ENTREVISTA COM WINSTON SMITH* ACONSELHAMENTO PRÉ-NUPCIAL, PORNOGRAFIA E CASAMENTO
Como age a sabedoria convencional
Como age a sabedoria convencional
Qual é a sabedoria convencional para se obter um casamento saudável e feliz entre os cristãos evangélicos? Você difere da sabedoria convencional? De que maneira?
Winston Smith: Creio que a palavra da moda — não somente para os crentes, mas para todos os casamentos — parece ser compatibilidade. A ideia é a de que você precisa achar sua “alma gêmea” ou a pessoa mais compatível com você.
Há algo ardiloso na ideia de compatibilidade. Existe uma sabedoria elementar a respeito de compatibilidade que achamos em Provérbios. O casamento se torna mais difícil quando você se casa com uma pessoa da qual não gosta. “O gotejar contínuo no dia de grande chuva e a mulher rixosa são semelhantes.” Você não deve se casar com uma pessoa da qual não gosta ou com a qual não se relaciona bem. Isso talvez pareça lógico demais, porém as pessoas o fazem. As Escrituras concordam com este conceito: “Sim, a compatibilidade é realmente importante”.
Entramos numa situação desastrosa quando não vamos além do entendimento superficial de compatibilidade, achando alguém que torna a nossa vida mais fácil e nos faz sentir bons. Caímos no “relacionamento de consumismo”, no qual vamos ao mundo e procuramos um companheiro como se estivéssemos em um supermercado. O fato é que tomamos mais decisões ruins do que decisões excelentes. Temos de ser bastante cuidadosos na maneira como falamos sobre a respeito de compatibilidade. É correto falar sobre isso e reconhecer o seu lugar, mas, quando a compatibilidade é o único fator que levamos em conta, ela apenas satisfaz o egoísmo e a pecaminosidade do coração humano.
As prioridades bíblicas e o aconselhamento pré-nupcial
9Marcas: Se a chave para um casamento saudável não é a compatibilidade, então, o que é? Ou fazendo a pergunta no contexto do mundo real: qual é a coisa mais importante a dizer para um casal de noivos durante o aconselhamento pré-nupcial? O que eles precisam saber antes de tudo?
Winston Smith: Quando encontro um casal que planeja se casar, esta é uma das coisas que mantenho em mente: estou diante de pessoas que são à prova de bala. Isso é o que eu penso. Em outras palavras, quando um casal me procura para obter aconselhamento pré-nupcial, eles já estão realmente comprometidos. Alguém gastou certa quantidade de dinheiro na compra de alianças de noivado. Às vezes, os convites de casamento já foram enviados, e esses noivos não querem mais ouvir a respeito de seus problemas. Eles procuram conselheiros a fim de obter o selo de aprovação, para que possam seguir em frente com confiança. Minha tarefa consiste em ajudá-los a entender que há razões importantes para perceberem seus problemas.
Penso que na maioria dos casos os jovens se casam porque sua experiência de namoro lhes ensinou que eles são realmente bons em ter alegria um com o outro. Eles têm divertido um ao outro. É ótimo ser casado com alguém que você desfruta e lhe traz alegria; mas o casamento não consiste apenas de divertimento. Isso pode até ser um dos frutos do casamento. Em última análise, o casamento é uma figura do relacionamento de Cristo com sua noiva, a Igreja, e de seu amor por ela. No casamento, temos a oportunidade e o dever de refletir esse relacionamento e ser um retrato vivo e permanente desse tipo de amor.
Você sabe? Esse tipo de amor não se expressa apenas nos tempos bons e felizes. Às vezes, ele é mais visível quando as coisas vão mau. Conhecemos o amor de Cristo porque Ele nos achou em nossa desordem, feiúra, abatimento e rebelião. Esse tipo de casamento exige que um casal ajude um ao outro nas situações confusas e inquietantes. No aconselhamento pré-nupcial, desejo preparar as pessoas para esta parte mais crítica de refletir a Cristo. Preciso que estejam dispostos a contemplar as situações complexas, antes de se casarem, para que saibam se estão tomando uma decisão sábia.
9Marcas: Há outra coisa essencial ao aconselhamento pré-nupcial?
Winston Smith: Creio que a palavra-chave para o aconselhamento pré-nupcial é sabedoria. A decisão de casar-se com alguém não é uma decisão de manter um clímax emocional. Casar-se é tomar uma resolução sábia. A sabedoria envolvida na decisão de casar fundamenta-se em resolver casar-se com alguém que você amará em suas virtudes e se mostrará preparado a amar e ministrar em suas imperfeições. Em contrapartida, uma decisão sábia implica escolher alguém que amará você não somente nos momentos alegres e em suas virtudes, mas também o assistirá e o amará em suas imperfeições. Isso é uma decisão de sabedoria.
O que almejo fazer no aconselhamento pré-nupcial não é dizer aos noivos que eles devem ou não casar com a outra pessoa. Eles são livres para casar com quem desejarem, contanto que seja cristão. Mas eu lhes pergunto:
O que significa para vocês uma decisão sábia?
Vocês estão aprendendo a respeito do outro, suas tentações e maneira de viver. Estão conhecendo um ao outro, sua maneira de viver, suas tentações, seus pecados. O que significaria para vocês tentar ministrar um ao outro nessa condição?
Vocês têm virtudes e fraquezas. Elas se manifestarão no casamento. Agora, decidam. Esse é o ministério que desejam abraçar para o resto da vida? Essa decisão pertence a vocês, e não a mim.
Em ocasiões raras, tenho me sentido obrigado a dizer: se você casarem um com o outro, isso será um desastre. Mais freqüentemente eu direi: esta é a minha opinião realista a respeito do que acontecerá, e vocês tem de decidir o que farão.
A mudança cultural e a pornografia
9Marcas: Como você acha que a cultura mudou nos últimos 15 ou 20 anos? O que você acredita que os casamentos estão enfrentando agora e não enfrentavam 20 anos atrás?
Winston Smith: Há provavelmente muitas pressões culturais que tornam o casamento diferente do que ele era há 15 ou 20 anos. Ressaltarei apenas uma porque é uma das mais insidiosas. Tenho visto, vez após vez, como a pornografia é poderosa e destrutiva no casamento. É claro que a pornografia tem mais do que 20 anos. Contudo, o que mudou nos últimos 20 anos foi a tecnologia. No passado, existia esse obstáculo vergonhoso que você devia estar disposto a superar. Para dar-se à pornografia, você tinha de ir a uma parte diferente da cidade. Tinha de sair do seu carro, entrar em uma loja e dispor-se a ser visto. Seu nome e seu rosto seriam associados com o material que você carregava. Agora, porém, o anonimato parece quase garantido. A pornografia está não somente disponível a você, mas também invadindo a sua vida. Ele promove-se a si mesma. Surgirá repentinamente nos e-mails. Ela se mostrará na lista de filmes expostos nos hotéis. Talvez, quanto mais luxuoso for o hotel, tanto mais fácil será ver a pornografia e tanto mais ousadamente ela será exibida.
A pornografia está na ofensiva contra você. Ela o persegue. Portanto, você precisa ter razões autênticas para rejeitá-la, não somente porque será apanhado por ela. Essa não é uma boa razão, porque você terá oportunidades secretas de satisfazê-la. A condição da pornografia mudou, e a mensagem se amplificou. Qualquer um que tem visto pornografia talvez saiba o que estou falando. Em última análise, a pornografia consiste em relacionamentos anônimos e sem significado nos quais o foco é a satisfação pessoal.
O sexo é maravilhoso, mas a intenção de Deus para o sexo é que este comunique significado e propósito. O sexo foi idealizado para comunicar o amor sacrificial, pactual e comprometido de Deus, bem como seu cuidado e ternura. O sexo não foi idealizado para expressar uma liberdade de fazer o que você deseja, focalizado em si mesmo, e de se engajar em relacionamentos anônimos e sem significado. Tome as mensagens anti-relacionais da pornografia e junte-as a um enlevo psicológico, e assim você tem em suas mãos algo realmente sórdido. A pornografia não somente escraviza o tempo e a vida da pessoa. Começa a invadir o resto dos relacionamentos. Essas mesmas mensagens de conveniência, prazer e focalização no ego permeiam toda a vida da pessoa. Elas não somente permanecem no computador.
9Marcas: Você tem alguma sabedoria que deseja compartilhar com os pastores e igrejas para tomarem a ofensiva — maneiras pelas quais eles podem ser ativos em lutar contra a pornografia?
Winston Smith: penso que uma maneiras pelas quais as igrejas devem lutar contra essa ameaça, em termos simples, é conversar a respeito dela. E conversar não somente como algo que está fora da igreja, mas também como algo que nos persegue como indivíduos e famílias na igreja. Crie situações em que as pessoas que lutam contra a pornografia possam falar sobre ela, sem sentirem-se envergonhadas ou ameaçadas como cidadãos de segunda classe. Crie um diálogo aberto no qual esse problema será tratado com o mesmo cuidado, interesse e compaixão manifestados para com outros pecados e lutas.
Esse é um passo simples mas ousado. Você precisa dizer: “Conversemos sobre a pornografia como uma problema de nossa igreja, porque ela é realmente um problema nosso”. É claro que essa conversa deve acontecer como parte daquela cultura de disciplina e responsabilidade mútua que os pastores devem cultivar em suas igrejas.
Em seguida, seja prático em oferecer às pessoas instrumentos com os quais possam fazer algo a respeito da pornografia.
● Se você tem um conexão de internet em sua casa, pense nessa conexão como uma entrada para uma loja de materiais pornográficos. Em sua casa há uma passagem que leva a um mercado de pornografia, se você possui uma conexão de internet, TV a cabo ou satélite. Portanto, considere-a uma porta que precisa ser vigiada e trancada. Entreter-se com o computador é algo bom, mas você precisa saber o que está fazendo e por que o está fazendo. Você não está apenas lambiscando em seu computador.
● Limite o acesso privativo ao computador. Se você tem um computador de mesa, coloque em um lugar comum em que tela estará de frente ao meio da sala.
● Há muitos softwares são eficazes, mas nenhum deles é infalível. Há opções nos softwares que são eficazes em erguer barreiras (criando uma cerca protetora). Se você transpô-las, isso acontecerá porque você quis, e não porque foi enganado.
Há muitas coisas básicas que podemos fazer para nos proteger, mas parece que vivemos em nossas igrejas como ingênuos. As pessoas estão imaginando: “Ninguém está falando sobre a pornografia, ela não deve ser um problema”. Tenho visto inúmeros exemplos de pastores e administradores de igrejas que foram enganados por esse pensamento. Já aconselhei pessoas que trabalham em equipes de limpeza e, à noite, vão ao computador e veem pornografia nos prédios que estão limpando. Espero que essas sugestões ajudem aqueles que lutam contra a pornografia prevalecente.
Edificando casamentos saudáveis
9Marcas: Como podemos produzir uma cultura de casamentos saudáveis na igreja? Quais são os passos práticos que os pastores podem seguir para edificarem casamentos saudáveis?
Winston Smith: Acho que, ao pensarmos em como fazer algo na igreja, devemos começar com esta pergunta: de que maneira posso liderar por meio do exemplo? Não se precipite a um programa, nem a uma estrutura. Considere isto:
• Como eu vivencio o meu casamento diante dos membros da igreja?
• Como isso se manifesta no púlpito?
• Do púlpito, eu falo sobre o casamento como um ministério?
• Nas pregações, ajudo as pessoas a entenderem o que significam a graça e o amor nos detalhes da vida cotidiana?
Todos gostamos de pregações que contêm histórias e anedotas engraçadas. O que realmente necessitamos são aplicações práticas e apropriadas — aplicações concernentes a assuntos como estes: a maneira de conversarmos um com o outro, o modo como enfrentamos um ao outro, a maneira como perdoamos e como lidamos com as questões que vivenciamos no dia-a-dia.
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*Winston T. Smith é o diretor de aconselhamento na Christian Counseling and Educational Foundation e tem experiência ampla como conselheiro familiar e conjugal. Ele é autor de muitos artigos sobre aconselhamento e do livro Rest (Descanso). Atualmente, está escrevendo um livro sobre casamento.
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*Winston T. Smith é o diretor de aconselhamento na Christian Counseling and Educational Foundation e tem experiência ampla como conselheiro familiar e conjugal. Ele é autor de muitos artigos sobre aconselhamento e do livro Rest (Descanso). Atualmente, está escrevendo um livro sobre casamento.
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