2015/06/04

QUANDO ENFRENTAMOS DESERTOS



“Logo após, o Espírito o impeliu para o deserto” (Marcos 1:12).



Existem épocas em nossa vida que nos marcam profundamente, com uma forte impressão de estarmos absolutamente sozinhos. Momentos de tribulação, de profunda solidão, angústia e, por que não dizer, de desespero e desassossego da alma. Quem já não enfrentou tais emoções? Certo pregador disse, com sabedoria, que tribulação na vida de um crente é cíclica. Ou seja, estamos entrando, ou no meio, ou saindo de uma. O fato é que, se pesarmos na balança da vida os momentos que vivemos, iremos descobrir que boa parte de nossa existência foi forjada em meio às tribulações.


Analogamente, tribulação é comparada na Bíblia com momentos de deserto. Aqueles momentos cinzentos em que parece que Deus nos levou para o exílio. Ali, no deserto, somos tratados, provados, purgados, esvaziados de nós mesmos, para depois sermos cheios por Deus, encorajados, fortalecidos, amadurecidos e devolvidos à rotina do mundo que vivemos.


Vários personagens bíblicos experimentaram tempo de deserto em suas jornadas. Abraão, Jó, Jacó, José, Moisés, Davi, Jeremias, Isaías, João Batista, Jesus, Paulo e outros. Todos esses foram provados, aprovados, desafiados, treinados, fortalecidos e encorajados. O “deserto” é o seminário de Deus para treinamento de seus obreiros, alguém já disse.


Por que temos medo do deserto?


Porque ninguém gosta da sensação de impotência, de sentir-se sozinho, de não ter respostas rápidas e eficientes para as crises da vida. O sentimento de independência está entranhado na natureza humana, e o reverso, que é depender de outrem, nos assusta, principalmente quando esse outrem é invisível, silencioso e aparentemente distante.


No entanto, é justamente no meio do deserto que experimentamos as mais belas evidências de que não estamos sós. Deus fala, e fala muito, no meio do silêncio de nossa angústia. O salmista bem disse que para ouvir a voz divina é preciso aquietar-se. “Aquietai-vos e sabei que eu sou Deus...” (Salmo 46.10a − ARA). Deus falou com Elias no silêncio da caverna (I Reis 19.13), e com Moisés em meio à sarça que ardia, no deserto ocidental. (Leia Êxodo 3.1-12). O apóstolo Paulo só pôde começar seu ministério de Apóstolo aos gentios depois de ser levado ao deserto para formar-se no seminário de Cristo, seu novo Mestre. E ficou ali, em Damasco, por três anos! (Cf. Gálatas 1.17,18.)


O deserto é lugar de tribulação − o método de Deus para formar homens fiéis e comprometidos com sua obra. “Alegrem-se na esperança, sejam pacientes na tribulação, perseverem na oração” (Romanos 12.12 −NVI). Ninguém está perfeitamente apto ao serviço cristão enquanto não for depurado pelo fogo do deserto. Deus não faz isso como punição, mas como purificação de um povo exclusivamente seu. O deserto é tribulação? Sim! Mas o deserto é bênção também. Quantas vezes Jesus se retirou para lugares desertos com o propósito de estreitar os laços de comunhão com seu Pai? Diversas vezes conforme nos relata os Evangelhos (cf. Mt 4.1; 14.13, 23; Mc 1.12; 1.35; Mc 6.32, 47; Lc 4.1; Jo 6.15; 11.54; 16.32).


Creio, que o mais importante não é como entramos no deserto, mas como nos comportamos nele, e, principalmente, como saímos dele. O que fará verdadeira diferença serão as preciosas lições de vida que levaremos juntos em nossa biografia tão curta na existência deste mundo. Em segundo lugar, até mais importante que o primeiro aspecto mencionado, é que, mesmo com a sensação de vazio e solidão que o deserto provoca em nossas percepções, é digno de consolação saber que nunca atravessamos esses períodos sozinhos. O Senhor Jesus prometeu que sempre, sempre, estará conosco, até a consumação dos tempos. Jesus está conosco! Podemos louvá-lo como Davi e dizer com plena confiança: “Ainda que eu ande pelo vale da sombra da morte, não temerei mal algum, porque tu estás comigo” (Salmo 23.3).


O filho que nasce no deserto da tribulação é a perseverança, que, por sua vez, gera outro filho que é a experiência. E a experiência trará um lindo “bisneto”, a esperança. Ninguém compra nem adquire esses atributos sem passar pelo deserto.

E não somente isto, mas também nos gloriamos nas próprias tribulações, sabendo que a tribulação produz perseverança; e a perseverança, experiência; e a experiência, esperança” (Romanos 5.3,4).

Rev. Afonso Celso de Oliveira




Nenhum comentário:

Postar um comentário