Eis que o semeador saiu a semear”(Mt 13.3). Eis o sermão, o momento magnífico quando o Senhor Deus produzirá fé nos corações pelo ouvir da Palavra (Rm 10.17). A parábola do semeador (e diga-se de passagem não é a parábola dos solos), revela-nos a dureza dos corações em ouvir o evangelho do reino. No entanto, o semeador tem a esperança que uma das sementes cairá em boa terra. Trata-se do coração que pela graça de Deus (Mt 13.11,23) “ouve a palavra e a compreende”. A mesma sequência de eventos ocorre com Lídia (At 16.14), isto é, pregação, graça de Deus e portanto o “ouvir” com atenção e fé.
O fato glorioso de que Deus abre os ouvidos dos homens a fim de atentarem para sua mensagem, leva-nos obrigatoriamente à responsabilidade humana de assim proceder. Nossa postura deve ser moldada à luz da soberania divina e conforme as prescrições da própria Escritura. Neste sentido, o que se requer, em primeiro lugar, é a atenção completa, total, fixa. Se entendemos que a pregação (aquela segundo a Palavra da Escritura) é Vox Dei, a mesma dignidade requerida por Deus quando os profetas falavam ocorrerá em relação à pregação. Isaías declara “Inclinai os ouvidos e ouvi a minha voz; atendei bem e ouvi o meu discurso” (Is 28.23, veja também Is 1.19 e compare Is 42.18). Em resumo, se é pela graça que se ouve atentamente ao evangelho, postar-me-ei de acordo com o que a graça faz. A sonolência, distração e coração indiferente são tão recrimináveis quanto a desobediência.
O efeito glorioso esperado da pregação autêntica é a atenção. Cristo capturava sua audiência deixando-a embasbacada e boquiaberta. Lucas e Mateus declaram que o povo era dominado por Ele (Lc 19.48; Mt 7.28). Nas palavras de Tiago, esta reação do povo ante a pregação de Cristo, pode ser entendida como “mansidão ao ouvir”. Outra postura conveniente que se traduz em uma atitude submissa, solícita para acatar o que se ouve (Tg 1.21).
Como distinguir este proceder cordato ao ouvir a Palavra pregada daquela completa subserviência acrítica? Sim, pois as Escrituras nos ordenam a verificar o que se diz do púlpito. Os crentes bereanos diante de Paulo conciliaram bem a avidez pelas pregação com o exame das Escrituras (At 17.11). Observe, sem conhecer o repertório das doutrinas bíblicas e a história da redenção, a igreja se tornará presa fácil dos hereges e pregadores superficiais. Ao mesmo tempo, corre-se o risco de bons pregadores oferecerem pastos verdejantes a ovelhas relapsas.
Por outro lado, a belicosidade crítica da igreja, implacável com o pregador, torna-se às vezes, um impeditivo para sermos abençoados. Não estou dizendo que você não deva verificar a mensagem. Faça isto seriamente. Tome o conselho do pastor galês Dr. Martyn Lloyd-Jones o qual incentivava “perceba no pregador o senso de Deus, o respeito pelas Escrituras e a cristocentricidade da mensagem”. A partir daí reconheça a voz do Senhor e que há infelizmente pregadores e pregadores. Uns mais habilidosos, fiéis na exposição do texto e oradores brilhantes. Outros são ortodoxos, possuem um bom domínio da teologia dogmática, piedosos, contudo pregam a mensagem certa porém sem amparo do texto que se propuseram expor. Isto acontece. Outros, pregam a mensagem correta com motivação errada (Fl 1.15). Convém ouvi-los mas é nosso dever confrontá-los e desmascará-los o quanto antes. Ainda outros, são hereges mesmos, e estes digo: nem “o recebais em casa, nem lhe deis as boas-vindas” (3Jo 10). Em suma, equilibre o dever de ser um bereano mas não se torne apenas um crítico arrogante de sermões. Ouça a voz de Deus.
Por último, tudo o que já foi dito, implica ouvir a Palavra pregada com fé genuína. O escritor aos Hebreus declara a causa da prostração dos israelitas no deserto: incredulidade ao ouvir a palavra (Hb 4.2). Esta fé bíblica não significa fechar os olhos com força e imaginar cenários. Ela demanda compreensão (2 Ts 2.13, Jd 3), sentimento (Gl 5.7) e move a vontade (Tg 2.26). Por isso, busque compreender o sermão, ame a mensagem e