2015/06/30

Homossexualismo, o que a Bíblia diz?


Introdução
Desde os primórdios da humanidade, as sociedades convivem com os mais variados tipos de comportamentos sexuais. O relato bíblico da Criação em Gn 1 e 2 mostra que Deus formou o homem e a mulher para viverem em comunhão íntima, tornado-se “uma só carne”. Porém o pecado infiltrou-se nos relacionamentos sexuais entre os seres humanos de tal forma que hoje a sociedade convive com uma variação enorme de perversões sexuais, tais como: narcisismo, homossexualismo, masturbação, sadismo, masoquismo, exibicionismo, pedofilia, gerontofilia, fetichismo, travestismo, incesto, pluralismo, necrofilia, bestialidade, zoofilia, voyeurismo, sexopatia acústica, renifleurismo, coprofagia, frotterurismo, entre outros.
O presente trabalho não vai entrar nos detalhes das diversas anomalias sexuais, limitando-se apenas ao estudo do homossexualismo, pois este é o tema tratado pelo apóstolo Paulo em Rm 1:26 e 27. O artigo será dividido nas seguintes seções: Estudo da referência paulina em Romanos; conceito e causas da homossexualidade; os motivos pelos quais Deus condena este comportamento sexual; terapia para a regeneração daqueles que apresentam este desvio da sua sexualidade. Ao final, será apresentado um resumo do trabalho e as conclusões encontradas.
Comentário Sobre Rm 1:26-27
Encontra-se a declaração de Paulo nas seguintes palavras:
"Por causa disso, os entregou Deus a paixões infames; porque até as mulheres mudaram o modo natural de suas relações íntimas por outro, contrário à natureza; semelhantemente, os homens também, deixando o contato natural da mulher, se inflamaram mutuamente em sua sensualidade, cometendo torpeza, homens com homens, e recebendo, em si mesmos, a merecida punição do seu erro." Romanos 1:26-27
Há um consenso geral de que Paulo referia-se aqui à prática do lesbianismo e do homossexualismo masculino. A palavra “natural” (kata physin) em oposição à “contrária à natureza” (para physin) era usada no tempo de Paulo com muita freqüência como uma maneira de estabelecer distinção entre comportamento heterossexual e homossexual. Harrison acrescenta que “Paulo usa linguagem direta, para condenar a perversão do sexo fora do seu justo lugar: dentro do relacionamento conjugal”. Outro teólogo afirma que a contaminação do corpo humano é claramente manifestada no homossexualismo, pois ele é obviamente antinatural, contrário à natureza sexual.
A prática do homossexualismo era comum no mundo pagão, tendo forte presença na sociedade em geral, sendo designado como o “pecado grego”. Paulo escreveu sua epístola aos Romanos na cidade de Corinto, a capital dos vícios gregos, e certamente já vira ali evidências sobre as práticas homossexuais.
Lovelace ainda diz que “contrária à natureza” significa “simplesmente contra a intenção de Deus para o comportamento sexual humano que é explicitamente visível na natureza, na função complementar dos órgãos sexuais e dos temperamentos do macho e da fêmea”.
No verso 27 Paulo emprega o termo arsen 3 vezes, traduzidos na ARA por “homens”. O substantivo arsenokoites (“homossexual masculino”, “pederasta”) é empregado pelo apóstolo como alguém que não herdará a salvação por estar sob a condenação de Deus (1Co 6:9; 1Tm 1:10). Brown ainda acrescenta que aqui a perversão sexual é vista como resultado de (e, até certo ponto, um julgamento sobre) o pecado do homem em adorar a criatura ao invés do criador.
Conceito e Causas da Homossexualidade
Uma vez comprovado que o tema que Paulo abordou em Rm 1:26-27 foi mesmo a homossexualidade, tanto masculina quanto feminina, faz-se necessário um maior aprofundamento sobre o estudo deste comportamento sexual.
O homossexual é considerado uma pessoa com tendência a dirigir o desejo sexual para outra pessoa do mesmo sexo, ou seja, ele (ou ela) sente atração erótico-sexual por parceiro do mesmo sexo. Maranon apresenta uma definição mais completa sobre a homossexualidade nas seguintes palavras:
Por mais classificações que se façam desta anormalidade, a base patogenética é sempre a mesma: uma sexualidade recuada, de polivalência infantil que, por circunstâncias externas, condiciona sob diferentes formas seu objetivo erótico em sentido homossexual.
Baseando-se no relatório de Kinsey, os homossexuais pretendem que sua condição seja considerada “uma espécie de forma alternativa de sexualidade, homóloga e simétrica à heterossexualidade”.
Bergler, porém, vê a homossexualidade como uma espécie de “síndrome neurótica”, caracterizada por alguns estigmas bem definidos, a saber: uma elevada dose de masoquismo psíquico, levando o homossexual a situações de desconfianças e humilhações; medo, ódio, fuga em relação ao sexo oposto; insatisfação constante e insaciabilidade sexual; megalomania; depressão; sentimento patológico de culpa; ciúme irracional; e inadmissibilidade psicopática.
As pesquisas com relação às causas da homossexualidade ainda não são consideradas de todo consistentes; porém, elas podem ajudar na orientação de uma profilaxia social com relação ao homossexualismo. Gius afirma que “não se verificam quadros de aberração cromossômica ligados primitivamente à homossexualidade”, o que descarta sua origem genética, pois “em todos os casos de homossexualidade masculina examinados, o sexo genético correspondia ao sexo fenotípico (respectivo) e faltavam sinais de qualquer alteração cromossômica verdadeira”.
Mesmo os defensores da origem genética da homossexualidade admitem que a eventual “predisposição inata” só se transforma em efetivo desejo homossexual por força de fatores desencadeadores de natureza psicossocial, dentre os quais: obsessiva ligação com uma mãe autoritária ou possessiva; falta de uma figura paterna significativa como modelo de identificação; experiências de iniciação na infância ou adolescência; e fixação ou regressão da personalidade a níveis auto-eróticos, com supervalorização do falo (órgão sexual masculino).
O homossexual é um homem ressentido por acreditar que não tem o corpo que sua mente mereceria. Freud também considerava que o meio onde as crianças se desenvolvem é fator determinante de sua sexualidade.
Snoek divide estes fatores determinantes em três categorias:
1. Fisiológicos - Nenhuma das teorias (genética, hormonal, morfológica) foi comprovada;
2. Familiares - Uma mãe dominante, juntamente com um pai apagado; uma supermãe, tão envolvente que para o filho só existe uma mulher, que é ela; a mãe frustrada no seu relacionamento com o marido, incutindo na cabeça das filhas que homem nenhum tem valor; um superpai que exige uma virilidade impossível de ser alcançada pelo filho; os pais desejam um menino, mas nasce uma menina;
3. Sociais – O unissexismo, que ocorre na forma do segregacionismo ou do igualitarismo; o anarquismo; e a sedução por adultos.
Por Que Deus Condena o Homossexualismo?
Deus abençoou o homem e a mulher e lhes deu o mandamento de serem fecundos e multiplicarem-se (Gn 1:28). O casamento é a “união de duas pessoas que originalmente foram uma, depois foram separadas uma da outra, e agora no encontro sexual do casamento se uniram novamente”. Lovelace acrescenta dizendo que “não é por acidente que toda forma de expressão sexual fora da aliança do casamento seja explícita ou implicitamente condenada no restante das Escrituras”.
A sociedade atual está cada vez mais perdendo de vista o princípio que Deus definiu para a união sexual entre os seres humanos: um homem e uma mulher, unidos pelo compromisso eterno do matrimônio. Em virtude deste crescente desvio do padrão idealizado por Deus no princípio, é que têm surgido todas estas anomalias sexuais descritas até aqui. Hoje já se convive até mesmo com o “casamento” entre homossexuais e a adoção de filhos por estes “casais”.
O propósito de Deus é que o homem junte-se com a mulher e os dois formem “uma só carne” (Gn 2:24), constituindo-se numa família heterossexual, na qual os filhos poderão ser educados em meio a um ambiente sadio e livre de preconceitos.
Este ideal está totalmente corrompido na sociedade moderna, e as relações sexuais passaram a ser apenas um meio de obter prazer a qualquer custo, sem atentar para as orientações dadas por Deus no passado, e para os perigos de não seguir estas orientações. A atual sociedade já aprendeu a conviver pacificamente com o outrora chamado “pecado grego”, vendo os homossexuais como apenas “um pouco diferentes”.
Deus condena o homossexualismo porque ele é totalmente contrário ao propósito original das relações sexuais: procriação e/ou prazer. Segundo Boice, apenas em se olhar para a anatomia dos órgãos sexuais do homem e da mulher já deveria haver argumento suficiente para convencer de que as práticas homossexuais não são normais. Tanto o Judaísmo quanto o Cristianismo sempre reconheceram esse fato, defendendo que o homossexual está sob a condenação de Deus.
Cura Para o Homossexual
Após verificar que o homossexualismo está arraigado fortemente na sociedade hodierna, faz-se necessário apresentar ao portador desta anomalia sexual um meio de regeneração e retorno ao ideal divino. A terapia de aconselhamento para o homossexual consiste em “escutar a quem pede ajuda, a fim de facilitar-lhe a decifração, por ele mesmo, de seu próprio discurso... levando a uma convivência mais saudável consigo mesmo e, em vários casos, chega-se à heterossexualidade”.
Talvez o maior problema a princípio seja romper as barreiras da solidão e da incomunicabilidade que a sociedade erige em relação aos homossexuais. Gatti defende que o ponto de partida deve ser a total aceitação do homossexual como pessoa, a plena compreensão de seu drama, e a mais leal solidariedade a seus sofrimentos e a seus problemas. Para o auxílio pastoral ao homossexual são sugeridos os seguintes passos:
1. Reconhecimento e confissão de que sua atitude e conduta são errados;
2. Ele deve admitir e reconhecer seu problema;
3. Deve confessar o pecado a Deus e a um conselheiro espiritual, e depois deve pedir a Deus que o purifique e perdoe;
4. O homossexual que busca a cura deve pedir a Deus que lhe dê um espírito de arrependimento;
5. Pode-se considerar a possibilidade de uma libertação de demônios;
6. O conselheiro deve repetir a promessa de que o indivíduo poderá mudar;
7. O homossexual deve concordar em submeter-se a um plano de disciplina que Deus possa usar para concretizar a mudança desejada;
8. Entre o homossexual e o conselheiro deve haver sinceridade absoluta;
9. O homossexual deve começar a participar de uma comunidade cristã compreensiva;
10. O conselheiro deve ser paciente.
Para o homossexual, como para qualquer outro homem, no fim é apenas a graça do Espírito Santo com seus misteriosos dinamismos que é capaz de tornar a cura do homossexual possível. Acima de todos os meios educativos e terapêuticos, é sempre na graça de Deus que o homem pecador deve confiar.
O Dr. José Maria concorda com o pensamento de que a igreja deve ser o conduto para a ajuda aos homossexuais que desejarem um retorno aos desejos sexuais naturais de cada ser humano. Ele afirma que “a igreja será o último reduto para a consolidação dos conceitos familiares” nos próximos anos.
Resumo e Conclusão
O homossexualismo está presente na história humana desde o seu princípio. Biblicamente, encontra-se referências à homossexualidade já no relato de Sodoma e Gomorra (Gn 19:4-5), de onde advém o termo “sodomia” como referência à homossexualidade e outras anomalias do gênero; bem como no período dos Juízes (Jz 19:22). Moisés também fez referências a esta prática sexual entre o povo de Israel (Lv 18:22; 20:13), condenando-a e considerando-a abominável aos olhos de Deus, punível mesmo com a morte.
No Novo Testamento, a referência clássica à homossexualidade, tanto feminina quanto masculina, encontra-se na epístola de Paulo aos Romanos (Rm 1:26 e 27). Porém, o apóstolo também faz outras referências à condenação divina sobre esta prática (1Co 6:9-10; 1Tm 1:9-11).
O presente trabalho analisou o texto de Romanos, observando a quase unanimidade entre os teólogos e comentadores de que Paulo realmente referia-se na passagem em estudo ao homossexualismo. Porém, é crescente o grupo de eruditos que não aceitam esta interpretação usual, e tentam reinterpretar as declarações paulinas, aplicando-as aos dias atuais, onde a homossexualidade tornou-se já parte comum do cotidiano das grandes cidades.
Através dos estudos e pesquisas científicas consultadas, verifica-se que é reduzida a probabilidade de que as tendências homossexuais sejam o resultado de uma “deformação genética” ou algum caractere hereditário. Ao contrário, é grande o número de estudiosos da psicologia humana que acreditam que este comportamento sexual advém de fatores psicossociais vividos na infância (até os 5 anos de idade, principalmente), e que acarretam traumas e complexos que podem levar o indivíduo a desenvolver o homossexualismo durante sua vida.
Apesar de Deus condenar este comportamento anômalo, em virtude de desvirtuar-se do Seu propósito para o relacionamento sexual e matrimonial, Ele concede ao homossexual desejoso de regenerar-se uma opção de cura, que está disponível através de Sua infinita graça e misericórdia pelas mazelas que atingem a humanidade.
Como representantes de Deus e instrumentos Seus para distribuição de Sua graça ao mundo pecador, os cristão não devem olhar o homossexualismo como uma doença típica de pessoas “despudoradas”; mas devem encarar o problema com o mesmo amor fraternal e solidariedade que Jesus demonstrou em Seu convívio com o ser humano. Resta ao cristão ouvir e atentar ao conselho do próprio apóstolo Paulo: “Tudo posso, nAquele que me fortalece” (Fp 4:13).
Gilson Medeiros da Silva

IGREJA LADEIRA ABAIXO


Replicado

Por mais que busque justificativas para as bizarrices encontradas no meio das igrejas não encontro. Parece-me uma luta inglória. Estou ficando enjoado e enojado diante daquilo que tenho visto e ouvido. A grande marca das igrejas é a estreiteza de mente e uma busca implacável pela mediocridade. Tirando um percentual de comunidades que ainda preservam a Sã Doutrina, esbarramos em número assustador de comunidades e principalmente as neo-pentecostais praticando um anti-cristinianismo.
Gostaria de apontar algumas situações que tem me levado a obviar tais comunidades e líderes.

1 - Tenho visto com muita freqüência uma nociva insistência por parte de um grande percentual da liderança evangélica em desprezar o saber e principalmente o saber teológico. Insistem em desprezar a história e suas lições. Insistem em abandonar os marcos deixados e fazendo assim encontram-se sem parâmetros para seus comportamentos. Creio que a busca por uma teologia sadia é mais dolorosa do que a aceitação tácita de heresias grotescas. O grande problema é que quanto mais as lideranças distanciam da Sã Doutrina mais comprometidas ficam com os erros doutrinários e depois não possuem a hombridade de voltar atrás. Muitos líderes ouviram o galo cantar e não sabem onde. Ouviram algumas afirmações no passado e nunca procuraram saber se eram ou não verdadeiras. Em meu tempo de mocidade havia um livro que fez muito sucesso. Seu autor era Don Gosset e o livro era Há Poder Em Suas Palavras. Virou Best Seller. Aceitávamos como verdade as palavras do autor, pois, este era americano e se era bom para os americanos deveria ser bom para os Brasileiros. Conceitos distorcidos que durante anos vivi. Mas como Paulo disse em sua carta aos corintos chegou o tempo de deixar as coisas de menino e buscar as coisas de adulto. Aprendi na faculdade que é preciso dialogar com os autores e checarmos as bases de suas afirmações. Procurar encontrar o cerne ideológico dos mesmos e separar joio do trigo. Depois de muitos anos percebo que boa parte da liderança evangélica ainda aceita acriticamente os livros e nunca empreendem um diálogo com seus autores. Estão assentados em bases frágeis e se aferrenham a elas como bóias salva-vidas. Quase sempre não se abrem para outros pontos de vistas e insistem em argumentos ultrapassados e com data de validade vencida.

Realmente existe uma resistência à pureza do Evangelho simplesmente por falta de amor à verdade como Paulo disse. “Que aprendem sempre, e nunca podem chegar ao conhecimento da verdade”. II Tm. 3:7 - II Tes. 2:10.

2 – Tenho visto com freqüência uma atitude de lassidão em relação ao pecado. E isso acontece no meio da liderança evangélica e se espalha pelo corpo de Cristo. Destaco o fato de que pecados cometidos por líderes não são tidos como coisas hediondas, mas normais. Sempre apresentam o mesmo argumento idiotizante que não podemos julgar para não sermos julgados. Fico pensando, se julgar é incompatível com a fé cristã como denunciaremos os erros dentro de nossos arraiais? Se existe incompatibilidade entre julgamentos e o crer em Deus então logo não existe pecado nem erros, pois, os mesmos não podem ser julgados. Atribuem esse julgamento a Deus somente. Se assim fora, teremos que erradicar do Novo Testamento as denúncias de Paulo e Pedro que abertamente apontaram para o pecado e mostraram o que fazer. Eis alguns exemplos: I Cor. 5:1-5; II Tm. 2:14-18; II Pe. 2.

Pecados de lideranças devem ser tratados com a maior intensidade possível, pois, seus exemplos são seguidos por muitos. Cristo disse que “... e, a qualquer que muito for dado, muito se lhe pedirá, e ao que muito se lhe confiou, muito mais se lhe pedirá”. Lc. 12:48.

Ficou normal um líder se divorciar e permanecer na mesma igreja como se nada tivesse acontecido. A igreja perdoa e tudo continua bem. Isso é uma aberração em nosso meio. Como permanecer na liderança aquele que não governou bem sua casa? Se houve adultério por parte da liderança, que exemplo foi dado para a igreja principalmente para os jovens. Muitos pensarão e agirão assim: “se o pastor pode também nós podemos”.

E o que dizer sobre os pecados contra a Palavra? Afirmações grotescas que ultrapassam e contradizem a Palavra de Deus são tidas como verdadeiras. Quem faz tais afirmações por ter grande visibilidade torna-se oráculo celestial inquestionável e infalível.

Aqui está em foco a igreja, seus membros. Essa tendência de aceitação acrítica de tudo que é exarado dos púlpitos é algo doentio. Pessoas com grandes capacidades mentais em seus segmentos de atuações se anulam dentro das igrejas, pois, têm medo de pecar contra Deus. Vêm as maiores aberrações sendo derramadas sobre suas mentes e nada dizem. Tais pessoas andam no limite da idiotice. Não existe incompatibilidade entre fé e conhecimento. Nunca existiu. Qualquer afirmação que Deus revelou ou falou deve passar pelo crivo, crisol da Santa Palavra de Deus e se se constatar desvio deve ser desprezada por completo.

3 – Tenho visto com freqüência uma insistência em desprezar a Palavra em troca de revelações estapafúrdias.

No meio neo-pentecostal isso é contumaz. Aceitam tudo como sendo de Deus e mesmo que ofenda a Palavra vale mais a pseudo-revelação. Isso da enjôo em qualquer um. Vi uns vídeos postados no youtube onde o pregador advinha a rua, o número da casa e trabalho das pessoas. O pregador dizia o tempo todo assim: “to entendendo Jesus, to entendendo Jesus...”. O que mais me entristeceu foi que pessoas que conheço pessoalmente aceitaram acriticamente tais coisas e achavam que eram revelações de Deus. Esse tipo de revelação já virou coisa comum no meio evangélico. A postura desses pregadores dá a entender que possuem uma comunhão especial com Cristo e que recebem revelações diretas e se intitulam profetas de Deus. Não pregam a Palavra, mas promovem espetáculos para as massas. Como diziam os romanos: “panis et circenses”. As pessoas rodopiam, caem, são arrebatadas, pulam como cangurus, choram e depois percebem que nada mudou. Paulo nos adverte contra tais homens: “Se alguém ensina alguma outra doutrina, e se não conforma com as sãs palavras de nosso Senhor Jesus Cristo, e com a doutrina que é segundo a piedade, É soberbo, e nada sabe, mas delira acerca de questões e contendas de palavras, das quais nascem invejas, porfias, blasfêmias, ruins suspeitas, Contendas de homens corruptos de entendimento, e privados da verdade, cuidando que a piedade seja causa de ganho; aparta-te dos tais. Mas é grande ganho a piedade com contentamento”. I Tm. 6:3-6.

Creio firmemente que as igrejas neo-pentecostais e suas lideranças inaptas estão jogando o evangelho ladeira abaixo. Creio que os estragos feitos são irreparáveis. Creio que o desprezo pelo ministério tem trazido mais vergonha do que glória para o nome de Cristo. Creio que o momento da igreja tenha passado no Brasil. Creio que os maiores culpados são aqueles que se calam covardemente diante de tais atrocidades. Creio que cada pastor consagrado sem o devido preparo, guardando as devidas proporções, será uma porta aberta para heresias e comportamentos exóticos e anti-bíblicos.

Por haver uma insistência em desprezar a Palavra o que sobra é a exaltação das emoções. Vale mais o sentir. Vale mais o arrepio. Vale mais o sensorial. Estou cansado de ver idolatria na igreja. Sim, idolatria mesmo. Quantos cultos têm como maior atrativo a entrada de um modelo da arca da aliança com seus querubins etc. Os líderes se vestem com longas batas e o povo e incentivado a tocar neste embuste em forma de arca da aliança. Em uma galeria em Belo Horizonte existe boxe somente para vender coisas ligadas à idolatria como: candelabro de sete pontas, modelos variados da arca da aliança, óleos especiais para unções variadas etc. Fiquei sabendo que em uma cidade do interior mineiro abriram uma loja gospel que vende kits para campanhas nas igrejas. Tudo já vem pronto é só pegar e distribuir. Se os kits não estiverem no balcão abrem um catálogo e você escolhe o que melhor lhe convier.

Precisamos encontrar o equilíbrio entre razão e emoção. Nossos cultos podem e precisam ser vivenciados com emoção, mas nunca emoção desprovida de razão. Paulo aponta para que nossos cultos sejam racionais e íntegros, mas isso virou carência.

4 – Tenho visto com freqüência uma insistência pelo imediatismo e pragmatismo.

Como vivemos em uma sociedade Fast Food, as soluções para vida também devem ter essa característica. As igrejas estão oferecendo soluções milagrosas a qualquer custo. Estão oferecendo soluções que nunca chegarão. Afirmações mentirosas e incabíveis são feitas para atrair os incautos. As pessoas querem o imediato o curto prazo. Daí termos profecias esdrúxulas e mundanas. Quem não se interessa ou quer ter vitória financeira rapidamente? Quem não ofertaria dinheiro para alcançar cura, salvação e libertação financeira. Em um país que tem um governo assistencialista e uma população que quer levar vantagem em tudo, tais promessas ou profecias são juntar o útil ao agradável.

Por pensar somente no curto prazo estamos degradando o meio ambiente, multiplicando os assaltos, matando desavergonhadamente no útero materno. Vi um vídeo onde Edir Macedo defende o aborto como programa de planejamento familiar. Trata o aborto como solução para criminalidade e pobreza. Tais posturas somente apontam para o curto prazo. Quem deveria defender a vida a processa, condena e executa sua sentença de morte em menos de sete minutos de vídeo.

Pastores oferecem soluções mágicas para verem suas igrejas cheias e seus caixas abarrotados de dinheiro, pois, assim ganharão prestígio socialmente. Oferecem ocuidade para o vazio do homem. Fazem das pessoas massa de manobra para alcançarem seus objetivos mundanos. Esquecem-se que prestarão contas das almas a Cristo o Senhor. Perderam o temor do Senhor e tratam a Sua Obra como empresas e não como igreja.

O certo é que esta visão de curto prazo não leva lugar algum. Somente aumenta o vazio do homem e fortifica a desesperança já reinante.

Soli Deo Gloria

Pr. Luiz Fernando R. de Souza

Uma carta aberta aos pastores - sobre o casamento gay nos EUA .






A Suprema Corte neste país [EUA] promulgou seu julgamento. As manchetes informam que um pouco mais da metade dos juízes da Suprema Corte consideram a liberdade de orientação sexual, um direito para todos os americanos. Esta troca de valores não aparece como uma surpresa para nós. Já sabemos que o deus deste século cega as mentes daqueles que não acreditam (2 Cor. 4:4). O dia 26 de junho de 2015 fica como um marco americano de demonstração desta antiga realidade.

Nos próximos dias, irão esperar de você, como um pastor, que forneça comentários sensatos e conforto para o seu rebanho. Este é um momento crítico para os pastores, e surge como um lembrete de que uma formação adequada é crucial para um pastor. Estou escrevendo esta mensagem curta como de um pastor para outro. Os meios de comunicação estão cheios de atualizações, e eu não preciso juntar a minha voz nessa briga. Em vez disso, eu quero ajudá-lo a pastorear sua igreja nesse momento confuso. Além dos artigos úteis no blog Preaching and Preachers, eu também quero transmitir os pensamentos abaixo que, creio eu, vão ajudar a enquadrar a questão de uma maneira bíblica.

1 – Nenhum tribunal humano tem a autoridade de redefinir o casamento, e o veredicto de ontem não muda a realidade do casamento que foi ordenado por Deus. Deus não foi derrotado nesta decisão, e todos os casamentos serão julgados de acordo com fundamentos bíblicos no Ultimo Dia. Nada irá prevalecer contra Ele (Provérbios 21:30) e nada vai impedir o avanço de Seu Reino (Dan 4:35).

2 – A Palavra de Deus pronunciou seu julgamento sobre toda nação que redefiniu o mal como o bem, a escuridão como a luz, e o amargo como o doce (Isaías 5:20). Como uma nação, os EUA continuam a colocar-se na mira do julgamento. Como proclamador da verdade, você é responsável por nunca comprometer estas questões. De todas as maneiras, você deve se manter firme.

3 – Esta decisão prova que estamos claramente em minoria, e que somos um povo separado (1 Pedro 2: 9-11; Tito 2:14). Como escrevi no livro “Why Government Can’t Save You”, as normas que moldaram a cultura ocidental e a sociedade americana deram lugar ao ateísmo prático e ao relativismo moral. Esta decisão simplesmente acelerou a taxa de declínio dos mesmos. A moralidade de um país nunca vai ser mais alta que a moralidade de seus cidadãos, e sabemos que a maioria dos americanos não têm uma cosmovisão bíblica.

4 – A liberdade religiosa não é prometida na Bíblia. Na América, a Igreja de Jesus Cristo tem desfrutado de uma liberdade sem precedentes. Isso está mudando, e a nova norma pode, na verdade, incluir a perseguição (o que será algo novo para nós). Nunca houve um momento mais importante para homens talentosos ajudarem a liderar a igreja ao lidar, de forma competente, com a espada do Espírito (Efésios 6:17).

5 – O casamento não é o campo de batalha final, e os nossos inimigos não são os homens e mulheres que procuram destruí-lo (2 Coríntios 10:4). O campo de batalha é o Evangelho. Tenha cuidado para não substituir a paciência, o amor e a oração por amargura, ódio, e política. A medida que você guiar cuidadosamente seu rebanho afastando-o das armadilhas perigosas que aparecem à frente, lembre-os do imenso poder do perdão por meio da cruz de Cristo.

6 – Romanos 1 identifica claramente a evidência da ira de Deus sobre uma nação: a imoralidade sexual seguida da imoralidade homossexual culminando em uma disposição mental reprovável. Esta etapa mais recente nos lembra que a ira de Deus veio na íntegra. Vemos agora mentes reprováveis em todos os níveis de liderança – no Supremo Tribunal Federal, na Presidência, nos gabinetes, na legislatura, na imprensa e cultura. Se o diagnóstico da nossa sociedade está de acordo com Romanos 1, então, também devemos seguir a receita encontrada em Romanos 1 – não devemos nos envergonhar do evangelho, pois é o poder de Deus para salvação! Neste dia, é nosso dever divino fortalecer a igreja, as famílias, e testemunhar o evangelho ao tirar os absurdos pragmáticos que distraem a igreja de sua missão ordenada por Deus. Homossexuais (como todos os outros pecadores) necessitam ser avisados do juízo eterno iminente e precisam ter o perdão, a graça e a nova vida, amorosamente oferecidos através do arrependimento e da fé no Senhor Jesus Cristo.

Em última análise, a maior contribuição ao seu povo será a de mostrar paciência e uma confiança inabalável na soberania de Deus, no Senhorio de Jesus Cristo, e na autoridade das Escrituras. Mire seus olhos no Salvador, e lembre-os de que quando Ele voltar, tudo será corrigido.

Estamos orando para que você proclame firmemente a verdade, e que se posicione de maneira inabalável em Cristo.
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Fideismo


Entre os muitos exercícios para a paciência que encaro todos os dias há um que está sempre no “hard mode”: ouvir cristãos, ao emitirem opiniões (opinião, essa deusa vulgar) sobre aspectos da doutrina, sobre vida devocional, ou sobre aquilo que crêem que é correto do ponto de vista teológico e bíblico, jogando o fideísmo ao quatro ventos. “Abandone sua razão para entender o que Deus quer de você e para você”; “pare de se ater ao seu entendimento se quiser viver uma vida cristã mais rica”; “deixe de raciocinar e ouça ao Espírito”. Quem nunca ouviu tais frases? Nem é preciso dizer que daí em diante surgem os pitacos mais estapafúrdios sobre as relações entre a fé e a racionalidade, e claro, as mais “maduras” e mui “espirituais” críticas a quem é visto como apegado ao estudo de temas sérios, ao aprendizado sistemático das doutrinas cristãs, ou meramente a uma vida intelectual menos miserável.
O fideísmo é isso: usar a razão para afirmar, sobre a fé, que fé e razão não se misturam. Soa engraçado e contraditório? Sim. Mas é uma mania consolidada em muitos segmentos da igreja brasileira. Kierkegaard caiu nessa. Karl Barth também. (Barth também caiu em outras piores, assunto para outra ocasião.) E que ninguém se engane. Às portas e mesmo dos púlpitos de templos das denominações de grande tradição e legado intelectual é possível ouvir tais disparates.
Agostinho, numa de suas Cartas, afirmou:
“É impossível que Deus odeie em nós o atributo pelo qual nos fez superiores aos demais seres vivos. Devemos, portanto, recusar-nos a crer de um modo que não receba ou não busque razão para nossa crença, uma vez que sequer poderíamos crer se não tivéssemos almas racionais”.
Pode-se citar diversas passagens das Escrituras em que Cristo, os apóstolos e os profetas do Velho Testamento instigam as pessoas a usarem sua inteligência e a razão (p. ex. Is. 1:18, Mt. 22:36,37; 1Pe. 3:15). Portanto, o fideísmo é também uma heresia. Infelizmente, é fácil perceber que muitos cristãos, na prática, preferem ser cientistas no trabalho e intuitivos na fé. E o desastre se vê quando começam as conversas sérias: versículos evocados fora de contexto, má compreensão de preceitos elementares, papo superficial. Logo se apela para os testemunhos ralos e cheios de clichês tirados das musiquinhas da moda gospel, e fica por isso mesmo. Presenciar a tudo isso é tortura chinesa.
O fideísmo presente nas igrejas tem, entre suas causas, uma influência considerável da teologia pentecostal, de raízes irracionalistas – como bem admite o autor “penteca” Rick Nañez, em seu ótimo livro ‘Pentecostal de Coração e Mente’-,  no ambiente evangélico brasileiro. O caos educacional e cultural em que o país mergulhou nas últimas décadas também deve ser levado em conta. Outro fator elementar, mas sempre digno de nota é aquele que vem do conhecimento simples da natureza humana: a maioria é preguiçosa, desleixada, a vida cristã pujante e plena é um desafio monumental, estudar toma tempo e requer mudança de hábitos mentais e comportamentais. E claro: na cultura de massas, quase tudo glamuriza a mediocridade e os medíocres, os tolos, os que desprezam obstinadamente aquilo que lhes é imprenscindível para uma vida não só digna, como frutífera. Mas o interessante é que o estúpido, o néscio, também é objeto de investigações e reflexões milenares. Que tal estudá-lo no livro de Provérbios? Há também as obras de José Ingenieros, Eric Voegelin, Ortega y Gasset, La Bruyére, entre outros.
Não que eu pense que a educação tenha esse caráter mágico que os progressistas e os modernetes pensam que ela tem. No entanto, a educação ajuda, se começar pela velha fórmula: “o temor do Senhor”… não é preciso completar, certo? Ela ajuda, se começar pela busca do autoconhecimento. O mandamento do apóstolo Paulo ao homem diante da ceia, “examine pois o homem a si mesmo”, sempre me lembra o de Sócrates: “conhece-te a ti mesmo”. Esse vácuo de lideranças fortes explica-se numa geração de pessoas alienadas de si mesmas. Quando não se sabe quem é,  não se sabe o que se deve fazer. E aí vemos, por exemplo, a importância de uma disciplina como a antropologia bíblica.
O fato é que algumas perguntas feitas por ateus, agnósticos e até por alguns dos batalhões bestificados pela cultura de massa e pela hegemonia cultural da esquerda, são, de fato, muito boas e desafiadoras. Penso que um cristão que busca a maturidade espiritual deve ter um desejo sincero em buscar respondê-las. O fundamental é viver na verdade, mas se preparar para expressá-la pode custar menos do que se pensa, certamente irá gerar frutos para o Reino e também (e por que não?) benefícios para a vida diária.
A seara é grande e a oportunidade está aí, pois a tal cultura pós-cristã já evidencia que pode ser qualquer coisa, menos “sustentável”. O cristianismo continua a crescer em vários pontos do planeta.  A possibilidade de algo como o “Renascimento Cristão” (a qualidade do termo é discutível) que o antropólogo René Girard afirma que está próximo, pode, sim, acontecer. Não sei onde, nem quando, mas sei que temos um Deus poderoso, com uma Palavra viva e eficaz. Só ela instrui e capacita plenamente os homens para grandes transformações, como já se viu ao longo da história.

2015/06/28

Todo mundo é crente. Até quem não é…



“Creio em Deus Pai, todo-poderoso, Criador do céu e da terra.


Creio em Jesus Cristo, seu único Filho nosso Senhor; que foi concebido pelo poder do Espírito Santo, nasceu da Virgem Maria, padeceu sob Pôncio Pilatos, foi crucificado, morto e sepultado,ressuscitou ao terceiro dia, subiu aos Céus, está sentado à direita de Deus Pai Todo-Poderoso,donde há de vir julgar os vivos e mortos.


Creio no Espírito Santo, na santa Igreja católica (ou universal), na comunhão dos santos, na remissão dos pecados, na ressurreição da carne, e na vida eterna.”


O “Credo” Apostólico, que remonta aos primeiros séculos do cristianismo, começa (obviamente) com o verbo “crer”, como observa quase toda introdução que se escreve a ele. É claro que o Credo é antes de tudo uma confissão a respeito da fé, mas nada podemos falar do ato da Confissão sem antes considerar a natureza da crença.


Sob certo ângulo, é verdade que ocupar-se demasiado do “crer” enquanto verbo, ação e posicionamento do homem pode nos tirar completamente do foco, uma vez que o Credo jamais foi a celebração ou anúncio de uma condição subjetiva do indivíduo; pelo contrário, ele está completamente absorvido pelo objeto da crença, exatamente como o estado de crer é um estado voltado para fora, extático, intencional, tanto que enquanto falamos do interior da crença, não temos consciência de sua força ou estrutura, e sim de seu interesse.


E talvez pudéssemos nos mover diretamente para isso que é o nosso interesse comum, não fosse “a crença” em geral e “a crença religiosa”, em particular, uma questão tão controversa no mundo de hoje. E na verdade a natureza do ato de fé é realmente algo confuso na cabeça dos próprios cristãos. De modo que não há como seguir sem tocar no assunto.


Como preâmbulo ao conceito de fé, é preciso mencionar que a “crença” não é privilégio (ou sina, como queira) de pessoas religiosas. Em termos gerais, a crença é incontornável; pois devido à estrutura da consciência humana, tendemos a estabelecer objetivos para as nossas ações; somos seres conscientemente intencionais. E lançamos mão da imaginação para construir quadros possíveis sobre o resultado das nossas ações, suplantando com isso a prisão de outras criaturas ao instinto. Ocorre que não é possível construir esses quadros e julgar os melhores cursos de ação sem formar crenças sobre como as coisas são, sobre como o mundo funciona, sobre o que é possível e impossível, e sobre o que é melhor para nós. É muito comum que as pessoas associem esse tipo de discussão à idéia de racionalidade; mas a razão é apenas uma ferramenta construtiva; os blocos com os quais ela trabalha são experiências do mundo e as crenças que formamos sobre elas. Por essa razão, não há hoje livro-texto sobre a natureza do conhecimento que não discuta o assunto em termos de “crenças”.


Mas quando passamos das crenças em geral para as “crenças religiosas”, muita gente imediatamente pensa que isso não lhe diz respeito. Afinal “crenças religiosas” seriam “crenças sobre deuses ou coisas sobrenaturais”. Tenho constatado que essa suposição é uma das confusões mais comuns e amplamente disseminadas entre os leigos no campo da filosofia da religião; e por isso mesmo ela tem sido facilmente explorada pelos críticos da religião tradicional, os quais se sentem confortáveis e justificados em considerar a descrença, por exemplo, em um Deus “sobrenatural” a condição humana “default”, como se a descrença fosse a neutralidade, e a crença o acréscimo contingente e inessencial à condição humana pura, i.é., “secular”.


É o “Secular”, Secular?

Ocorre, no entanto, que toda essa idéia da secularização como a remoção de um “excesso” de crença, de uma “sobra cultural” distinta da natureza humana é provavelmente uma construção ideológica, formada a partir de algumas das ciências humanas nascidas no interior da modernidade e destinadas, desde sua concepção, a naturalizar o próprio fenômeno da modernidade, como observou muito bem o Dr. John Milbank em “Theology and Social Theory” e mais recentemente Charles Taylor em “A Secular Age”, quanto à visão da secularização como uma “subtração”. Pelo contrário, há sinais de que em lugar de uma “subtração”, o que tivemos foi uma “substituição”; a modernidade não eliminou, mas apenas relocou a crença religiosa, como observou o Dr. Colin Gunton (King’s College London):


“A modernidade é a era que deslocou Deus como o foco para a unidade significado do ser. O que quero dizer com isso? Antes de tudo, que as funções atribuídas a Deus não foram abolidas, mas trocadas – relocadas, como se diz hoje. […]. Deus não é mais necessário para dar conta da coerência e significado do mundo, de forma que o assento da racionalidade e do significado se torne não o mundo, mas a razão e a vontade humana” . /Conlin Gunton, The One, the Three and the Many: God, Creation and the Culture of Modernity. The 1992 Bampton Lectures. Cambridge: CUP, 1993, p. 28./


Mas nada como um bom exemplo. Consideremos o seguinte quadro de Frida Kahlo:


Em “o marxismo dará saúde aos doentes” (1954) a atribuição de funções soteriológicas e messiânicas ao materialismo dialético simbolizado pela figura de Marx, assim como a identificação do mal com o “Tio Sam” exemplificam um padrão que se repete na cultura secular, embora nem sempre de forma tão clara.


Ou seja, a compreensão do mundo contemporâneo passaria pelo rastreamento da funções divinas relocadas na cultura secular, e pela compreensão da relação que o homem “secular” tem com os objetos que absorveram essas funções. Mas como rastrear essas funções divinas? Uma vez que elas sempre foram objeto de fé, o caminho mais direto seria rastrear as crenças religiosas. E isso nos leva de volta ao tema do post:






O que é uma Crença Religiosa?


A crença religiosa não se define pela identidade concreta “objeto”, mas pela relação que é estabelecida com esse “objeto”. Ou seja, com sua função no sistema de crenças (também chamado de “estrutura noética”, expressão que vem do grego “nous” [mente] e que nada tem a ver com “Noé”!). Uma forma bastante popular de distinguir “secularismo” de “religião” é distinguir a forma como seus respectivos sistemas de crença são construídos. A religião seria construída com “Dogmas” sobre realidades “sobrenaturais” – os infames “dogmas religiosos”. E o secularismo moderno construiria suas crenças de forma aberta e não-dogmática, por meio de justificativas racionais controladas pela consciência autônoma (adulta, iluminada).


Num ponto, essa visão está correta: crenças religiosas são crenças sustentadas com força dogmática. Isso acontece porque a crença religiosa veicula um “interesse supremo”. Essa característica é compartilhada em diversas religiões, e indica qual a característica central da crença religiosa: o que caracteriza a religião não é nem a crença em “sobrenaturais” (o Budismo e o Pitagorismo, por exemplo, ignoram o “sobrenatural”), nem a presença de um dogma explicitamente formulado (como é o caso em religiões tradicionais aborígenes, por exemplo), mas a função que um objeto concreto ou imaginário desempenha na organização do universo humano.


– Falemos desses objetos: quais são eles?


Aqui entra um fato curioso. Qualquer coisa pode operar como objeto de devoção religiosa. Os pitagóricos, por exemplo, cantavam hinos de adoração ao número “10”; e tem gente hoje que adora “pés” (é, a podolatria existe mesmo). A crítica da filosofia da religião ao “secularismo moderno” não é meramente que não devemos profanar objetos “religiosos” e ignorá-los privilegiando coisas “seculares”. Pois a rigor, não existem objetos religiosos e seculares. É a relação que temos com alguma coisa que a torna ou não religiosa. Coisas “sagradas” em uma religião podem ser “profanas” em outra. Don Richardson, em o Totem da Paz, conta a história de como ele encontrou uma tribo na qual o herói da história sempre era o traidor mais engenhoso, e assim inicialmente eles honraram… Judas! Isso mesmo, Judas! Até que descobriram que Jesus se enquadrava na única exceção a essa regra: ser uma dádiva de paz do inimigo (Deus, no caso).


A crítica da filosofia teísta cristã ao secularism” é de que ele, infalivelmente, desenvolve relaçõesreligiosas com objetos que, na melhor das hipóteses, carecem de “atributos divinos” suficientes para dar conta do recado e, na pior das hipóteses, produzem uma violação da racionalidade. Vou dar aqui apenas um exemplo, da pena de Timothy Keller:






“Depois que começou a crise econômica global, em meados de 2008, seguiu-se uma trágica sucessão de suicídios de indivíduos antes ricos e bem relacionados. O diretor financeiro da Freddie Mac, Federal Home Loan Mortgage Corporation (FHLMC), enforcou-se em seu porão. O presidente executivo da Sheldon Good, uma das mais importantes imobiliárias dos Estados Unidos, deu um tiro na cabeça ao volante de seu Jaguar vermelho. Um administrador financeiro francês que investia a fortuna de muitas das principais famílias europeias, inclusive de famílias reais, tendo perdido USD 1,4 bilhões do dinheiro de seus clientes no esquema de Bernard Madoff Ponzi, cortou os pulsos e morreu em seu escritório na Madison Avenue. Um executivo sênior do Banco HSBC se enforcou no guarda-roupa de uma suíte de GBP 500 por noite em Knightsbridge, Londres. Quando um executivo da Bear Sterns ficou sabendo que não seria contratado por J.P. Morgan Chase, que havia comprado sua empresa em falência, tomou uma overdose de drogas e saltou do vigésimo nono andar de seu prédio de escritórios […] tais fatos apresentavam uma terrível semelhança com os ocorridos na quebra da bolsa de 1929.”


“Na década de 1830, quando Alexis de Tocqueville registrou suas famosas observações sobre a América, notou ‘uma estranha melancolia que assombra os habitantes […] no meio da abundância’” […].

“Qual é a causa dessa ‘estranha melancolia’ que permeia nossa sociedade mesmo em tempos de explosão de atividade frenética, e que se transforma de imediato em desespero quando a prosperidade diminui? Tocqueville diz que ela vem do ato de tomar ‘uma alegria incompleta deste mundo’ e construir a vida inteira em torno dela. Esta é a definição de idolatria”. /Keller, Timothy. Deuses Falsos. Rio de Janeiro: Thomas Nelson Brasil, 2010, p. 9-10./






De fato, algumas crenças e adesões alegadamente seculares carecem de características distintivas que as coloquem em uma categoria claramente diferente das crenças de religiões tradicionais em “deuses” e “poderes sobrenaturais”.


– Se isso for verdade, o que define a crença religiosa não é o objeto, mas a forma do crer. Então precisamos definir melhor “crença religiosa”.


Para fins práticos, vamos identificar “dogma religioso” com “crença religiosa”. Nesse caso, o que é o “dogma”? O dogma não pode ser apenas uma “crença sustentada de forma absoluta e incorrigível, sem bases racionais”. Essa definição não explica nada. Eu posso ser dogmático sobre o modo correto de tomar café.


Do ponto de vista da epistemologia da crença religiosa, um “dogma religioso” é experimentado na consciência do crente como (1) uma crença que tem papel fundacional no seu sistema noético (seu sistema de crenças) e que, além disso, (2) parece a ele evidente e incorrigivelmente válida e (3) é sustentada com paixão ou interesse existencial extraordinário (Tillich falava em “ultimate concern”, mas isso talvez seja muito forte).


Aqui se encaixam muitas crenças religiosas conhecidas: o monoteísmo judaico, a divindade de Jesus Cristo, a unidade do todo Brahman-Atman no hinduísmo, a crença em Maomé como o maior dos profetas no Islã, etc. Mas aonde quero chegar com essa conversa sobre crença religiosa? Quero chegar à pergunta principal:



Os Sistemas de Crença Secularistas são “livres” de “dogmas religiosos”?


De forma alguma. O Dogma religioso permanece no interior da mente secular de forma oculta, o que revela seu caráter ideológico. Vamos retomar a distinção entre “religioso” e “secular” (mas sem perder de vista sua relatividade, que observamos há pouco) em termos de “dogmas”: a modernidade de fato propôs crenças seculares para substituir os dogmas religiosos, alegando que seus substitutos seriam baseados na razão e na ciência (daí a identificação “pop” de religião e dogma). Mas algumas dessas crenças seculares não apresentam diferenças qualitativas suficientes para serem distinguidas de “dogmas”. E o que dizemos aqui sobre “dogmas seculares” não é recurso retórico; é um dos resultados importantes da filosofia no século XX. Vou começar citando o que diz o Dr. David Ehrenfeld em “A Arrogância do Humanismo” (Ed. Campus) sobre a Cultura:






“Pondo de lado a noção de dignidade e valor humanos, a qual faz parte de muitas religiões, chegamos de imediato ao âmago da religião do humanismo: uma fé suprema na razão humana – sua capacidade para enfrentar e resolver os muitos problemas com que o ser humano se defronta, assim como para reordenar o mundo da Natureza e reformular os assuntos de homens e mulheres de modo que a vida humana prospere. Por conseguinte, assim como o humanismo está comprometido com a fé incondicional no poder da razão, também rejeita outras afirmações de poder, inclusive o poder de Deus, o poder de forças sobrenaturais e até o poder não dirigido da Natureza associado com o cego acaso. Os dois primeiros não existem, de acordo com o humanismo; o último pode, com algum esforço, ser dominado. Como a inteligência humana é a chave para o êxito humano, a principal tarefa dos humanistas é afirmar o seu poder e proteger as suas prerrogativas toda vez que são questionadas ou desafiadas.” /Ehrenfeld, David. Arrogância do Humanismo. Rio de Janeiro: Campus, 1992, p. 3/


“Os humanistas gostam de atacar a religião por seus pressupostos inverificáveis, mas o humanismo também possui seus próprios pressupostos impossíveis de testar. São dados, as coisas que são inconscientemente aceitas e raramente ou nunca debatidas. Se ocorrem em outros, os humanistas chamam-lhes superstições ou, mais polidamente, artigos de fé. Como nunca são testados ou questionados, podem ser enunciados como hipóteses em provas matemáticas, em breves sentenças declarativas.
O principal pressuposto humanista, o qual engloba todas as nossas relações com o meio ambiente, assim como algumas outras questões, é muito simples. Diz o seguinte:
Todos os problemas são solúveis.
Para deixar clara a sua ligação com o humanismo, basta acrescentar as duas palavras que estão implícitas; passa então a ser:
Todos os problemas são solúveis por pessoas.
[e há as suposições secundárias]
Muitos problemas são solúveis pela tecnologia; Os problemas que não são solúveis pela tecnologia, ou apenas pela tecnologia, tem soluções no mundo social (política, economia, etc); A civilização humana sobreviverá; O homem é naturalmente bom e só é corrompido pelo meio; O problema do mundo é apenas a má distribuição de renda.” /Ehrenfeld, David. Arrogância do Humanismo. Rio de Janeiro: Campus, 1992, p. 12-13/






Um outro exemplo muito interessante vem do filósofo da ciência Thomas Kuhn:


“O homem que adota um novo paradigma nos estágios iniciais de seu desenvolvimento frequentemente adota-o desprezando a evidência fornecida pela resolução de problemas. Dito de outra forma, precisa ter fé na capacidade de um novo paradigma para resolver os grandes problemas com que se defronta, sabendo apenas que o paradigma anterior fracassou em alguns deles. Uma decisão desse tipo só pode ser feito com base na fé”

[…] Mas somente a crise não é suficiente. É igualmente necessário que exista uma base para a fé no candidato específico escolhido, embora não precise ser racional nem correta. Deve haver algo que pelo menos faça alguns cientistas sentirem que a nova proposta está no caminho certo e em alguns casos somente considerações estéticas pessoais e inarticuladas podem realizar isso.”/Kuhn, Thomas, A Estrutura das Revoluções Científicas. São Paulo: Perspectiva, 2009, p. 201.[1]/






A modernidade secular propôs um mundo sem deuses e sem religião. Com a eventual morte dos “deuses” da modernidade (anunciada por Nietzsche) e toda a crítica da razão e da ciência moderna no século XX, tornou-se ainda mais incoerente sustentar crenças “seculares” com paixões “religiosas”. O “crente secular”, a princípio não deveria ter desenvolvido dogmas de nenhum tipo. Ou seja: não deveria apresentar nenhuma crença que se enquadrasse na descrição preliminar de “dogma” que introduzimos acima:






(1) uma crença que tem papel fundacional no seu sistema noético e que, além disso,

(2) parece a ele evidente e incorrigivelmente válida e

(3) é sustentada com paixão ou interesse existencial extraordinário[2]






Entretanto, mesmo depois do desmascaramento da contingência de seus fundamentos, e do colapso da razão moderna, a mente secular continua se relacionando com seus valores supremos da mesma forma que a mente religiosa. Isso é visível, particularmente, na militância ligada a alguns dogmas paracientíficos, como o naturalismo metafísico de Dawkins, com sua noção de universo como sistema uniforme e fechado; ou o cientificismo, que trata a ciência como única fonte de conhecimento verdadeiro; na militância em dogmas políticos como o libertarianismo, que defende a autonomia absoluta do indivíduo em relação à sociedade; ou no dogma do materialismo dialético, com a noção de progresso irreversível por meio de sínteses revolucionárias; ou em dogmas antropológicos, como o construtivismo sexual da teoria Queer, que rejeita a noção de normatividade sexual.


Na verdade nem é possível o conflito entre duas alternativas se elas não pertencem à mesma categoria. Quando o tema é a sede, não pode haver conflito entre chupar uma laranja ou chutar uma pedra. Mas pode haver conflito entre chupar uma laranja ou um limão. O mero conflito entre o secularismo e as religiões indica que ele pertence à mesma categoria. A questão é apenas identificar de que forma o secularismo realiza funções religiosas.


É nesse sentido que o secularismo militante tem se mostrado extraordinariamente acrítico. Como se a mera crítica dos “deuses” fosse capaz de exorcizar atitudes de crença “dogmática” (ou, para usar a linguagem técnica, estados doxásticos[3] funcionalmente religiosos). Isso pode ser um sinal do caráter ideológico do secularismo.


Pois ironicamente, os únicos religiosos que não sabem que o são, seriam… os secularistas. E essa é a razão porque eu ironizei, num outro dia, a sugestão de Alain de Botton de construir um “templo” para ateus, projeto criticado por ninguém menos que o próprio Richard Dawkins. Ela mostra que essa verdade, quanto ao fundo religioso oculto de secularismo e de qualquer ateísmo, ainda que seja cochichada debaixo da cama, no final será “anunciada dos eirados”.


Cf. Alain de Botton e a Evolução do Ateísmo



Crer é uma Opção?


É verdade que a tradição cristã condena a “descrença”. Mas com isso ela não quer dizer que haja apenas um vazio no lugar da fé; por isso a descrença tem uma associação interna com a “idolatria”, que seria o termo exato para “crença errada”. A “incredulidade” seria a “descrença” em Deus acompanhada de uma “crença errada” que a substitui. Eu diria, em conclusão, que o Credo é inevitável; de um jeito ou de outro, todo mundo é crente. Pois não há ser humano que não carregue em seu ventre (talvez mais do que em sua cabeça) um Credo, que pode ser explícito ou implícito. Ele está lá, permeando as atitudes, organizando os afetos, colorindo o olhar de cada pessoa. Não, a crença não é uma opção. O que é uma opção é até que ponto permitiremos que a nossa crença seja examinada. O descrente precisa perguntar: “se não creio em X, porque não creio?” “Porque considero Y mais plausível?” “O que constitui o sistema de crenças com base no qual considero o Credo Cristão implausível?” “Que crença se esconde por trás da minha descrença?” Será, por exemplo, um credo naturalista como este aqui (de um colega anônimo)?


Creio em um só Acaso, Todo-Poderoso
Criador do céu e da terra
de todas as coisas visíveis.
Creio em uma só Razão, a mente humana.
Filha Unigênita do Acaso
Gerada por Acaso antes que o Universo do Nada viesse a existir.
Pelo acaso todas as coisas vieram a existir.
E nós homens,
para a nossa própria salvação,
pensamos para existir. E temos consciência de que a consciência não existe,
Que a Verdade é Incerta,
A Liberdade é uma Ilusão,
A Justiça uma invenção.
Bem como todas as coisas que não são racionalmente comprovadas,
Até serem comprovadamente úteis para nós.
Creio na Ciência,
Inquestionável, Universal, Absoluta, porém Incerta.
Confesso uma só tecnologia para resolução de todo mal
existente no Universo e na Humanidade,
para a dominação final da Natureza, e a Conquista final e Esclarecimento de todos
os Mistérios.
Tecnologia essa que nos trará Paz, Prosperidade, Harmonia e Vida Eterna por
Todos os Séculos,
Assim Seja.


Embora reconhecidamente caricatural e irônico, o Credo acima pode realmente refletir a crença inexpressa de muitos descrentes. E essas crenças, mesmo que aparentem ser simples, honestas e minimalistas, precisam ser examinadas, confirmadas e plausibilizadas, tanto quanto quaisquer outras. Especialmente se, ao serem levadas às suas consequências lógicas, se mostrarem absurdas e impraticáveis. Não basta rejeitar o Credo Apostólico. É preciso checar se o seu credo alternativo é viável. E até mesmo se é saudável; pois se Chesterton estiver correto, “quando as pessoas não acreditam em Deus, terminam acreditando em qualquer coisa”.


Creio que vale encerrar com uma observação muito perspicaz de Timothy Keller em “Fé na Era do Ceticismo”:


“A única maneira de levantar dúvidas de forma correta e justa sobre o Cristianismo é descobrir a crença alternativa por trás de cada uma de suas dúvidas e, em seguida, indagar de si mesmo os motivos que o levam a acreditar nela. Como saber se sua crença é válida? Seria incoerente exigir maior comprovação da crença cristã do que da sua, mas é o que em geral acontece. Para ser justo, você precisa duvidar de suas dúvidas.”


________________________________


[1] O próprio Kuhn cita os estudos anteriores do cientista e filósofo da ciência de Cambridge Michael Polanyi, particularmente em sua obra “The Tacit Dimension”, onde ele descreve a estrutura tácita/oculta de crenças que necessariamente fundamenta e possibilita todo e qualquer questionamento, dúvida e criticismo.


[2] Na verdade a eliminação de crenças com papel religioso deveria levar a uma completa de-hierarquização doxástica (ou seja, na estruturação do sistema de crenças de alguém), uma vez que nenhuma crença poderia ter papel fundacional sem que houvesse provas ou ao menos bases (num sentido externalista) suficientes para tanto. E a de-hierarquização doxástica levaria a uma de-hierarquização afetiva, com o esvaziamento da paixão dogmática. Esse esvaziamento produziria em consequência um estado mental de “apatheia” doxástica no tocante a crenças funcionalmente religiosas. O secularismo não deveria, portanto, produzir nenhum tipo de militância doxástica (o que crer ou não crer), como se vê no movimento neoateísta. Isso faz transparecer uma irracionalidade no secularismo, que pode ser circunstancial ou fatal. Cabe ao secularista examiná-la.


[3] Doxástica: do gr. “doxa”, “opinião”. O termo é usado com sentido técnico em epistemologia, para referir-se à crença, às suas condições de possibilidade e às suas condições de justificação ou confirmação. Um estado “doxástico” é um estado mental que corresponde à adoção de uma determinada crença (sobre qualquer coisa: religião, ciência, memória, experiências sensoriais, etc).

Jonas Madureira


2015/06/25

Pastor John Piper diz que o dom de línguas tem sido usado de forma contrária ao que a Bíblia ensina.



O dom de línguas é uma das expressões do Espírito Santo que causam mais controvérsias entre os cristãos por conta da complexidade que o envolve e também pelas doutrinas eclesiásticas existentes e que surgiram baseadas em interpretações do Evangelho.
O pastor batista John Piper, um dos líderes cristãos mundiais mais reconhecidos da contemporaneidade, afirmou que não existe embasamento no Novo Testamento para a ênfase e incentivo à busca desse dom e sua prática da forma como acontece hoje em muitas igrejas.
Piper disse que durante seu ministério pastoral, atravessou diversas “fases” no que se refere aos dons do Espírito Santo, em especial, o dom de línguas.
“Parece que se você não fala a respeito disso no púlpito e não ensina sobre isso, ao menos no nosso contexto, esses dons tendem a desvanecer […] Eu diria que na maior parte dessas ‘fases’ eles [os dons] não estão em evidência”, observou o pastor.
A precaução com o dom de línguas, segundo John Piper, deve existir pela preocupação expressada pelo apóstolo Paulo em sua carta aos Coríntios, quando ele sugere que os irmãos não se deixem levar pela emoção e que o dom seja usado em benefício da comunidade.
“Entendo que Paulo não desejava colocar esse dom em destaque. Na verdade, ele estava um pouco aborrecido pela ênfase que o dom havia ganhado”, disse John Piper, mencionando o capítulo 12 da primeira carta aos Coríntios. “Ele teve que colocar limites, ao invés de promover o dom”, acrescentou.
Para o pastor, existem doutrinas que distorcem o propósito dos dons, principalmente no caso do falar em línguas: “Não acredito na doutrina histórica dos pentecostais de que você tem que falar em línguas como sinal de que você está cheio do Espírito Santo, ou até mesmo de que você é um cristão”.
Piper resume seu ponto de vista dizendo que não há indícios de que alguma coisa tenha mudado na forma como o Espírito Santo distribui seus dons, mas sim, na forma como os cristãos tem olhado para essa questão: “Acho que a maneira como esse dom é normalmente usado em público, como uma espécie de êxtase coletivo, não tem base no Novo Testamento”.
“Não vejo nenhuma razão para afirmarmos que algo mudou na história da Redenção e que entre a era dos apóstolos e a nossa era esse dom tenha desaparecido. Se Deus quiser que ele desapareça, Ele o fará desaparecer. Mas não vejo nenhum mandamento para que não o busquemos. Na verdade, vejo versículos que nos encorajam a fazê-lo”, ponderou.
Há, segundo Piper, duas aplicações para o dom de línguas: a manifestação do Espírito Santo em um idioma conhecido pela humanidade, mas desconhecido pelo profeta – e que teria aplicação prática na entrega de uma mensagem a alguém que entende tal idioma; e a manifestação através da língua dos anjos, como expressão de um momento espiritual. Nesse segundo caso, o pastor diz que, para que toda a igreja seja beneficiada, é indispensável que haja um intérprete, pois em caso contrário, não há como captar o sentido do que foi dito.
Em muitos casos, segundo Piper, as manifestações são expressões de êxtase, emoção, e por isso o alerta do apóstolo Paulo para que “se não houver intérprete presente, não fale em línguas em público”.