2015/07/02

O que significa atos proféticos? É bíblico?

Provavelmente você já deve ter se deparado alguma vez com a notícia de um ato profético. Certa vez um pastor levou várias vassouras para o altar da igreja, chamou alguns membros e todos passaram a varrer o chão do altar. Aquele ato, segundo ele, simbolizava a profecia de que o pecado seria varrido da vida das pessoas daquele lugar. Outro pastor levou à igreja um grande cálice com cerca de 12 litros de óleo ungido. Em um momento do culto o pastor ajoelhou e os 12 litros de óleo foram jogados sobre a cabeça dele num ato profético que simbolizava uma unção além da medida para o povo de Deus daquele lugar. Ainda temos um pastor que alugou um helicóptero e sobrevoou uma cidade derramando um óleo ungido sobre os limites da cidade e profetizando que, a partir daquele ato profético, aquela cidade era do Senhor Jesus.
Enfim, os tipos de atos proféticos são variados. Mas vamos entender melhor o que significa toda essa história de atos proféticos e verificar o que a Bíblia diz a respeito disso.
O que significa atos proféticos? É bíblico?

Atos proféticos, o que a Bíblia diz?

(1) Segundo aqueles que os realizam, os atos proféticos são ações realizadas por profetas de Deus, homens consagrados. Esses atos são realizados através de ações e símbolos que apontam para realidades espirituais e tem impacto no mundo físico. Exatamente como no exemplo citado no início, onde um pastor usou uma vassoura e o varrer dessa vassoura como símbolo de algo espiritual (a vitória sobre o pecado) que teria impacto no mundo físico (as pessoas parando de pecar).
(2) Aqueles que defendem o uso de atos proféticos costumam utilizar passagens bíblicas onde Deus se usou de símbolos e ações de Seus profetas para transmitir mensagens ao povo. Por exemplo, o toque de trombetas ou shofar (Josué 6.2-16); derramar óleo sobre lugares e pessoas (Levítico 8); usar desenhos e maquetes de lugares para profetizar e ungir (Ezequiel 4.1-4); enterrar e desenterrar um cinto (Jeremias 13.1-11), etc. Os defensores dos atos proféticos se utilizam dessas passagens para dizer que Deus apoia esse tipo de ato e, inclusive, usou desse tipo de ação na Bíblia. Sendo assim, segundo eles, Deus quer que esse tipo de ato continue.
(3) Avaliando essa questão, precisamos entender que a Bíblia nos traz passagens descritivas (que descrevem fatos como ocorreram, a história) e passagem que são mandamentos (ordens de Deus que devemos cumprir). Cada uma dessas passagens precisa ser interpretada de acordo com o que representa. Por exemplo, a Bíblia nos traz uma passagem descritiva mostrando que Judas traiu o Senhor Jesus (João 13:26-27). Isso significa que devemos trair Jesus? Obviamente que não. Outro exemplo: a Bíblia cita que Moisés tirou as sandálias dos pés quando chegou até a sarça ardente porque, segundo Deus disse, aquela terra era sagrada (Êxodo 3:5). Isso significa que devemos tirar o calçado que vestimos quando estivermos diante de uma terra sagrada? Obviamente não. São passagens descritivas e não passagens com mandamentos. Já no caso de passagens bíblicas com mandamentos, elas são bastante claras a nós: “Respondeu-lhe Jesus: Amarás o Senhor, teu Deus, de todo o teu coração, de toda a tua alma e de todo o teu entendimento” (Mateus 22:37). Isso é claramente um mandamento, é ordem de Deus que deve ser seguida. Bem diferente do primeiro exemplo.


(4) As passagem bíblicas citadas como embasamento pelos que fazem seus atos proféticos devem ser interpretadas e entendidas à luz de seu contexto e objetivo. Geralmente Deus utilizava desses expedientes de forma didática ao seu povo e de forma pontual, sem que aqueles atos fossem novamente repetidos. Quando Jeremias comprou um cinto e o enterrou e, após alguns dias voltou até onde enterrara o cinto e este estava podre, Deus mostrou que Seu objetivo era apontar para Judá e Jerusalém que Ele iria fazer apodrecer a soberba deles, pois estavam longe de Deus, andando em maus caminhos (Jeremias 11.9-11).  O objetivo era o ensino e não trazer questões espirituais a existência no mundo físico e nem decretar vitórias que venham por causa do ato realizado. Aquele pastor que citei no início, que levou um monte de vassouras para a igreja para varrer o pecado, tenho por certo, não conseguiu varrer o pecado da vida das pessoas. Ele deveria ter usado a Bíblia para ensinar o que é ter uma vida santificada.

(5) O que ocorre é que aqueles que se usam de passagens descritivas para embasar seus atos proféticos, principalmente do Antigo Testamento, erram fazendo isso, primeiro porque incorrem em um erro de interpretação da Bíblia; segundo porque trazem para igreja elementos estranhos ao culto e tomam de um tempo precioso que deveria ser usado para cultuar a Deus e levar o povo ao aprendizado da Palavra de Deus. Infelizmente levam o povo a uma superstição prejudicial e que minimiza o poder da Palavra de Deus (e do próprio Deus), enquanto ampliam o “poder” dos grandes “homens de Deus” que fazem seus atos proféticos tão “necessários” para que a igreja alcance bênçãos.

(6) As práticas atuais de atos proféticos dos mais diversos e, diga-se de passagem, cada vez mais absurdos, têm afastado as pessoas da verdade da palavra de Deus. Essas pessoas, ao invés de serem libertas das superstições pela pregação da palavra de Deus, têm vivido cada vez mais dependentes de símbolos e de homens que seriam a “chave” para alcançarem as bênção de Deus. Um verdadeiro absurdo! Por exemplo, vi um vídeo de um pastor que fez um ato profético onde cada pessoa deveria se sacrificar e ofertar na igreja uma boa quantia e levaria um mini tijolo ungido, que representaria a conquista da casa própria muito rapidamente. Ora, isso é totalmente absurdo! Uma oferta financeira e um mini tijolo ungido não darão casa própria a ninguém! Antes, as pessoas deveriam ser orientadas dentro da Palavra de Deus a trabalhar honestamente e buscar em Deus a concretização de seus sonhos. Esse é o caminho terrível dos atos proféticos!

(7) Além disso, não temos nenhuma menção na Bíblia de qualquer ordem mandando que reproduzamos atos proféticos. Quando Paulo instruiu o pastor Timóteo, não mandou que fizesse atos proféticos, antes, orientou: “Conjuro-te, perante Deus e Cristo Jesus, que há de julgar vivos e mortos, pela sua manifestação e pelo seu reino: prega a palavra, insta, quer seja oportuno, quer não, corrige, repreende, exorta com toda a longanimidade e doutrina” (2 Timóteo 4:1-2). A base de nossas ações deve ser sempre as Escrituras Sagradas. O povo deve ser ensinado a buscar na Bíblia as orientações para todas as questões da vida. Atos proféticos são uma espécie de “circo” que distrai as pessoas e as levam para ainda mais longe dos verdadeiros ensinos da Palavra de Deus. Uma pena que tenha gente que ainda baseie sua fé nesse tipo de coisa!

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