2015/04/30

Fé racional ou crença irracional?

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1 PEDRO 3:15 - Por que Pedro ordena aos crentes que raciocinem sob e sua fé, já que a Bíblia diz em outro texto para simplesmente crerem?

PROBLEMA: Vez após vez as Escrituras insistem em dizer que basta simplesmente crer em Jesus Cristo (cf. Jo 3:16; At 16:31). Hebreus declara que "sem fé é impossível agradar a Deus" (Hb 11:6). Paulo afirmou que "O mundo pela sua sabedoria não conheceu a Deus" (1 Co 1:21, R-1BB). Contudo, Pedro instrui os crentes a "responder", a dar a "razão" de sua fé. A fé e a razão não se opõem entre si?

SOLUÇÃO: A fé e a razão não são mutuamente exclusivas. Não se deve crer em alguma coisa sem antes verificar se tal coisa é digna de ser objeto da nossa crença. Por exemplo, bem poucas pessoas se submeteriam a uma grave operação médica por uma pessoa totalmente desconhecida, de quem não se tenha informação alguma, a não ser a suspeita de que seja um charlatão. Da mesma maneira, Deus não exige de nós que exerçamos uma fé cega.

Como Deus é um Deus racional (Is 1:18), e como nos fez criaturas racionais à sua imagem (Gn 1:27; Cl 3:10), ele quer que olhemos antes de pularmos. Nenhuma pessoa racional deve pisar num elevador sem primeiro constatar que nele há um piso. De igual modo, Deus quer que o nosso passo de fé seja dado à luz da evidência, e não como um salto no escuro.

A Bíblia é cheia de exortações para que façamos uso da razão. Jesus ordenou: "Amarás o Senhor teu Deus... de todo o teu entendimento" (Mt 22:37; grifos do autor em todas as citações aqui). Paulo disse também: "tudo o que é verdadeiro,... nisso pensai" (Fp 4:8, R-IBB, SBTB). Paulo ainda "argumentava... com os judeus" (At 17:17, R-IBB) e com os filósofos no Areópago (v. 22ss), ganhando muitos para Cristo (v. 34). Os bispos foram instruídos a "encorajar a outros pela sã doutrina e... refutar os que se opõem a ela" (Tt 1:9, EC). Paulo declara ter sido "posto para defesa do evangelho" (Fp 1:17, SBTB). Judas instou conosco para batalharmos "diligentemente, pela fé que uma vez por todas foi entregue aos santos" (Jd 3, SBTB). E Pedro ordenou que estivéssemos "sempre preparados para responder a todo aquele que vos pedir razão da esperança que há em vós" (1 Pe 3:15).

Há dois tipos de fé. O entendimento da relação entre esses dois tipos é uma chave para discernirmos a relação que há entre a fé e a razão.

FÉ:QUE > Anterior, Com evidência, Mente, Prova, Razão humana.EM > Posterior, Sem evidência, Vontade, Persuasão, Espírito Santo.

O diabo crê que Deus existe, mas ele não crê em Deus. A fé que está no âmbito da mente funciona com base numa evidência que a razão humana pode ver. A fé em Deus (em Cristo), entretanto, é um ato da vontade humana, sob a persuasão do Espírito Santo. Portanto, "crer que" nunca salvará ninguém (cf. Tg 2:14-20) - somente crerem Cristo é que proporcionará isso.

Entretanto, nenhuma pessoa, por ser racional, deveria crer em alguma coisa, a menos que primeiro tivesse evidências para crer que isso fosse verdadeiro. Nenhum viajante sensível entra num avião que esteja com uma das asas quebrada. Assim, a razão é válida como base para se crer que, mas é uma exigência errada para se crerem (cf. Jo 20:27-29).


 Norman Geisler e Thomas Howe

lei tambem
http://projeto242japao.blogspot.jp/2015/03/por-que-as-campanhas-e-correntes.html

Fé e Ciência - Entrevista com Karl Heinz Kienitz


Aguardem para breve o vídeo do programa Academia em Debate onde entrevistei Dr. Karl Heinz, do Instituto Tecnológico de Aeronáutica. Enquanto isto, ele gentilmente permitiu que a entrevista viesse de forma escrita aqui para o blog.

Dr. Karl Heinz é engenheiro de eletrônica, graduado e pós-graduado (mestrado) pelo Instituto Tecnológico de Aeronáutica (ITA). Obteve seu doutorado em engenharia elétrica pela Escola Politécnica Federal de Zurique, na Suíça. Atualmente é professor no ITA. Sua área de especialidade chama-se Sistemas e Controle, a parte da engenharia diretamente relacionada à automação. Ele é membro da Igreja Batista em São José dos Campos.

É autor do blog Fé e Ciência, onde trata da relação entre estas duas realidades.

Segue abaixo a entrevista.


Augustus O senhor é professor numa das escolas de tecnologia mais respeitadas do país, onde certamente os métodos científicos são seguidos com rigor. Ao mesmo tempo, o senhor é um cristão, que professa acreditar nos relatos da Bíblia. Existe alguma coisa na ciência que o obrigaria a desacreditar na Bíblia?

Karl - É quase o contrário: há coisas na Bíblia que me ajudam a confiar no método científico como uma ferramenta útil. Entre outras coisas, a Bíblia nos revela que Deus é consistente em seu governo da criação, e não cheio de caprichos (por exemplo em Romanos 1.20,  “Pois os seus atributos invisíveis, o seu eterno poder e divindade, são claramente vistos desde a criação do mundo, sendo percebidos mediante as coisas criadas, de modo que eles são inescusáveis.”) Assim, de antemão espero descobrir padrões regulares no estudo da natureza, e é a isso que se propõe o método científico.

Augustus Por que algumas pessoas insistem que há uma incompatibilidade radical entre a fé cristã e a ciência moderna?

Karl - Porque tais pessoas não possuem conceitos consistentes de ciência e fé (por exemplo confundem fé, religião e teologia, ou confundem ciência com plausibilidade), ou possuem motivos ideológicos para dogmatizar uma incompatibilidade entre fé cristã e ciência, que de fato não existe.

Augustus - Poderia dar uma definição de ciência? E dizer por que ela não conflita com a fé cristã de que há um Deus que criou todas as coisas?

Karl - Ciência é o conhecimento ou um sistema de conhecimentos que abarca verdades gerais ou a operação de leis gerais identificadas e testadas através do método científico. O método científico é um conjunto de regras básicas que fazem uso da razão para juntar evidências observáveis, empíricas e mensuráveis.

Embora procedimentos variem de uma área da ciência para outra, é possível determinar certos elementos que diferenciam o método científico de outros métodos. Primeiramente o cientista propõe hipóteses para explicar certo fenômeno ou observação de interesse. Baseado em suas hipóteses, o cientista faz previsões e então desenvolve experimentos e verificações para testar suas previsões. Previsões não confirmadas levam à rejeição das hipóteses. Hipóteses não rejeitadas eventualmente podem ser consolidadas em teorias. Toda hipótese ou teoria deve necessariamente permitir a formulação de previsões e permanece constantemente sujeita a novos testes, podendo ser refutada à luz de nova informação experimental. Todo o processo precisa ser objetivo, para que o cientista seja imparcial na interpretação dos resultados.

Outra expectativa básica do método científico é que todo o procedimento precisa ser documentado, tanto os dados quanto os procedimentos, para que outros cientistas possam analisá-los e reproduzi-los. Cientistas são fabricantes de mapas do mundo físico. Nenhum mapa nos diz tudo o que poderia ser dito sobre um terreno particular, mas numa determinada escala pode representar a estrutura existente com boa fidelidade. No sentido de uma verosimilitude crescente, de aproximações cada vez melhores da verdade sobre a matéria, a ciência nos proporciona um domínio cada vez mais firme da realidade material.

Retorno aos motivos para um “não-conflito” entre fé cristã e ciência, citando um motivo apenas. Como dito anteriormente, a Bíblia nos revela que o Criador é consistente em seu governo da criação. Portanto de antemão espero descobrir padrões regulares no estudo da natureza, ao que se propõe o método científico.

Augustus - Existem provas científicas da existência de Deus?

Karl - Não. Mas existem evidências científicas que apontam para a existência de um Criador. Várias dessas evidências motivaram a Teoria do Design Inteligente. Adicionalmente, evidências históricas, argumentos filosóficos e teológicos mostram ser mais razoável admitir a existência de Deus do que negá-la.

Augustus - As estatísticas nos dizem que mais 90 por cento da população brasileira crê em Deus e que apenas um mínimo é ateu. Mas quando a pesquisa é feita no âmbito da academia, a situação muda – a maioria dos cientistas afirma ser ateu ou agnóstico. Por que isto?

Karl - Uma grande parte do atual ceticismo, ateísmo e agnosticismo na academia deve-se ao espaço que damos a intelectuais impulsivos, que – em muitas ocasiões – deveriam pesquisar mais e falar menos. Como acadêmicos, precisamos ser críticos e pragmáticos para não aceitar discursos ideológicos. Deixe-me citar um exemplo. Em 1888 Nietzsche anotou a frase “Quanto mais próximo se está da ciência, maior é o crime de ser cristão,” num texto com o título Das Gesetz wider das Christenthum. Toda sua conduta e seu ensino transpiravam tal noção. O sórdido da frase é que ela foi escrita poucos anos depois que os cristãos Joule, Maxwell e Pasteur deram suas monumentais contribuições à ciência.

Hoje, na academia, a muitos parece adequado optar pela adoção simultânea da ideologia anticristã de Nietzsche e da ciência dos cristãos Joule, Maxwell e Pasteur, a quem Nietzsche - pela generalidade da sua frase – classifica de “criminosos”. Essa opção é essencialmente cultural e, na minha opinião, merecedora de reconsideração crítica.

Augustus - Entre os fundadores da moderna ciência há muitos pesquisadores que eram cristãos convictos, criacionistas – por que este fato é omitido quando o trabalho deles é mencionado em sala de aula?

Permita-me propor uma pequena reformulação na parte inicial da pergunta: não foram “muitos” cristãos convictos entre os fundadores da ciência moderna; foram todos, com poucas possíveis exceções, das quais não lembro uma sequer...

A menção à fé de cristãos que atuaram como cientistas é omitida em sala de aula por um de dois motivos: (a) o professor não tem a mínima ideia de que aqueles cientistas foram cristãos; ou (b) o professor é da opinião de que a fé cristã daqueles cientistas não teve relação alguma com a ciência que praticavam, o que em muitos casos – talvez na maioria dos casos – está em total desacordo com o entendimento dos próprios cientistas. Nos casos de Kepler, Joule e Maxwell, para citar 3 nomes apenas, a motivação para fazer ciência estava intimamente ligada à sua fé cristã. Mas a fé cristã não tem impacto somente na motivação para se fazer ciência: o respeito à vida humana, à integridade física e emocional de pessoas envolvidas na pesquisa, preocupação com os animais e com o meio ambiente, etc. são preocupações normais p/ um cientista de fé cristã.

Um cientista bastante conhecido na Europa, que enfatizou a importância da fé cristã para que se pratique uma ciência que sirva à humanidade e não prejudique à natureza foi Max Thürkauf, químico que recebeu o prêmio Ruzicka de Química, em 1963.

Augustus - Muitos jovens cristãos acabam perdendo a fé e abandonando o cristianismo quando entram no ambiente do ensino superior. Quais seriam as causas, na sua opinião?

Karl - O jovem cristão muitas vezes não está preparado para ter sua fé questionada. Além disso, muitas vezes, sucumbe ao “efeito rebanhão” (fazer, dizer e acreditar o que todo mundo à sua volta acredita) e/ou à “síndrome da admiração dos semi-deuses” (aceitar sem reflexão crítica o que professores afirmam). Nas igrejas os jovens precisam ser ensinados a expor, perguntar, debater, questionar e defender suas opiniões.

Augustus - Atualmente há um movimento crescente dentro da academia liderado por pesquisadores cristãos e não cristãos que questionam a afirmação do darwinismo naturalista de que a vida em toda a sua complexidade é decorrente de mutações e adaptações genéticas que  aconteceram meramente por acaso e que o propósito que se percebe na natureza é somente aparente. É possível para um cientista cristão que crê no Deus da Bíblia concordar que o acaso está por detrás da realidade?

Karl - Não vejo possibilidade de explicar a diversidade da vida com o acaso. Mas isto não decorre da minha fé no Deus da Bíblia. Cálculos de probabilidades feitos por diversos cientistas de renome deixam claro que em algum ponto de um (alegado) processo evolucionário seria necessário algo como um “direcionamento útil,” o que tornaria o processo “não-darwiniano”. Como cristão eu tenho certeza de que Deus tudo criou. Essa certeza é “pela fé”, exatamente como explicado na carta aos Hebreus, na Bíblia. Como engenheiro estou preocupado em trabalhar com a natureza e cuidar dela. Vejo grandes limitações para a investigação e articulação de uma compreensão abrangente das origens daquilo de que nós (inclusive nossa capacidade explicativa) somos parte integrante. A teoria de sistemas não suporta expectativas de que esse tipo de empreitada dê certo. Essa é a principal razão para que eu não me dedique a conjecturas sobre origens.

Augustus - Que conselhos o senhor daria a um jovem cristão que entra no ensino superior e especialmente na área das ciências exatas?

Karl - Acho importante que o jovem cristão conheça e leia sua Bíblia, pratique sua fé, mantenha contato com outros estudantes cristãos, leia bons livros e conheça a história dos grandes cientistas, inclusive daqueles com fé no Deus da Bíblia. (A todos os estudantes cristãos recomendo a leitura do livro “A mente cristã num mundo sem Deus”, de James Emery White; essa recomendação vale para estudantes de todas as áreas.)

Augustus - A ciência hoje está em guerra com a religião?

Karl - Ciência natural não está em guerra com a fé cristã; a segunda favoreceu o surgimento da primeira. Como disse Max Planck, a prova mais imediata da compatibilidade entre fé cristã e ciência natural, mesmo sob análise detalhada e crítica, é o fato histórico de que justamente os maiores cientistas de todos os tempos, homens como Kepler, Newton, Leibniz, foram cristãos. Mas alguns cientistas e alguns teólogos estiveram em conflito em várias ocasiões ao longo da história por motivos que precisam ser estudados e entendidos, para que aprendamos as lições pertinentes.

Augustus - A ciência elimina ou corrobora a fé em Deus? 

Karl - Teólogos de Alexandria (séc. IV e V) enfatizaram: (a) a unidade racional do universo e sua criação do nada por Deus; (b) a inteligibilidade do universo para a mente humana; (c) a liberdade contingente do universo. Essa concepção alexandrina favoreceu tanto o entendimento e usufruto da obra de Cristo quanto o desenvolvimento e uso do método científico. Grosseteste e Roger Bacon, que eu considero os primeiros cientistas (no sentido de usarem o método experimental) tinham o mesmo entendimento dos alexandrinos. O teólogo T. F. Torrance argumenta que o mesmo valeu para outros cientistas, como por exemplo Maxwell. Nesse contexto, entendo que a ciência, como bom fruto da dedicação intelectual e prática desses cristãos, acaba corroborando sua fé.

Augustus - Como é possível eliminar a tensão entre relatos científicos e religiosos sobre a origem do universo e da vida?

Karl - Entendo que há tensão entre interpretações teológicas específicas das Escrituras e interpretações e extrapolações de observações por cientistas. Teólogos e cientistas devem continuar trabalhando com dedicação, buscando sempre um entendimento compatível com a realidade.

Augustus - Para fazer ciência é necessário supor que o universo e a natureza são inteligíveis para a mente humana. Quais são as pressuposições metafísicas e epistemológicas que justificam a atividade científica?

Karl - Abaixo listo exemplos de crenças filosóficas que encorajam a pesquisa científica:

  1. Eventos no mundo natural tipicamente tem causas (imediatas) no mundo natural.
  2. O tempo é “linear”. 
  3. Causas e efeitos no mundo natural têm alguma regularidade no espaço e tempo.
  4. Causas e efeitos podem ser – ao menos em parte – racionalmente compreendidas.
  5. Os constituinte e comportamentos naturais fundamentais não podem ser deduzidos pela lógica a partir de princípios fundamentais. Precisamos utilizar observações e experimentos para aumentar nossa lógica e intuição.
  6. Estudar a natureza da forma indicada no item anterior é um investimento válido de tempo e talento.

Augustus - O universo e a vida são auto-existentes, auto-suficientes, auto-organizados, ou estão fundados numa realidade que transcende o nexo espaço-tempo-matéria-energia?

Karl - A história mostra que a quebra (pelos teólogos alexandrinos) da noção Aristotélica da eternidade do mundo foi seminal para o surgimento do método científico. Hoje a Física relata evidências que apontam para um início para o universo. Decido-me pelo entendimento cristão de que tudo que existe está fundado numa realidade que transcende o nexo espaço-tempo-matéria-energia; vejo dificuldades para quem prefere a outra opção.

Augustus - Há limites sobre o que a ciência pode nos dizer para explicar a origem e a realidade do universo e da vida? 

Karl - Há limites. Eu já indiquei minha “desconfiança” sobre o uso do método científico para encontrar uma explicação abrangente acerca da origem do homem. Louis Neel, Nobel de Física de 1970, disse que a busca do cientista por uma explicação abrangente da sua origem equivaleria à reconstrução da história do automóvel por um dos pistões de um motor automotivo.

Augustus - Sendo as teorias e os modelos científicos meros construtos humanos, com limites heurísticos, passíveis de revisão e até o descarte ao serem submetidas ao contexto de justificação teórica, as afirmações dos cientistas sobre a origem e evolução do universo e da vida não deveriam ser menos assertivas? 

Karl - Sim, definitivamente. Veja só esta declaração do Prof. Franz M. Wuketits (professor das Univ. Viena e Graz): “Nós pressupomos a correção de princípio da teoria da evolução biológica, pressupomos que a teoria da evolução possui validade universal.” Pressuposições desse tipo são incompatíveis com ciência.

Augustus - Hoje a ciência está fundada no materialismo reducionista. Os seres vivos, especialmente os humanos, e o resto da natureza, são o resultado apenas de matéria e energia?

Karl - A assertiva antes da pergunta não é verdadeira. A ciência está fundada no método científico e não no materialismo reducionista. Que o ser humano é resultado apenas de matéria e energia pode ser opinião de muitos, mas é uma opinião que esbarra em toda a ordem de problemas na discussão de ética, estética, emoções, consciência, etc.

Augustus - Esse materialismo reducionista ajuda ou atrapalha o avanço da boa ciência?

Karl - O materialismo reducionista atrapalha a boa ciência, entre outras coisas, pelos problemas éticos que provoca. O Prof. Max Thürkauf, a quem já mencionei, deixou claro que o materialismo precisa ser responsabilizado por muitas catástrofes nucleares e ecológicas que presenciamos no século XX. Thürkauf disse que, se quisermos uma ciência que sirva ao homem, o cientista precisa “orar e trabalhar”.

Augustus - Ideias, até as ideias científicas, têm consequências. Como conciliar a visão religiosa do ser humano ter lugar diferenciado na natureza e a visão darwinista que o reduz ao nível dos demais animais?

Karl - Não vejo possibilidade de conciliação.

Augustus - Se Deus não existe, tudo é possível (Dostoievski). Se a ciência na sua limitação heurística não pode falar sobre valores, por que os cientistas rejeitam a moralidade derivada das Sagradas Escrituras, e desvalorizam o ser humano – imago Dei supostamente baseados na ciência? 

Karl - A rejeição mencionada na pergunta ocorre por conveniência. O fenômeno já era explicado por Pascal: “A vontade, que prefere um aspecto a outro, afasta a mente de considerar as qualidades daquilo que não gosta de ver.” “O coração tem razões que a própria razão desconhece.”

Augustus - Os atuais avanços em diversas áreas científicas estão fortalecendo cada vez mais os relatos de criação das religiões monoteístas, mas a comunidade científica não aborda essas questões. Seria temor da falência do materialismo científico e que Deus retorne às universidades como uma ideia filosófica e cientificamente plausível?

Karl - Sim, acho que este temor existe em parte da academia. Porém fé monoteísta não resulta da interpretações científicas. Não é este o caminho a seguir. Em particular, a fé cristã tem uma natureza “a priorística” na medida em que pressupõe uma noção de Deus. Nesse contexto, algo como uma teologia natural pode ajudar um pouco. Acho que Romanos 1.20 legitima tal percepção.

Pessoalmente também considero interessantes argumentos filosóficos acerca da existência de Deus. Mas, o que é realmente importante (e independente de se crer em Deus ou não), é nos ocuparmos com a pessoa de Jesus, cuja obra e ministério estão descritos de forma confiável no Novo Testamento. Seus relatos nos obrigam a uma tomada de posição ou à ignorância deliberada, que seria incompatível com qualquer pretensão de seriedade. É ocupação com história... Além disso, fé cristã resulta em realidade observável na própria vida. A partir dela, se estabelece uma dinâmica do conhecimento de Deus, semelhante à dinâmica do conhecimento científico.

Acho muito útil a explicação de T.F. Torrance sobre a estratificação do conhecimento de Deus, para entender um pouco melhor a semelhança que existe entre conhecimento científico e conhecimento teológico cristão.

 

2015/04/29

NOVA VIDA, NOVOS HÁBITOS



Começando tudo novo
“E, assim, se alguém está em Cristo, é nova criatura; as coisas antigas já passaram; eis que se fizeram novas”
2Co 5.17
Quando nos convertemos a Jesus, algo novo nasce em nós. Tudo o que já aprendemos sobre o Evangelho, o arrependimento, a fé, o significado verdadeiro da cruz, a importância da santidade, e o real significado da ressurreição, fazem com que enxerguemos a vida de um modo novo.
E não é apenas o modo como enxergamos a vida que é novo. Tudo se faz novo quando nos encontramos com Cristo. Nosso passado é perdoado e apagado diante de Deus que faz com que todas as coisas sejam novas.
Nesta nova vida, é importante que compreendamos como agir e viver.
As coisas antigas já passaram
O texto que coloquei acima diz o seguinte:
2Co 5.17: E, assim, se alguém está em Cristo, é nova criatura; as coisas antigas já passaram; eis que se fizeram novas.
A primeira lição que este verso nos dá é que em Cristo somos uma nova criatura. Na verdade, agora esta criatura se tornou filha de Deus. Antes, éramos apenas criatura. Agora, somos uma criatura adotada e transformada em filha(o) de Deus.
Leia João 1.12-13.
Esta nova vida traz consigo a mensagem de que as coisas antigas já passaram. Quais são estascoisas antigas? Estas são as práticas cometidas antes de nosso conversão. Pecados, pensamentos, atitudes, decisões, enfim, tudo o que fizemos antes de nossa conversão é agora apagado por Deus.
As consequências de certos pecados permanecem (se você matou alguém, ainda que Deus possa lhe perdoar, você terá que arcar com as consequências de seu pecado e ir para a prisão). Então, as consequências permanecem, mas a culpa e a condenação diante de Deus são apagadas graças aos méritos de Jesus que são derramados sobre você.
É isso que significa as coisas antigas já passaram; eis que se fizeram novas. Deus torna tudo novo. Agora, você possui uma nova vida, uma nova história, e deve escrevê-la para a glória de Deus. Tudo o que foi “escrito” sobre seu passado agora é apagado e lançado no mar do esquecimento.
Leia Miquéias 7.18-19.
A liberdade da nova vida
Aqui encontramos outro aspecto maravilhoso sobre nossa nova vida em Cristo: a liberdade. A liberdade que é obtida na nova vida com Cristo é a primeira causa da paz que o convertido sente. Quando se vê, finalmente, livre daquilo que antes os prendia, alegria e paz enchem a alma dos novos cristãos. Paulo, escrevendo sobre isso, afirmou o seguinte:
Gl 5.1: Para a liberdade foi que Cristo nos libertou. Permanecei, pois, firmes e não vos submetais, de novo, a jugo de escravidão.
Esta é uma informação preciosa. A partir do momento em que estamos com Cristo, estamos livres. Não podemos nos esquecer disso. Digo isso, pois todos sabemos o quanto a força de nossa carne agirá em nosso interior para trazer de volta à escravidão do pecado.
Se Cristo nos libertou, devemos permanecer firmes e não nos submetermos, de novo, a jugo de escravidão. Então, é possível que, mesmo tendo sido libertos, que nos entreguemos novamente ao pecado e nos tornemos escravos outra vez daquilo que, um dia, Cristo nos libertou.
A libertação, de acordo com Paulo, é obra de Deus. O permanecer firme, longe da escravidão, é obra de cada um de nós. Ainda que eu saiba que Deus nos ajude e nos dê graça para que permaneçamos longe do pecado, depende de nós o ficarmos longe do cair em tentação.
Não pense você que é muito fácil permanecer longe do pecado. Ele sempre estará à porta do seu coração. Sempre! Não se submeta a ele. Deus lhe deu poder para fazer com que ele, o pecado, se submeta a você. Não se submeta, pois isso poderá trazer você de novo ao jugo da escravidão.
Gl 5.13: Porque vós, irmãos, fostes chamados à liberdade; porém não useis da liberdade para dar ocasião à carne; sede, antes, servos uns dos outros, pelo amor.
Aqui, Paulo nos dá outra razão pela qual devemos lutar contra o pecado a fim de permanecermos livres. Primeiro, porque fomos chamados à liberdade. Há um convite de Deus para a liberdade. Ele nos liberta e nos convida a permanecermos livres. Isso, por si só, já é maravilhoso.
Em segundo lugar, Deus nos exorta a não usarmos a liberdade que recebemos para voltar a pecar. Somos como um pássaro liberto da gaiola que recebe o convite a permanecer longe de arapucas. No entanto, depois de um tempo livres, acabamos voltando à uma arapuca ou gaiola, voltando a nos tornarmos escravos daquilo que, um dia, Deus nos libertou.
Paulo ainda nos dá uma dica sobre como podemos permanecer livres da sedução do pecado: sede servos uns dos outros, pelo amor. Se nós agirmos assim, sem dúvida será quase impossível voltarmos ao pecado. Agir pelo próximo evita que sejamos egoístas. O servir uns aos outros nos guarda de servirmos o nosso próprio coração, que, segundo a Bíblia é enganoso e desesperadamente corrupto (Leia Jr 17.9).
Frutos da carne e frutos do Espírito
Em outra epístola, o Espírito Santo usa Paulo para mostrar quais são os frutos de uma vida onde se satisfaz os desejos da carne (do coração) e de uma vida onde ouve e obedece a Palavra de Deus:
Gl 5.16–25: Digo, porém: andai no Espírito e jamais satisfareis à concupiscência da carne.Porque a carne milita contra o Espírito, e o Espírito, contra a carne, porque são opostos entre si; para que não façais o que, porventura, seja do vosso querer.Mas, se sois guiados pelo Espírito, não estais sob a lei.Ora, as obras da carne são conhecidas e são: prostituição, impureza, lascívia,idolatria, feitiçarias, inimizades, porfias, ciúmes, iras, discórdias, dissensões, facções,invejas, bebedices, glutonarias e coisas semelhantes a estas, a respeito das quais eu vos declaro, como já, outrora, vos preveni, que não herdarão o reino de Deus os que tais coisas praticam.Mas o fruto do Espírito é: amor, alegria, paz, longanimidade, benignidade, bondade, fidelidade,mansidão, domínio próprio. Contra estas coisas não há lei.E os que são de Cristo Jesus crucificaram a carne, com as suas paixões e concupiscências.
Se vivemos no Espírito, andemos também no Espírito.
Perceba que a carne tem uma ação fortíssima sobre nós. Paulo diz, andai no Espírito. Se não andarmos no Espírito, a carne vencerá. A ordem é que jamais satisfaçamos os desejos de nossa carne. Os desejos da carne nunca deixarão de tentar guiar nossos olhos, nossos gastos, nossas palavras, e tudo o mais em nós. Nosso dever, uma vez libertos, é dizermos não.
O próprio texto nos diz quais são os frutos e as obras da carne. O ponto principal de Paulo é o texto que diz que não herdarão o reino de Deus os que tais coisas praticam. Por isso, todos devemos ficar atentos.
Por outro lado, temos as obras do Espírito, as quais são a esperança de todo homem (amor, alegria, paz, longanimidade, benignidade, bondade, fidelidade,mansidão, domínio próprio). Todas estas coisas precisam ser conquistadas pelos homens. Estes, porém, quando possuem o Espírito Santo, não precisam mais correr atrás, visto receberem do próprio Deus.
Os que estão com Cristo já crucificaram sua carne! Nossa carne já está “morta” para Deus. Já estamos libertos dela e de seus frutos. Basta, agora, seguirmos o conselho de viver no Espírito, andar no Espírito.
Conclusão
Nessa nova vida que começamos com Cristo, precisamos ter a consciência de que tudo se fez novo para nós. Hábitos e vícios antigos devem ser abandonados por completo quando nos entregamos a Cristo.
Todos nós trazemos vícios e maus hábitos de nossa antiga vida. Vícios de linguagem (fofoca, boatos, palavrão), vícios de bebida e comida (comer ou beber excessivamente), hobbies pecaminosos (deixar a família toda noite para jogar ou sair com amigos), além de outras práticas que eram comuns em seu passado e que, hoje, você sabe que não são agradáveis ao Senhor.
A conclusão que tiramos desse estudo é que, a partir do momento em que nos convertemos a Cristo, tudo é novo em nossa vida. O passado vai continuar nos assediando. Devemos lutar diariamente. A consequência dessa luta é que receberemos os frutos do Espírito Santo.
  Autoria do 

Igreja emo-cional versus Igreja racional


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As Escrituras Sagradas há muito já perderam seu lugar de supremacia. Há uma chuva de visões, sonhos e novas revelações que contradizem totalmente o modelo bíblico de revelação de Deus aos homens. “Está consumado” e “quem adicionar um til a esta palavra” parece ser uma colocação desnecessária para certos lideres da igreja atual. Vive-se uma fase de novas idéias, projetos, ministérios, sem, contudo trazer os mesmos para o centro da Palavra de Deus. Quando se usa o texto sagrado, tem-se o verdadeiro sentido de usar alguma coisa, manipulando o texto de forma a dominar o povo que deseja seguir uma religião de retorno para Deus e não de sacrifícios tolos. Preferindo viver sob revelações de seus profetas modernos e mesmo de anjos (como se fosse possível), a igreja atual segue revivendo a forma fétida de séculos atrás.


Não querendo fechar questão sobre o assunto, penso que um dos motivos para esse estado de coisas seja a falta de honra para o ensino nas igrejas. Vivemos no século 21 com um ensino ultrapassado de literaturas que já não apresentam conteúdo pratico, se não para quem as vende. Ainda na esfera do ensino, já não se ouve mais falar daquilo que é realmente interessante. Soberania de Deus? Que nada. Você tem que decretar e ele vem correndo como um serventezinho te atender. Afinal de contas, você “foi chamado por cabeça e não por cauda”. Foi chamado para “reinar em vida”. Doença? Você não deve aceitar, afinal de contas você é salvo e ser salvo significa perder a condição humana passando para um estágio de super-homem que não fica doente de forma alguma, a menos que você esteja em muito pecado. Você é pobre? Dificuldades financeiras? Porque você quer, pois Deus quer que você seja próspero, e te dá liberdade de exigir isso quando você o compra mensalmente com seus dízimos. Dói ouvir tanta besteira. A graça é suficiente? Nada disso, nem tão pouco o sacrifício. Viva ainda sob o peso de leis que sequer são bíblicas mas extra-bíblicas.

Com base em alguns argumentos de pseudo-santidade coloca-se o mundo num maligno mais poderoso que a própria bíblia descreve. Esquecem que quem domina tudo mesmo é o Senhor, inclusive este mundo que jaz no maligno.

Já não se ensina viver uma vitória definitiva em Cristo, mas a viver em constante processo de libertações como se fosse necessário, além de sessões extras de libertação em alguns encontros específicos para este fim. Deve ser por este conceito podre de poder do diabo sobre tudo e todos que boa parte das igrejas pentecostais e neopentecostais precisem amarrar todo o mal antes do culto começar. Abram a porta! Jesus está cansando-se de tanto bater. Coloquem Jesus para dentro dos cultos e nada disso será necessário.

Não fosse suficiente toda essa gama de aberrações contra o verdadeiro conhecimento bíblico, há ainda os que pregam que, mesmo que você seja salvo, tem que buscar no seu passado as maldições que ainda pesam sobre você, fazendo de Cristo um impotente e fazendo da Escritura sagrada mentirosa quando ela afirma “se alguém está em Cristo, é nova Criatura, as coisas velhas já passaram, eis que tudo se fez novo”.
Manipulando os fiéis, a liderança da igreja usa textos para impor medo fazendo com que se tenha medo de expor o erro quando esse acontece na esfera dos pastores, bispos e outros mais. Não tocar no ungido do Senhor não é a mesma coisa de não questionar o ungido, principalmente se essa unção é questionável pelas suas atitudes mercantilistas, gananciosas e interesseiras. Nesse caso, deve não só tocar, mas expor o erro para que a igreja não continue sendo enganada e retirar o mesmo da posição que ocupa, a fim de não enganar mais a ninguém. Manipulam ainda através do conceito de dízimos e ofertas, afirmando que se um crente não entregar o dízimo é ladrão. Esquecem-se que a bíblia afirma que devemos contribuir segundo propôs nosso coração. Em outras palavras é uma relação entre eu e Deus e não entre eu e o Pastor da igreja.

Finalizando, não posso deixar de falar da idolatria feita a pastores, cantores, pregadores, adoradores, levitas, “avivadores” e outros dessa mesma linha. Pastores que só pregam por dinheiro e muito dinheiro e sempre trazem textos que dizem que o trabalhador é digno de seu salário, já estão fazendo parte do câncer moderno da igreja. Esquecem-se de que o ministério pastoral sempre foi um dom de Deus e não um título ou profissão.

O que dizer então do império do louvor que já se estabeleceu em nossas igrejas. Se você não louvar como determinado ministério de louvor, seu louvor não tem unção, se não incluir no repertório do período de louvor tal modinha nacional ou internacional de músicas gospel ou de louvor e adoração, não vale nada. Como se a unção fosse dada por nós e não por Deus. Seminários que se arvoram de meios para se ensinar o louvor, como se fosse possível ensinar. O que Deus precisa é de adoradores que o adorem em espírito e em verdade. Basta-nos este ensinamento e joguemos no lixo todo o resto.

É deprimente a onda de louvores-mantras com repetições intermináveis e em sua grande maioria falando do próprio eu, eliminando assim a centralização da pessoa de Deus. Vergonhoso é saber que você é discriminado por não levantar a mão, bater palmas ficar de pé, fechar os olhos, pular, dançar, falar qualquer coisa para o irmão do lado a mando do animador do culto. Isso é adoração espontânea? É isso que é ser adorador extravagante? É isso que é uma adoração com unção? A unção, repito, vem do Senhor e alcança o crente quando ele é salvo. Unção nunca vem por essas atitudes, no mínimo infantis.

Levitas? Que classe é essa? Ainda existe? Estamos na antiga aliança ainda? acaso somos judeus ? Os levitas da antiga aliança só cantavam e tocavam? Os de hoje (se é que existem) só sabem fazer isso. Talvez por que não estudem muito bem a Palavra e veja o verdadeiro significado da função. Não há hoje uma classe superior chamada levitas, como se quer pensar. Não há levitas entre nós hoje.

A igreja organização-instituição deteriora-se a cada dia e fede na sua própria putrefação. Abracemos à igreja genuína, como Corpo vivo de Jesus Cristo na terra sem a preocupação com modos, formas, dogmas, templos e regrinhas humanas, essa sim, imaculada e sem rugas e isenta de todas essas mazelas destruidoras.


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Está correto chamar os cantores evangélicos de "LEVITAS"?


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Imagem meramente ilustrativa

Está correto chamar os cantores evangélicos de "LEVITAS"? O que é um Levita atualmente?

Resposta: Não é correto. Muitas vezes, os ministros de louvor e músicos evangélicos são chamados de "levitas". No Novo Testamento não temos referência a ministros de louvor nem a instrumentistas na igreja. Jesus disse que o Pai procura adoradores (João 4:24). O ensino apostólico, por sua vez, incentiva todos os cristãos a prestarem culto ao Senhor, com salmos, hinos e cânticos espirituais (Ef 5:18-20; Col 3:16).

De onde então vem o conceito de "levita"? Tomamos por empréstimo de Israel e do Velho Testamento. Originalmente, "levita" significa "descendente de Levi", que era um dos 12 filhos de Jacó.

Os levitas começaram a se destacar entre as 12 tribos de Israel por ocasião do episódio do bezerro de ouro. Quando Moisés desceu do monte e viu o povo entregue à idolatria, encheu-se de ira e cobrou um posicionamento dos israelitas. Naquele momento, os descendentes de Levi se manifestaram para servirem somente ao Senhor (Êx 32:26). Daí em diante, os levitas se tornaram ministros de Deus. Dentre eles, alguns eram sacerdotes (família de Aarão) e os outros, seus auxiliares. Embora os sacerdotes fossem levitas, tornou-se habitual separar os dois grupos.

Então, muitas das vezes em que se fala sobre os levitas no Velho Testamento, a referência se aplica aos ajudantes dos sacerdotes. Seu serviço era cuidar do tabernáculo e de seus utensílios, inclusive carregando tudo isso durante a viagem pelo deserto (Números capítulos 3, 4, 8, 18).Naquele tempo, os levitas não eram responsáveis pela música no tabernáculo. Muito tempo depois, Davi inseriu a música como parte integrante do culto. Afinal, ele era músico e compositor desde a sua juventude (I Sm 16:23). Então, atribuiu a alguns levitas a responsabilidade musical. Em I Crônicas (9:14-33; 23:1-32; 25:1-7), vemos diversas atribuições dos levitas. Havia então entre eles porteiros, guardas, padeiros e também cantores e instrumentistas (II Crônicas 5:13; 34:12).

Em se tratando o título levita ao Antigo Concerto não é próprio chamarmos os músicos e cantores como integrando um corpo ministerial estranho ao Novo Concerto. É resultado do movimento judaízante dos nossos dias. "Mas agora, conhecendo a Deus, ou, antes, sendo conhecidos por Deus, como tornais outra vez a esses rudimentos fracos e pobres, aos quais de novo quereis servir?10 Guardais dias, e meses, e tempos, e anos.11 Receio de vós, que não haja trabalhado em vão para convosco."(Gl 4.9-11)

2015/04/28

Batismo: A Circuncisão Cristã

Batismo: A Circuncisão Cristã(Gn 17:1-14; Cl 2:8-15; Mt 28:-18-20; Tt 3:5)


I. INTRODUÇÃO
O batismo e a ceia do Senhor são os dois sacramentos ordenados por Jesus para serem observados na dispensação da graça. A ceia foi instituída quando da última participação de Cristo na páscoa (Mt 26:26-30) [1].

O batismo está incluído na grande comissão, mencionada em Mateus 28:18-20 e Marcos 16:15-16). Na concepção reformada, “os sacramentos são santos sinais e selos do pacto da graça, imediatamente instituídos por Deus para representar Cristo e seus benefícios, e confirmar o nosso interesse nele, bem como para fazer uma diferença visível entre os que pertencem à Igreja e o restante do mundo, e solenemente comprometê-los no serviço de Deus em Cristo, segundo a sua Palavra. [2]
1. Importância do Assunto
Há algumas questões controvertidas relacionadas ao batismo, especialmente no que diz respeito ao batismo de crianças e ao modo do batismo. Nossos irmãos batistas e pentecostais (a maioria em nosso contexto) não batizam crianças e só reconhecem o batismo por imersão. As outras denominações protestantes históricas (luterana, reformada, anglicana, presbiteriana, metodista, etc.), diferentemente, batizam crianças e reconhecem a legitimidade de ambos os métodos (imersão e aspersão), preferindo o segundo.

Isto, além da prática católica de batizar, indiscriminadamente, qualquer criança, torna necessário que forneçamos as razões das nossas práticas concernentes ao assunto. Este artigo tem como propósito apresentar um resumo da teologia reformada concernente ao batismo, especialmente no que concerne a estas questões controvertidas.

2. O Problema Básico
Do ponto de vista reformado, o erro básico daqueles que não batizam crianças e exigem a imersão consiste em perderem de vista a continuidade da revelação da obra da redenção. A progressividade da revelação da obra da redenção, planejada por Deus na eternidade, não deve eclipsar a sua continuidade.
Antes de mais nada, é preciso compreender que o Antigo e o Novo Testamento não ensinam duas religiões diferentes.

A Igreja Cristã não é uma outra igreja. O Apóstolo Paulo revela claramente que a Igreja Cristã não é uma nova árvore, mas apenas um galho enxertado na mesma árvore cuja raiz é Abraão (Rm 11:13-24), o ‘‘pai de todos os crentes’’ (Rm 4:11). Abraão é o pai tanto de incircuncisos como de circuncisos, ‘‘que andam nas pisadas da fé que teve nosso pai Abraão antes de ser circuncidado’’ (Rm 4:11-12).

II. O SIGNIFICADO DO BATISMO

1. Não É um Atestado de Salvação
Não é necessariamente o sinal visível de que a pessoa está salva. Não se trata de um rito de admissão pública na igreja invisível, mas na igreja visível — e esta inclui salvos e não salvos:

Nem todos os de Israel são de fato israelitas; nem por serem descendência de Abraão são todos seus filhos; mas em Isaque será chamada a sua descendência. Isto é, estes filhos de Deus não são propriamente os da carne, mas devem ser considerados como descendência os filhos da promessa (Rm 9:6-8)
Há diversos exemplos de membros professos da igreja tanto no AT como no NT, os quais foram circuncidados/batizados, mas que nunca experimentaram o lavar regenerador do Espírito Santo. Auxiliares diretos do Apóstolo Paulo, como Demas, abandonaram a fé cristã por amarem o presente século (2 Tm 4:10).

Referindo-se a essa classe de pessoas, o Apóstolo João explica que ‘‘Eles saíram do nosso meio (da igreja visível), porque não eram dos nossos (membros da igreja invisível); porque se tivessem sido dos nossos (da igreja invisível), teriam permanecido conosco (na igreja visível); todavia, eles se foram para que ficasse manifesto que nenhum deles é dos nossos (da igreja invisível)’’ (1 Jo 2:19).
Parece desnecessário provar o que a História da Igreja e a experiência tornam mais do que evidente.

2. Não é Meio de Salvação

O batismo não tem poder divino inerente. Em si mesmo ele não pode regenerar ninguém. Esta doutrina (da regeneração batismal) é ensinada pela Igreja Católica. Para eles, o batismo confere os mérito de Cristo e o poder do Espírito Santo, purificando da corrupção interna, garantido remissão da culpa do pecado e infusão da graça santificadora, unindo o batizado com Cristo, abrindo-lhe as portas dos céus. Na teologia Católico-romana, a eficácia do batismo não depende nem dos méritos do oficiante nem dos méritos do batizado, mas da própria ação sacramental.
Para nós, reformados, entretanto, o batismo não é eficaz em si mesmo; ele não opera uma nova vida; ele a pressupõe e a fortalece, mas não a opera nem garante. Eis o que diz a Confissão de Fé de Westminster:

Posto (ainda) que seja grande pecado desprezar ou negligenciar esta ordenança, contudo a graça e a salvação não se acham tão inseparavelmente ligadas com ela, que sem ela ninguém possa ser regenerado e salvo ou que sejam indubitavelmente regenerados todos os que são batizados.

3. Não é Essencial à Salvação

A Igreja Católica pensa assim, mas nós, protestantes, não. O batismo é obrigatório, por obediência aos preceitos de Deus. E a nossa desobediência a este preceito, naturalmente resultará em empobrecimento espiritual, como acontece com a desobediência a qualquer outro preceito do Senhor.
Entretanto esta concepção do batismo como essencial à salvação é contrária ao caráter espiritual do Evangelho, que não condiciona a salvação à formas externas (Jo 4:21-24). O ladrão arrependido na cruz é evidência incontestável disso. Jesus afirmou que naquele mesmo dia ele estaria consigo no paraíso, sem batismo algum.

4. É a Continuação da Circuncisão

Os dois sacramentos do Antigo Testamento não foram abolidos, mas substituídos.
A páscoa (o sacramento comemorativo da igreja visível) transformou-se na santa ceia, quando Jesus dela participou pela última vez (Mt 26:26-30).
A circuncisão (sacramento de admissão na igreja visível) transformou-se no batismo cristão, visto que não mais havia necessidade de derramamento de sangue, pois o Cordeiro Pascal estava preste a ser imolado. Em Colossenses 2:11-12, o batismo cristão é chamado explicitamente de ‘‘circuncisão de Cristo’’ (o mesmo que circuncisão cristã) :

Nele também fostes circuncidados, não por intermédio de mãos, mas no despojamento do corpo da carne que é a circuncisão de Cristo; tendo sido sepultados juntamente com ele no batismo, no qual igualmente fostes ressuscitados, mediante a fé no poder de Deus que o ressuscitou dentre os mortos.
O argumento do Apóstolo Paulo é evidente: nós cristãos também fomos circuncidados, não com o corte do prepúcio, mas com o batismo cristão que tem a mesma função da circuncisão judaica, podendo portanto até mesmo ser chamado de circuncisão cristã.

5. É o Selo do Pacto da Graça

Já que o batismo cristão corresponde à circuncisão judaica, o batismo é, para a Igreja visível no Novo Testamento, o que foi para a Igreja visível no Antigo Testamento: a confirmação (o sinal visível) da aliança que Deus fez com Abraão, o “pai de todos os crentes.” É exatamente este o papel da circuncisão, conforme as palavras do próprio Senhor a Abraão, quando da instituição desta ordenança em Gênesis 17:1-13:

Quando atingiu Abraão a idade de noventa e nove anos, apareceu-lhe o Senhor e disse-lhe: Eu sou o Deus todo-poderoso: anda na minha presença e sê perfeito. Farei uma aliança (um pacto) entre mim e ti, e te multiplicarei extraordinariamente... será contigo a minha aliança; serás pai de numerosas nações... estabelecerei a minha aliança (pacto) entre mim e ti e a tua descendência no curso das gerações, aliança perpétua, para ser o teu Deus, e da tua descendência.

Disse mais Deus a Abraão: Guardareis a minha aliança, tu e a tua descendência no decurso das suas gerações... Circundareis a carne do vosso prepúcio; será isso por sinal de aliança entre mim e vós. O que tem oito dias será circuncidado entre vós, todo macho nas vossas gerações, tanto o escravo nascido em casa, como o comprado a qualquer estrangeiro, que não for da tua estirpe. Com efeito, será circuncidado o nascido em tua casa, e o comprado por teu dinheiro; a minha aliança estará na vossa carne e será aliança perpétua.
A circuncisão dos Israelitas e dos prosélitos do judaísmo era, portanto, um sinal externo da aliança de Deus com Abraão, segundo a qual ele (Abraão) e seus descendentes constituiriam a igreja visível de Deus na terra. O batismo cristão, assim como a circuncisão judaica, é, portanto, o sinal externo solene de admissão na igreja visível.

Isto não implica necessariamente em que todos os de Israel (da igreja visível no AT) fossem ou seriam verdadeiros israelitas (membros da igreja invisível), ou seja: que necessariamente fossem ou seriam objeto da graça salvadora. Nem implicava em que aqueles que não fossem de Israel (judeus), não pudessem vir a ser verdadeiros israelitas (membros da igreja invisível).

A circuncisão implicava, sim, em que seriam considerados povo de Deus, e seriam objeto do seu especial cuidado, da sua bênção e da sua revelação. De fato, os compatriotas de Paulo segundo a carne desfrutaram de privilégios especiais, tais como ‘‘a adoção, e também a glória, as alianças (os pactos da graça e da lei), a legislação, o culto e as promessas; deles são os patriarcas e também deles descende o Cristo, segundo a carne...’’ (Rm 9:3-4). Depois de demonstrar a culpabilidade universal (de gentios e judeus), o Apóstolo Paulo pergunta: ‘‘Qual pois a vantagem do judeus? ou qual a vantagem da circuncisão?’’ Ele mesmo responde: ‘‘Muitas, sob todos os aspectos. Principalmente porque aos judeus foram confiados os oráculos de Deus.’’ (Rm 3:1-2).

Conclusão: O batismo, assim como a circuncisão, é o rito ou forma externa determinada por Deus para simbolizar e selar a admissão de pessoas na igreja visível, como beneficiários do pacto da graça e objeto do seu cuidado especial. É verdade que o símbolo pressupõe, em geral, o gracioso lavar regenerador do Espírito Santo pela Palavra (Tt 3:5), por meio do arrependimento e da fé; mas não o opera nem garante.

III. AS CRIANÇAS NO PACTO DA GRAÇA NO ANTIGO TESTAMENTO
A questão realmente importante com relação ao batismo infantil como “a circuncisão cristã” é a seguinte: as crianças foram incluídas como beneficiárias do pacto da graça que Deus fez com Abraão? E a resposta é evidentemente positiva. Na instituição da circuncisão as crianças foram explicitamente incluídas como beneficiárias do pacto da graça, como membros da igreja visível no AT.

Por isso deveriam ser circuncidadas: ‘‘O que tem oito dias será circuncidado entre vós, todo macho nas vossas gerações.’’ (Gn 17:9-12). Não haveria nenhum impedimento em instituir a circuncisão apenas para os adultos! Mas isso não ocorreu. As crianças também foram incluídas, porque era o propósito do Senhor que sua aliança fosse com Abraão e com a sua descendência.
O que precisa ser entendido é que esta aliança que Deus fez com Abraão, chamada pelos reformados de pacto da graça, é a implementação histórica de uma aliança eterna, e nunca foi ab-rogada (anulada). Esta aliança, cujo selo era a circuncisão e agora é o batismo (a circuncisão de Cristo) é anterior à lei de Moisés e portanto continua vigorando.

O pacto da lei passou (um adendo), é verdade, bem como suas leis cerimoniais. Mas não a aliança da graça com Abraão, a qual foi instituída cerca de quatrocentos anos antes da lei de Moisés. A aliança com Abraão não passou, é ‘‘aliança eterna’’. As ordenanças, os símbolos dessa aliança, mudaram: primeiro só a circuncisão; depois foi acrescentado a páscoa, e depois ambas foram substituídas pelo batismo e pela ceia do Senhor. Mas a aliança é a mesma.
É isto o que o Apóstolo Paulo afirma em Gálatas 3:17. Demonstrando que a lei de Moisés não pode invalidar a aliança com Abraão, ele diz: ‘‘Uma aliança já anteriormente confirmada por Deus, a lei, que veio quatrocentos e trinta anos depois não a pode ab-rogar, de forma que venha a desfazer a promessa.’’

Logo, a aliança mencionada no Novo Testamento não é uma outra aliança, uma aliança recentemente estabelecida, que ab-rogou a aliança feita com Abraão; mas a mesma aliança renovada, por Aquele que é o Mediador da aliança: Jesus (cf. Gl 3:27,29). A palavra usada não é “nevo”, mas “kainov” como em novoscéus e nova terra (não outros céus e outra terra, mas estes céus e esta terra renovados).

O fato é que a igreja é a mesma. Somos membros de um mesmo corpo. Somos a ‘‘comunidade de pacto’’. Somos os verdadeiros descendentes de Abraão. ‘‘Os da fé é que são filhos de Abraão’’(Gl 3:7). Somos (a igreja cristã) os ramos que foram enxertados; nos tornamos participantes da mesma raiz e da mesma seiva da oliveira (Rm 11:17). O meio de salvação também não mudou. Somos salvos hoje do mesmo modo como foram os crentes na época do Antigo Testamento; isto é, pela graça soberana de Deus mediante o arrependimento e a fé nas Suas promessas, entre as quais a principal era a vinda do Messias, o Redentor de Israel (Rm 4:1-17). Logo, por que razão os filhos dos membros da nova aliança deveriam ser excluídos da comunidade do pacto, da igreja visível? Por que negar-lhes o selo da pacto: o batismo?

IV. AS CRIANÇAS E O PACTO DA GRAÇA NO NOVO TESTAMENTO
O Novo Testamento exclui as crianças da condição de beneficiárias do pacto da graça? Não, em nenhum lugar do Novo Testamento os filhos dos que pertenciam a aliança — os quais tão enfática e explicitamente nela foram incluídos em Gênesis 17 — foram excluídos. Pelo contrário, há afirmações também explícitas de que continuam incluídos.

1. O próprio Senhor Jesus afirmou que eles pertencem ao seu reino: ‘‘Deixai vir a mim os pequeninos e não os embaraceis, porque dos tais é o reino dos céus’’ (Lc 18:16).
2. Pedro confirma que a promessa os inclui: ‘‘Pois para vós outros é a promessa, para vossos filhos, e para todos os que ainda estão longe’’ (At 2:39)

3. O Apóstolo Paulo reconhece a posição dos filhos como ‘‘santos’’, quando pelo menos um dos pais é crente. Escrevendo aos Coríntios, Paulo orienta os cônjuges que haviam se convertido a não se separarem pelo fato do outro cônjuge continuar descrente dizendo: ‘‘o marido incrédulo é santificado no convívio da esposa, e a esposa incrédula é santificada no convívio do marido crente. Doutra sorte, vossos filhos seriam impuros; porém, agora são santos’’ (I Co 7:14)
4. Há ainda exemplos implícitos de sua prática nas páginas do Novo Testamento:

Lídia: o Senhor abriu o seu coração para crer, e logo foi batizada, ela e toda a sua casa (At 16:14,15).
O carcereiro de Filipos: Tendo perguntado a Paulo e Silas o que deveria fazer para ser salvo, eles responderam-lhe: ‘‘Crê no Senhor Jesus, e serás salvo, tu e a tua casa. E lhe pregaram a palavra de Deus e a todos os de sua casa... A seguir foi ele batizado, e todos os seus’’ (At 16:30-33)
Estéfanas: Dentre as poucas pessoas que o apóstolo Paulo havia batizado estava a ‘‘casa de Estéfanas’’ (I Co 1:16)
5. Os Pais da Igreja, de um modo geral, reconhecem e mencionam a prática do batismo infantil. Nove, dentre doze Pais que viveram nos dois primeiros séculos, referem-se à prática do batismo infantil; ex: Justino Mártir (130), Irineu (180), Orígenes (230).

Posteriormente, Agostinho afirmou que ‘‘nenhum concílio jamais ordenara o batismo infantil por ser este uma prática que vinha desde os tempos apostólicos; e que nunca ouvira ou lera de alguém na igreja que sustentasse o contrário’’. O Concílio de Cartago recebeu consulta se era lícito batizar crianças antes de oito dias. O que significa que a prática do batismo infantil após o oitavo dia de vida era comum.
6. Deve-se se observar que, se não há exemplo explícito de batismo infantil no Novo Testamento, também não há a menor referência a batismos de adultos nascidos e criados em lares cristãos!

V. OBJEÇÕES

1. Não existe mandamento para batizar crianças
E nem era necessário, pois as crianças (filhos da aliança) sempre foram reconhecidas como membros da igreja visível do Antigo Testamento. Seria de se esperar o contrário: um mandamento para não mais incluí-las na igreja do Novo Testamento. Também não existe mandamento explícito instituindo o domingo como o dia do descanso cristão, nem mandamento explícito incluindo as mulheres na Ceia do Senhor!

2. As crianças não preenchem as condições necessárias: arrependimento e fé
O mesmo argumento as excluiria do céu! “Se não vos arrependerdes, todos igualmente perecereis” (Lc 13:3). “Quem nele crê não é condenado; o que não crê já está condenado” (Jo 3:18). Mas Jesus não as excluiu, e mesmo os que fazem essa objeção não as excluem.

O argumento é válido apenas para os adultos que podem exercer a fé, mas não para as crianças. A Bíblia também diz: ‘‘Quem não trabalha não coma’’. E as crianças! Devemos deixá-las com fome, porque não podem trabalhar?!
No AT as crianças (filhos da aliança) também não poderiam se arrepender e ter fé nas promessas (condição para a salvação também no AT), mas mesmo assim eram circuncidadas e consideradas membros do povo de Deus (da igreja visível) e beneficiárias da aliança.

3. Que benefícios pede produzir na criança?
Que benefício poderia produzir na criança a circuncisão? Muitos, não apenas para a criança, como também para a igreja e para os pais, como veremos a seguir.

VI. IMPORTÂNCIA DO BATISMO INFANTIL

Para a Igreja

1) Edificação dos membros.
2) Responsabilidade da igreja na orientação dos pais e dos filhos.
Para os Pais
1) Conforto no sentido de que os filhos pertencem ao pacto. A não ser que rejeitem quando adultos, essa é a condição deles.
2) Responsabilidades: fazer os filhos conhecerem a sua condição de pertencentes ao pacto. Serem fiéis (dando-lhes bom testemunho). Educá-los no temor do Senhor.
Para as Crianças

1) Quando chegarem à idade da razão, saberão que pertencem à aliança e se perguntarão: O que isto significa? E serão tão beneficiadas com o batismo quanto aqueles que são batizados quando adultos.
2) Gozam de todos os privilégios da Igreja Visível: oração, conselhos, disciplina, ensino da Palavra, exemplo dos outros fiéis, e principalmente das promessas referentes ao pacto.

VII. O SIMBOLISMO E MODO DO BATISMO

1. A Prática Batista e Pentecostal
Os nossos irmão batistas e pentecostais (estes historicamente procedentes dos primeiros), insistem na imersão como sendo a única forma legítima do batismo.
A primeira razão que apresentam está relacionada ao simbolismo do batismo. Para eles, baseados em Romanos 6:3ss e Colossenses 3:12, o batismo é uma prescrição para imergir, como símbolo da morte, sepultamento e ressurreição de Cristo. Eis os textos:

Ou, porventura, ignorais que todos os que fomos batizados em Cristo Jesus, fomos batizados na sua morte? Fomos, pois, sepultados com ele na morte pelo batismo; para que, como Cristo foi ressuscitado dentre os mortos pela glória do Pai, assim também andemos nós em novidade de vida. Porque se fomos unidos com ele na semelhança da sua morte, certamente o seremos também na semelhança da sua ressurreição (Rm 6:3-5).
Tendo sido sepultados juntamente com ele no batismo, no qual igualmente fostes ressuscitados, mediante a fé no poder de Deus que o ressuscitou dentre os mortos (Cl 2:12).
A segunda razão diz respeito à inexistência, segundo eles, de exemplos de batismos por imersão no Novo Testamento.


2. A Prática Reformada e Protestante
A prática reformada não insiste na necessidade de imersão (nem de aspersão). As razões são as seguintes:

1) O simbolismo do batismo não está na imersão, mas na purificação, no lavar purificador. Assim como a circuncisão simbolizava a remoção da impureza, o batismo com água (que é a circuncisão cristã) simboliza o lavar purificador do Espírito Santo em virtude da obra de Cristo (por meio de Cristo): “ele [Deus] nos salvou mediante o lavar regenerador do Espírito Santo, que ele derramou sobre nós ricamente, por meio de Jesus Cristo, nosso salvador” (Tt 3:5).
Este simbolismo do batismo é exemplificado no relado do apóstolo Paulo das palavras de Ananias no seu próprio batismo: “levanta-te, recebe o batismo e lava os teus pecados...” (At 22:16). Isto é, o batismo não purifica do pecado, ele simboliza a purificação do pecado.

Eis o que diz o Catecismo de Heidelberg sobre o batismo:
Cristo instituiu este lavar externo com água e por ele prometeu que me encontro tão seguramente lavado com o seu sangue e com o seu Espírito das impurezas de minha alma e de todos os meus pecados, como lavado externamente com água que é usada para remover a sujeira do meu corpo (resposta 69).

É claro que num sentido mais amplo, todas as bênçãos espirituais decorrentes da salvação estão implícitas no símbolo: a morte para o pecado, o novo nascimento, o ingresso no corpo de Cristo por meio da nossa união com ele, etc. E muitas figuras são empregadas neste sentido: morrer com Cristo, ser sepultados com Cristo, ressuscitar com Cristo, viver em Cristo, andar em Cristo, revestir-se de Cristo (Gl 3:27), ser plantados com Cristo, etc. Mas isso não significa que alguma dessas figuras seja a única simbologia indicada no batismo.

A simbologia do batismo está no lavar, na purificação pela lavagem de água, na ação purificadora do Espírito Santo, o qual nos separa do uso comum (impuro) e nos une a Cristo; e não no modo como essa lavagem é efetuada. Convém observar que, mesmo em Romanos 6, o contexto geral é a purificação do pecado:
Que diremos, pois? Permaneceremos no pecado para que seja a graça mais abundante? De modo nenhum. Como viveremos ainda no pecado, nós que para ele morremos?... Sabendo, isto, que foi crucificado com ele o nosso velho homem, para que o corpo do pecado seja destruído e não sirvamos o pecado como escravos... Não reine, portanto, o pecado em vosso corpo mortal, de maneira que obedeçais às suas paixões... (vs. 1-2, 6, 12).

O essencial no batismo, é explicitamente ensinado na sua instituição e nos demais textos do Novo Testamento: que seja feito com água (At 10:47) e em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo (Mt 28:19).

2)
 Do uso da palavra batizar (baptivzw) na Septuaginta. Nas quatro vezes que o verbo aparece, todas podem ser traduzidas por lavar, mas nem todas podem ser traduzidas por imergir. Exemplos: Daniel 4:33, onde lemos que o corpo de Nabucodonosor “...foi molhado do orvalho do céu...” Conferir Levítico 6:28: “e o vaso de barro em que for cozida [a carne da oferta pelo pecado] será quebrado; porém se for cozida num vaso de bronze, esfregar-se á na água.” Mesmo em 2 Reis 5:14, onde a imersão é provável, o propósito é claramente de lavagem como símbolo de purificação, conforme indicam os versos 10, 12 e 13.

3) Dos ritos de purificação no Antigo Testamento: freqüentemente por meio de aspersões de sangue ou de água. Conferir números 19:9, 13 e 20. Estes ritos de purificação de utensílios, etc., são chamados de batismos no Novo Testamento:
E vendo que alguns dos discípulos dele comiam o pão com as mãos impuras, isto é, por lavar [ajnivpta](pois os fariseus e todos os judeus, observando a tradição dos anciãos, não comem sem lavar [niywntai]cuidadosamente as mãos; quando voltam da praça não comem sem se aspergirem [baptivswntai]; e há muitas outras coisas que observam, como a lavragem [baptismonv] de copos, jarros e vasos de metal e camas), interpelaram-no os fariseus e os escribas: Por que não andam os teus discípulos de conformidade com a tradição dos anciãos, mas comem com as mãos por lavar [koinai - impuras]? (Mc 7:2-5).
Hebreus 9:10, 13, 19 e 21, fala da prática de abluções (baptismoi), de aspergir cinzas e sangue (rJantivzonsa), o povo, o tabernáculo e os utensílios sagrados com vistas à purificação religiosa.

4)
 Do uso da palavra no Novo Testamento:
a) Intercambiável com nivptw (lavar): maços 7:3-4 (já citado); Lucas 11:38; Mateus 15;2 e 20. Observação: o modo comum de lavar as mãos no oriente era pelo derramamento de água, como hoje.
b) A contenda dos discípulos de João sobre o batismo (Jo 3:22-30) é reconhecidamente uma contenda sobre purificação (v. 25).

5)
 Do caráter espiritual do culto no Novo Testamento, que não enfatiza a forma mas o espírito. A ênfase do culto no Novo Testamento não está na roupa dos oficiantes, no templo, no rito, mas na sua natureza espiritual e verdadeira. Em conformidade com isso, em nenhum lugar no Novo Testamento é especificada a forma do batismo (imersão ou aspersão). Logo, por que enfatizaríamos nós?

6) É interessante observar também que não há um só exemplo de batismo no Novo Testamento que especifique de modo explícito e inequívoco a forma de batismo (imersão ou aspersão) praticada. Na verdade, o contexto e alguns desses exemplos de batismos torna até improvável a imersão. É o caso do batismo das grandes multidões na cidade de Jerusalém, onde a água era escassa (at 2:37-41); do eunuco no deserto (); de Paulo na casa de Judas, por Ananias (nada no relato indica que saíram da casa, At 9:17-19); e do carcereiro de Filipos (At 16:30-33).

7) Os desenhos, gravuras e pinturas mais antigos (do segundo e terceiro séculos) de cenas de batismos cristãos retratam o derramamento de água sobre o batizado.

CONCLUSÃO

1) O batismo com água foi instituído como substituto da circuncisão, como sacramento de inciação na igreja visível de Cristo na nova aliança, visto não ser mais necessário o derramamento de sangue. É, portanto, “a circuncisão de Cristo” (cristã).
2) O batismo não é um atestado de salvação (nem todos os batizados são necessariamente salvos). Não é meio de salvação (não opera a salvação). Não é essencial à salvação (mas deve ser praticado em obediência à ordem de Cristo).
3) O batismo é o sinal visível e selo do pacto da graça, de ingresso na igreja visível, do nosso compromisso público solene com Cristo e com a sua obra. Por meio dele os membros da igreja são visivelmente distinguidos das demais pessoas como povo de Cristo e beneficiários da aliança.
4) O simbolismo do batismo consiste não apenas ou especificamente na imersão (ou morte e ressurreição), mas no lavar purificador regenerador operado pelo Espírito Santo no coração daquele que se arrepende dos seus pecados e crê na eficácia e suficiência da obra de Cristo; e na sua conseqüência união com Cristo e com o seu corpo. O batismo não é símbolo de uma figura, mas de uma transformação interna espiritual.
5) O modo do batismo não é relevante. Pode ser tanto por imersão como por aspersão. Sendo que a aspersão (ou ablução) é preferível, na concepção reformada, à luz das práticas (batismos, lavagens) purificadoras do Antigo Testamento e mesmo dos exemplos do Novo Testamento e do testemunho da história da igreja.

Rev. Paulo R. B. Anglada

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