A obra de Deus na salvação
1. Graça comum
Deus exerce graça comum para toda a humanidade, bem como a graça especial pela qual as pessoas chegam à salvação. Por meio dessa graça comum, o pecado é restringido, os seres humanos pecadores recebem bênçãos de Deus e são capacitados a fazer coisas boas. Essa graça comum provê um fundamento para a sociedade humana e capacita o trabalho nas artes e nas ciências. É o Espírito Santo que capacita esse trabalho nas artes e nas ciências; por conseguinte, o progresso cultural e a civilização humana são dons de Deus, que se tornam possíveis apesar da queda da humanidade no pecado.
2. A chamada e a eleição de Deus
Deus chama os homens a que se arrependam e creiam. Ninguém pode responder a essa chamada sem a obra do Espírito Santo. Ainda que muitos possam receber oralmente a mensagem ou lê-la diretamente na Bíblia ou indiretamente na literatura cristã, nem todos são escolhidos. Em vez de abandonar a raça humana em sua condição humana, Deus elegeu soberana e graciosamente alguns para a vida eterna. Somente aqueles cuja mente e coração são iluminados pelo Espírito Santo são capacitados a aceitar os dons prometidos de perdão dos pecados e aceitação com Deus.
3. A natureza da regeneração
Por meio da obra do Espírito Santo, alguém que antes era um pecador morto recebe vida de Deus; e a implantação dessa vida resulta em uma nova orientação para com Deus e sua justiça. O ensino da Escritura é que, sem essa mudança que produz santidade, ninguém verá a Deus. Ainda que essa obra regeneradora produza mudanças no caráter, os cristãos são pessoas singulares, pois, embora todos possuam o Espírito Santo, eles são todos diferentes. O que eles compartilham em comum é a implantação da nova vida; e isso significa que agora estão em união espiritual indissolúvel com Cristo. O Novo Testamento expressa isso dizendo que os cristãos estão “em Cristo”, ou seja, eles se tornam “herdeiros de Deus e coerdeiros com Cristo”. Porque estão unidos assim com Cristo, em quem estão ocultos todos os tesouros da sabedoria e do conhecimento, os cristãos são completos n’Ele. Todos os cristãos crentes têm o Espírito de Cristo; e a união com Cristo também significa que eles estão em um relacionamento vital uns como os outros. Compartilham da salvação comum, têm alvos e aspirações comuns.
4. Os efeitos da regeneração
A obra de Deus na regeneração não precisa de repetição. Havendo sido justificado com Deus, o novo cristão demonstra essa mudança de status por uma mudança em sua condição espiritual. A conversão marca o começo consciente de uma nova vida, de modo que os novos crentes começam a viver de acordo com sua nova natureza, com as afeições fixadas nas coisas espirituais e eternas. No âmago da nova vida estão o arrependimento e a fé, os quais estão unidos como a expressão da conversão.
5. A fé
A graça de crer é um dom de Deus. Então, a fé é um ato de receber as bênçãos da salvação por meio da crença pessoal em, e compromisso com, Cristo, o Salvador. A fé é o instrumento pelo qual a revelação divina e todas as bênçãos prometidas são assimiladas, recebidas e desfrutadas. É uma convicção de que a mensagem da Bíblia é verdadeira e de que a apropriação pessoal dos méritos e da obra de Cristo é essencial. A verdadeira fé descansa em seu objeto, Jesus Cristo, que é recebido como Salvador; e, por um ato de entrega, a alma descansa somente nEle para a salvação.
6. A justificação
A justificação é o ato de Deus posterior à chamada eficaz realizada pelo Espírito Santo e a resposta consequente de arrependimento e fé da parte dos pecadores: “Aos que chamou, a esses também justificou”. Na justificação, Deus declara os pecadores justos perante Ele, considerando os seus pecados perdoados e reputando a justiça de Cristo como pertencente a eles. A justificação não é uma simulação da parte de Deus, afirmando que os pecadores são justos quando, de fato, eles são culpados. Para que a justificação seja real e consistente com a santidade de Deus, ele precisa ter uma base meritória. Tem de haver uma justiça real, que Deus reconhece em sua declaração de justificação. Os pecadores são justificados com base em uma justiça suprida por outrem, a justiça do Senhor Jesus Cristo, que é contada como pertencente a eles. Essa imputação da justiça de Cristo é fundamental à fé cristã.
7. A justiça de Cristo é a base de nossa justificação
A justiça de Cristo envolve sua vida de perfeita obediência a cada mandamento da lei de Deus e sua morte na cruz, pela qual Ele suportou a penalidade da ira de Deus devida aos pecados de todo o seu povo, uma obra selada por sua ressurreição triunfante. Os crentes compartilham agora do status de justos como Cristo, que satisfez todas as exigências da lei de Deus, em lugar e em favor deles. A base da justificação dos pecadores é unicamente a perfeita justiça de Cristo.
A harmonia entre Paulo e Tiago em seus ensinos sobre a justificação
Não há nenhum conflito entre o ensino de Paulo e o de Tiago no que concerne à justificação. Paulo escreve sobre a justificação como perdão e aceitação diante de Deus. Tiago insiste que a justificação é real e se mostrará em uma vida de obediência.
8. A adoção dos crentes em Cristo
A posição de Cristo como eterno Filho de Deus não-criado é única. No entanto, Ele não se envergonha de chamar seus irmãos àqueles que salvou. Esses filhos de Deus adotados são herdeiros da herança que Cristo obteve para eles, a plena medida das bênçãos da redenção. Por isso, eles são descritos como “herdeiros de Deus e coerdeiros com Cristo”.
Como filhos de Deus, os crentes compartilham de todas as bênçãos providas por Deus para a sua família. Como resultado do testemunho interno do Espírito Santo, eles reconhecem e se dirigem a Deus como Pai. Eles são objetos do amor de Deus, de sua compaixão, de seu cuidado pelas necessidades deles. Os filhos de Deus têm o privilégio de compartilhar dos sofrimentos de Cristo e de sua glorificação subsequente. Os filhos de Deus têm outro privilégio, que confirma a sua adoção: a experiência da disciplina paternal de Deus. Eles são assegurados de que Deus os “trata como filhos; pois que filho há que o pai não corrige?”. A unidade dos filhos de Deus em um corpo é também um privilégio a ser desfrutado e uma responsabilidade que exige amor e ministério mútuos.
As bênçãos plenas da adoção não serão experimentadas enquanto não houver o glorioso retorno do Senhor Jesus Cristo. A adoção tem uma dimensão presente, mas também uma dimensão escatológica, que é um elemento da esperança cristã. Portanto, “também nós, que temos as primícias do Espírito, igualmente gememos em nosso íntimo, aguardando a adoção de filhos, a redenção do nosso corpo”. A adoção não será completa enquanto Cristo não der a seu povo novos corpos, na ressurreição, quando os crentes desfrutarão “a liberdade da glória dos filhos de Deus” juntamente com a criação renovada.
9. A obra do Espírito Santo em santificar
O Espírito Santo opera na vida daqueles que foram justificados e adotados para torná-los santos e transformá- los na semelhança de Cristo. A obra de Deus no crente inclui tanto o querer como o realizar o que Ele exige. Obediência ativa aos mandamentos do Senhor é essencial. A santificação exige mortificar tudo que é pecaminoso na vida humana. Também exige que sejam desenvolvidos novos hábitos e padrões de pensamento e viver piedosos.
10. A obtenção da perfeição cristã
Durante esta vida, nenhum crente está completamente livre do pecado, e a santificação progride em níveis variáveis. A obra de Deus em disciplinar seus filhos também contribui à santificação deles. A obra de santificação será completada pelo poder e a graça de Deus. O espírito é plenamente santificado por ocasião da morte, unindo-se “aos espíritos dos justos aperfeiçoados”. Na ressurreição, o corpo do crente compartilhará dessa perfeição e será tornado semelhante ao corpo glorioso de Cristo. Por fim, cada crente portará a imagem do homem “celestial”.
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