2015/04/29

NOVA VIDA, NOVOS HÁBITOS



Começando tudo novo
“E, assim, se alguém está em Cristo, é nova criatura; as coisas antigas já passaram; eis que se fizeram novas”
2Co 5.17
Quando nos convertemos a Jesus, algo novo nasce em nós. Tudo o que já aprendemos sobre o Evangelho, o arrependimento, a fé, o significado verdadeiro da cruz, a importância da santidade, e o real significado da ressurreição, fazem com que enxerguemos a vida de um modo novo.
E não é apenas o modo como enxergamos a vida que é novo. Tudo se faz novo quando nos encontramos com Cristo. Nosso passado é perdoado e apagado diante de Deus que faz com que todas as coisas sejam novas.
Nesta nova vida, é importante que compreendamos como agir e viver.
As coisas antigas já passaram
O texto que coloquei acima diz o seguinte:
2Co 5.17: E, assim, se alguém está em Cristo, é nova criatura; as coisas antigas já passaram; eis que se fizeram novas.
A primeira lição que este verso nos dá é que em Cristo somos uma nova criatura. Na verdade, agora esta criatura se tornou filha de Deus. Antes, éramos apenas criatura. Agora, somos uma criatura adotada e transformada em filha(o) de Deus.
Leia João 1.12-13.
Esta nova vida traz consigo a mensagem de que as coisas antigas já passaram. Quais são estascoisas antigas? Estas são as práticas cometidas antes de nosso conversão. Pecados, pensamentos, atitudes, decisões, enfim, tudo o que fizemos antes de nossa conversão é agora apagado por Deus.
As consequências de certos pecados permanecem (se você matou alguém, ainda que Deus possa lhe perdoar, você terá que arcar com as consequências de seu pecado e ir para a prisão). Então, as consequências permanecem, mas a culpa e a condenação diante de Deus são apagadas graças aos méritos de Jesus que são derramados sobre você.
É isso que significa as coisas antigas já passaram; eis que se fizeram novas. Deus torna tudo novo. Agora, você possui uma nova vida, uma nova história, e deve escrevê-la para a glória de Deus. Tudo o que foi “escrito” sobre seu passado agora é apagado e lançado no mar do esquecimento.
Leia Miquéias 7.18-19.
A liberdade da nova vida
Aqui encontramos outro aspecto maravilhoso sobre nossa nova vida em Cristo: a liberdade. A liberdade que é obtida na nova vida com Cristo é a primeira causa da paz que o convertido sente. Quando se vê, finalmente, livre daquilo que antes os prendia, alegria e paz enchem a alma dos novos cristãos. Paulo, escrevendo sobre isso, afirmou o seguinte:
Gl 5.1: Para a liberdade foi que Cristo nos libertou. Permanecei, pois, firmes e não vos submetais, de novo, a jugo de escravidão.
Esta é uma informação preciosa. A partir do momento em que estamos com Cristo, estamos livres. Não podemos nos esquecer disso. Digo isso, pois todos sabemos o quanto a força de nossa carne agirá em nosso interior para trazer de volta à escravidão do pecado.
Se Cristo nos libertou, devemos permanecer firmes e não nos submetermos, de novo, a jugo de escravidão. Então, é possível que, mesmo tendo sido libertos, que nos entreguemos novamente ao pecado e nos tornemos escravos outra vez daquilo que, um dia, Cristo nos libertou.
A libertação, de acordo com Paulo, é obra de Deus. O permanecer firme, longe da escravidão, é obra de cada um de nós. Ainda que eu saiba que Deus nos ajude e nos dê graça para que permaneçamos longe do pecado, depende de nós o ficarmos longe do cair em tentação.
Não pense você que é muito fácil permanecer longe do pecado. Ele sempre estará à porta do seu coração. Sempre! Não se submeta a ele. Deus lhe deu poder para fazer com que ele, o pecado, se submeta a você. Não se submeta, pois isso poderá trazer você de novo ao jugo da escravidão.
Gl 5.13: Porque vós, irmãos, fostes chamados à liberdade; porém não useis da liberdade para dar ocasião à carne; sede, antes, servos uns dos outros, pelo amor.
Aqui, Paulo nos dá outra razão pela qual devemos lutar contra o pecado a fim de permanecermos livres. Primeiro, porque fomos chamados à liberdade. Há um convite de Deus para a liberdade. Ele nos liberta e nos convida a permanecermos livres. Isso, por si só, já é maravilhoso.
Em segundo lugar, Deus nos exorta a não usarmos a liberdade que recebemos para voltar a pecar. Somos como um pássaro liberto da gaiola que recebe o convite a permanecer longe de arapucas. No entanto, depois de um tempo livres, acabamos voltando à uma arapuca ou gaiola, voltando a nos tornarmos escravos daquilo que, um dia, Deus nos libertou.
Paulo ainda nos dá uma dica sobre como podemos permanecer livres da sedução do pecado: sede servos uns dos outros, pelo amor. Se nós agirmos assim, sem dúvida será quase impossível voltarmos ao pecado. Agir pelo próximo evita que sejamos egoístas. O servir uns aos outros nos guarda de servirmos o nosso próprio coração, que, segundo a Bíblia é enganoso e desesperadamente corrupto (Leia Jr 17.9).
Frutos da carne e frutos do Espírito
Em outra epístola, o Espírito Santo usa Paulo para mostrar quais são os frutos de uma vida onde se satisfaz os desejos da carne (do coração) e de uma vida onde ouve e obedece a Palavra de Deus:
Gl 5.16–25: Digo, porém: andai no Espírito e jamais satisfareis à concupiscência da carne.Porque a carne milita contra o Espírito, e o Espírito, contra a carne, porque são opostos entre si; para que não façais o que, porventura, seja do vosso querer.Mas, se sois guiados pelo Espírito, não estais sob a lei.Ora, as obras da carne são conhecidas e são: prostituição, impureza, lascívia,idolatria, feitiçarias, inimizades, porfias, ciúmes, iras, discórdias, dissensões, facções,invejas, bebedices, glutonarias e coisas semelhantes a estas, a respeito das quais eu vos declaro, como já, outrora, vos preveni, que não herdarão o reino de Deus os que tais coisas praticam.Mas o fruto do Espírito é: amor, alegria, paz, longanimidade, benignidade, bondade, fidelidade,mansidão, domínio próprio. Contra estas coisas não há lei.E os que são de Cristo Jesus crucificaram a carne, com as suas paixões e concupiscências.
Se vivemos no Espírito, andemos também no Espírito.
Perceba que a carne tem uma ação fortíssima sobre nós. Paulo diz, andai no Espírito. Se não andarmos no Espírito, a carne vencerá. A ordem é que jamais satisfaçamos os desejos de nossa carne. Os desejos da carne nunca deixarão de tentar guiar nossos olhos, nossos gastos, nossas palavras, e tudo o mais em nós. Nosso dever, uma vez libertos, é dizermos não.
O próprio texto nos diz quais são os frutos e as obras da carne. O ponto principal de Paulo é o texto que diz que não herdarão o reino de Deus os que tais coisas praticam. Por isso, todos devemos ficar atentos.
Por outro lado, temos as obras do Espírito, as quais são a esperança de todo homem (amor, alegria, paz, longanimidade, benignidade, bondade, fidelidade,mansidão, domínio próprio). Todas estas coisas precisam ser conquistadas pelos homens. Estes, porém, quando possuem o Espírito Santo, não precisam mais correr atrás, visto receberem do próprio Deus.
Os que estão com Cristo já crucificaram sua carne! Nossa carne já está “morta” para Deus. Já estamos libertos dela e de seus frutos. Basta, agora, seguirmos o conselho de viver no Espírito, andar no Espírito.
Conclusão
Nessa nova vida que começamos com Cristo, precisamos ter a consciência de que tudo se fez novo para nós. Hábitos e vícios antigos devem ser abandonados por completo quando nos entregamos a Cristo.
Todos nós trazemos vícios e maus hábitos de nossa antiga vida. Vícios de linguagem (fofoca, boatos, palavrão), vícios de bebida e comida (comer ou beber excessivamente), hobbies pecaminosos (deixar a família toda noite para jogar ou sair com amigos), além de outras práticas que eram comuns em seu passado e que, hoje, você sabe que não são agradáveis ao Senhor.
A conclusão que tiramos desse estudo é que, a partir do momento em que nos convertemos a Cristo, tudo é novo em nossa vida. O passado vai continuar nos assediando. Devemos lutar diariamente. A consequência dessa luta é que receberemos os frutos do Espírito Santo.
  Autoria do 

Igreja emo-cional versus Igreja racional


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As Escrituras Sagradas há muito já perderam seu lugar de supremacia. Há uma chuva de visões, sonhos e novas revelações que contradizem totalmente o modelo bíblico de revelação de Deus aos homens. “Está consumado” e “quem adicionar um til a esta palavra” parece ser uma colocação desnecessária para certos lideres da igreja atual. Vive-se uma fase de novas idéias, projetos, ministérios, sem, contudo trazer os mesmos para o centro da Palavra de Deus. Quando se usa o texto sagrado, tem-se o verdadeiro sentido de usar alguma coisa, manipulando o texto de forma a dominar o povo que deseja seguir uma religião de retorno para Deus e não de sacrifícios tolos. Preferindo viver sob revelações de seus profetas modernos e mesmo de anjos (como se fosse possível), a igreja atual segue revivendo a forma fétida de séculos atrás.


Não querendo fechar questão sobre o assunto, penso que um dos motivos para esse estado de coisas seja a falta de honra para o ensino nas igrejas. Vivemos no século 21 com um ensino ultrapassado de literaturas que já não apresentam conteúdo pratico, se não para quem as vende. Ainda na esfera do ensino, já não se ouve mais falar daquilo que é realmente interessante. Soberania de Deus? Que nada. Você tem que decretar e ele vem correndo como um serventezinho te atender. Afinal de contas, você “foi chamado por cabeça e não por cauda”. Foi chamado para “reinar em vida”. Doença? Você não deve aceitar, afinal de contas você é salvo e ser salvo significa perder a condição humana passando para um estágio de super-homem que não fica doente de forma alguma, a menos que você esteja em muito pecado. Você é pobre? Dificuldades financeiras? Porque você quer, pois Deus quer que você seja próspero, e te dá liberdade de exigir isso quando você o compra mensalmente com seus dízimos. Dói ouvir tanta besteira. A graça é suficiente? Nada disso, nem tão pouco o sacrifício. Viva ainda sob o peso de leis que sequer são bíblicas mas extra-bíblicas.

Com base em alguns argumentos de pseudo-santidade coloca-se o mundo num maligno mais poderoso que a própria bíblia descreve. Esquecem que quem domina tudo mesmo é o Senhor, inclusive este mundo que jaz no maligno.

Já não se ensina viver uma vitória definitiva em Cristo, mas a viver em constante processo de libertações como se fosse necessário, além de sessões extras de libertação em alguns encontros específicos para este fim. Deve ser por este conceito podre de poder do diabo sobre tudo e todos que boa parte das igrejas pentecostais e neopentecostais precisem amarrar todo o mal antes do culto começar. Abram a porta! Jesus está cansando-se de tanto bater. Coloquem Jesus para dentro dos cultos e nada disso será necessário.

Não fosse suficiente toda essa gama de aberrações contra o verdadeiro conhecimento bíblico, há ainda os que pregam que, mesmo que você seja salvo, tem que buscar no seu passado as maldições que ainda pesam sobre você, fazendo de Cristo um impotente e fazendo da Escritura sagrada mentirosa quando ela afirma “se alguém está em Cristo, é nova Criatura, as coisas velhas já passaram, eis que tudo se fez novo”.
Manipulando os fiéis, a liderança da igreja usa textos para impor medo fazendo com que se tenha medo de expor o erro quando esse acontece na esfera dos pastores, bispos e outros mais. Não tocar no ungido do Senhor não é a mesma coisa de não questionar o ungido, principalmente se essa unção é questionável pelas suas atitudes mercantilistas, gananciosas e interesseiras. Nesse caso, deve não só tocar, mas expor o erro para que a igreja não continue sendo enganada e retirar o mesmo da posição que ocupa, a fim de não enganar mais a ninguém. Manipulam ainda através do conceito de dízimos e ofertas, afirmando que se um crente não entregar o dízimo é ladrão. Esquecem-se que a bíblia afirma que devemos contribuir segundo propôs nosso coração. Em outras palavras é uma relação entre eu e Deus e não entre eu e o Pastor da igreja.

Finalizando, não posso deixar de falar da idolatria feita a pastores, cantores, pregadores, adoradores, levitas, “avivadores” e outros dessa mesma linha. Pastores que só pregam por dinheiro e muito dinheiro e sempre trazem textos que dizem que o trabalhador é digno de seu salário, já estão fazendo parte do câncer moderno da igreja. Esquecem-se de que o ministério pastoral sempre foi um dom de Deus e não um título ou profissão.

O que dizer então do império do louvor que já se estabeleceu em nossas igrejas. Se você não louvar como determinado ministério de louvor, seu louvor não tem unção, se não incluir no repertório do período de louvor tal modinha nacional ou internacional de músicas gospel ou de louvor e adoração, não vale nada. Como se a unção fosse dada por nós e não por Deus. Seminários que se arvoram de meios para se ensinar o louvor, como se fosse possível ensinar. O que Deus precisa é de adoradores que o adorem em espírito e em verdade. Basta-nos este ensinamento e joguemos no lixo todo o resto.

É deprimente a onda de louvores-mantras com repetições intermináveis e em sua grande maioria falando do próprio eu, eliminando assim a centralização da pessoa de Deus. Vergonhoso é saber que você é discriminado por não levantar a mão, bater palmas ficar de pé, fechar os olhos, pular, dançar, falar qualquer coisa para o irmão do lado a mando do animador do culto. Isso é adoração espontânea? É isso que é ser adorador extravagante? É isso que é uma adoração com unção? A unção, repito, vem do Senhor e alcança o crente quando ele é salvo. Unção nunca vem por essas atitudes, no mínimo infantis.

Levitas? Que classe é essa? Ainda existe? Estamos na antiga aliança ainda? acaso somos judeus ? Os levitas da antiga aliança só cantavam e tocavam? Os de hoje (se é que existem) só sabem fazer isso. Talvez por que não estudem muito bem a Palavra e veja o verdadeiro significado da função. Não há hoje uma classe superior chamada levitas, como se quer pensar. Não há levitas entre nós hoje.

A igreja organização-instituição deteriora-se a cada dia e fede na sua própria putrefação. Abracemos à igreja genuína, como Corpo vivo de Jesus Cristo na terra sem a preocupação com modos, formas, dogmas, templos e regrinhas humanas, essa sim, imaculada e sem rugas e isenta de todas essas mazelas destruidoras.


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Está correto chamar os cantores evangélicos de "LEVITAS"?


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Imagem meramente ilustrativa

Está correto chamar os cantores evangélicos de "LEVITAS"? O que é um Levita atualmente?

Resposta: Não é correto. Muitas vezes, os ministros de louvor e músicos evangélicos são chamados de "levitas". No Novo Testamento não temos referência a ministros de louvor nem a instrumentistas na igreja. Jesus disse que o Pai procura adoradores (João 4:24). O ensino apostólico, por sua vez, incentiva todos os cristãos a prestarem culto ao Senhor, com salmos, hinos e cânticos espirituais (Ef 5:18-20; Col 3:16).

De onde então vem o conceito de "levita"? Tomamos por empréstimo de Israel e do Velho Testamento. Originalmente, "levita" significa "descendente de Levi", que era um dos 12 filhos de Jacó.

Os levitas começaram a se destacar entre as 12 tribos de Israel por ocasião do episódio do bezerro de ouro. Quando Moisés desceu do monte e viu o povo entregue à idolatria, encheu-se de ira e cobrou um posicionamento dos israelitas. Naquele momento, os descendentes de Levi se manifestaram para servirem somente ao Senhor (Êx 32:26). Daí em diante, os levitas se tornaram ministros de Deus. Dentre eles, alguns eram sacerdotes (família de Aarão) e os outros, seus auxiliares. Embora os sacerdotes fossem levitas, tornou-se habitual separar os dois grupos.

Então, muitas das vezes em que se fala sobre os levitas no Velho Testamento, a referência se aplica aos ajudantes dos sacerdotes. Seu serviço era cuidar do tabernáculo e de seus utensílios, inclusive carregando tudo isso durante a viagem pelo deserto (Números capítulos 3, 4, 8, 18).Naquele tempo, os levitas não eram responsáveis pela música no tabernáculo. Muito tempo depois, Davi inseriu a música como parte integrante do culto. Afinal, ele era músico e compositor desde a sua juventude (I Sm 16:23). Então, atribuiu a alguns levitas a responsabilidade musical. Em I Crônicas (9:14-33; 23:1-32; 25:1-7), vemos diversas atribuições dos levitas. Havia então entre eles porteiros, guardas, padeiros e também cantores e instrumentistas (II Crônicas 5:13; 34:12).

Em se tratando o título levita ao Antigo Concerto não é próprio chamarmos os músicos e cantores como integrando um corpo ministerial estranho ao Novo Concerto. É resultado do movimento judaízante dos nossos dias. "Mas agora, conhecendo a Deus, ou, antes, sendo conhecidos por Deus, como tornais outra vez a esses rudimentos fracos e pobres, aos quais de novo quereis servir?10 Guardais dias, e meses, e tempos, e anos.11 Receio de vós, que não haja trabalhado em vão para convosco."(Gl 4.9-11)

2015/04/28

Batismo: A Circuncisão Cristã

Batismo: A Circuncisão Cristã(Gn 17:1-14; Cl 2:8-15; Mt 28:-18-20; Tt 3:5)


I. INTRODUÇÃO
O batismo e a ceia do Senhor são os dois sacramentos ordenados por Jesus para serem observados na dispensação da graça. A ceia foi instituída quando da última participação de Cristo na páscoa (Mt 26:26-30) [1].

O batismo está incluído na grande comissão, mencionada em Mateus 28:18-20 e Marcos 16:15-16). Na concepção reformada, “os sacramentos são santos sinais e selos do pacto da graça, imediatamente instituídos por Deus para representar Cristo e seus benefícios, e confirmar o nosso interesse nele, bem como para fazer uma diferença visível entre os que pertencem à Igreja e o restante do mundo, e solenemente comprometê-los no serviço de Deus em Cristo, segundo a sua Palavra. [2]
1. Importância do Assunto
Há algumas questões controvertidas relacionadas ao batismo, especialmente no que diz respeito ao batismo de crianças e ao modo do batismo. Nossos irmãos batistas e pentecostais (a maioria em nosso contexto) não batizam crianças e só reconhecem o batismo por imersão. As outras denominações protestantes históricas (luterana, reformada, anglicana, presbiteriana, metodista, etc.), diferentemente, batizam crianças e reconhecem a legitimidade de ambos os métodos (imersão e aspersão), preferindo o segundo.

Isto, além da prática católica de batizar, indiscriminadamente, qualquer criança, torna necessário que forneçamos as razões das nossas práticas concernentes ao assunto. Este artigo tem como propósito apresentar um resumo da teologia reformada concernente ao batismo, especialmente no que concerne a estas questões controvertidas.

2. O Problema Básico
Do ponto de vista reformado, o erro básico daqueles que não batizam crianças e exigem a imersão consiste em perderem de vista a continuidade da revelação da obra da redenção. A progressividade da revelação da obra da redenção, planejada por Deus na eternidade, não deve eclipsar a sua continuidade.
Antes de mais nada, é preciso compreender que o Antigo e o Novo Testamento não ensinam duas religiões diferentes.

A Igreja Cristã não é uma outra igreja. O Apóstolo Paulo revela claramente que a Igreja Cristã não é uma nova árvore, mas apenas um galho enxertado na mesma árvore cuja raiz é Abraão (Rm 11:13-24), o ‘‘pai de todos os crentes’’ (Rm 4:11). Abraão é o pai tanto de incircuncisos como de circuncisos, ‘‘que andam nas pisadas da fé que teve nosso pai Abraão antes de ser circuncidado’’ (Rm 4:11-12).

II. O SIGNIFICADO DO BATISMO

1. Não É um Atestado de Salvação
Não é necessariamente o sinal visível de que a pessoa está salva. Não se trata de um rito de admissão pública na igreja invisível, mas na igreja visível — e esta inclui salvos e não salvos:

Nem todos os de Israel são de fato israelitas; nem por serem descendência de Abraão são todos seus filhos; mas em Isaque será chamada a sua descendência. Isto é, estes filhos de Deus não são propriamente os da carne, mas devem ser considerados como descendência os filhos da promessa (Rm 9:6-8)
Há diversos exemplos de membros professos da igreja tanto no AT como no NT, os quais foram circuncidados/batizados, mas que nunca experimentaram o lavar regenerador do Espírito Santo. Auxiliares diretos do Apóstolo Paulo, como Demas, abandonaram a fé cristã por amarem o presente século (2 Tm 4:10).

Referindo-se a essa classe de pessoas, o Apóstolo João explica que ‘‘Eles saíram do nosso meio (da igreja visível), porque não eram dos nossos (membros da igreja invisível); porque se tivessem sido dos nossos (da igreja invisível), teriam permanecido conosco (na igreja visível); todavia, eles se foram para que ficasse manifesto que nenhum deles é dos nossos (da igreja invisível)’’ (1 Jo 2:19).
Parece desnecessário provar o que a História da Igreja e a experiência tornam mais do que evidente.

2. Não é Meio de Salvação

O batismo não tem poder divino inerente. Em si mesmo ele não pode regenerar ninguém. Esta doutrina (da regeneração batismal) é ensinada pela Igreja Católica. Para eles, o batismo confere os mérito de Cristo e o poder do Espírito Santo, purificando da corrupção interna, garantido remissão da culpa do pecado e infusão da graça santificadora, unindo o batizado com Cristo, abrindo-lhe as portas dos céus. Na teologia Católico-romana, a eficácia do batismo não depende nem dos méritos do oficiante nem dos méritos do batizado, mas da própria ação sacramental.
Para nós, reformados, entretanto, o batismo não é eficaz em si mesmo; ele não opera uma nova vida; ele a pressupõe e a fortalece, mas não a opera nem garante. Eis o que diz a Confissão de Fé de Westminster:

Posto (ainda) que seja grande pecado desprezar ou negligenciar esta ordenança, contudo a graça e a salvação não se acham tão inseparavelmente ligadas com ela, que sem ela ninguém possa ser regenerado e salvo ou que sejam indubitavelmente regenerados todos os que são batizados.

3. Não é Essencial à Salvação

A Igreja Católica pensa assim, mas nós, protestantes, não. O batismo é obrigatório, por obediência aos preceitos de Deus. E a nossa desobediência a este preceito, naturalmente resultará em empobrecimento espiritual, como acontece com a desobediência a qualquer outro preceito do Senhor.
Entretanto esta concepção do batismo como essencial à salvação é contrária ao caráter espiritual do Evangelho, que não condiciona a salvação à formas externas (Jo 4:21-24). O ladrão arrependido na cruz é evidência incontestável disso. Jesus afirmou que naquele mesmo dia ele estaria consigo no paraíso, sem batismo algum.

4. É a Continuação da Circuncisão

Os dois sacramentos do Antigo Testamento não foram abolidos, mas substituídos.
A páscoa (o sacramento comemorativo da igreja visível) transformou-se na santa ceia, quando Jesus dela participou pela última vez (Mt 26:26-30).
A circuncisão (sacramento de admissão na igreja visível) transformou-se no batismo cristão, visto que não mais havia necessidade de derramamento de sangue, pois o Cordeiro Pascal estava preste a ser imolado. Em Colossenses 2:11-12, o batismo cristão é chamado explicitamente de ‘‘circuncisão de Cristo’’ (o mesmo que circuncisão cristã) :

Nele também fostes circuncidados, não por intermédio de mãos, mas no despojamento do corpo da carne que é a circuncisão de Cristo; tendo sido sepultados juntamente com ele no batismo, no qual igualmente fostes ressuscitados, mediante a fé no poder de Deus que o ressuscitou dentre os mortos.
O argumento do Apóstolo Paulo é evidente: nós cristãos também fomos circuncidados, não com o corte do prepúcio, mas com o batismo cristão que tem a mesma função da circuncisão judaica, podendo portanto até mesmo ser chamado de circuncisão cristã.

5. É o Selo do Pacto da Graça

Já que o batismo cristão corresponde à circuncisão judaica, o batismo é, para a Igreja visível no Novo Testamento, o que foi para a Igreja visível no Antigo Testamento: a confirmação (o sinal visível) da aliança que Deus fez com Abraão, o “pai de todos os crentes.” É exatamente este o papel da circuncisão, conforme as palavras do próprio Senhor a Abraão, quando da instituição desta ordenança em Gênesis 17:1-13:

Quando atingiu Abraão a idade de noventa e nove anos, apareceu-lhe o Senhor e disse-lhe: Eu sou o Deus todo-poderoso: anda na minha presença e sê perfeito. Farei uma aliança (um pacto) entre mim e ti, e te multiplicarei extraordinariamente... será contigo a minha aliança; serás pai de numerosas nações... estabelecerei a minha aliança (pacto) entre mim e ti e a tua descendência no curso das gerações, aliança perpétua, para ser o teu Deus, e da tua descendência.

Disse mais Deus a Abraão: Guardareis a minha aliança, tu e a tua descendência no decurso das suas gerações... Circundareis a carne do vosso prepúcio; será isso por sinal de aliança entre mim e vós. O que tem oito dias será circuncidado entre vós, todo macho nas vossas gerações, tanto o escravo nascido em casa, como o comprado a qualquer estrangeiro, que não for da tua estirpe. Com efeito, será circuncidado o nascido em tua casa, e o comprado por teu dinheiro; a minha aliança estará na vossa carne e será aliança perpétua.
A circuncisão dos Israelitas e dos prosélitos do judaísmo era, portanto, um sinal externo da aliança de Deus com Abraão, segundo a qual ele (Abraão) e seus descendentes constituiriam a igreja visível de Deus na terra. O batismo cristão, assim como a circuncisão judaica, é, portanto, o sinal externo solene de admissão na igreja visível.

Isto não implica necessariamente em que todos os de Israel (da igreja visível no AT) fossem ou seriam verdadeiros israelitas (membros da igreja invisível), ou seja: que necessariamente fossem ou seriam objeto da graça salvadora. Nem implicava em que aqueles que não fossem de Israel (judeus), não pudessem vir a ser verdadeiros israelitas (membros da igreja invisível).

A circuncisão implicava, sim, em que seriam considerados povo de Deus, e seriam objeto do seu especial cuidado, da sua bênção e da sua revelação. De fato, os compatriotas de Paulo segundo a carne desfrutaram de privilégios especiais, tais como ‘‘a adoção, e também a glória, as alianças (os pactos da graça e da lei), a legislação, o culto e as promessas; deles são os patriarcas e também deles descende o Cristo, segundo a carne...’’ (Rm 9:3-4). Depois de demonstrar a culpabilidade universal (de gentios e judeus), o Apóstolo Paulo pergunta: ‘‘Qual pois a vantagem do judeus? ou qual a vantagem da circuncisão?’’ Ele mesmo responde: ‘‘Muitas, sob todos os aspectos. Principalmente porque aos judeus foram confiados os oráculos de Deus.’’ (Rm 3:1-2).

Conclusão: O batismo, assim como a circuncisão, é o rito ou forma externa determinada por Deus para simbolizar e selar a admissão de pessoas na igreja visível, como beneficiários do pacto da graça e objeto do seu cuidado especial. É verdade que o símbolo pressupõe, em geral, o gracioso lavar regenerador do Espírito Santo pela Palavra (Tt 3:5), por meio do arrependimento e da fé; mas não o opera nem garante.

III. AS CRIANÇAS NO PACTO DA GRAÇA NO ANTIGO TESTAMENTO
A questão realmente importante com relação ao batismo infantil como “a circuncisão cristã” é a seguinte: as crianças foram incluídas como beneficiárias do pacto da graça que Deus fez com Abraão? E a resposta é evidentemente positiva. Na instituição da circuncisão as crianças foram explicitamente incluídas como beneficiárias do pacto da graça, como membros da igreja visível no AT.

Por isso deveriam ser circuncidadas: ‘‘O que tem oito dias será circuncidado entre vós, todo macho nas vossas gerações.’’ (Gn 17:9-12). Não haveria nenhum impedimento em instituir a circuncisão apenas para os adultos! Mas isso não ocorreu. As crianças também foram incluídas, porque era o propósito do Senhor que sua aliança fosse com Abraão e com a sua descendência.
O que precisa ser entendido é que esta aliança que Deus fez com Abraão, chamada pelos reformados de pacto da graça, é a implementação histórica de uma aliança eterna, e nunca foi ab-rogada (anulada). Esta aliança, cujo selo era a circuncisão e agora é o batismo (a circuncisão de Cristo) é anterior à lei de Moisés e portanto continua vigorando.

O pacto da lei passou (um adendo), é verdade, bem como suas leis cerimoniais. Mas não a aliança da graça com Abraão, a qual foi instituída cerca de quatrocentos anos antes da lei de Moisés. A aliança com Abraão não passou, é ‘‘aliança eterna’’. As ordenanças, os símbolos dessa aliança, mudaram: primeiro só a circuncisão; depois foi acrescentado a páscoa, e depois ambas foram substituídas pelo batismo e pela ceia do Senhor. Mas a aliança é a mesma.
É isto o que o Apóstolo Paulo afirma em Gálatas 3:17. Demonstrando que a lei de Moisés não pode invalidar a aliança com Abraão, ele diz: ‘‘Uma aliança já anteriormente confirmada por Deus, a lei, que veio quatrocentos e trinta anos depois não a pode ab-rogar, de forma que venha a desfazer a promessa.’’

Logo, a aliança mencionada no Novo Testamento não é uma outra aliança, uma aliança recentemente estabelecida, que ab-rogou a aliança feita com Abraão; mas a mesma aliança renovada, por Aquele que é o Mediador da aliança: Jesus (cf. Gl 3:27,29). A palavra usada não é “nevo”, mas “kainov” como em novoscéus e nova terra (não outros céus e outra terra, mas estes céus e esta terra renovados).

O fato é que a igreja é a mesma. Somos membros de um mesmo corpo. Somos a ‘‘comunidade de pacto’’. Somos os verdadeiros descendentes de Abraão. ‘‘Os da fé é que são filhos de Abraão’’(Gl 3:7). Somos (a igreja cristã) os ramos que foram enxertados; nos tornamos participantes da mesma raiz e da mesma seiva da oliveira (Rm 11:17). O meio de salvação também não mudou. Somos salvos hoje do mesmo modo como foram os crentes na época do Antigo Testamento; isto é, pela graça soberana de Deus mediante o arrependimento e a fé nas Suas promessas, entre as quais a principal era a vinda do Messias, o Redentor de Israel (Rm 4:1-17). Logo, por que razão os filhos dos membros da nova aliança deveriam ser excluídos da comunidade do pacto, da igreja visível? Por que negar-lhes o selo da pacto: o batismo?

IV. AS CRIANÇAS E O PACTO DA GRAÇA NO NOVO TESTAMENTO
O Novo Testamento exclui as crianças da condição de beneficiárias do pacto da graça? Não, em nenhum lugar do Novo Testamento os filhos dos que pertenciam a aliança — os quais tão enfática e explicitamente nela foram incluídos em Gênesis 17 — foram excluídos. Pelo contrário, há afirmações também explícitas de que continuam incluídos.

1. O próprio Senhor Jesus afirmou que eles pertencem ao seu reino: ‘‘Deixai vir a mim os pequeninos e não os embaraceis, porque dos tais é o reino dos céus’’ (Lc 18:16).
2. Pedro confirma que a promessa os inclui: ‘‘Pois para vós outros é a promessa, para vossos filhos, e para todos os que ainda estão longe’’ (At 2:39)

3. O Apóstolo Paulo reconhece a posição dos filhos como ‘‘santos’’, quando pelo menos um dos pais é crente. Escrevendo aos Coríntios, Paulo orienta os cônjuges que haviam se convertido a não se separarem pelo fato do outro cônjuge continuar descrente dizendo: ‘‘o marido incrédulo é santificado no convívio da esposa, e a esposa incrédula é santificada no convívio do marido crente. Doutra sorte, vossos filhos seriam impuros; porém, agora são santos’’ (I Co 7:14)
4. Há ainda exemplos implícitos de sua prática nas páginas do Novo Testamento:

Lídia: o Senhor abriu o seu coração para crer, e logo foi batizada, ela e toda a sua casa (At 16:14,15).
O carcereiro de Filipos: Tendo perguntado a Paulo e Silas o que deveria fazer para ser salvo, eles responderam-lhe: ‘‘Crê no Senhor Jesus, e serás salvo, tu e a tua casa. E lhe pregaram a palavra de Deus e a todos os de sua casa... A seguir foi ele batizado, e todos os seus’’ (At 16:30-33)
Estéfanas: Dentre as poucas pessoas que o apóstolo Paulo havia batizado estava a ‘‘casa de Estéfanas’’ (I Co 1:16)
5. Os Pais da Igreja, de um modo geral, reconhecem e mencionam a prática do batismo infantil. Nove, dentre doze Pais que viveram nos dois primeiros séculos, referem-se à prática do batismo infantil; ex: Justino Mártir (130), Irineu (180), Orígenes (230).

Posteriormente, Agostinho afirmou que ‘‘nenhum concílio jamais ordenara o batismo infantil por ser este uma prática que vinha desde os tempos apostólicos; e que nunca ouvira ou lera de alguém na igreja que sustentasse o contrário’’. O Concílio de Cartago recebeu consulta se era lícito batizar crianças antes de oito dias. O que significa que a prática do batismo infantil após o oitavo dia de vida era comum.
6. Deve-se se observar que, se não há exemplo explícito de batismo infantil no Novo Testamento, também não há a menor referência a batismos de adultos nascidos e criados em lares cristãos!

V. OBJEÇÕES

1. Não existe mandamento para batizar crianças
E nem era necessário, pois as crianças (filhos da aliança) sempre foram reconhecidas como membros da igreja visível do Antigo Testamento. Seria de se esperar o contrário: um mandamento para não mais incluí-las na igreja do Novo Testamento. Também não existe mandamento explícito instituindo o domingo como o dia do descanso cristão, nem mandamento explícito incluindo as mulheres na Ceia do Senhor!

2. As crianças não preenchem as condições necessárias: arrependimento e fé
O mesmo argumento as excluiria do céu! “Se não vos arrependerdes, todos igualmente perecereis” (Lc 13:3). “Quem nele crê não é condenado; o que não crê já está condenado” (Jo 3:18). Mas Jesus não as excluiu, e mesmo os que fazem essa objeção não as excluem.

O argumento é válido apenas para os adultos que podem exercer a fé, mas não para as crianças. A Bíblia também diz: ‘‘Quem não trabalha não coma’’. E as crianças! Devemos deixá-las com fome, porque não podem trabalhar?!
No AT as crianças (filhos da aliança) também não poderiam se arrepender e ter fé nas promessas (condição para a salvação também no AT), mas mesmo assim eram circuncidadas e consideradas membros do povo de Deus (da igreja visível) e beneficiárias da aliança.

3. Que benefícios pede produzir na criança?
Que benefício poderia produzir na criança a circuncisão? Muitos, não apenas para a criança, como também para a igreja e para os pais, como veremos a seguir.

VI. IMPORTÂNCIA DO BATISMO INFANTIL

Para a Igreja

1) Edificação dos membros.
2) Responsabilidade da igreja na orientação dos pais e dos filhos.
Para os Pais
1) Conforto no sentido de que os filhos pertencem ao pacto. A não ser que rejeitem quando adultos, essa é a condição deles.
2) Responsabilidades: fazer os filhos conhecerem a sua condição de pertencentes ao pacto. Serem fiéis (dando-lhes bom testemunho). Educá-los no temor do Senhor.
Para as Crianças

1) Quando chegarem à idade da razão, saberão que pertencem à aliança e se perguntarão: O que isto significa? E serão tão beneficiadas com o batismo quanto aqueles que são batizados quando adultos.
2) Gozam de todos os privilégios da Igreja Visível: oração, conselhos, disciplina, ensino da Palavra, exemplo dos outros fiéis, e principalmente das promessas referentes ao pacto.

VII. O SIMBOLISMO E MODO DO BATISMO

1. A Prática Batista e Pentecostal
Os nossos irmão batistas e pentecostais (estes historicamente procedentes dos primeiros), insistem na imersão como sendo a única forma legítima do batismo.
A primeira razão que apresentam está relacionada ao simbolismo do batismo. Para eles, baseados em Romanos 6:3ss e Colossenses 3:12, o batismo é uma prescrição para imergir, como símbolo da morte, sepultamento e ressurreição de Cristo. Eis os textos:

Ou, porventura, ignorais que todos os que fomos batizados em Cristo Jesus, fomos batizados na sua morte? Fomos, pois, sepultados com ele na morte pelo batismo; para que, como Cristo foi ressuscitado dentre os mortos pela glória do Pai, assim também andemos nós em novidade de vida. Porque se fomos unidos com ele na semelhança da sua morte, certamente o seremos também na semelhança da sua ressurreição (Rm 6:3-5).
Tendo sido sepultados juntamente com ele no batismo, no qual igualmente fostes ressuscitados, mediante a fé no poder de Deus que o ressuscitou dentre os mortos (Cl 2:12).
A segunda razão diz respeito à inexistência, segundo eles, de exemplos de batismos por imersão no Novo Testamento.


2. A Prática Reformada e Protestante
A prática reformada não insiste na necessidade de imersão (nem de aspersão). As razões são as seguintes:

1) O simbolismo do batismo não está na imersão, mas na purificação, no lavar purificador. Assim como a circuncisão simbolizava a remoção da impureza, o batismo com água (que é a circuncisão cristã) simboliza o lavar purificador do Espírito Santo em virtude da obra de Cristo (por meio de Cristo): “ele [Deus] nos salvou mediante o lavar regenerador do Espírito Santo, que ele derramou sobre nós ricamente, por meio de Jesus Cristo, nosso salvador” (Tt 3:5).
Este simbolismo do batismo é exemplificado no relado do apóstolo Paulo das palavras de Ananias no seu próprio batismo: “levanta-te, recebe o batismo e lava os teus pecados...” (At 22:16). Isto é, o batismo não purifica do pecado, ele simboliza a purificação do pecado.

Eis o que diz o Catecismo de Heidelberg sobre o batismo:
Cristo instituiu este lavar externo com água e por ele prometeu que me encontro tão seguramente lavado com o seu sangue e com o seu Espírito das impurezas de minha alma e de todos os meus pecados, como lavado externamente com água que é usada para remover a sujeira do meu corpo (resposta 69).

É claro que num sentido mais amplo, todas as bênçãos espirituais decorrentes da salvação estão implícitas no símbolo: a morte para o pecado, o novo nascimento, o ingresso no corpo de Cristo por meio da nossa união com ele, etc. E muitas figuras são empregadas neste sentido: morrer com Cristo, ser sepultados com Cristo, ressuscitar com Cristo, viver em Cristo, andar em Cristo, revestir-se de Cristo (Gl 3:27), ser plantados com Cristo, etc. Mas isso não significa que alguma dessas figuras seja a única simbologia indicada no batismo.

A simbologia do batismo está no lavar, na purificação pela lavagem de água, na ação purificadora do Espírito Santo, o qual nos separa do uso comum (impuro) e nos une a Cristo; e não no modo como essa lavagem é efetuada. Convém observar que, mesmo em Romanos 6, o contexto geral é a purificação do pecado:
Que diremos, pois? Permaneceremos no pecado para que seja a graça mais abundante? De modo nenhum. Como viveremos ainda no pecado, nós que para ele morremos?... Sabendo, isto, que foi crucificado com ele o nosso velho homem, para que o corpo do pecado seja destruído e não sirvamos o pecado como escravos... Não reine, portanto, o pecado em vosso corpo mortal, de maneira que obedeçais às suas paixões... (vs. 1-2, 6, 12).

O essencial no batismo, é explicitamente ensinado na sua instituição e nos demais textos do Novo Testamento: que seja feito com água (At 10:47) e em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo (Mt 28:19).

2)
 Do uso da palavra batizar (baptivzw) na Septuaginta. Nas quatro vezes que o verbo aparece, todas podem ser traduzidas por lavar, mas nem todas podem ser traduzidas por imergir. Exemplos: Daniel 4:33, onde lemos que o corpo de Nabucodonosor “...foi molhado do orvalho do céu...” Conferir Levítico 6:28: “e o vaso de barro em que for cozida [a carne da oferta pelo pecado] será quebrado; porém se for cozida num vaso de bronze, esfregar-se á na água.” Mesmo em 2 Reis 5:14, onde a imersão é provável, o propósito é claramente de lavagem como símbolo de purificação, conforme indicam os versos 10, 12 e 13.

3) Dos ritos de purificação no Antigo Testamento: freqüentemente por meio de aspersões de sangue ou de água. Conferir números 19:9, 13 e 20. Estes ritos de purificação de utensílios, etc., são chamados de batismos no Novo Testamento:
E vendo que alguns dos discípulos dele comiam o pão com as mãos impuras, isto é, por lavar [ajnivpta](pois os fariseus e todos os judeus, observando a tradição dos anciãos, não comem sem lavar [niywntai]cuidadosamente as mãos; quando voltam da praça não comem sem se aspergirem [baptivswntai]; e há muitas outras coisas que observam, como a lavragem [baptismonv] de copos, jarros e vasos de metal e camas), interpelaram-no os fariseus e os escribas: Por que não andam os teus discípulos de conformidade com a tradição dos anciãos, mas comem com as mãos por lavar [koinai - impuras]? (Mc 7:2-5).
Hebreus 9:10, 13, 19 e 21, fala da prática de abluções (baptismoi), de aspergir cinzas e sangue (rJantivzonsa), o povo, o tabernáculo e os utensílios sagrados com vistas à purificação religiosa.

4)
 Do uso da palavra no Novo Testamento:
a) Intercambiável com nivptw (lavar): maços 7:3-4 (já citado); Lucas 11:38; Mateus 15;2 e 20. Observação: o modo comum de lavar as mãos no oriente era pelo derramamento de água, como hoje.
b) A contenda dos discípulos de João sobre o batismo (Jo 3:22-30) é reconhecidamente uma contenda sobre purificação (v. 25).

5)
 Do caráter espiritual do culto no Novo Testamento, que não enfatiza a forma mas o espírito. A ênfase do culto no Novo Testamento não está na roupa dos oficiantes, no templo, no rito, mas na sua natureza espiritual e verdadeira. Em conformidade com isso, em nenhum lugar no Novo Testamento é especificada a forma do batismo (imersão ou aspersão). Logo, por que enfatizaríamos nós?

6) É interessante observar também que não há um só exemplo de batismo no Novo Testamento que especifique de modo explícito e inequívoco a forma de batismo (imersão ou aspersão) praticada. Na verdade, o contexto e alguns desses exemplos de batismos torna até improvável a imersão. É o caso do batismo das grandes multidões na cidade de Jerusalém, onde a água era escassa (at 2:37-41); do eunuco no deserto (); de Paulo na casa de Judas, por Ananias (nada no relato indica que saíram da casa, At 9:17-19); e do carcereiro de Filipos (At 16:30-33).

7) Os desenhos, gravuras e pinturas mais antigos (do segundo e terceiro séculos) de cenas de batismos cristãos retratam o derramamento de água sobre o batizado.

CONCLUSÃO

1) O batismo com água foi instituído como substituto da circuncisão, como sacramento de inciação na igreja visível de Cristo na nova aliança, visto não ser mais necessário o derramamento de sangue. É, portanto, “a circuncisão de Cristo” (cristã).
2) O batismo não é um atestado de salvação (nem todos os batizados são necessariamente salvos). Não é meio de salvação (não opera a salvação). Não é essencial à salvação (mas deve ser praticado em obediência à ordem de Cristo).
3) O batismo é o sinal visível e selo do pacto da graça, de ingresso na igreja visível, do nosso compromisso público solene com Cristo e com a sua obra. Por meio dele os membros da igreja são visivelmente distinguidos das demais pessoas como povo de Cristo e beneficiários da aliança.
4) O simbolismo do batismo consiste não apenas ou especificamente na imersão (ou morte e ressurreição), mas no lavar purificador regenerador operado pelo Espírito Santo no coração daquele que se arrepende dos seus pecados e crê na eficácia e suficiência da obra de Cristo; e na sua conseqüência união com Cristo e com o seu corpo. O batismo não é símbolo de uma figura, mas de uma transformação interna espiritual.
5) O modo do batismo não é relevante. Pode ser tanto por imersão como por aspersão. Sendo que a aspersão (ou ablução) é preferível, na concepção reformada, à luz das práticas (batismos, lavagens) purificadoras do Antigo Testamento e mesmo dos exemplos do Novo Testamento e do testemunho da história da igreja.

Rev. Paulo R. B. Anglada

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Se eu tiver fé, poderei fazer mais milagres do que Jesus? DITOS DIFÍCEIS DE JESUS - IV




Em verdade, em verdade vos digo que aquele que crê em mim fará também as obras que eu faço e outras maiores fará, porque eu vou para junto do Pai (João 14.12).

Jesus fez esta promessa aos seus discípulos na noite em que foi traído, antes de ir com eles para o Getsêmani, durante o jantar em que instituiu a Ceia. O Senhor falou que iria para o Pai preparar lugar para os discípulos (Jo 14.1-4), e em seguida explicou como eles chegariam lá (14.5-6). Respondendo ao pedido de Filipe para que lhes mostrasse o Pai, Jesus explica que Ele está de tal forma unido ao Pai, que vê-lo é ver o Pai (14.7-9). E como prova de que Ele está no Pai e o Pai está nEle, Jesus aponta para as obras que realizou (14.10-11). E em seguida, faz esta promessa, “aquele que crê em mim fará também as obras que eu faço e outras maiores fará, porque eu vou para junto do Pai” (14.12).

Este dito de Jesus é difícil porque parece prometer que seus discípulos seriam capazes de realizar os milagres que Ele realizou, e até mesmo maiores, se somente cressem nEle – e pelo que lemos no livro de Atos e na história da Igreja, esta promessa não parece ter-se cumprido. Compreender o real sentido desta passagem tem se tornado ainda mais crucial pois ela tem sido usada, após o surgimento do movimento pentecostal e seus desdobramentos, para defender modernas manifestações miraculosas, iguais e maiores dos que as efetuadas pelo próprio Jesus Cristo.

Há duas principais tentativas de interpretar este dito de Jesus:

1. As “obras” são os milagres físicos realizados por Jesus

A interpretação popular e mais comum, aceita pela maioria dos evangélicos no Brasil (esta maioria, por sua vez, é composta na maior parte por pentecostais e neopentecostais), é que Jesus realmente prometeu que seus discípulos seriam capazes de realizar os mesmos milagres que Ele realizou, e mesmo maiores. É importante notar que muitos membros de igrejas históricas, como presbiterianos, batistas, congregacionais e episcopais, entre outros, também foram influenciados por este ponto de vista. Nesta interpretação, a palavra “obras” é entendida exclusivamente como se referindo aos milagres físicos que Jesus realizou, como curas, exorcismos e ressurreição de mortos. Os adeptos desta interpretação entendem que existem hoje pastores, obreiros e crentes com capacidade para realizar os mesmos milagres de Jesus – e até maiores. Defendem que curas, visões, revelações e de outras atividades miraculosas estão acontecendo no seio de determinadas igrejas nos dias de hoje, exatamente como aconteceram nos dias de Jesus e dos apóstolos. E desta perspectiva, se uma igreja evangélica não realiza estes sinais e prodígios, significa que ela é fria, morta, sem fé viva em Jesus.

Apesar desta interpretação parecer piedosa e cheia de fé (e é por isto que muitos a aceitam), tem algumas dificuldades óbvias. Primeira, apesar dos milagres que realizaram, nem os apóstolos, que foram os cristãos mais próximos desta promessa, parecem ter suplantado aqueles de Jesus, em número e em natureza. Jesus andou sobre as águas, transformou água em vinho, acalmou tempestades e suas curas, segundo os Evangelhos, atingiram multidões. Não nos parece que os apóstolos, conforme temos no livro de Atos, suplantaram o Mestre neste ponto. Segundo, a História da Igreja não registra, após o período apostólico, a existência de homens que tivessem os mesmos dons miraculosos dos apóstolos e que tenham realizado milagres ao menos parecidos com os de Jesus. Na verdade, os grandes homens de Deus na História da Igreja nunca realizaram feitos miraculosos desta monta, como Agostinho, Lutero, Wycliffe, Calvino, Bunyan, Spurgeon, Moody, Lloyd-Jones, e muitos outros. Os pregadores pentecostais que afirmam ser capazes de realizar milagres semelhantes, e ainda maiores, não têm um ministério de cura e milagres consistente e ao menos semelhantes aos de Jesus. O famoso John Wimber, um dos maiores defensores das curas modernas, morreu de câncer na garganta. Antes de morrer, confessou que nunca conseguiu curar uma criança com problemas mentais, e nem conhecia ninguém que o tivesse feito.  Os cultos de cura de determinadas igrejas neopentecostais alegam milagres que são de difícil comprovação. Terceiro, esta interpretação deixa sem explicação o resto da frase de Jesus: “aquele que crê em mim fará também as obras que eu faço e outras maiores fará, porque eu vou para junto do Pai” (14.12). E por último, esta interpretação implica que os cristãos que não fizeram os mesmos milagres que Jesus fez não tiveram fé suficiente, e assim, coloca na categoria de crentes “frios” os grandes vultos da História da Igreja e milhões de cristãos que nunca ressuscitaram um morto ou curaram uma doença.

Esclareço que não estou dizendo que Deus não faz milagres hoje. Creio que Ele faz, sim. Creio que Ele é poderoso para agir de forma sobrenatural neste mundo e que Ele faz isto constantemente. O que estou questionando é a interpretação desta passagem que afirma que se tivermos fé faremos milagres maiores do que aqueles realizados por Jesus.

2. As “obras” se referem ao avanço do Reino de Deus no mundo

A outra interpretação entende que Jesus se referia obra de salvação de pecadores, na qual, obviamente, milagres poderiam ocorrer. Os principais argumentos em favor desta interpretação são estes:

a. A expressão “quem crê em mim” é usada consistentemente no Evangelho de João para se referir ao crente em geral, em contraste com o mundo que não crê. Examine as passagens abaixo:

  • Jo 6:35  Declarou-lhes, pois, Jesus: Eu sou o pão da vida; o que vem a mim jamais terá fome; e o que crê em mim jamais terá sede.
  • Jo 6:47  Em verdade, em verdade vos digo: quem crê em mim tem a vida eterna.
  • Jo 11:25-26  Disse-lhe Jesus: Eu sou a ressurreição e a vida. Quem crê em mim, ainda que morra, viverá; e todo o que vive e crê em mim não morrerá, eternamente. Crês isto?
  • Jo 12:46  Eu vim como luz para o mundo, a fim de que todo aquele que crê em mim não permaneça nas trevas.

Fica claro pelas passagens acima que aqueles que crêem em Jesus são os crentes em geral, e que a fé em questão é a fé salvadora. Por analogia, a expressão “quem crê em mim” em João 14.12 também se refere a todo crente, e não àqueles que teriam uma fé tão forte que seriam capazes de exercer o mesmo poder de Jesus em realizar milagres – e até suplantá-lo!

b. O termo “obras” referindo-se às atividades de Jesus, é usado no Evangelho de João para se referir a tudo aquilo que Ele fez, conforme determinado pelo Pai, para mostrar Sua divindade, para salvar pecadores e para glorificar ao Pai. Veja estas passagens: Jo 4:34; 5:20,36;  6:28,29; 7:3; 9:3,4; 10:25,32,33,37,38; 14:10,11; 14:12; 15:24; 17:4. O termo “obras” não se refere exclusivamente aos milagres de Jesus, muito embora em algumas ocorrências os inclua. No contexto da passagem que estamos examinando, Jesus usa o termo “obras” para se referir às palavras que Ele tem falado: “Não crês que eu estou no Pai e que o Pai está em mim? As palavras que eu vos digo não as digo por mim mesmo; mas o Pai, que permanece em mim, faz as suas obras” (Jo 14.10). É evidente, portanto, que não se pode entender o termo “obras” em Jo 14.12 como se referindo exclusivamente aos milagres físicos realizados por Jesus. O termo é muito mais abrangente e se refere à sua toda atividade terrena realizada com o fim de salvar pecadores: palavras, atitudes e, sem dúvida, milagres.

c. A frase “porque eu vou para junto do Pai” fornece a chave para entender este dito difícil. Enquanto Jesus estava neste mundo, sua ação salvadora era limitada pela sua presença física. Seu retorno à presença do Pai significava a expansão ilimitada do Reino pelo mundo através do trabalho dos discípulos, começando em Jerusalém e até os confins da terra. Como vimos, as “obras” que Ele realizou não se limitavam apenas aos milagres físicos, mas incluíam a influência dos mesmos nas pessoas e a pregação do Reino efetuada por Jesus. Estas obras, porém, estavam limitadas pela Sua presença física em apenas um único lugar ao mesmo tempo. As “obras maiores” a ser realizadas pelos que crêem devem ser entendidas deste ponto de vista: os discípulos, através da pregação da Palavra no mundo todo, suplantaram em muito a área de atuação e influência do Senhor Jesus, quando encarnado.

Adotar a interpretação acima não significa dizer que milagres não acontecem mais hoje. Estou convencido de que eles acontecem e que estão implícitos neste dito do Senhor Jesus. Entretanto, eles ocorrem como parte da obra de expansão do Reino, que é a obra maior realizada pela Igreja.

O dito de Jesus, portanto, não está prometendo que qualquer crente que tenha fé suficiente será capaz de realizar os mesmos milagres que Jesus realizou e ainda maiores – a Escritura, a História e a realidade cotidiana estão aí para contestar esta interpretação – e sim que a Igreja seria capaz de avançar o Reino de Deus de uma forma que em muito suplantaria o que Jesus fez em seu ministério terreno. Os milagres certamente estariam e estão presentes, não como algo que sempre deve acontecer, dependendo da fé de alguns, e não por mãos de pretensos apóstolos e obreiros super-poderosos, mas como resposta do Cristo exaltado e glorificado às orações de seu povo.

veja tambem
http://projeto242japao.blogspot.jp/2015/04/como-assim-nao-toqueis-no-ungido-do.html

 

Como assim, "não toqueis no ungido do Senhor..."?!

Ilustração de Samuel ungindo
Davi como rei de Israel

Como assim, "não toqueis no ungido do Senhor..."?!



Há várias passagens na Bíblia onde aparecem expressões iguais ou semelhantes a estas do título desta postagem:
A ninguém permitiu que os oprimisse; antes, por amor deles, repreendeu a reis, dizendo: Não toqueis nos meus ungidos, nem maltrateis os meus profetas (1Cr 16:21-22; cf. Sl 105:15).
Todavia, a passagem mais conhecida é aquela em que Davi, sendo pressionado pelos seus homens para aproveitar a oportunidade de matar Saul na caverna, respondeu: "O Senhor me guarde de que eu faça tal coisa ao meu senhor, isto é, que eu estenda a mão contra ele [Saul], pois é o ungido do Senhor" (1Sm 24:6).

Noutra ocasião, Davi impediu com o mesmo argumento que Abisai, seu homem de confiança, matasse Saul, que dormia tranquilamente ao relento: "Não o mates, pois quem haverá que estenda a mão contra o ungido do Senhor e fique inocente?" (1Sm 26:9). Davi de tal forma respeitava Saul, como ungido do Senhor, que não perdoou o homem que o matou: “Como não temeste estender a mão para matares o ungido do Senhor?” (2Sm 1:14).

Esta relutância de Davi em matar Saul por ser ele o ungido do Senhor tem sido interpretado por muitos evangélicos como um princípio bíblico referente aos pastores e líderes a ser observado em nossos dias, nas igrejas cristãs. Para eles, uma vez que os pastores, bispos e apóstolos são os ungidos do Senhor, não se pode levantar a mão contra eles, isto é, não se pode acusa-los, contraditá-los, questioná-los, criticá-los e muito menos mover-se qualquer ação contrária a eles. A unção do Senhor funcionaria como uma espécie de proteção e imunidade dada por Deus aos seus ungidos. Ir contra eles seria ir contra o próprio Deus.

Mas, será que é isto mesmo que a Bíblia ensina?

A expressão “ungido do Senhor” usada na Bíblia em referência aos reis de Israel se deve ao fato de que os mesmos eram oficialmente escolhidos e designados por Deus para ocupar o cargo mediante a unção feita por um juiz ou profeta. Na ocasião, era derramado óleo sobre sua cabeça para separá-lo para o cargo. Foi o que Samuel fez com Saul (1Sam 10:1) e depois com Davi (1Sam 16:13).

A razão pela qual Davi não queria matar Saul era porque reconhecia que ele, mesmo de forma indigna, ocupava um cargo designado por Deus. Davi não queria ser culpado de matar aquele que havia recebido a unção real.

Mas, o que não se pode ignorar é que este respeito pela vida do rei não impediu Davi de confrontar Saul e acusá-lo de injustiça e perversidade em persegui-lo sem causa (1Sam 24:15). Davi não iria matá-lo, mas invocou a Deus como juiz contra Saul, diante de todo o exército de Israel, e pediu abertamente a Deus que castigasse Saul, vingando a ele, Davi (1Sam 24:12). Davi também dizia a seus aliados que a hora de Saul estava por chegar, quando o próprio Deus haveria de matá-lo por seus pecados (1Sam 26:9-10).

O Salmo 18 é atribuído a Davi, que o teria composto “no dia em que o Senhor o livrou de todos os seus inimigos e das mãos de Saul”. Não podemos ter plena certeza da veracidade deste cabeçalho, mas existe a grande possibilidade de que reflita o exato momento histórico em que foi composto. Sendo assim, o que vemos é Davi compondo um salmo de gratidão a Deus por tê-lo livrado do “homem violento” (Sl 18:48), por ter tomado vingança dos que o perseguiam (Sl 18:47).

Em resumo, Davi não queria ser aquele que haveria de matar o ímpio rei Saul pelo fato do mesmo ter sido ungido com óleo pelo profeta Samuel para ser rei de Israel. Isto, todavia, não impediu Davi de enfrentá-lo, confrontá-lo, invocar o juízo e a vingança de Deus contra ele, e entregá-lo nas mãos do Senhor para que ao seu tempo o castigasse devidamente por seus pecados.

O que não entendo é como, então, alguém pode tomar a história de Davi se recusando a matar Saul, por ser o ungido do Senhor, como base para este estranho conceito de que não se pode questionar, confrontar, contraditar, discordar e mesmo enfrentar com firmeza pessoas que ocupam posição de autoridade nas igrejas quando os mesmos se tornam repreensíveis na doutrina e na prática.

Não há dúvida que nossos líderes espirituais merecem todo nosso respeito e confiança, e que devemos acatar a autoridade deles – enquanto, é claro, eles estiverem submissos à Palavra de Deus, pregando a verdade e andando de maneira digna, honesta e verdadeira. Quando se tornam repreensíveis, devem ser corrigidos e admoestados. Paulo orienta Timóteo da seguinte maneira, no caso de presbíteros (bispos/pastores) que errarem:
"Não aceites denúncia contra presbítero, senão exclusivamente sob o depoimento de duas ou três testemunhas. Quanto aos que vivem no pecado, repreende-os na presença de todos, para que também os demais temam" (1Tim 5:19-20).

Os “que vivem no pecado”, pelo contexto, é uma referência aos presbíteros mencionados no versículo anterior. Os mesmos devem ser repreendidos publicamente.

Mas, o que impressiona mesmo é a seguinte constatação. Nunca os apóstolos de Jesus Cristo apelaram para a “imunidade da unção” quando foram acusados, perseguidos e vilipendiados pelos próprios crentes. O melhor exemplo é o do próprio apóstolo Paulo, ungido por Deus para ser apóstolo dos gentios. Quantos sofrimentos ele não passou às mãos dos crentes da igreja de Corinto, seus próprios filhos na fé! Reproduzo apenas uma passagem de sua primeira carta a eles, onde ele revela toda a ironia, veneno, maldade e sarcasmo com que os coríntios o tratavam:
"Já estais fartos, já estais ricos; chegastes a reinar sem nós; sim, tomara reinásseis para que também nós viéssemos a reinar convosco.
Porque a mim me parece que Deus nos pôs a nós, os apóstolos, em último lugar, como se fôssemos condenados à morte; porque nos tornamos espetáculo ao mundo, tanto a anjos, como a homens.
Nós somos loucos por causa de Cristo, e vós, sábios em Cristo; nós, fracos, e vós, fortes; vós, nobres, e nós, desprezíveis.
Até à presente hora, sofremos fome, e sede, e nudez; e somos esbofeteados, e não temos morada certa, e nos afadigamos, trabalhando com as nossas próprias mãos. Quando somos injuriados, bendizemos; quando perseguidos, suportamos; quando caluniados, procuramos conciliação; até agora, temos chegado a ser considerados lixo do mundo, escória de todos.
Não vos escrevo estas coisas para vos envergonhar; pelo contrário, para vos admoestar como a filhos meus amados. Porque, ainda que tivésseis milhares de preceptores em Cristo, não teríeis, contudo, muitos pais; pois eu, pelo evangelho, vos gerei em Cristo Jesus. Admoesto-vos, portanto, a que sejais meus imitadores" (1Cor 4:8-17).
Por que é que eu não encontro nesta queixa de Paulo a repreensão, “como vocês ousam se levantar contra o ungido do Senhor?” Homens de Deus, os verdadeiros ungidos por Ele para o trabalho pastoral, não respondem às discordâncias, críticas e questionamentos calando a boca das ovelhas com “não me toque que sou ungido do Senhor,” mas com trabalho, argumentos, verdade e sinceridade.

“Não toque no ungido do Senhor” é apelação de quem não tem nem argumento e nem exemplo para dar como resposta.