2015/04/15

Perdoar


Todos nós sabemos o que é perdoar. Também sabemos quão difícil é perdoar verdadeiramente e sabemos que perdoar é muito mais do que simplesmente dizer: eu te perdoo. Porém, mais difícil ainda é ter certeza de que perdoou de fato.

Há alguns anos aconselho pessoas que não conseguem ter certeza de que perdoaram de fato.

 Essa dúvida geralmente se expressa por frases do tipo: Eu perdoei! De coração eu perdoei! Mas, quando nos encontramos a primeira coisa de que me lembro é do erro que eu perdoei.

 Então, como posso ter perdoado se não esqueci?

Primeiro, é preciso deixar bem claro que perdão não tem nada a ver com memória.

 O perdão exige apenas três atitudes: 1) Não levar em conta o erro que se perdoou ao tratar com a pessoa que foi perdoada, 

2) não basear uma ajuda futura a quem perdoou no fato ocorrido, e 3) não divulgar o erro perdoado com o intento de difamar a quem se perdoou.

Para ficar mais claro: Eu posso até me lembrar de que Fulano, com quem convivo, fez algo errado comigo. Mas, se o perdoei de fato - e sou obrigado a fazer isso “não apenas sete vezes, mas setenta vezes sete” - não deve ser tal lembrança, ainda que muito incômoda, que me atrapalhe a convivência diária com ele.

Posso até me lembrar de que Beltrano não me pagou uma dívida. Mas se eu disse, obedecendo ao Senhor, que o perdoava, não posso - tendo condições de atendê-lo - negar um empréstimo que ele venha a me pedir.

Posso até me lembrar de que Sicrano não cumpriu o que me prometeu. Mas, se na presença do Senhor eu o perdoei por isso, não posso espalhar pra todo mundo que ele não cumpre o que promete.

Nesse último caso, há uma observação: Se alguém está em vias de fazer um acordo com o Sicrano e esse alguém vier me pedir referências sobre ele, mesmo tendo perdoado, não posso me omitir. Ou seja: perdoar não exige que eu minta.

Romanticamente nos obrigamos a confirmar com sentimentos aquilo que afirmamos ter feito. Isso é uma grande dificuldade para quem vive pela fé. Não temos de sentir por quem perdoamos a mesma coisa que sentíamos antes. Se sentirmos, tanto melhor. Mas somos obrigados a manter as três atitudes do perdão.

Fomos perdoados de uma ofensa infinitamente maior do que qualquer coisa que pudermos imaginar. Não podemos prestar culto a Deus, orar como ele quer que oremos, ou participar da mesa de seu Filho se não perdoarmos nosso irmão. O verdadeiro crente é obrigado a perdoar de fato e não a enganar-se com sentimentos forçados.

Tampouco Deus exige que esqueçamos o que sofremos para chegar àquela atitude de perdão. Enquanto a graça de Deus não apagar o ocorrido de nossa memória (o que geralmente ele faz usando o tempo) todas as vezes que nos lembrarmos do mal, nos lembremos também das atitudes de perdão e coloquemos tudo aos pés da cruz. Um dia esqueceremos. Se não esquecermos, no dia eterno ele “enxugará de nossos olhos toda lágrima”.

Presumir


Presumindo que a promessa de Deus demorava, Sara tomou sua escrava e deu a Abraão,

 para que, por meio dela, Abraão tivesse seu descendente. Porém, a promessa de Deus 

tinha sido feita à família verdadeira.



Presumindo que Moisés não voltaria do Monte Sinai, o povo convenceu Arão a fazer um bezerro de ouro ao redor do qual passaram a celebrar a saída do Egito, embora o Senhor tenha deixado claro que fora ele quem os libertou e determinado que esperassem o retorno de Moisés.

Presumindo que, ao aceitar o holocausto oferecido por seu pai, Deus aceitaria também qualquer coisa que fizessem, Nadabe e Abiú se atreveram a chegar diante de Deus com fogo diferente daquele que Deus havia acendido no altar. Mas, Deus tinha deixado claras suas tarefas.

Presumindo que Samuel não chegaria antes que o povo fosse embora – pois já o esperavam há dias – Saul tomou a iniciativa de oferecer holocausto, embora Deus tivesse deixado claro que isso era função exclusiva de seus sacerdotes.

Presumindo-se dono de seu destino, o homem rico, depois de uma boa safra, decidiu fazer novos celeiros e tranquilizou sua alma dizendo-lhe: “tens muito em depósito: come, bebe, regala-te”, sem saber que naquela noite ela seria pedida.

Presumindo que o pai demoraria a morrer, e sua parte na herança não seria bem aproveitada, o irmão caçula pediu-lhe o adiantamento da partilha, sem imaginar que ao gastá-la viria a desejar comer a comida dos porcos e não o permitiriam.

Presumindo que seu Senhor demoraria o “servo infiel” passou a espancar seus companheiros e a comer e a beber com ébrios, embora o Senhor lhe tivesse ordenado que vigiasse.
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De quantos exemplos ainda precisaremos? Será que não fazemos coisas semelhantes?

Qual Sara, nunca presumimos que as promessas do Senhor carecem de nossa ajuda? Você já reparou como já chegamos a inventar novos textos bíblicos para justificar esse tipo de atitude? Às vezes ouço: “faça a tua parte e eu te ajudarei” ou “a bênção dá a quem pede” (sic).

Porventura, nunca adoramos bezerros de ouro ou acendemos fogo estranho diante do Senhor para agradar um povo impaciente de novidades?
Ou nunca decidimos que é melhor contribuir em outro lugar, pois “aqui, meu dinheiro está sendo mal empregado”? Quantas vezes encontramos mais paz no saldo do extrato bancário do que nas Santas Escrituras?

Quantas vezes planejamos nossa vida como se o Senhor nunca fosse nos pedir contas de como administramos aquilo que ele nos confiou?
Dentre as muitas origens dos pecados de cada dia, aqui está uma delas: Presumir.

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Tomamos em nossas mãos as rédeas de nossas vidas, da Igreja e até do culto ao Senhor, curiosamente, este pecado, cada dia, é menos notado e odiado – algumas vezes chega a ser considerado virtude – por uma sociedade ávida de resultados.

Hoje, Sara seria elogiada como esposa abnegada. Já escutei sermões elogiando o amor de Sara por Abraão. Hoje, Saul seria visto como herói.

 E se você examinar o caso sob a ótica moderna concluirá que ele é um bom modelo de líder: não perdeu a oportunidade ao ver o povo reunido. Hoje, Arão seria visto como atento às necessidades do povo e preocupado com um culto relevante às massas sedentas.

Entre nós não deve ser assim! Ao contrário “portai-vos com temor durante o tempo da vossa peregrinação, sabendo que não foi mediante coisas corruptíveis, como prata ou ouro, que fostes resgatados do vosso fútil procedimento que vossos pais vos legaram, mas pelo precioso sangue, como de cordeiro sem defeito e sem mácula, o sangue de Cristo” (1Pe 1.17-19).

O cristão com a boca no trombone?



Essa semana foi ímpar na história de nosso país. O aumento do transporte público foi o estopim para liberar um grito de indignação contra a corrupção e a injustiça social, dentre outras coisas.

O assunto dividiu os cristãos. Muitos se engajaram. Outros, porém, apesar de partilharem do mesmo descontentamento, recearam se levantar em protesto contra os governos estabelecidos.

 Para esses,  confrontar a autoridade instituída parece incongruente com a Bíblia pois ela ensina a 1) reconhecer que toda a autoridade é instituída por Deus e por isso devemos ser submissos a ela (Rm 13.1); 

2) Orar pelos governantes (1Tm 2.1-2) e honrá-los (1Pe 2.17); 3) Buscar a paz da cidade (Jr 29.7).
Esse questionamento, portanto, é legítimo pois, em uma primeira análise, parece realmente que a Palavra de Deus desautoriza o cristão a protestar contra o governo e os irmãos que assim pensam devem ser respeitados por calcarem suas opiniões naquilo que pensam ser a vontade de Deus.
Gostaria de tentar trazer luz a esse debate, expondo os seguintes pontos:

1. A autoridade é instituída por Deus para fazer o bem (Rm 13.4). Não temos qualquer autorização para confrontarmos o governante que procura o bem de seu povo. Já o contrário, é outra história.

2. A autoridade do governante não é inata mas delegada: a) Por Deus acima de tudo: "Por meu intermédio os reis governam, e as autoridades exercem a justiça" (Pv 8.15). Na mesma linha de raciocínio, Jesus confirmou a Herodes: "Não terias nenhuma autoridade sobre mim, se esta não te fosse dada de cima".

 (Jo 19.11) b) Pelo povo. Nas democracias modernas o governante recebe o direito de governar das mãos do povo através do voto. No momento da posse ele, solenemente, promete não medir esforços pelo bem do cidadão. c) Pela Carta Magna do País, a Constituição Federal que assevera direitos inalienáveis ao cidadão, como a liberdade de expressão, por exemplo.

3. Cabe ao cristão ser voz profética diante do mundo. Já diziam que o cristão deve ser a âncora moral da sociedade. Nos tempos do Antigo Testamento, Deus levantou homens para denunciar publicamente o mal. Examinemos alguns exemplos:

a) Isaías - Clamou contra a injustiça, o suborno, a maldade e a opressão destruidora contra o próximo. Ninguém tem direito de oprimir o outro. Isaías dizia que atos como aqueles eram ofensivos a Deus. Quem tinha condições comprava a justiça, portanto, os juízes eram corruptos, o poder legislativo e executivo se deixava vender; como poderia Deus tolerar semelhante coisa? (1:15-17,23; 5:8,23; 58:6,7).

b) Jeremias -  Denunciou o enriquecimento ilícito e também a opressão contra: pobres, viúvas, órfãos; também percebeu que a ambição se assenhoreava dos homens. O profeta viu o rico comprando os tribunais, o perverso ser absolvido e o justo condenado. Ele clama, denuncia e diz que Deus, o justo juiz, irá castigar todo tipo de injustiça praticada pelo homem (5:26-29; 9:2-6; 22:13-17).

c) Amós - Não se amedrontou diante das autoridades, acusou-as de conivência com as injustiças; denunciou o pecado de participarem de um sistema de vida que destruía os mais fracos, os humildes e os pobres da terra. Enquanto o império se expandia pelas mãos de Jeroboão II, os camponeses tinham de pagar o exército, o luxo e a suntuosidade dos estádios..., ops, dos palácios.

 Uma desigualdade tão grande que causou repugnância aos olhos do profeta. Amós denunciou, trouxe a Palavra do Senhor pois não podia calar-se ao ver tanta riqueza adquirida como fruto da violência e da exploração (3:10). Falou diante das finas damas, não poupou seu vocabulário, ao dizer que elas eram “vacas de basã” (4:1). Devido a todos os abusos cometidos contra os mais fracos, Amós se convenceu: Deus irá tomar vingança, Ele não poupará nenhum no dia do juízo (4:2,3; 8:7-10).

d) Miquéias - Se levantou como a voz de Deus e clamou contra todos os abusos cometidos pelos detentores do poder. Ele sabia dos que passavam a noite planejando o mal, para colocar em prática à luz do dia (2:1,2). Ele denunciou aquilo que foi conquistado ilicitamente, às custas da mentira, da balança falsa e da opressão; quem se enche com o sangue dos outros será destruído por Deus - disse ele (6:10-13). A liderança do país estava corrompida (7:3). Miquéias vê, analisa e revela a voz de Deus. Ele irá exercer vingança contra esta forma de vida corrupta.

4. Nem todo protesto constitui de fato uma desobediência. Nossa Constituição garante o direito da livre expressão de consciência, de credo e de culto. Não existe forma legal de criminalizar a opinião de quem quer que seja. Isso posto, criticar o governo naquilo que entendemos ser criticável, se feito de maneira respeitosa e ordeira é um instrumento legítimo assegurado por lei.

5. A crítica não anula a intercessão. A crítica e o protesto não são incongruentes com o dever cristão de orar pelas autoridades. Ao contrário, como Deus é soberano sobre elas, nossa missão deve ser clamar a Deus para que elas se curvem à sua vontade.
Confesso que a questão é complexa e a linha do equilíbrio é tênue, pois, por um lado, realmente podemos pecar pelo desacato à autoridade instituída por Deus; e, por outro, podemos nos omitir como voz profética nos dias maus.

Para nós, cristãos, o que pode nos dar um norte nesse dilema é olharmos a questão com olhos mais teológicos. Os 20 centavos, por mais simbólicos que sejam, ainda assim significam muito pouco diante da contribuição que poderíamos dar. Para o mundo, basta ter segurança, escola, comida e moradia. Tudo isso a maioria dos países europeus tem e ainda assim são como Laudicéia, “digno de compaixão, pobre, cego e que está nu.” (Ap 3.16).

Devemos ir além do social. Precisamos mostrar que a corrupção social é derivada de um coração corrompido que faz tudo para desprezar o verdadeiro Deus. Volte aos profetas mencionados e você verá que eles não sabiam criticar sem revelar o descontentamento de Deus com a nação. Esse papel é nosso. É o nosso salvador que deixou o exemplo de curar, saciar e salvar. Somente falando dele é que realmente iremos ao encontro de todas as necessidades do ser humano. Pense nisso!

O Cristão e seu papel profético-social

Miquéias 6.1-16



O assunto justiça social é tão atual quanto polêmico. 
É atual porque parece que a cada dia nosso país se distancia mais e mais de uma política social justa que visa atenuar os problemas dos mais desafortunados.

É polêmico porque muitos insistem em achar que a igreja não deve se preocupar com isso, seu papel é somente adoração. É claro que a função primordial da igreja é cultuar a Deus, mas como veremos, adorar a Deus implica em fazermos o que ele manda. A primeira delas é sermos exemplos de justiça.

Recentemente foi divulgado nos jornais um estudo sobre a distribuição de renda no Brasil. A metade mais pobre da população detém 11,6% dar riquezas enquanto os 20% mais ricos do Brasil, ficam com 63,4%. Não pense que este é o fim do mundo. Os profetas do Antigo Testamento lidavam com situações muito piores do quer esta. 

Vejamos como eles tratavam o problema e como isto pode nos servir de lição no nosso contexto, de nosso país.


I. A Voz dos profetas - Denúncias

O período dos profetas no Antigo Testamento pode ilustrar muito bem a indignação de Deus em relação a injustiça social.

Dentro do ideal divino, havia lugar para todos e o respeito a certas regras de organização e conduta, que manteria o povo, de certa forma tranqüilo.

O grande problema é que o profeta começou a perceber uma grande desigualdade. O problema não era a desigualdade em si mesma. O que levou os profetas a tocar na questão foi a imensa diferença de uma classe social e a outra. Se Deus estabeleceu leis aos pobres, viúvas, órfãos, escravos, estrangeiros, é porque Deus já sabia que haveria certas diferenças, mas há diferenças que são toleráveis e suportáveis, há certas diferenças que são naturais e até necessárias, o que não pode haver, e, era exatamente a denúncia profética, é a opressão, o roubo, a indiferença, o desejo de adquirir tirando o que pertence ao outro, subornando juízes, sacerdotes, falsos profetas, etc.. 

Agora veremos qual foi a palavra que o profeta trouxe da parte de Deus, neste tempo de opressão social:

A. Isaías

Clamou contra a injustiça, o suborno, a maldade e a opressão destruidora, contra o próximo. Ninguém tem direito de oprimir o outro. Isaías dizia que atos como aqueles eram ofensivos a Deus. Quem tinha condições comprava a justiça, portanto, os juízes eram corruptos, o poder legislativo e executivo se deixava vender; como poderia Deus tolerar semelhante coisa? (1:15-17,23; 5:8,23; 58:6,7).

B. Jeremias

Denunciou o enriquecimento ilícito e também a opressão contra: pobres, viúvas, órfãos; também percebeu que a ambição se assenhoreava dos homens, o profeta viu o rico comprando os tribunais, viu o perverso ser justificado e o justo condenado. O profeta clama, denuncia e diz que Deus o justo juiz irá castigar todo tipo de injustiça praticada pelo homem (5:26-29; 9:2-6; 22:13-17).

C. Amós

Não se amedrontou diante das autoridades, acusou-as de conivência com as injustiças, denunciou o pecado de participarem de um sistema de vida que destruía os mais fracos, os humildes e os pobres da terra. Enquanto o império se expandia pelas mãos de Jeroboão II, os camponeses tinham de pagar o exército, o luxo e a suntuosidade da vida palaciana. Uma desigualdade tão grande que causou repugnância aos olhos do profeta. Amós denunciou, trouxe a Palavra do Senhor, não podia calar-se, ao ver tanta riqueza conseguida como fruto da violência e da exploração (3:10). Falou diante das finas damas, não poupou se vocabulário, disse que elas eram “vacas de basã” (4:1). Devido a todos os abusos cometidos contra os mais fracos, Amós se convenceu, Deus irá tomar vingança, Deus não poupará nenhum no dia do juízo (4:2,3; 8:7-10).

D. Miquéias

Se levantou como a voz de Deus e clamou contra todos os abusos cometidos pelos detentores do poder. Ele sabia dos que passavam a noite planejando o mal, para colocar em prática à luz do dia (2:1,2). Ele denunciou aquilo que foi conquistado ilicitamente, às custas da mentira, da balança falsa e da opressão, quem se enche com o sangue dos outros será destruído por Deus (6:10-13). A liderança do país estava corrompida (7:3). Miquéias vê, analisa e revela a voz de Deus. Deus irá exercer vingança contra esta forma de vida corrupta. 

Apesar de serem citados apenas quatro profetas nesta sessão, o período de profecia sob a palavra deles é bastante longo. Desde 740 a.C. (Isaías) até 585 A.C. (Jeremias). Ou seja, 125 anos. Durante todo este tempo a mesma mensagem Deus enviava a seu povo por meio de diferentes profetas e o povo não se arrependeu.

II. A Voz do Povo – Reclamações

Parecia injusto aos olhos do povo uma palavra tão dura de Deus justamente em uma época de tanta religiosidade. “Que mais Deus quer de nós? Será que ele quer mais sacrifícios? O que pode saciar um Deus tão grande? Será que ele quer o meu filho mais velho como holocausto?” (Mq 1.6-7)

Puro cinismo. Achavam Deus exigente demais. Criam que sua religiosidade era mais que suficiente para agradar qualquer deus. Que direito tinha ele de querer mais? “O que é que pode saciá-lo?

Isaías foi contemporâneo de Miquéias. A mensagem de seus livros tem muita coisa em comum. Não é de se admirar então, que tenha enfrentado a mesma dificuldade com o povo. Veja Isaías 1.10-17. A coisa ia mal. Sofriam ataques dos inimigos, as colheitas eram sempre saqueadas. A reação do povo foi multiplicar sacrifícios a Deus, perseveram em orações, fazer mais festas religiosas. Faziam isso como se pudessem comprar o favor de Deus. Esforço vão. Para tudo isso Deus disse: “…a minha alma as aborrece, estou cansado de as sofrer.” (Is 1.14)

Dois profetas constataram a mesma tendência do povo de querer barganhar bênçãos com Deus e reclamar “só porque” esse Deus não se deixava comprar.

Uma questão muito importante precisa ser respondida através de nossas vidas: O que é ser crente? Será que freqüentar a igreja 2 ou 3 vezes por semana nos faz um? 

Os argumentos do povo podem ser modernizados: “vou a igreja sempre, dou meu dízimo e até ofertas... o que mais Deus quer de mim?” Da mesma forma que Judá e Israel, se usarmos estes tipos de argumentos vamos estar barganhando com Deus

III. A Voz de Deus – Exortação à prática

Eles entenderam tudo errado! Deus não queria mais sacrifícios ou festas. Chega de falsa religiosidade (1 Sm 15.22; Sl 51.16-17; Ec 5.1; Os 6.6; Rm 14.17). Não adianta nada fazerem sacrifícios sem fim e ao mesmo tempo praticarem o suborno; festas junto com opressão ao pobres.

A essência do recado de Deus foi que o problema social era a prova da falsa religiosidade deles. Ou em outras palavras, melhor que tudo aquilo era ser honesto e justo, saber amar e perdoar, e ser humilde diante de Deus. (Mq 6.8) “Aprendam a fazer o bem, a ser honestos e a ajudar os pobres, os órfãos e as viúvas” (Is 1.17)

O crente quando comete injustiças sociais vai contra tudo aquilo que crê. Por vezes é difícil resistir à tentação. Afinal, muitas pessoas inescrupulosas, enriquecem rapidamente, enquanto outros que temem a Deus ,vivem somente com o necessário. Será que vale a pena ser justo? Leia Malaquias 3.13-18 e responda você mesmo a esta pergunta.


Conclusão

Como a igreja pode lidar com a injustiça social?

Em primeiro lugar, não a praticando. Como vimos, se alguém diz adorar a Deus e mesmo assim comete um monte de injustiça, essa pessoa é hipócrita, diz uma coisa e faz outra. Se quisermos mudar o padrão do mundo, temos que apresentar um padrão diferente. Nada pode ser mais eficaz e causar tanto impacto quanto um exemplo diferente!

Em segundo lugar, a igreja e os crentes podem e deve tentar amenizar o problema que no Brasil é quase generalizado. Como isso pode ser feito?

Veja alguns exemplos de atuação da igreja na área de justiça social:

a. pressão política – cobrar do governo atitudes

b. desenvolver projetos de auxílio a comunidade local mais carente. (sopão, distribuição de roupas, cestas básicas...)

Nossa igreja tem várias frentes de trabalho visando o bem social. Seja através da Junta Diaconal, departamentos internos ou de projetos especiais, você pode se engajar nessa lida também. 

Torne seu evangelho prático! 

Conselhos a Um Jovem Pastor Sobre o Grupo de Louvor de Sua Igreja



Meu caro Tadeu,
Fiquei muito feliz com a notícia de que você está pastoreando a igreja de seus pais desde o ano passado. Agradeço a sua carta comunicando o fato e também a confiança depositada em mim, ao expor os conflitos com o ‘grupo de louvor’ de sua nova igreja. Percebo que desde sua posse esse tem sido um dos assuntos que mais o tem afligido. Você foi eleito para cinco anos e ainda há um longo caminho a ser percorrido.

 Como pastor da igreja, você tem prerrogativas quanto à condução do culto e autoridade para orientar o que vai ser cantado no culto e a maneira como isso vai ser feito. Em alguns casos, o desgaste já é tão grande que não existe mais diálogo possível entre o pastor e o grupo de louvor. Espero que não seja esse o seu caso, e nessa esperança, dou-lhe alguns conselhos.

1) Aconselho que você reconheça que nós, reformados, já perdemos a batalha por um culto simples, espiritual, teocêntrico e equilibrado. O movimento gospel veio para ficar. Nós perdemos, Tadeu, porque erramos na estratégia. Há cerca de dez anos, quando a Igreja Batista da Lagoinha começou a comandar o louvor nas igrejas evangélicas no Brasil, preferimos resistir frontalmente e insistir com nossas igrejas a que ficassem com os hinos de nosso hinário.

 Foi um erro. Poderíamos, além disso, ter apresentado uma alternativa às músicas deles. Há exceções, mas muitas delas são sofríveis, musicalmente falando, e têm uma teologia fraquíssima. São cânticos permeados de conceitos arminianos, neopentecostais, da teologia da prosperidade e da batalha espiritual, característicos daquilo que é produzido pelos músicos e cantores gospel da atualidade. Infelizmente, não conseguimos oferecer nada melhor desde o início, a não ser apelos para ficarmos com os hinos tradicionais.
2) Comece solicitando ao grupo de louvor uma relação de todos os cânticos do seu repertório e se comprometa a estar em todos os ensaios deles para estudo bíblico a respeito do louvor e da adoração, para analisar a propriedade, a teologia e até mesmo o português desses cânticos. Nesses encontros, aja humildemente e não autoritariamente. Lembre-se que eles estão acostumados a tocar tudo o que querem sem serem críticos do que estão cantando.

 Procure conduzir as discussões para a Bíblia, como o referencial último de tudo o que vai ser feito no culto. Leve-os a perceberem por si próprios que determinadas letras são inadequadas e a desistirem delas. Nesse sentido, seu maior aliado é o púlpito. Pregue sobre a centralidade de Deus no culto, sobre a necessidade da boa doutrina, sobre o perigo dos falsos ensinamentos, sobre o poder da música para o bem e para o mal e o imperativo de mantermos o culto dentro dos parâmetros bíblicos.

3) Coloque como regra inflexível – se possível aprovada como decisão do Conselho da Igreja – que todos os participantes do grupo de louvor também devem estar totalmente integrados na vida da igreja, participando da escola dominical, das sociedades domésticas, sendo assíduos aos cultos. Mais importante do que tudo, deve ser colocada como condiçãosine qua non, que suas vidas sejam irrepreensíveis, sendo exemplo para os demais jovens da igreja. Insista que eles devem participar do culto todo e que é inaceitável que após a parte deles, que saiam e fiquem do lado de fora da igreja. Não abra mão disso.

4) Com muito cuidado, procure diminuir o volume com que eles tocam. Domingo à noite fui pregar em uma igreja e sentei-me no primeiro banco, aguardando o momento da pregação. O volume do grupo de louvor estava tão alto que não agüentei – levante-me e sai discretamente. Quando consegui sair do local e chegar do lado de fora, meus ouvidos estavam zumbindo. De alguma maneira, os grupos de louvor têm a idéia de que os cânticos têm que ser tocados e cantados com os instrumentos e o vocal no volume máximo.

 Uma coisa que você pode fazer para convencê-los de que sempre estão tocando muito mais alto do que é necessário é conseguir trazer um especialista com um medidor de decibéis durante os ensaios para medir o nível de ruído. Isso vai mostrar para eles como muitas pessoas se sentem incomodados – inclusive vizinhos silenciosos que não vão reclamar na polícia, mas que no íntimo já tomaram a decisão que jamais se tornarão crentes. Em especial, trabalhe com o baterista, procurando convencê-lo que o alvo da bateria não é fazer barulho, mas marcar o compasso da música de maneira discreta, misturando-se com a melodia, a ponto de se tornar quase imperceptível. Esse provavelmente será o seu trabalho mais difícil. Se quiser o testemunho de um presbítero que quase ficou surdo com o volume do grupo de louvor, veja seu testemunho .

5) Uma outra tarefa difícil será convencer o guitarrista principal de que o culto não é show e nem os louvores uma oportunidade dele mostrar solos incríveis de guitarra. Exibições individuais da performance dos instrumentistas apenas chamam a atenção para eles – não para Deus. 

Como alternativa, sugira uma noite de som gospel, num sábado à noite, onde outras bandas poderão ser convidadas para um festival de gospel. E tenha cuidado para não dar a esse encontro qualquer conotação de culto. Lá eles podem mostrar toda a sua capacidade com a guitarra. Mas, no culto, usem os instrumentos de forma discreta, para acompanhar os cânticos.

6) Tente mostrar para eles que mandar o povo ficar em pé toda vez que assumem o microfone nem sempre fica bem. Às vezes o pastor acabou de mandar o povo sentar. Deixem o povo sentado. Não vai prejudicar em nada o louvor se o povo ficar sentado. Além disso, tem velhos, idosos e pessoas doentes que não conseguem ficar vinte minutos em pé. Eles devem pensar também no pregador da noite, que além de ficar em pé durante o tempo do louvor, vai ficar em pé mais uma hora pregando. Não tem quem agüente.

7) Procure convencê-los a ocupar menos tempo da liturgia. Se conseguir, será uma grande vitória. Uma sugestão que você pode dar nesse sentido é que não repitam o mesmo cântico duas ou três vezes, como costumam fazer. Também, que cortem as ‘introduções’, geralmente compostas da repetição de frases clichês e batidas que não dizem nada.

 Se você conseguir convencer o líder do grupo que a tarefa dele é cantar e não exortar e dar testemunho, irá diminuir bastante o tempo empregado no louvor, além de poupar os ouvidos dos crentes de ouvir besteiras, frases clichês, chavões batidos, que só tomam tempo mesmo.

8) Outra coisa que me ocorre: insista em que estejam preparados antes do culto. Fica muito feio e distrai o povo quando os componentes do grupo de louvor ficam afinando instrumentos, equalizando o equipamento de som, plugando e desplugando microfones e fios quando o culto já começou. Ensine-os a serem profissionais naquilo que fazem, e que Deus é Deus de ordem.

9) Procure mostrar que eles não são levitas. Não temos mais levitas hoje. Todo o povo de Deus, cada crente em particular, é um levita, um sacerdote, como o Novo Testamento ensina. É uma idéia abominável que os membros do grupo de louvor são levitas. Isso reintroduz o conceito que foi abolido na Reforma protestante de que o louvor e o acesso a Deus são prerrogativas de apenas um grupo e não de todo o povo de Deus.

 Resista firmemente a essas idéias erradas, que são oriundas das igrejas neopentecostais, especialmente daquelas que se fizeram em cima do movimento de louvor. Tais conceitos apenas servem para que eles se sintam mais especiais do que realmente são e, portanto, intocáveis. Procure incutir na mente deles que aquilo que eles fazem no culto não é mais louvor e mais espiritual do que o cântico de hinos acompanhados ao órgão ou ao piano.

10) Por fim, ore bastante para que os membros do grupo de louvor não sejam filhos de presbíteros e de famílias influentes da igreja, porque se forem, profetizo que sua missão fracassará. Por mais crentes e sérios que os presbíteros sejam, eles não irão contra a sua própria família, e muito menos contra os seus filhos. Você não terá o apoio deles para reduzir, minimizar, limitar e mesmo qualificar a participação do grupo de louvor no culto. Nesse caso, restarão poucas opções.

 Uma delas é capitular inteiramente e simplesmente deixar o grupo de louvor fazer o que sempre fez, suportando heroicamente, enquanto ora baixinho no culto, ‘Deus, dá-me paciência para que eu possa suportar esse calvário durante o tempo em que fui eleito aqui’. Outra opção é simplesmente pedir as contas e ir embora para outra igreja, tendo aprendido a importante lição de que a primeira pergunta que se faz ao ser convidado para ser pastor de uma igreja é essa: ‘tem grupo de louvor? Os componentes são filhos dos presbíteros?’

Um velho pastor do Recife costumava se referir ao conjunto da sua Igreja como ‘cão junto’. Espero que não chegue a esse ponto em sua igreja, Tadeu, mas que você encontre misericórdia da parte de Deus para que esse desafio seja vencido e que sua igreja desfrute do verdadeiro louvor durante os cultos.
Um abraço!
Augustus”
*NOTA: A carta é fictícia. Toda semelhança com qualquer situação pela qual algum pastor reformado esteja passando será mera coincidência...

Amar


Amar não é impor
não é colorir a vida do outro com a dor
Amar não é só sorrir
é permitir ao outro também partir
Amar não é cobrar
porque quem cobra não sabe amar
Amar é saber
que mesmo sem ver
poderei ser e ter
Amar é compartilhar
doar,
respeitar,
e muitas vezes também chorar
Amar é ir e vir
é andar e correr
a liberdade que se pode ter
Amar não conhece preconceito
até porque quem ama faz direito
Amar é bom
para quem sabe e pra quem deseja
mas ainda que não se alcance o que almeja
amar sempre traz razão a nossa peleja
Amar é profunda paz
porque a paz
é o que quem ama faz...

A tampa da chaleira vai voar