2015/06/14

Eu gosto de estudar as escrituras a partir do seu contexto, o que foi dito a partir do momento que.

Pregador Armador
Eu gosto de estudar as escrituras a partir do seu contexto, o que foi dito a partir do momento que foi dito, sua cultura, geografia e etc. Mas a práxis exige que eu transporte o ocorrido de 2 mil anos atrás para 2 mil anos a frente, e assim tirar lições para a necessidade e realidade de hoje.
Karl Barth, teólogo protestante, chega a dizer que o cristão deve carregar em uma das mãos a Bíblia e na outra o jornal do dia.

Transportar um texto de 2 mil anos atrás para os dias de hoje, trazendo de uma cultura do oriente, para uma do ocidente, não é nada fácil, e pra ser fiel a essa tarefa eu preciso aprender a tirar uma planta de um vaso e planta-la em outro sem nunca desligar sua raiz do vaso anterior.
Eu tenho dúvida se o que a bíblia quer dizer é mais importante do que o que bíblia diz, ou o que a bíblia diz é mais importante do que o que a bíblia quer dizer?
O problema é que se eu ficar só no que ela diz talvez eu nunca deixe de navegar em águas rasas, enquanto que descobrir o que ela quer dizer é navegar em águas profundas, mas na verdade o que a bíblia diz “é um mar muito mais firme” do que o que ela quer dizer, afinal o que ela quer dizer na verdade pode ser o que eu quero que ela diga e é ai que mora o naufrágio.
Enquanto tenho dúvida, vou ficando com o que ela diz, e se eu não me contentar vou buscar o que ela quer dizer no seu sentido mais comum, deixar que ela fale por si.
Ficar com o que ela diz talvez não seja uma grande aventura nesse mundo onde tanta gente encontra tantos mistérios para o que ela quer dizer, mas vou ficar com o que ela diz mesmo assim, e fazendo isso me sinto como que dentro de um barco, seguro do naufrágio da eixegese, e se um dia eu tiver que dizer o que ela quer dizer, vou fazer isso a exemplo de Pedro ” Senhor permita-me ir ter contigo
Alan Corrêa

Porque a Igreja deve fazer boas obras.

Perceba que a expressão “conheço as tuas obras” está presente na maior parte das cartas endereçadas a estas sete igrejas aqui no Apocalipse. Em Éfeso: “Conheço as tuas obras” (Apocalipse 2:2).  Em Tiatira: “Conheço as tuas obras” (Apocalipse 2:19). Em Sardes: “Conheço as tuas obras” (Apocalipse 3:1) Em Filadélfia: “Conheço as tuas obras” (Apocalipse 3:8) Em Laodicéia: “Conheço as tuas obras” (Apocalipse 3:15) Esta expressão só não está presente nas cartas endereçadas as igrejas de Esmirna e Pérgamo. Este é um aspecto muito importante e que deve ser enfatizado: As obras são um sinal de que este Organismo está vivo e saudável.
Porque pela graça sois salvos, por meio da fé, e isto não vem de vós, é dom de Deus; não vem das obras, para que ninguém se orgulhe. Pois fomos feitos por ele, criados em Cristo Jesus para as boas obras, previamente preparadas por Deus para que andássemos nelas” (Efésios 2:8-10). Sobre esta questão de boas obras existem algumas questões que são sempre abordadas e questionadas.
Primeiro, será que um homem que é inerentemente mal, pode fazer obras inerentemente boas? Pode o indivíduo caído em pecado realizar obras que sejam boas aos olhos de Deus? A Escritura nos responde que aos olhos de Deus, a nossa justiça não passa de trapos de imundícia. O profeta Jeremias perguntou: “Pode o etíope mudar a sua pele e o leopardo as suas manchas? Tão pouco pode o homem fazer o bem estando acostumado a fazer o mal”.
Segundo, pode o homem ser salvo pelas suas obras? Os espíritas afirmam que não há salvação fora da caridade. Logo, dentro do ensino espírita, o homem é salvo pelas suas obras e pela caridade. Daí eles serem tão pródigos em criar instituições filantrópicas como hospitais, creches, sanatórios, orfanatos... Os católicos romanos afirmam que o homem é salvo pela fé e pelas obras. As obras são um complemento da obra de Cristo, é o chamado sinergismo, ou seja, as obras estão em pé de igualdade com o sacrifício de Cristo.  Portanto, não há salvação sem a prática de boas obras.
Se a doutrina romana associou as obras à fé como meio de salvação, Lutero quase que parte para o outro extremo. Ele praticamente anula as obras como evidência de salvação. Não foi por acaso que ele chamou a carta de Tiago – “a fé sem obras é morta” de “a carta de palha”, sem peso.
Terceiro, existe tensão e conflito entre Paulo e Tiago? Paulo afirma que pelas obras ninguém pode ser justificado diante de Deus. Tiago já diz que a fé sem as obras é morta. Existe alguma contradição entre Paulo e Tiago? Quando analisamos a fundo esta questão, esta aparente contradição não se sustenta. Paulo está escrevendo para os judaizantes, para aqueles que queriam voltar a lei para serem salvos, que acreditavam que se não praticassem os ritos do judaísmo, jamais seriam salvos. Tiago se dirige aos crentes que se diziam salvos, mas não provavam pela vida a transformação do seu caráter. Paulo olha para a salvação e Tiago olha também para a salvação. Paulo olha para aquilo que chamamos da causa da salvação, a fé. Tiago olha para aquilo que chamamos da evidência da salvação, as obras. Paulo condenou as obras como meio de salvação, Tiago condenou a fé que não gera obras. Paulo fala em fé, Tiago fala em obras. Ambos, porém, se referem a mesma salvação. Fé que produz obras e obras que provam a fé. Paulo olha para a causa, Tiago olha para o efeito da mesma salvação. Paulo não combateu as obras, Tiago não combateu a fé.
Diante de todas estas questões, questionamentos, perguntas e reflexões cabe a pergunta: Por que a igreja deve fazer boas obras? Por que esta questão é tão importante ao ponto de Jesus dizer a cinco das sete igrejas: “Conheço as tuas obras”. Por que a igreja deve fazer boas obras já que as obras são evidências da fé salvadora? Calvino dizia que “a salvação é somente pela fé, mas esta fé vem acompanhada pelas obras”.
Por que a igreja deve fazer boas obras? Porque é o propósito eterno de Deus para a igreja. “Somos feitura de Deus, criados em Cristo Jesus, para as boas obras, as quais Deus de antemão preparou para que andássemos nelas”.  (Efésios 2:10) Perceba que este é o propósito eterno de Deus. É desejo dele que a Igreja seja um povo criado em Cristo para as boas obras e não por causa das boas obras. De tal maneira que as boas obras não são a causa da salvação, mas elas são a evidência, o resultado, a consequência da salvação.
O propósito de Deus é que você e eu sejamos ativos, operantes, dinâmicos, frutíferos, ricos em boas obras. O Deus que trabalhou em nós, agora está trabalhando através de nós por meio das boas obras. De certa forma, nós somos a expressão do corpo de Cristo na terra. Nós somos os braços estendidos da misericórdia de Deus aos homens. Deus age no mundo revelando o seu amor através da igreja pela prática das boas obras.
Por que a igreja deve fazer boas obras? Porque as boas obras são o grande objetivo da nossa redenção em Cristo. “O qual a si mesmo se deu por nós a fim de remir-nos de toda a iniquidade e purificar para si mesmo um povo exclusivamente seu, zeloso de boas obras”.  (Tt.2:14) Jesus não foi à cruz, não sofreu o castigo da lei, não aguentou a penalidade do nosso pecado para criar um povo omisso, inoperante e infrutífero. Cristo foi à cruz para purificar um povo que fosse zeloso, que praticasse boas obras com abundância. Nós não fomos inseridos no corpo de Cristo para ser um membro inoperante e atrofiado.
Por que a igreja deve fazer boas obras? Porque as boas obras são uma ordenança de Deus para a Igreja“Assim também, brilhe a vossa luz diante dos homens para que vejam as vossas boas obras, e glorifiquem a vosso Pai que está nos céus”. (Mt. 5:16) A igreja é um luzeiro a brilhar no mundo, é como uma cidade no alto de uma montanha. O mundo está olhando para a igreja e vê Jesus por meio da igreja. Neste contexto, a luz da igreja precisa brilhar! É preciso existir boas obras dos filhos de Deus para que o Pai seja glorificado entre os incrédulos. “Exorta aos ricos que pratiquem o bem, sejam ricos em boas obras, generosos em dar e prontos em repartir”. (I Tm. 6:17,18)
Esta era a ética da Reforma! Max Weber acusou injustamente o protestantismo de ser o pai do capitalismo. Certamente que ele não estudou Calvino, não leu os escritos do reformador de Genebra. A ética reformada, a ética protestante, a ética bíblica é que Deus dá não para acumular, mas para repartir. Os reformadores chamavam isto de “o mistério do pobre e o ministério do rico”. A ordem bíblica é para que os ricos pratiquem o bem e sejam ricos de boas obras.“Torna-te pessoalmente, padrão de boas obras”. (Tito 2:7) “Aquele que sabe que deve fazer o bem e não o faz, está pecando”. (Tg. 4:17) O cristianismo em nenhum momento isenta o cristão da responsabilidade da prática das boas obras. O fato de não praticarmos boas obras para a salvação, não nos isenta da responsabilidade severa de praticarmos as boas obras como evidência da nossa salvação. Devemos questionar aquele tipo de fé que é inoperante. Devemos questionar aquela fé que diz “eu creio em Deus”, mas não evidencia isto através da sua vida e da sua prática. “Esta fé sem obras, é morta”.
Por que a igreja deve fazer boas obras? Porque quem está ligado a videira verdadeira produz frutos“Se alguém permanece em mim e eu nele, esse dá muito fruto. Porque sem mim, nada podeis fazer”. Quem não está ligado a Jesus não pode, de maneira nenhuma, praticar boas obras. Alguém pode perguntar: “Mas e aqueles que praticam a caridade?” Quando a Bíblia fala em “boas obras”, devemos estar atentos ao adjetivo “boas”. Perceba, não é apenas “obras”, mas “boas obras”. As boas obras precisam ter a motivação certa. Há pessoas que praticam obras, que embora ajudem o próximo, tem a motivação equivocada. Quando alguém pratica uma obra para envaidecer-se, para ascender os holofotes em cima de si mesmo, para com isso alcançar o favor de Deus, para através daquele ato afirmar que merece a salvação. Estas obras aos olhos de Deus não passam de trapos de imundícia. Ninguém pode comprar o favor de Deus pelo merecimento. Por outro lado, aquele que está ligado à videira, a Cristo, e não produz fruto, alguma coisa está errada na sua vida. Se a seiva que está na videira não passar para os galhos da videira é porque este galho não está ligado à videira, e este ramo, dizem as Escrituras, será cortado. Nós não temos outra opção a não ser produzir frutos, muito fruto!
Por que a igreja deve fazer boas obras? Porque as boas obras são evidência de uma fé verdadeira“Assim a fé que não produz obras, está morta” (Tg. 2:17). E você diz assim: “Mas eu creio em Deus”. Tiago lhe responde: “Sabes tu que Deus é um só? Fazes bem, até os demônios creem e tremem”. As multidões que vieram a João Batista para serem batizadas perguntaram a ele: “O que devemos fazer?”. Ele respondeu: “Quem tiver duas túnicas, dê uma para quem não tem. Quem tiver comida, faça o mesmo”. Os soldados perguntaram como eles iriam evidenciar a sua conversão? Ele respondeu: “Não cobrem propinas, não entrem em esquemas de corrupção”.
O que é que eu e você podemos fazer para evidenciar que realmente cremos em Deus? No nosso dia-a-dia, na nossa prática diária, o que é que temos feito que evidencia a nossa fé? O que existe em nós que revela o caráter de Deus? Como demonstramos que realmente estamos ligados à Videira? Você é generoso? Tem as mãos abertas para abençoar, para socorrer, para repartir, para contribuir? Estende a sua mão para o necessitado a sua porta? As pessoas veem Deus na sua conduta, na sua postura, no seu comportamento?
Por que a igreja deve fazer boas obras? Porque as boas obras aliviam a necessidade das pessoas“Não negligencieis a hospitalidade, lembrai-vos dos encarcerados, lembrai-vos dos que sofrem maus tratos; não negligencieis a prática do bem e a mútua cooperação” (Hb. 13:1-3). Em Atos 10:38 é dito que Jesus andou por toda a parte fazendo o bem e libertando os oprimidos do Diabo. Qual é uma das mensagens principais da parábola do bom samaritano? Aquele homem, embora encontrasse um inimigo racial prostrado à beira do caminho, ele parou, ele se aproximou, ele viu, ele ajudou, ele investiu, ele tirou o ferido da margem da morte.
Sabe qual foi o único homem chamado de “bom” na Bíblia? – Barnabé! Barnabé era um homem bom, cheio do Espírito Santo e de fé. Barnabé foi o homem que investiu em Saulo de Tarso. Quando a igreja de Jerusalém rejeitou Saulo, Barnabé investiu nele. Barnabé vendia as suas propriedades para socorrer àqueles que estavam passando necessidades. Barnabé investiu num jovem imaturo, inexperiente, rejeitado pelo próprio Paulo, João Marcos.
O que é que nós podemos fazer por Cristo? O que é que você tem feito por Cristo? Em Bristoll, Inglaterra, George Muller criou orfanatos e sustentou a vida de 3 mil crianças. Robert Wakes, em 1780 em Glaucert na Inglaterra, ao ver as crianças perambulando pelas ruas resolveu fundar a Escola Dominical para dar educação e alimentação para as crianças. Ensinar a essas crianças que perambulavam pelas ruas, a Palavra de Deus. A partir de então, se estabelecesse esta Instituição extraordinária que é tão forte no mundo inteiro.
Por que a igreja deve fazer boas obras? Para provar o verdadeiro amor de Jesus“Nisto consiste o amor, em que Cristo deu a sua vida por nós, e nós devemos dar a nossa vida pelos nossos Irmãos. Quem, pois, tiver bens do mundo, e, vendo o seu irmão necessitando, lhe fechar o seu coração, como permanece nele o amor de Deus? Filhinhos, não amemos de palavra, nem de língua, mas por obras e em verdade.”. (I Jo. 3:16-18) Temos demonstrado através das boas obras que somos salvos? Qual foi a última vez que você abençoou, encorajou, ajudou, visitou alguém? O autor do livro “O monge e o executivo” diz que “O amor não é aquilo que ele diz, o amor é aquilo que ele faz”. O mundo está cheio de palavras, o mundo precisa ver obras!
Finalmente, por que a igreja deve fazer boas obras? Porque vamos comparecer diante do tribunal de Cristo para sermos julgados segundo as nossas obras. “Importa que todos nós compareçamos diante do tribunal de Cristo para que cada um receba o bem ou o mal que tiver feito por meio do corpo”. (II Cor. 5:10) “Vi também os mortos, os grandes e os pequenos postos em pé diante do trono. Então se abriram os livros, e os mortos foram julgados segundo as suas obras, conforme o que se achava escrito nos livros”. (Ap. 20:12)
O evangelista Mateus narra a cena do juízo de Deus da seguinte maneira: “Apartai-vos de mim malditos, para o fogo eterno preparado para o Diabo e seus anjos. Porque eu tive fome e não me destes de comer, estive com sede e não me destes de beber, estive nu e não me vestistes, estive doente e não me visitastes, estive preso e não fostes ver-me, estava forasteiro e não me abrigaste”. (25:34-46) Perceba que o pecado destacado por Jesus é o pecado da omissão, de não praticar obras que glorifiquem a Deus. “Deus a de trazer a juízo todas as obras, até as que estão escondidas, quer sejam boas, quer sejam más”. (Ec.12:14) “O Filho do Homem a de vir na glória de seu Pai, com os seus santos anjos, e então, retribuirá cada um conforme as suas obras”. (Mt.16:27)
Você e eu vamos ter que comparecer diante de Deus. Não é sábio, não é prudente, não é conveniente comparecermos diante de Deus de mãos vazias (Dt.16:16). Quando formos pesados pela balança de Deus, seremos encontrados em falta? (Dn. 5) O apóstolo Paulo nos diz que se construirmos sobre o fundamento que é Jesus, com palha, com feno e com madeira, estas obras serão queimadas, e seremos salvo através do fogo, mas não receberemos galardão. Mas se você construirmos sobre ouro, prata e pedras preciosas, seremos salvos e também receberá galardão (I Cor. 3:10-15). Jesus diz que até um copo de água que damos a alguém, em seu nome, não ficará sem recompensa. Quem recebe uma criança no nome dele, recebe Àquele que o enviou. João nos informa que as nossas obras não podem nos levar para o céu, contudo, nós podemos levar as nossas obras para o céu: “Bem aventurados aqueles que desde agora morrem no Senhor para que descansem das suas fadigas e as suas obras os acompanhe”.
Certa vez um jovem disse ao pastor: “Por favor, retire o meu nome do rol de membros. Eu não quero mais continuar na igreja”. E o pastor lhe disse: “Antes de retirar o seu nome do rol de membros, eu gostaria de lhe pediu um favor. Tem uma irmã da igreja, já idosa, doente, que precisa ser visitada. Você pode fazer isto antes de eu retirar o seu nome do rol de membros?” E o jovem consentiu ao pedido do pastor. Quando aquele moço chegou à casa daquela senhor idosa e doente, ela lhe disse: “Filho, foi Deus quem te enviou aqui! Como eu estava precisando de alguém perto de mim. Obrigado porque você veio. Você trouxe alegria para o meu coração”. Aquele jovem voltou para o seu pastor e disse: “Pastor, eu não quero mais sair da igreja, eu quero mais alguns nomes para visitar, por favor. Pastor, eu quero muito trabalhar”.
Descubra o seu lugar no Corpo de Cristo. Você já descobriu? Honre ao Senhor com todo seu conhecimento, alma, força e entendimento. Deus não te chamou para o ócio, para a preguiça, para a omissão. Deus te chamou para trabalhar na obra dEle enquanto é dia. “Lança o teu pão sobre as águas, depois de muito tempo você o achará”.


Como e porque fazer boas obras.

Como e porque fazer boas obras.
1. As boas obras são somente aquelas que Deus ordena em sua santa Palavra, não as que, sem a autoridade dela, são aconselhadas pelos homens movidos por um zelo cego ou sob qualquer outro pretexto de boa intenção.

2. Estas boas obras feitas em OBEDIÊNCIA aos MANDAMENTOS de Deus são o FRUTO e as EVIDENCIAS de uma FÉ VIVA e VERDADEIRA; por elas os crentes manifestam a sua gratidão, robustecem a sua confiança, edificam os seus irmãos, adornam a profissão do Evangelho, fecham a boca aos adversários e glorificam a Deus, de quem são feitura, criados em Jesus Cristo para isso mesmo, a fim de que, tendo o seu fruto em santidade, tenham no final a vida eterna.

3. A capacidade de fazer boas obras de modo algum provém dos crentes, mas inteiramente do Espírito Santo para operar neles tanto o querer como o realizar segundo o seu beneplácito; contudo, NÃO devem, por isso, tornar-se NEGLIGENTES, como se não fossem obrigados a cumprir qualquer dever senão quando movidos especialmente pelo Espírito; pelo contrário, devem ESFORÇAR-SE por dinamizar a graça de Deus que neles está.

4. Os que alcançam, pela sua obediência, a maior perfeição possível nesta vida estão longe de exceder as suas obrigações e fazer mais do
que Deus requer, e são deficientes em muitos dos deveres obrigados a fazer.

5. Não podemos, pelas nossas melhores obras, merecer das mãos de Deus perdão de pecado ou vida eterna, em razão da grande desproporção que há entre elas e a glória por vir, e da infinita distância que existe entre nós e Deus, a quem não podemos ser úteis por meio
delas, nem saldar a dívida dos nossos pecados anteriores; e porque, como boas, procedem de seu Espírito; e, como nossas, são impuras e misturadas com tanta fraqueza e imperfeição, que não podemos suportar a severidade do juízo de Deus; assim, depois que tivermos feito tudo quanto podemos, temos cumprido tão somente o nosso dever, e somos servos inúteis.

6. Não obstante, as pessoas dos crentes sendo aceitas por meio de Cristo, suas obras são também aceitas por ele, não como se fossem, nesta vida, inteiramente perfeitas e irreprováveis à vista de Deus, mas porque Deus, considerando-as em seu Filho, é servido aceitar e
recompensar aquilo que é sincero, embora seja acompanhado de muitas fraquezas e imperfeições.

7. As obras feitas pelos não regenerados, embora sejam, quanto à matéria, coisas que Deus ORDENA, e úteis tanto a eles mesmos quanto aos outros, contudo, porque procedem de corações não purificados pela fé, não são feitas devidamente segundo a Palavra; nem para um fim justo a glória é de Deus; são, portanto, pecaminosas e não podem agradar a Deus, nem preparar o homem para receber a graça de Deus; não obstante, o NEGLIGENCIÁ-LAS-las é ainda MAIS PECAMINOSO E OFENSIVO A DEUS.
Vincent Cheung, um dos meus escritores preferidos, diz o seguinte:
“Apenas porque Teresa (Caucutá) pareça ter feito uma abundância de boas obras não faz a mínima diferença, isto é, a menos que ela tenha verdadeiramente confiado em Cristo para salvação.Tentar ajudar, curar, unir ou até mesmo salvar a humanidade sem Deus, e sem o único e verdadeiro evangelho, não é nenhuma outra coisa senão uma outra tentativa de construir Babel. É uma tentativa centrada-no-homem de edificar a humanidade. É pecado e rebelião disfarçada de justiça e compaixão. As boas obras dos ímpios são feitas, não a partir de um motivo para ajudar a humanidade em obediência a Deus e para glorificar a Deus, mas para ajudar a humanidade a despeito de Deus, de forma que eles não necessitarão nem venerarão a Deus.

Assim, se estabelecermos nós mesmos e as nossas obras como o ponto de referência para o bem e o mal, então, já sucumbidos à primeira tentação de Satanás. Uma “boa” obra é verdadeiramente uma boa obra somente porque ela assim o é em referência a Deus (somente porque ela glorifica a Deus, pois a fazemos com sabe no Seu faça assim, e porque Ele aprova), e não porque ela seja útil ao homem e julgada como boa pelos homens, aparte de Deus.”
Repare que a citação de Cheung à Teresa nos remete a pensar que ele não está falando de uma vida de santidade separada de um coração que se compadece dos necessitados. NÃO, NÃO ESTÁ.

Neste mesmo texto ele cita o sétimo item da Confissão de Westminster (sétimo item do tópico ‘boas obras’) deixando claro que nem ele, nem a Confissão de Westminster está falando de vida de santidade separada do amor pelo próximo – não venha me dizer, você, que a Bíblia chama de próximo somente os que estão em Cristo.
“Ele, porém, querendo justificar-se a si mesmo, disse a Jesus: E quem é o meu próximo? E, respondendo Jesus, disse: Descia um homem de Jerusalém para Jericó, e caiu nas mãos dos salteadores, os quais o despojaram, e espancando-o, se retiraram, deixando-o meio morto. E, ocasionalmente descia pelo mesmo caminho certo sacerdote; e, vendo-o, passou de largo. E de igual modo também um levita, chegando àquele lugar, e, vendo-o, passou de largo. Mas um samaritano, que ia de viagem, chegou ao pé dele e, vendo-o, moveu-se de íntima compaixão; E, aproximando-se, atou-lhe as feridas, deitando-lhes azeite e vinho; e, pondo-o sobre o seu animal, levou-o para uma estalagem, e cuidou dele; E, partindo no outro dia, tirou dois dinheiros, e deu-os ao hospedeiro, e disse-lhe: Cuida dele; e tudo o que de mais gastares eu to pagarei quando voltar. Qual, pois, destes três te parece que foi o próximo daquele que caiu nas mãos dos salteadores? E ele disse: O que usou de misericórdia para com ele. Disse, pois, Jesus: Vai, e faze da mesma maneira.” (Lucas 10- 29 a 36). Não seja um crente como o sacerdote deste texto, nem como o levita... seja como o samaritano. “Vai, e faze da mesma maneira.”
Você pode dizer: isso não salva ninguém. Eu digo: Isso é verdade, ninguém será justificado por isso... mas, segundo a Bíblia, você não pode dizer que recebeu de Deus a Fé salvadora. Você conhece bem o Livro de Tiago e sabe muito bem o que ele (Tiago) diz antes de dizer que a Fé sem obras é morta. Pasmem!!! Já ouvi cristãos dizendo que “não se deve atentar muito para o Livro de Tiago, pois o próprio Lutero tinha suas divergências com Tiago...” fui obrigado a dizer: “filho, você está louco... e se Lutero realmente disse isso, foi em um momento de insanidade mental dele também. Quando Tiago fala é o próprio Deus falando; Quando Paulo fala, é o próprio Deus falando, Quando Mateus fala é o próprio Deus falando, e assim para Pedro, Timóteo, João...”

Quando Jesus está falando sobre a punição eterna em Mateus 25, do que ele está falando dos versículos 30 ao 45???
Somente cristãos cínicos podem ignorar tais textos e ainda assim dizerem ter certeza da salvação. De igual forma, somente cristãos cínicos podem ignorar textos que falam sobre a Santidade de Deus, a ira Santa de Deus, o Juízo de Deus, o ódio de Deus ao pecado e mesmo assim dizerem ter certeza da Salvação.
Cuidado com o cinismo!

2015/06/13

Um Padrão mais Elevado de Santidade – J. C. Ryle




O grande teólogo do passado, John Owen, deão da Igreja de Cristo, costumava dizer, há mais de duzentos anos passados, que há indivíduos cuja inteira religião parece consistir em queixar-se de suas próprias corrupções, dizendo a todos que nada podem fazer pessoalmente para descontinuá-las. Temo que após dois séculos, a mesma coisa possa ser dita, com toda a verdade, a respeito de alguns que hoje se professam parte do povo de Cristo. Sei que há textos nas Escrituras que dão respaldo a essas queixas.

Não faço objeção a elas, quando parte de pessoas que andam nos passos do apóstolo Paulo, que combatem o bom combate à semelhança dele, lutando contra o pecado, o diabo e o mundo. Porém, nunca aprecio tais queixas quando vejo motivos para suspeitar, conforme com freqüência o percebo, que elas são apenas uma capa para encobrir a preguiça espiritual, são apenas desculpas para a frouxidão espiritual. Se tivermos de dizer juntamente com o apóstolo: "Desventurado homem que sou!", também deveremos ser capazes de dizer, juntamente com ele: "...prossigo para o alvo..!' Não queiramos citar o seu exemplo quanto a um aspecto, ao mesmo tempo em que não o seguimos em outro (ver Rm. 7:24 e Fp. 3:14).

Não quero me colocar como melhor do que outras pessoas. E, se alguém indagar de mim: "O que você pensa que é para escrever dessa maneira?", a minha resposta será: "Sou uma criatura realmente muito miserável". Porém, afirmo que não posso ler a Bíblia sem desejar poder ver muitos crentes mais espirituais do que são, mais santos, mais singelos, mais dotados de mente celestial, mais resolutos de coração do que eles são neste nosso século. Gostaria de ver entre os crentes um pouco mais do espírito próprio dos peregrinos, uma separação mais decidida do mundo, uma linguagem que evidenciasse melhor o céu e um andar mais íntimo com Deus — e essa é a razão pela qual escrevi como escrevi.

Não é verdade que precisamos de um padrão mais elevado de santidade pessoal nestes nossos dias? Onde está a nossa paciência? Onde está o nosso zelo? Onde está o nosso amor? Onde estão as nossas boas obras? Onde está a força da religião cristã a ponto de ser percebida, conforme se via nos tempos de outrora? Onde está aquele inequívoco tom capaz de abalar o mundo que costumava distinguir os santos da antigüidade? Verdadeiramente, a nossa prata transformou-se em escória, o nosso vinho foi misturado com água, e o nosso sal tem pouco sabor.

Todos estamos mais do que meio-sonolentos. A noite vai adiantada e o dia já se aproxima. Despertemos; não continuemos a dormir. Abramos os nossos olhos mais atentamente do que temos feito até agora, "...desembaraçando-nos de todo peso, e do pecado que tenazmente nos assedia..!' "Tendo, pois, ó amados, tais promessas, purifiquemo-nos de toda impureza, tanto da carne como do espírito, aperfeiçoando a nossa santidade no temor de Deus" (Hb. 12:1 e II Co. 7:1). Indagou Owen: "Morreu Cristo, e sobreviverá o pecado? Foi Ele crucificado no mundo e o nosso afeto pelo mundo continuará vivo e intenso? Oh, onde está o espírito daquele que, mediante a cruz de Cristo, foi crucificado para o mundo, e o mundo para ele?!"

Você precisa de um milagre?





A relação doentia da geração de Jesus com o desejo de ver “sinais e milagres” fechou seus olhos para verem a perfeita manifestação de Deus em Cristo. Não o reconheceram, não o honraram, não o temeram... o mataram!


O Deus da Bíblia é "Soberano o bendito e único, o Rei dos reis e Senhor dos senhores, o único que é imortal e que habita em luz inacessível, a quem ninguém viu nem pode ver. Para ele, honra e poder para sempre! Amém. . " (1 Timóteo 6:15-16).


Aquele a quem os céus são incapazes de conter e não pode estar circunscrito a um lugar nem retido pelo espaço, sendo infinito e onipresente... “o céu é o seu trono e a terra o estrado de seus pés!” – Pode tal ser fazer sua morada em um coração humano? Certamente isto está muito além de todo esforça humano de imaginação. O habitante da eternidade pode designar para si uma tenda no coração de um “verme” da terra? Que aquele que é infinito deva fazer sua casa em um que é finito nunca pode ser abarcado pela mente mortal. Vivemos num mundo em que as casas revelam o status de quem habita nelas. Ele,  aquele que “habita a eternidade” (Is 57.15),  habitar numa criatura do tempo é o milagre infinito da condescendência e devia levar não a um coração desejos e doentes por “milagres” ego-centralizados, mas sim a nos curvarmos diante dEle em admiração e adoração esmagadora todos os dias.


O milagre da condescendência é completamente atordoante, o Senhor não é apenas o Alto e Sublime, que habita a eternidade, mas também aquele “cujo nome é Santo” (Isaías 57.15). Sua natureza é inefável e eternamente pura. Para Seus olhos imaculados, os céus são impuros (Jó 15.15), “as estremas não são puras aos seus olhos” (Jó 25.5. “Tu és tão puro de olhos que não podes contemplar o mal, e não podes olhar a iniquidade” (Hab 1.13).


Entenda, seria uma coisa incrível para o grande Deus eterno fazer o seu tabernáculo em uma criatura finita mesmo que essa criatura fosse sem pecado, que será então para Aquele que é INFINITAMENTE SANTO habitar dentro de uma criatura que caiu, se tornou corrupta e vil? Isto realmente é a maravilha que será cantada pela eternidade, e o milagre da graça que é apreciado de forma real apenas na proporção que apreendemos quem Ele é, e quem nós somos. É a visão doentia que pairava sobre a geração de Cristo, focada no homem, e que cega nossa geração para a realidade da grandeza de Deus, que faz com que estejamos apáticos diante do milagre que devia ocupar nossas mentes e todo o nosso culto a Deus.


Nós lemos que “o lobo viverá com o cordeiro, e o leopardo se deitará com o carneiro. O bezerro, o leão e o animal cevado estarão juntos” (Is 11.6) – o que é apenas um “milagre” da natureza, mas para o Santo habitar um pecador é o milagre dos milagres, a maravilha transcendente da graça!


Se não fosse esse o claro ensino da Palavra de Deus, que o Uno e inefável Deus Santo, faça sua morada no coração de uma criatura caída, não poderíamos afirmar ou sequer imaginar uma maravilha como essa. O problema é que o coração de nossa geração não foi devidamente afetado por essa Graça incomparável, se fosse, ela clamaria sem cessar com o salmista:“Quem é como o Senhor, o nosso Deus, que reina em seu trono nas alturas, mas se inclina para contemplar o que acontece nos céus e na terra? Ele levanta do pó o necessitado e ergue do lixo o pobre, para fazê-los sentar-se com príncipes, com os príncipes do seu povo.” - Salmos 113:5-8


O Alto e o Excelso, que habita na eternidade e cujo nome é Santo – é também  "o Deus de toda graça" (1 Pedro 5:10). É isto que devia fazer arder cada coração para os próximos cultos do resto de nossas vidas: " Pois assim diz o Alto e Sublime, que vive para sempre, e cujo nome é santo: "Habito num lugar alto e santo, mas habito também com o contrito e humilde de espírito, para dar novo ânimo ao espírito do humilde e novo alento ao coração do contrito" (Isaías 57:15).


O que nos mostra o milagre infinito do poder divino. Por natureza, não existe seres humanos que tenham “um espírito contrito e humilde”. Todos os filhos de Adão nascem orgulhosos e egoístas, ególatras. O homem não regenerado é intratável, impenitente, soberbo e obstinado. É somente pela operação sobrenatural do Espírito que um ser assim pode ser feito humilde.


Você precisa de um milagre? Você já tem, se prostre em reverente adoração, ele é suficiente para os próximos cultos do resto de sua vida.

A humilhação e a exaltação de Cristo


Referência: Filipenses 2.6-11


INTRODUÇÃO


1. A doutrina sempre deve estar conectada com a vida


Este é o texto clássico da cristologia na Bíblia. William Barclay diz que esta é a passagem mais importante e mais emocionante que Paulo escreveu sobre Jesus. Aqui Paulo alcança as alturas mais excelsas da sua reflexão teológica acerca do Filho de Deus. Porém, o contexto revela-nos que Paulo está tratando de um problema prático na vida da igreja, exortando os crentes à unidade. Ou seja, Paulo está expondo seu pensamento teológico mais profundo para resolver um problema de desunião dentro da igreja. A teologia deve sempre estar conectada com a vida. A teologia determina a ética. A doutrina é a base para a solução dos problemas que atacam a igreja. A igreja precisa pensar teologicamente. Nessa mesma linha de pensamento William Barclay comenta:


Em Paulo sempre se unem teologia e ação. Para ele, todo sistema de pensamento deve necessariamente converter-se em um caminho de vida. Em muitos aspectos esta passagem é uma daquelas que tem o maior alcance teológico do Novo Testamento, mas toda a sua intenção está em persuadir e impulsionar os filipenses a viverem uma vida livre de desunião, desarmonia e ambição pessoal.


2. A vida de Cristo é o exemplo máximo para a igreja


Paulo corrige os problemas internos da igreja de Filipos não apenas lhes oferecendo conceitos doutrinários, mas mostrando-lhes o exemplo de Cristo. O melhor remédio para curar os males da igreja é olhar para Jesus, seguir os seus passos e imitar seu exemplo (2.5). A igreja de Filipos estava sendo atacada por inimigos externos e por intrigas internas. Para corrigir ambos os males, ela deveria olhar para Jesus.


William Hendriksen corretamente afirma que há uma área em que Cristo não pode ser nosso exemplo. Não podemos imitir seus atos redentivos e nem sofrer e morrer vicariamente. Mas, com o auxílio de Deus, podemos e devemos imitar o espírito que serviu de base para esses atos. A atitude de auto-renúncia, com vistas a auxiliar outros, deveria estar presente e se expandir na vida de cada discípulo (Mt 11.29; Jo 13.12-17; 13.34; 21.19; 1Co 11.1; 1Ts 1.6; 1Pe 2.21-23; 1Jo 2.6). O mesmo autor ainda afirma que se Jesus não é nosso exemplo, então nossa fé é estéril e nossa ortodoxia, morta.


I. A HUMILHAÇÃO DE CRISTO (2.6-8)


1. Ele voluntariamente abriu mão de seus direitos (2.6)


Jesus antes da sua encarnação sempre foi Deus co-igual, co-eterno e consubstancial com o Pai e com o Espírito Santo. Ele sempre foi revestido de glória e majestade (Jo 17.5). Ele é o criador de todas as coisas, visíveis e invisíveis (Cl 1.16). Ele sempre foi adorado pelos anjos nas coortes celestiais.


A expressão “subsistindo em forma de Deus” (2.6) é muito importante para entendermos a divindade de Cristo. William Barclay diz que a palavra “subsistindo” hyparquein descreve aquilo que é essencial e que não pode ser mudado; aquilo que possui uma forma inalienável. Descreve características inatas, imutáveis e inalteráveis. Assim, pois, Paulo começa dizendo que Jesus é Deus em forma essencial, inalterável e imutável.


Logo Paulo continua dizendo que Jesus “subsistia em forma de Deus”. Há duas palavras gregas para forma: morphe e schema. Ambas podem ser traduzidas por “forma”. Mas, elas não têm o mesmo significado. Morphe é forma essencial de algo que jamais se altera; schema é a forma externa que muda de tempo em tempo e de circunstância em circunstância. A palavra que Paulo usa com referência a Jesus é morphe. Jesus está de maneira inalterável na forma de Deus; sua essência e seu ser imutável são divinos. Werner de Boor faz referência à bela formulação de Lutero: “O Filho do Pai, Deus por natureza…”. Nesta mesma linha de pensamento Ralph Martin diz que morphe é “natureza essencial” em oposição à “forma exterior” schema. O erudito Lightfoot diz que morphe implica não em características externas, mas em atributos essenciais.


Há uma profunda conexão entre morphe e schema. A primeira se refere àquilo que é anterior, essencial e permanente na natureza de uma pessoa ou coisa; enquanto a segunda aponta para seu aspecto externo, acidental ou aparente. O que Paulo está dizendo, pois, em Filipenses 2.6 é que Cristo Jesus sempre foi (e continuará sempre sendo) Deus por natureza, a expressa imagem da Divindade. O caráter específico da Divindade, segundo se manifesta em todos os atributos divinos, foi e é sua eternidade, diz William Hendriksen. Jesus sempre foi Deus (Jo 1.1; Cl 1.15; Hb 1.3). Ele sempre possuiu toda a glória e louvor no céu. Com o Pai e o Espírito Santo, ele sempre reinou sobre o universo.


Há uma outra verdade gloriosa exposta no versículo 6. O apóstolo Paulo diz que Jesus “não julgou como usurpação o ser igual a Deus”, ou seja, não considerou a sua igualdade com Deus como “algo que deveria reter egoisticamente”. A palavra grega aqui traduzida por “usurpação” é harpagmos. Essa palavra só aparece aqui em toda a Bíblia. Ela provém de um verbo que significa arrebatar ou aferrar-se. Jesus não se agarrou aos privilégios de sua igualdade com Deus, antes abriu mão dela por amor aos homens. Ralph Martin afirma que para o Cristo pré-encarnado, ao invés de imaginar que igualdade com Deus significa obter, ao contrário, ele deu – deu até tornar-se vazio.


F. F. Bruce interpreta corretamente essa questão, quando escreve:

Não existe a questão de Cristo tentar arrebatar, ou apoderar-se da igualdade com Deus: ele é igual a Deus, porque o fato de ele ser igual a Deus não é usurpação; Cristo é Deus em sua natureza. Tampouco existe a questão de Cristo tentar reter essa igualdade pela força. A questão fundamental é, antes, que Cristo não usou sua igualdade com Deus como desculpa para auto-afirmação, ou autopromoção; ao contrário, ele a usou como ocasião para renunciar a todas as vantagens ou privilégios que a divindade lhe proporcionava, como oportunidade para auto-empobrecimento e auto-sacrifício sem reservas.


Jesus não pensou em si mesmo; ele pensou nos outros. Ele abriu mão de sua glória, desceu das alturas e, usou seus privilégios para abençoar os outros.


Certa feita um repórter entrevistou um próspero orientador profissional.


– Qual é o segredo do seu sucesso? Perguntou o repórter.

– Se quiser descobrir o que vale realmente um trabalhador, não lhe dê responsabilidades; dê-lhe privilégios, respondeu o orientador. Muitas pessoas são capazes de cumprir responsabilidades, mas só um líder sabe lidar com privilégios, usando-os para ajudar os outros. Um homem inferior servir-se-á dos privilégios para autopromoção. Jesus usou os seus privilégios celestes para o bem dos outros. A Bíblia diz que ele andou por toda a parte, fazendo o bem e curando a todos os oprimidos do diabo (At 10.38).


Vale a pena contrastar a atitude de Cristo com a de Lúcifer (Is 14.12-15) e com a de Adão (Gn 3.1-7). Lúcifer foi o mais elevado dos seres angélicos, assistindo junto ao trono de Deus (Ez 28.11-19), mas desejou ser igual a Deus e sentar-se sobre o seu trono. Lúcifer declarou: “Eu farei”, mas Jesus disse: “Faça-se a tua vontade”. Lúcifer não se contentou em ser uma criatura, queria ser o criador; Jesus era o criador e, voluntariamente, fez-se homem. A humildade de Jesus constitui uma reprovação ao orgulho de Satanás. Lúcifer não se contentou apenas em ser rebelde, mas invadiu o Éden e tentou o homem à rebeldia. Adão tinha tudo, era o rei da criação, mas Satanás lhe disse: “Sereis como Deus”. O homem então, tentou agarrar algo que estava para além do seu alcance e assim precipitou toda a raça humana no pecado e na morte. Adão pensou unicamente em si; Jesus Cristo pensou nos outros. F. F. Bruce coloca essa questão assim: “Adão, criado homem, à imagem de Deus, tentou arrebatar para si uma falsa e ilusória igualdade com Deus. Cristo alcançou senhorio universal mediante sua renúncia, enquanto Adão perdeu seu senhorio mediante o roubo do fruto proibido”.


Robertson corretamente afirma que Paulo não está aqui nos oferecendo apenas uma técnica discussão teológica acerca da pessoa de Cristo; em vez disso, ele está fazendo um uso prático da encarnação de Cristo para enfatizar a grande lição da humildade como fator essencial para a unidade. Cristo se humilhou e nós também devemos fazê-lo.


2. Ele se esvaziou (2.6,7)


O Filho de Deus deixou o céu, a glória, seu trono, e fez-se carne, fez-se homem, se encarnou. Aquele que em seu estado pré-encarnado é igual a Deus é a mesma Pessoa que se esvaziou. O verbo grego kenou “se esvaziou”, literalmente significa “tirar algo de um recipiente até que fique vazio” ou “derramar algo até que não fique nada”. Paulo usa aqui a palavra mais gráfica possível para que se faça patente o sacrifício da encarnação.


Do que Cristo se esvaziou? Certamente não foi da existência “na forma de Deus”. Isso seria impossível. Ele continuou sendo o Filho de Deus. Indubitavelmente, Cristo renunciou seu ambiente de glória. Ele pôs de lado sua majestade e glória (Jo 17.5), mas permaneceu Deus. Ele jamais deixou de ser o possuidor da natureza divina. Mesmo em seu estado de humilhação ele jamais se despojou de sua divindade.


F. F. Bruce diz que em vez de explorar sua igualdade com Deus, e dela auferir vantagens, Jesus se despojou a si próprio, não de sua natureza divina, visto que isso seria impossível, mas das glórias e das prerrogativas da divindade. Isto não significa que ele trocou sua natureza (ou forma) divina pela natureza (ou forma) de um escravo: significa que ele demonstrou a natureza (ou forma) de Deus na natureza (ou forma) de um escravo. No cenáculo, Jesus pegou uma bacia, cingiu-se com uma toalha e lavou os pés dos discípulos e depois, disse-lhes: “Vós me chamais o Mestre e o Senhor e dizeis bem; porque eu o sou. Ora, se eu, sendo o Senhor e o Mestre, vos lavei os pés, também vós deveis lavar os pés uns dos outros”.


William Hendriksen, abrindo uma janela para o nosso entendimento dessa gloriosa verdade, diz que a inferência é que Cristo se esvaziou de sua existência-na-forma-de-igualdade-a-Deus e ilustra com alguns pontos.


Em primeiro lugar, ele renunciou sua relação favorável à lei divina. Enquanto permanecia no céu nenhuma carga de culpa pesava sobre ele. Entretanto, ao encarnar-se, ele que não conheceu pecado, se fez pecado por nós (Jo 1.29; 2Co 5.1); ele que era bendito eternamente se fez maldição por nós (Gl 3.13) e levou sobre seu corpo, no madeiro, todos os nossos pecados (1Pe 2.24).


Em segundo lugar, ele renunciou suas riquezas. O apóstolo Paulo diz: “Pois conheceis a graça de nosso Senhor Jesus Cristo, que sendo rico, se fez pobre por amor de vós, para que, pela sua pobreza, vos tornásseis ricos” (2Co 8.9). Jesus renunciou tudo, até mesmo sua própria vida (Jo 10.11). Tão pobre ele era que tomou emprestado um lugar para nascer, uma casa para pernoitar, um barco para pregar, um animal para cavalgar, uma sala para reunir e um túmulo para ser sepultado.


Em terceiro lugar, ele renunciou sua glória celestial. Ele tinha glória com o Pai antes que houvesse mundo (Jo 17.5). Mas, voluntariamente deixou a companhia dos anjos e veio para ser perseguido e cuspido pelos homens. Do infinito sideral de eterno deleite, na própria presença do Pai, voluntariamente ele desceu a este reino de miséria a fim de armar sua tenda com os pecadores. Ele, em cuja presença os serafins cobriam o rosto, o objeto da mais solene adoração, voluntariamente desceu a este mundo, onde foi “desprezado e o mais rejeitado entre os homens; homem de dores e que sabe o que é padecer” (Is 53.3).


Em quarto lugar, ele renunciou o livre exercício de sua autoridade. Ele voluntariamente se submeteu ao Pai e diz: “Eu não procuro a minha própria vontade, e, sim, a daquele que me enviou” (Jo 5.30).


Bruce Barton comentando este texto diz que Jesus não era parte homem e parte Deus; ele era completamente humano e completamente divino. Antes de Jesus vir ao mundo, as pessoas só podiam conhecer a Deus parcialmente. Depois, puderam conhecê-lo plenamente, porque ele se tornou visível e tangível. Cristo é a perfeita expressão de Deus em forma humana. Ele é a exegese de Deus. Nele habita corporalmente toda a plenitude da divindade. Como homem, porém, Jesus estava limitado a lugar, tempo, e outras limitações humanas. Contudo, ele não deixou de ser plenamente Deus ao tornar-se humano, embora tenha abdicado de sua glória e seus direitos.


É estonteante refletir que Paulo tenha escrito sobre esse sublime mistério da humilhação de Cristo para ensinar a igreja de Filipos acerca da humildade nos relacionamentos. Werner de Boor corrobora, dizendo:


Será que haveria pessoas em Filipos que deveriam doar, ceder, tornarem-se humildes, mas que declarariam: “Não se pode exigir isso de mim. Isso é demais para minha boa vontade!” Será que qualquer um deles, Paulo ou os filipenses, ainda pode reivindicar quaisquer direitos no serviço a esse Jesus? “Esvaziar-se”, renunciar, tornar-se pequeno – será que ainda seria difícil agir assim depois de ouvir acerca desse Jesus e da forma com que ele abriu mão do que tinha: passando da forma divina para figura de escravo? Será que esse incrível salto para as profundezas poderia ser comparável ao salto de um pecador perdido e condenado para se tornar escravo desse Jesus? Se em algum momento houver problemas com a concórdia e comunhão dos irmãos porque alguma coisa ainda está sendo retida, então Jesus ainda não foi corretamente apreendido. É justamente por isso, não para escrever capítulos de uma obra doutrinária, que Paulo mostra Jesus aos filipenses.


3. Ele serviu (2.7)


O eterno Filho de Deus não nasceu num palácio. O Rei dos reis não nasceu num berço de ouro nem entrou no mundo por intermédio de uma família rica e opulenta; ao contrário, nasceu num berço pobre, numa família pobre, numa cidade pobre. Jesus nasceu numa manjedoura, cresceu numa carpintaria e morreu numa cruz. Ele não veio ao mundo para ser servido, mas para servir (Mc 10.45).


Jesus não pensou nos outros apenas de forma abstrata; ele assumiu a forma de servo, ele serviu. A palavra “forma” aqui é novamente morphe, uma forma absoluta. Jesus não fingiu ser um servo. Ele não foi um ator no desempenho de um papel. Ele de fato foi servo! A única pessoa no mundo que tinha razão de fazer valer seus direitos, os renunciou. E foi Cristo Jesus mesmo que disse: “Pois, no meio de vós, eu sou como quem serve” (Lc 22.27). Jamais algum servo serviu com mais imutável lealdade, abnegada devoção e irrepreensível obediência do que Jesus. O Senhor de todos tornou-se servo de todos (Mt 20.27; Mc 10.45). Jesus assumiu a forma de servo como ele era antes em toda a eternidade em forma de Deus.


Jesus serviu aos pecadores, às meretrizes, aos cobradores de impostos, aos doentes, aos famintos, aos tristes e enlutados. Quando seus discípulos, no cenáculo, ainda alimentavam pensamentos soberbos, ele pegou uma toalha e uma bacia e levou os seus pés (Jo 13.1-13).


4. Ele se tornou em semelhança de homens (2.7)


O que Paulo quer dizer quando afirmou que Cristo Jesus se tornou em semelhança de homens e foi reconhecido em figura humana? Aquele que era em forma de Deus e era igual a Deus desde toda a eternidade tomou a forma de um homem num particular momento da história. Robertson corretamente afirma que a humanidade, embora completamente real e não meramente aparente como firmavam os docéticos gnósticos, não podia expressar tudo o que Cristo verdadeiramente era. Ele continuou subsistindo em forma de Deus em sua natureza essencial a despeito de sua encarnação. Ele conservou a natureza essencial de Deus mesmo depois de se tornar em semelhança de homens.


William Hendriksen diz que embora os homens estivessem certos em reconhecer a humanidade de Cristo estavam errados em dois aspectos: Rejeitaram sua humanidade impecável e sua divindade. E ainda que toda sua vida, particularmente, suas palavras e atos poderosos manifestassem “a divindade velada na carne”, todavia, de um modo geral, rejeitaram suas reivindicações e o odiaram ainda mais por causa delas (Jo 1.11; 5.18; 12.37). Cumularam-no de escárnio, de forma que “era desprezado e o mais rejeitado entre os homens…” (Is 53.3).


Neste versículo 7, o apóstolo Paulo usa três palavras gregas que nos ajudam a entender o que significa para o eterno Filho de Deus se tornar m semelhança de homens. A primeira palavra é morphe, a mesma palavra usada no verso 6 para expressar “forma de Deus”. Essa palavra foi usada para falar de Jesus em forma de Deus, e, agora, é usada para falar dele em forma de servo. A palavra morphe segundo James Montgomery Boyce tem diferentes significados na língua grega; ela se refere tanto ao caráter interno de uma pessoa ou coisa como a forma externa que expressa esse caráter interno. Desta maneira, quando Paulo diz que Cristo tomou a forma de servo ele quer dizer que Cristo se tornou homem tanto internamente como externamente. Já temos visto que Cristo possuía internamente a natureza de Deus e a apresentou externamente. Nesse mesmo sentido, Jesus também possuía a natureza de homem tanto interna quanto externamente. Exceto no pecado, qualquer coisa que pode ser dito acerca do homem, pode ser dito também sobre o Senhor Jesus Cristo. Jesus, assim, tornou-se semelhante ao primeiro Adão, que foi sem pecado, mas como segundo Adão, fez-se pecado por nós, para vencer o pecado e nos remir dele.


A segunda palavra é homoioma, traduzida por Paulo como “semelhança”. Se a palavra morphe refere-se à natureza do homem; a palavra homoioma fala dessa externa aparência. Jesus não tem apenas sentimentos e intelecto humanos, ele tem também a aparência humana. Ele nasceu como um bebê judeu e cresceu como os outros meninos da sua raça. Do ponto de vista físico, ele foi perfeitamente homem.


A terceira palavra é schema, traduzida por Paulo por “figura”. O pensamento aqui é de conformidade com a experiência humana. Paulo diz que Cristo não era apenas um homem internamente em seus sentimentos e emoções; não apenas um homem externamente em seu aspecto físico, mas também ele era um homem no sentido de que suportou tudo o que nós suportamos neste mundo: tentação (Hb 4.15), sofrimento (1Pe 2.21) e desapontamento (Mt 23.37). Tudo o que diz respeito à experiência humana, Jesus também vivenciou.


5. Ele se sacrificou (2.8)


Muitas pessoas estão prontas a servir outros, se isso não lhes custar nada. Mas se há um preço a pagar, então perdem o interesse. Jesus Cristo serviu sacrificialmente e foi obediente até à morte e morte de cruz. Cristo se esvaziou e se humilhou quando ele se fez homem. Depois desceu mais um degrau nessa escalada da humilhação, quando se fez servo; mas, desceu às profundezas da humilhação quando suportou a morte e morte de cruz. Por seu sacrifício, ele transformou esse horrendo patíbulo de morte no símbolo mais glorioso do cristianismo (Gl 6.14).


James Boyce diz que a cruz de Cristo é a grande ênfase de toda a Bíblia, tanto do Velho como do Novo Testamento (Lc 24.25-27). Dois quintos do Evangelho de Mateus são dedicados à última semana de Jesus em Jerusalém. Mais de três quintos do Evangelho de Marcos, um terço do Evangelho de Lucas e quase a metade do Evangelho de João dão a mesma ênfase. O apóstolo João fala da crucificação de Cristo como a “a hora” vital para a qual Cristo veio ao mundo e seu ministério foi exercido (Jo 2.4; 7.30; 8.20; 12.23; 12.27; 13.1; 17.1). O mesmo autor diz que Cristo morreu para remover o pecado (1Pe 2.24; 2Co 5.21), satisfazer a justiça divina (Rm 3.24-26) e revelar o amor de Deus (Jo 3.16; 1Jo 4.10).

A morte de cruz tinha três características:


Em primeiro lugar, ela era dolorosíssima. Era a pena de morte aplicada apenas aos escravos e delinqüentes. Havia um adágio que dizia que uma pessoa crucificada morria mil mortes. Muitas vezes, o crucificado passava vários dias pregado na cruz e morria lentamente com câimbras, asfixia e dores atrozes.


Em segundo lugar, ela era ultrajante. A pessoa condenada era açoitada, ultrajada e cuspida e, depois, tinha que carregar a cruz debaixo do escárnio da multidão até o lugar da sua execução.


Em terceiro lugar, ela era maldita. Uma pessoa que era dependurada na cruz era considerada maldita (Dt 21.23; Gl 3.13). Assim, enquanto Jesus estava pendente na cruz, embaixo Satanás e suas hostes o assaltavam; em volta os homens o escarneciam; de cima, Deus o cobria com um manto de trevas, símbolo de maldição e de dentro prorrompia o amargo grito: “Deus meu, Deus meu, por que me desamparaste?” De fato, Cristo desceu a este inferno, o inferno do Calvário. Ralph Martin diz que o Senhor da Igreja consentiu em terminar sua vida num patíbulo romano e do ponto de vista judaico, morrer sob condenação divina. Assim, Jesus nos conduz como num imenso mergulho, dos mais elevados píncaros aos mais profundos vales, da luz de Deus para a escuridão da morte.


Mas, não devemos olhar a morte de Cristo na cruz apenas sob a perspectiva do sofrimento físico. A grande questão é: por que ele morreu na cruz? Cristo não foi para a cruz porque Judas o traiu por ganância, porque os sacerdotes o entregaram por inveja ou porque Pilatos o condenou por covardia. Ele foi para a cruz porque o Pai o entregou por amor e porque ele a si mesmo se entregou por nós. Ele morreu pelos nossos pecados (1Co 15.3). Nós o crucificamos. Nós estávamos lá no Calvário não como platéia, mas como agentes da sua crucificação.


A cruz de Cristo é a maior expressão do amor de Deus por nós e a mais intensa expressão da ira de Deus sobre o pecado. O pecado é horrendo aos olhos de Deus. A santa justiça de Deus exige a punição do pecado. O salário do pecado é a morte. Então, Deus num ato incompreensível de eterno amor, puniu o nosso pecado em seu próprio Filho, para poupar-nos da morte eterna. Na cruz Jesus bebeu sozinho o cálice amargo da ira de Deus contra o pecado. Na cruz Jesus foi desamparado para sermos aceitos. Ele não desceu da cruz para podermos subir ao céu. Ele se fez maldição na cruz para sermos benditos de Deus. Ele morreu a nossa morte para vivermos a sua vida.


II. A EXALTAÇÃO DE CRISTO (2.9-11)


1. É obra de Deus (2.9)


O apóstolo Paulo faz uma transição daquilo que Cristo fez para aquilo que Deus fez para ele e por ele. O mesmo que se humilhou foi exaltado e essa exaltação lhe foi dada pelo Pai. O caminho da exaltação passa pelo vale da humilhação; a estrada para a coroação, passa pela cruz. Deus exalta aqueles que se humilham (Mt 23.13; Lc 14.11; 18.14; Tg 4.10; 1Pe 5.6). Foi por causa do sofrimento da morte que essa recompensa lhe foi dada (Hb 1.3; 2.9; 12.2), diz William Hendriksen.


Deus não deixou Cristo na sepultura, mas levantou-o da morte, levou-o de volta ao céu e o glorificou (At 2.33; Hb 1.3). Deus deu a Jesus “toda autoridade no céu e na terra” (Mt 28.18). Deu a ele autoridade para julgar (Jo 5.27) e fê-lo senhor de vivos e de mortos (Rm 14.9), fazendo-o assentar à sua destra, acima de todo principado e potestade, constituindo-o a cabeça de toda a igreja (Ef 1.20-22). Fica claro que esta elevação de Jesus não foi a restituição da natureza divina, porque ele jamais a renunciou, mas foi a restituição da glória eterna que tinha com o Pai antes que houvesse mundo, da qual voluntariamente havia se despojado (Jo 17.5,24).


Porque Jesus se humilhou, ele foi exaltado. Jesus mesmo é a suprema ilustração de sua própria afirmação: “… todo o que se exalta será humilhado; mas o que se humilha será exaltado” (Lc 18.14b). Os homens o cuspiram, mas Deus o exaltou. Os homens lhe deram nomes insultuosos, mas o Pai lhe deu o nome que está acima de todo nome.


2. É uma exaltação incomparável (2.9)


A expressão “o exaltou sobremaneira” é a tradução do verbo grego hyperhypsoun que só aparece aqui em todo o Novo Testamento e só pode ser aplicado a Cristo. O significado desse verso é “superexaltado”. Deus, o Pai enalteceu o Filho de uma forma transcendentemente gloriosa. Soergueu-o à mais elevada excelsitude. Se os salvos vão para o céu, Cristo ultrapassou os céus (Hb 4.14), foi feito mais alto que os céus (Hb 7.26) e subiu acima de todos os céus (Ef 4.10).


A exaltação incomparável de Cristo constitui-se no fato dele ter recebido um nome que está acima de todo nome (2.9). Ele recebeu este nome por herança (Hb 1.4) e por doação (2.9). O nome de Jesus, agora, é possessão da igreja. Por meio desse nome os enfermos são curados (At 3.6), os perdidos são salvos (At 4.12), os crentes são perdoados (1Jo 2.12), os cativos são libertos (Lc 10.17), as orações são respondidas (Jo 16.23). O apóstolo Paulo diz que devemos fazer tudo em nome de Jesus (Cl 3.17).


O grande título pelo qual Jesus chegou a ser conhecido na Igreja primitiva foi Kyrios. A palavra kyrios tem uma história luminosa. 1) Começou significando amo ou proprietário. 2) Chegou a ser o título oficial dos imperadores romanos. 3) Chegou a ser o título dos deuses pagãos. 4) Kyrios era o termo grego que traduzia a Jeová na versão grega das Escrituras, a Septuaginta. Desta maneira, quando Jesus era chamado Kyrios, Senhor, significava que era o Senhor e o Dono de toda vida, o Rei dos reis e Senhor de imperadores; o Senhor de uma maneira em que os deuses pagãos e os ídolos mudos jamais podiam sê-lo. Jesus era nada menos que divino.


A grande ênfase do Novo Testamento é sobre o senhorio de Cristo. O Filho de Deus é chamado de Senhor mais de seiscentas vezes no Novo Testamento. Somente os que confessam que Jesus é Senhor podem ser salvos. A Bíblia diz que quem tem o Filho tem a vida.


Podemos ilustrar esse ponto como segue:


Havia um homem muito rico que investira grande fortuna em quadros famosos. Tinha orgulho de ter uma das mais requintadas coleções dos maiores e mais consagrados pintores do mundo. Um dia seu filho único foi ferido numa viagem e morreu. Seu amigo, que o acompanhara em seus últimos suspiros, buscando consolar aquele pai aflito, enviou-lhe um quadro que ele mesmo pintara do rosto do seu filho. Ao receber o quadro, colocou-o numa bela moldura e dependurou-o junto aos seus quadros mais seletos. Ao perceber que sua morte se avizinhava, aquele homem rico chamou seu mordomo e entregou-lhe as suas últimas recomendações. Determinou que os quadros fossem leiloados e o dinheiro arrecadado deveria ser entregue a uma instituição de caridade. Em dia determinado, o leilão aconteceu. Para surpresa de todos, o mordomo começou leiloando o quadro do filho. Ninguém demonstrou interesse pelo quadro, pois ele não tinha nenhum atrativo nem valor artístico. Até que alguém resolveu fazer uma oferta e comprou o quadro. Para maior surpresa ainda, o mordomo anunciou o término do leilão. E quando, todos estavam inconformados e buscando uma explicação, o mordomo leu o testamento do seu patrão: “Aquele que comprar o quadro do filho, tem todos os outros, pois quem tem o filho tem tudo”. Podemos, de igual forma, afirmar: “Quem tem o Filho tem a vida”, quem tem Jesus tem tudo!


3. É uma exaltação que exige rendição de todos (2.10)


William Hendriksen diz que em seu regresso em glória, Jesus será adorado por toda corporação de seres morais, em todos os setores do universo. Os anjos e os seres humanos redimidos farão isso com intenso regozijo, enquanto os condenados farão isso com profunda tristeza e profundo remorso (Ap 6.12-17). Ralph Martin diz que a aclamação final do universo é, também, o “slogan” confessional da Igreja de hoje: “Jesus Cristo é Senhor”. Ambos, o universo e a Igreja unem-se num reconhecimento comum, e num tributo unânime.


Na segunda vinda de Cristo os três mundos vão se dobrar aos seus pés: os céus, a terra e o inferno. Todo o joelho vai se curvar diante do poderoso nome de Jesus no céu (os anjos e os remidos), na terra (os homens) e debaixo da terra (demônios e condenados). Com que júbilo se ajoelharão diante de Jesus aqueles que foram salvos por ele. Com que pavor cairão de joelhos aqueles que passaram orgulhosamente por ele ou o rejeitaram!


J. A. Motyer corretamente afirma que Jesus foi coroado no dia da sua ascensão. Embora o dia da sua coroação já tenha ocorrido, infelizmente poucos têm conhecimento desse fato auspicioso. Aqueles que amam a Jesus sabem disso e se regozijam nesse fato, mas milhões de pessoas no mundo não sabem que Jesus é o Rei coroado e somente se prostrarão aos seus pés quando ele se manifestar em glória. Naquele dia todo joelho vai se dobrar, toda língua vai confessar que Jesus é Senhor, mas nem todos serão salvos.


4. É uma exaltação proclamada universalmente (2.11)


Toda língua vai confessar que Jesus é Senhor. Ele é o Rei dos reis, o Senhor dos senhores, o Todo-poderoso Deus, diante de quem os poderosos deste mundo vão ter que se curvar e confessar que ele é Senhor. Aqueles que zombaram dele, vão ter que confessar que ele é o Senhor. Aqueles que o negaram e nele não quiseram crer, vão ter que admitir e confessar que ele é Senhor. Essa confissão será pública e universal. Todo o universo vai ter que se curvar diante daquele que se humilhou, mas foi exaltado sobremaneira!


Isso não significa, obviamente, que todas as pessoas serão salvas. Somente aqueles que agora reconhecem que Jesus é o Senhor o confessam como tal serão salvos (Rm 10.9). Porém, na segunda vinda de Cristo nenhuma língua ficará silenciosa, nenhum joelho ficará sem se dobrar. Toda as criaturas e toda a criação reconhecerão que Jesus é Senhor (2.11; Ap 5.13).


5. É uma exaltação que tem um propósito estabelecido (2.11)


A exaltação de Jesus tem dois propósitos claros:


Em primeiro lugar, que todos, em todos o universo reconheçam o senhorio de Jesus Cristo. Deus o exaltou, o fez assentar à sua destra e o constitui o Senhor absoluto do todo o universo. O senhorio de Cristo foi a grande ênfase da pregação apostólica (At 2.36; Rm 10.9; Ap 17.14; 19.16). Importa que todos, em todos os lugares, de todos os tempos reconheçam e confessem que Jesus é Senhor. Em virtude do poder e majestade de Jesus Cristo, e pelo reconhecimento de que ele é o Senhor, toda língua o proclamará. Pense nos termos pelos quais temos o privilégio de darmos glória a ele. Pense sobre seus nomes. Jesus Cristo é o Maravilhoso Conselheiro, o Deus Forte, o Pai da Eternidade, o Príncipe da Paz. Ele é o Messias, o Senhor, o Primeiro e o Último, o Começo e o Fim, o Alfa e o Ômega, o Ancião de Dias, o Rei dos reis e o Senhor dos senhores, o Deus conosco, Aquele que era, que é e que há de vir. Ele é chamado de a Porta das Ovelhas, o Bom Pastor, o Grande Pastor e o Supremo Pastor, o Bispo das nossas almas. Ele é o Cordeiro sem defeito e sem mácula, o Cordeiro imolado antes da fundação do mundo. Ele é a Palavra, a Luz do Mundo, a Luz da Vida, a Árvore da Vida, a Palavra da Vida, o Pão que desceu do céu, a Ressurreição e a Vida, o Caminho, a Verdade, e a Vida. Ele é o Deus Emanuel. Ele é a Rocha, o Noivo, a Sabedoria de Deus, nosso Redentor. Ele é o Cabeça de todas as coisas, o Amado em quem Deus tem todo o seu prazer. É Jesus Cristo todas essas coisas para você? Se Jesus representa todas essas gloriosas verdades para você, então, seus joelhos se dobrarão e sua língua confessará que ele é Senhor para a glória de Deus Pai.


Em segundo lugar, que o Pai seja glorificado pela exaltação do Filho. O fim último de todas as coisas é a glória de Deus (1Co 10.31). Paulo há havia advertido contra o pecado da vanglória (2.3). Toda a glória que não é dada a Deus é glória vazia, é vanglória. Cristo se humilhou e suportou a cruz para a glória de Deus (Jo 17.1). Ele ressuscitou e foi exaltado para a glória de Deus (2.11). Ralph Martin sintetiza esse glorioso pensamento de forma sublime:


O senhorio de Cristo não compete com o de Deus, nem a entronização do Filho ameaça a monarquia única do Pai. Cristo rege para a glória de Deus Pai. Sua soberania é dom do Pai (2.9). Aquilo que ele recusou-se a usurpar egoisticamente, num ato de enaltecimento próprio, destituído de sentido, aprouve ao Pai conceder-lhe, agora. A última palavra é Pai, como que para enfatizar que, agora, no Cristo pré-existente, encarnado, humilhado, exaltado, Deus e o mundo estão unidos, e um novo segmento da humanidade, um microcosmo da nova ordem de Deus para o universo, está nascendo (Ef 1.10).


CONCLUSÃO


Toda a vida e obra de Jesus não apontam para sua glória pessoal, mas objetiva a glória de Deus. Jesus atrai os homens para si para poder levá-los a Deus. Na igreja de Filipos havia alguns que tinham o propósito de satisfazer suas ambições egoístas. Porém, o único propósito de Jesus era servir a outros ainda que isso tenha lhe custado a maior de todas as renúncias. Enquanto alguns membros da igreja de Filipos queriam ser o centro das atenções, Jesus queria que o único centro da atenção fosse Deus. Assim, também, o seguidor de Cristo nunca deve pensar em si mesmo, senão nos demais; não deve buscar sua própria glória, senão a glória de Deus.


Rev. Hernandes Dias Lopes