ele era a perfeita revelação de Deus de como um mundo caído poderia se achegar a Deus; e a vida porque somente nele o mundo poderia encontrar vida, e vida eterna. Isso são duas coisas que ocorrem frequentemente no evangelho de João.
Esse também é o motivo dele ter dito que ninguém vem ao Pai senão por ele. Ele era o cordeiro de Deus que tiraria o pecado do mundo; ninguém mais fez a mesma coisa. Ele daria sua carne por comida e sangue por bebida pela vida do seu povo. Essa é a razão para ele ser o caminho, a verdade e a vida.
Se os discípulos tivessem realmente entendido quem Jesus era eles já saberiam que ele era o caminho para o Pai e para a casa do Pai, como ele diz no verso 7: “Se vós me conhecêsseis a mim, também conheceríeis a meu Pai”.
Existe uma repreensão aqui, mesmo que leve. Eles deveriam saber até aquele momento não somente que Jesus era o Messias, o Filho de Deus, mas que Jesus era a perfeita revelação de Deus; sim, ele era o próprio Deus. Ver Jesus, então, era o mesmo que ver Deus. Portanto, crer, conhecer e ver Jesus era realmente crer, conhecer e vir a Deus e à sua casa. Jesus é o caminho para lá. Ele é o caminho para o Pai.
4) Alegrando-se no pai aqui e agora
Agora, deixe-me passar para a quarta divisão. Jesus declara que eles, de fato, podem ver e conhecer o Pai no mundo atual antes de serem levados por Jesus para a casa do Pai e a si mesmo. Versos 8-11: “Disse-lhe Filipe: ‘Senhor, mostra-nos o Pai, o que nos basta’. Disse-lhe Jesus: ‘Estou há tanto tempo convosco, e não me tendes conhecido, Filipe? Quem me vê a mim vê o Pai; e como dizes tu: Mostra-nos o Pai? Não crês tu que eu estou no Pai, e que o Pai está em mim? As palavras que eu vos digo não as digo de mim mesmo, mas o Pai, que está em mim, é quem faz as obras. Crede-me que estou no Pai, e o Pai em mim; crede-me, ao menos, por causa das mesmas obras.'”
A sessão começa com um pedido de Filipe no verso 8: “mostra-nos o Pai, e isso nos basta”. Filipe parece estar pedindo um tipo de visão de Deus assim como Moisés pediu no passado no livro do Êxodo 33. Moisés disse a Deus: “Por favor, mostra-me tua glória”. Aparentemente, Filipe queria a mesma coisa. Para ele, se Deus simplesmente aparecesse, a questão estaria encerrada; não seria necessária nenhuma explicação a mais; tudo seria claro como água e isso seria suficiente para encararem os problemas, a vergonha e o medo que viriam “Mostra-me Deus. Eu quero uma visão de Deus.”
Seu pedido foi provocado provavelmente pelo que Jesus disse no verso 7 quando ele diz que vê-lo, ou melhor, quando ele diz que “desde agora o conheceis e o tendes visto”. Quando Jesus diz “desde agora”, ele provavelmente está se referindo após sua morte e ressurreição.
Filipe diz, quando Jesus afirma “vocês o verão”: “bem, é disso que falo; vamos lá e nos mostre o Pai e isso é suficiente”. Jesus responde, no verso 9, que o encontro com Deus que Filipe está pedindo já estava acontecendo por três anos. Verso 9: “estou há tanto tempo convosco, e não me tendes conhecido, Filipe? Quem me vê a mim vê o Pai; e como dizes tu: Mostra-nos o Pai?”
Como é possível que depois de todo aquele tempo Filipe e os outros ainda não tenham entendido que Jesus era Deus e que vê-lo era ver Deus. O tempo todo, Deus estava lá ao lado deles. Eles tocaram, falaram, comeram com Deus e andaram milhas e milhas ao lado dele.
Aparentemente, Filipe e os outros não tiveram falta de fé em Deus e Jesus; eles tiveram falta de compreensão da divindade de Deus e que ele era a imagem do Deus invisível, o resplendor da glória de Deus e a exata expressão do seu ser. Como Jesus disse na primeira parte do verso 10 e do verso 11, também.
Jesus, então, pede a eles, não somente a Filipe, acreditarem que ele está no Pai, e o Pai está nele por dois motivos: Primeiro: as palavras que ele falou, palavras que vieram do Pai; um argumento que ele usou antes com os judeus. E no verso 10, ele diz: “Estou no Pai e o Pai está em mim, as palavras que vos digo, não digo em minha autoridade, mas o Pai que habita em mim é quem faz as obras.” O que Jesus queria deles era que acreditassem nele por causa das palavras que ele falava, porque essas palavras vem do Pai.
Porém, não apenas palavras, Jesus queria que acreditassem por causa das obras. As obras de Deus feitas através dele, verso 11, quando ele diz: “Crede-me que estou no Pai, e o Pai, em mim; crede ao menos por causa das mesmas obras”.
Por obras, sem dúvida alguma, Jesus refere aos sinais e milagres. Existiam evidências suficientes que Deus estava nele, por exemplo: andar sobre as águas, multiplicar pães e peixes, transformar água em vinho, ressuscitar os mortos. É claro que a palavra obras pode incluir mais que os sinais, pode também significar os atos de amor, ministério e atitude de Jesus que somente podem ser explicadas se Deus estivesse nele.
Se eles acreditassem baseados naquelas palavras que Jesus estava em Deus e Deus nele, eles veriam o Pai, aqui e agora, mesmo antes de irem para sua casa. Que conforto para corações preocupados.
5) Continuando o ministério de Jesus
E agora minha última divisão. Última, porém não menos importante e surpreendente. Jesus diz que aqueles que acreditarem nele poderiam fazer as mesmas obras que ele fez e, de fato, obras ainda maiores.
Versos 12-14: “Na verdade, na verdade vos digo que aquele que crê em mim também fará as obras que eu faço, e as fará maiores do que estas, porque eu vou para meu Pai. E tudo quanto pedirdes em meu nome eu o farei, para que o Pai seja glorificado no Filho. Se pedirdes alguma coisa em meu nome, eu o farei.”
Vamos parar um pouco e lembrar qual é o objetivo principal desta passagem. Jesus está tentando acalmar a agitação no coração dos seus discípulos, ele disse que prepararia um lugar para eles na casa de seu Pai, onde há quartos suficientes para eles e outros. Ele disse que voltaria para levá-los e estar com eles para sempre. Disse também que poderiam conhecer e ver o Pai pela fé nele, Jesus, aqui e agora. E agora ele diz que pela fé nele, eles poderiam continuar seu ministério depois que ele fosse para o Pai. E que grande conforto, não é mesmo? De um coração preocupado no presente para um futuro confiante onde eles continuariam a obra do mestre.
Existem vários pontos a serem destacados nesta passagem fantástica, mas me manterei aos que parecem ser os dois principais.
Primeiro, qual são as obras que Jesus está falando? Verso 12. “Em verdade, em verdade vos digo que aquele que crê em mim fará também as obras que eu faço e outras maiores fará.” O que ele quer dizer com isso?
Como dissemos antes não há dúvidas que milagres e sinais estão em vista aqui. Não devemos tentar excluir esse sentido por causa de uma posição teológica, que não permite sinais de qualquer tipo nos dias de hoje; nem por causa da forma errada que essa passagem vem sendo usada por falsos mestres e profetas nos dias de hoje.
Ao mesmo tempo, devemos considerar que sinais são só uma parte do todo, a expressão “obras” é mais abrangente que “sinais” no evangelho de João. Obras também podem incluir, como mencionei antes, o que Jesus fez: pregar, ensinar, ministrar aos pobres e, claro, fazer milagres se for da vontade de Deus. E tudo isso, perceba, seria feito apenas pelos 12, mas por todos que crerem nele.
Segundo, em que sentido as obras daqueles que crerem nele seriam maiores? É claro que a interpretação mais conhecida e popular dessa passagem é que cristãos que tenham fé suficiente são capazes de fazer milagres maiores que Jesus fez. Essa é uma interpretação bastante difundida dessa passagem, pelo menos na América Latina e Brasil, onde as igrejas pentecostais e neopentecostais superam numericamente as reformadas e históricas. Mesmo que seja fácil lhes mostrar que ninguém está fazendo milagres hoje que sequer cheguem perto de andar sobre as águas, multiplicar pão e peixe e ressuscitar um homem que esteve morto por quatro dias, ainda assim, essa interpretação não decresce nesses círculos.
Eu acho que a chave para entender o que Jesus quis dizer pode ser achada primeiro na razão que ele deu ao seus discípulos e na promessa que ele fez tendo em vista essas palavras.
Primeiro, a razão que poderiam fazer as mesmas obras, e maiores, que ele fez, era que ele iria para o Pai. Verso 12: “Em verdade, em verdade vos digo que aquele que crê em mim fará também as obras que eu faço e outras maiores fará, porque eu vou para junto do Pai.” Sua ida ao Pai significa sua exaltação e inauguração da nova era marcada pelo derramamento do Espírito Santo. Porque em termos do cumprimento e da sequência histórica e redentiva os tempos seriam melhores depois da morte, ressurreição e exaltação de Jesus, as obras feitas pelos discípulos, após esses eventos, também seriam maiores, não necessariamente em número, extensão e poder, mas primariamente pelo caráter histórico da salvação.
Nas palavras de Don Carson, no seu comentário sobre João: “Os sinais teriam um sentido mais claro e alcançariam o sentido total. Tudo agora seria feito com vista na morte e ressurreição de Cristo”. É por isso que seriam maiores.
Agora a promessa que ele fez. Ele disse que responderia suas orações em seu nome, tudo o que pedissem para a glória do Pai. Verso 13: “E tudo quanto pedirdes em meu nome eu o farei, a fim de que o Pai seja glorificado no Filho. Se me pedirdes alguma coisa em meu nome, eu o farei.”
Devemos notar que essa promessa não é um cheque em branco para você preencher com tudo que quiser. Esta promessa foi dada no contexto da outra promessa de fazer as obras de Jesus. O que ele quer dizer aqui é que no processo de fazer essas obras, ele estaria pronto para responder nossas orações de ser como ele, de ter poder para fazer suas obras, de ministrar às pessoas, de anunciar o evangelho, de ter compaixão com o pobre.
Então você não deve tirar essa promessa e isolá-la do contexto. É uma promessa relacionada a outra sobre as obras maiores, significando um ministério no qual, claro, o supernatural pode ocorrer, mas é direcionado a abençoar outras pessoas pregando e ensinando.
Quando colocamos essas coisas juntas, o que temos é isso: Jesus continuaria a fazer sua obra depois de voltar ao Pai para ser glorificado e ele usaria os discípulos para continuar suas obras. O que ele fez depois da sua morte e ressurreição é considerado, naquela introdução do livro de Atos, como o começo de suas obras; com uma clara implicação que os atos dos apóstolos foram o que Jesus continuou a fazer através deles, depois da ressurreição. Ele mandaria o Espírito para vir sobre eles com poder para aquele propósito.
Então as obras dos seus discípulos seriam maiores, porque eles fariam em um tempo melhor, um período mais glorioso na nova era que teve seu alvorecer com a ressurreição do Senhor. É claro que eles eram capazes de alcançar o mundo enquanto o ministério de Jesus era local. Eles trouxeram um número maior de pessoas para o reino, como Pedro no dia de Pentecostes. Pedro pregou um sermão e 3000 pessoas foram salvas. Hoje nós pregamos 3000 sermões e uma pessoa é salva. Tem algo errado. Tem algo errado. E claro, eles fizeram sinais e maravilhas, e Deus pode fazer o mesmo hoje se desejar, mas a promessa está relacionada a continuação do ministério de Jesus.
Em outras palavras, eles experimentariam no mundo presente, pela fé em Jesus, os poderes do mundo porvir. Fazer as obras de Deus no presente seria um grande conforto e garantia que Jesus voltaria para ficarem com ele para sempre na casa do Pai.
Aplicações
Agora, permitam-me, no pouco tempo que me resta, analisar as implicações dessa passagem para alguns assuntos atuais e vou apenas mencioná-los, não tenho tempo para desenvolvê-los.
Qual é a implicação dessa passagem para os tempos difíceis que a igreja tem passado ao redor do mundo e em alguns países? E particularmente eu estou pensando em perseguições que estão vindo sobre nossos irmãos e irmãs em algum lugar do mundo.
Eu acho que não deveríamos nos envergonhar de confortar nossos corações e os corações daqueles em perseguição e muitas provações com a esperança que Jesus oferece aqui. Ele aponta para o futuro: “Não se turbe vosso coração”; então ele aponta para a casa do Pai.
Sei que alguns querem que nos sintamos mal ao dizer que religião é o ópio do povo Karl Marx tinha o cristianismo em mente e nossa esperança escatológica ao dizer isso. Dizem que apontar para o futuro como a esperança definitiva dos cristãos tende a fazer-nos esquecer do mundo presente e a sua necessidade. Eles dizem que se você tiver sua mente nas nuvens, você esquece que seus pés estão na terra.
Então, temos sido criticados, e algumas vezes com corretamente, porque colocamos nossa esperança no futuro, e então esquecemos que temos que fazer algo aqui e agora. Apesar do fato disso ser verdade em alguns lugares e tempos da história, não devemos nos envergonhar de dizer que, apesar disso, apesar desses erros, a esperança do cristão é a esperança abençoada do novo céu e da nova terra. Nossa esperança não está aqui, não é daqui que obteremos nosso conforto. Não há razão aqui poderosa o suficiente para acalmar a angústia do nosso coração. A esperança que nos é dada na Bíblia, é a esperança escatológica, é o reino do porvir de Deus, que começa no presente, mas vem em sua totalidade no futuro.
Qual é a implicação desse texto para o papel da igreja na reconstrução política e social, por exemplo? O texto nos mostra que a forma como os discípulos de Jesus impactaram o mundo é fazendo suas obras, e obras maiores, aqui e agora, e, como mencionamos, inclui atos de compaixão e amor por aqueles que sofrem porém mais certamente, como Jesus fez, chamar pecadores, grandes e pequenos, a se arrependerem de seus pecados e crerem em Jesus para ter a vida eterna.
Eu tenho dificuldade para entender como pecadores não arrependidos podem ser reconstruídos. Eu acredito na graça comum, mas nós sabemos que a graça comum não converte pecadores; o evangelho, sim.
Qual é o impacto desse texto a respeito dos dons do Espírito nos dias de hoje? Eu acredito que esse texto nos ensina a admitir que Deus pode operar milagres hoje, em resposta às orações do seu povo, mas também nos ensina que sinais não devem ser nossa principal preocupação de forma alguma. Filipe queria ter uma visão imediata de Deus, Jesus respondeu com a encarnação.
Como este texto impacta a pergunta se há salvação em outras religiões, se há salvação fora de Cristo, ou mesmo se todos serão salvos no final? Acho que a passagem nos dá uma resposta inequívoca para todas essas perguntas: Não! Não há salvação fora do conhecimento de Cristo e fé nele. E não. A casa do Pai é só para aqueles que acreditam. que Jesus é o filho de Deus nosso salvador. Algumas pessoas não acreditam, então elas não estarão lá.
E a respeito do debate escatológico atual? Acho que o texto nos ensina que a essência da nossa esperança escatológica é estar com Jesus para sempre. Não importa se é no milênio ou não. O ponto é: nossa esperança é a sua pessoa, é a sua presença. Isso deveria moderar o tom das nossas discussões sobre escatologia e temperar com amor a forma como discordamos uns dos outros.
E finalmente, qual é o impacto agora deste texto para você e para mim? Como você sabe que tem uma chave para um dos quartos na casa do Pai? Vocês estão aqui nesta noite. Quero perguntar a vocês: Como você sabe que tem uma chave lá?
Existe somente uma resposta de acordo com este texto. Eu vejo as obras que Jesus fez em mim? Jesus está hoje trabalhando através de mim e respondendo às minhas orações? Eu vejo em mim as obras do Espírito, como amor e compaixão pelos outros? Eu tenho um desejo de viver para sua glória como Jesus viveu? Essa é a única forma de nos assegurar, que sim, eu conheço o caminho, a verdade e a vida e dentre aqueles vários quartos na casa do Pai, a casa do Pai de Jesus, existe um para mim.
Que o Senhor os abençoe com essa palavra hoje a noite, e que você e eu estejamos prontos para fazer suas obras pela fé, lembrando-nos que ele é o caminho para a casa do Pai e essa é a nossa esperança aqui e para sempre. Amém. Vamos orar.
Senhor, por favor, aplica essa palavra a nossos corações. Encha nossos corações com a esperança de estar na casa do Pai e então para sempre, quando Jesus voltar para nos levar para estar com ele para sempre. Senhor, abençoa aqueles que estão em perseguição em algum lugar do mundo. São tantos. E mesmo que não sejamos tão perseguidos como eles mesmo em nossos países onde há liberdade de expressão e religião quando sofrermos, Senhor, lembra-nos que és somente tu que podes acalmar nosso coração angustiado. Que coloquemos nossa fé e esperança em ti, sabemos que não há conforto neste mundo para nossos corações angustiados. Senhor, ajuda-nos a estar disponíveis a ti pela fé para fazer as obras que quer que façamos. Trabalha através de nós grandes coisas; abençoa milhares e centenas de milhares de pessoas, Senhor, através da sua igreja, hoje, em vários lugares do mundo. E ensina-nos, Senhor, a andar de acordo com a tua vontade enquanto esperamos o retorno de Jesus para nos levar para estar com ele para sempre. No nome dele oramos. Amém.
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Pregado por Augustus Nicodemus Lopes na Conferência The Gospel
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Pregado por Augustus Nicodemus Lopes na Conferência The Gospel
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