Qualquer pastor, no sentido literal da palavra, incumbido de alimentar e conduzir um rebanho de ovelhas, seria tido como louco se achasse que lobos poderiam ser animais de estimação domesticados e trazidos para o curral. Suponhamos que ele, efetivamente, procurasse e tentasse fazer amizade com filhotes de lobos, presumindo que conseguiria ensiná-los a se relacionar com seu rebanho — insistindo contra todos os conselhos sábios de que sua experiência poderia dar certo, e, se desse, os lobos teriam a mansidão das ovelhas e as ovelhas aprenderiam coisas com os lobos também. Esse pastor seria mais do que inútil; ele mesmo representaria um grande perigo para o rebanho.
Quase tão ruim seria um pastor com visão míope. Ele nunca viu claramente um lobo com seus próprios olhos. Assim, acredita que a ameaça dos lobos é um grande exagero. Mesmo com suas ovelhas desaparecendo ou sendo dilaceradas por alguma coisa, ele se recusa a acreditar que são os lobos que estão fazendo mal ao seu rebanho. Afirma estar cansado de ouvir os outros com suas advertências estridentes contra os lobos. Começa a contar a história de “O menino que gritava lobo” para todos que vão ouvir. Por fim, concluindo que a “negatividade” das outras pessoas em relação aos lobos representa um perigo maior para seu rebanho do que os próprios lobos, pega seu instrumento de sopro e toca uma música suave para fazer os cordeiros adormecerem.
Então, é claro, temos “o assalariado [que] não é o pastor a quem as ovelhas pertencem”. Ele “vê que o lobo vem, abandona as ovelhas e foge. Então o lobo ataca o rebanho e o dispersa. Ele foge porque é assalariado e não se importa com as ovelhas” (João 10:12,13).
Assalariados egoístas, pastores míopes e pessoas que agem como domadores de lobos predominam na igreja, hoje. O mesmo acontece com os lobos vestidos de ovelhas. Francamente, algumas roupas pós-modernas feitas de lã de ovelha não são nem um pouco convincentes. Mas parece que alguns pastores não ficam indecisos quando o assunto é soltar esses lobos sedentos entre seus rebanhos. Muitos são como o pastor míope de minha parábola — convencido de que as advertências sobre a ameaça de lobos pode ser mais perigosa do que os verdadeiros lobos.
Parece que o evangelicalismo contemporâneo, em geral, não aprecia em absoluto nenhum tipo de atrito doutrinário — muito menos o conflito manifesto com lobos espirituais. O Manifesto Evangélico que citei na introdução deste livro claramente reflete esse ponto de vista, expressando muito mais palavras de preocupação com as relações públicas evangélicas do que com a solidez das doutrinas. O documento confidencialmente afirma que “a mensagem evangélica, ‘as boas novas’ por definição, é impressionantemente positiva, e sempre positiva antes de ser negativa”. Isso é um grande exagero — especialmente quando consideramos o fato de que o esboço sistemático do evangelho feito por Paulo em Romanos começa com as palavras: “Portanto, a ira de Deus é revelada dos céus” (Romanos 1:18), e depois continua por quase três capítulos inteiros explicando a profundidade e universalidade da “impiedade e injustiça” dos homens, que é o que provocou, em primeiro lugar, a ira de Deus. Só depois que deixa claro que não se pode escapar da má notícia é que Paulo apresenta as boas novas do evangelho. Ele segue o mesmo padrão na forma abreviada de Efésios 2:1-10.
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Trecho extraído de "A Outra Face", por John MacArthur
Trecho extraído de "A Outra Face", por John MacArthur
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