2015/04/15

ESTÁ CERTO DIZER: “O DIABO ESTÁ DEBAIXO DOS NOSSOS PÉS”?

Foto de um usuário.

É muito comum ouvir essa expressão: “o diabo já está debaixo dos nossos pés”. Geralmente, quando se canta algum tema sobre batalha espiritual, ouve-se exatamente isso.
Essa expressão implica numa vitória final e absoluta sobre o inimigo. Era uma prática dos reis vencedores colocarem os seus inimigos como tapete e pisá-los para humilhá-los.
Eu gostaria de analisar essa expressão à luz das Escrituras, tentando levar-nos a pensar de uma forma crítica e levando em conta a Hermenêutica e a Exegese. Isso é importante porque se interpretarmos as Escrituras erroneamente poderemos ter conseqüências sérias porque Deus tem compromisso é com a sua Palavra e não com as suas distorções.
Portanto, o meu objetivo nesse texto é analisar essa expressão e as conseqüências de sua distorção. Pretendo analisar a posição de Satanás diante de nós na batalha espiritual, depois fazer uma análise exégetica de Ef 1.20-23 e Lc 10.19 onde muitos se baseiam para essa expressão e, no final, o que consiste a nossa vitória sobre Satanás.
1. A posição de Satanás diante de nós
A Bíblia nos alerta que estamos diante de uma luta espiritual e ela não demonstra que esse adversário está debaixo de nossos pés, no momento presente, mas como se estivéssemos numa luta corporal frente a frente. O apóstolo Paulo ensina aos efésios:
porque a nossa luta não é contra o sangue e a carne, e sim contra os principados e potestades, contra os dominadores deste mundo tenebroso, contra as forças espirituais do mal, nas regiões celestes (Ef 6.12).
Paulo usa o substantivo grego palë para luta na expressão “porque a nossa luta não é contra o sangue e a carne”. Segundo Thayer´s Greek Lexicon esta palavra era usada para uma espécie de luta corporal que um dos adversários venceria quando derrubasse o outro. O que chamamos de uma luta livre. Torna-se óbvio que a posição de Satanás não é debaixo de nossos pés, mas numa posição de uma luta que precisamos estar alertas e em vigilância.
Calvino comenta essa palavra em seu comentário de efésios demonstrando exatamente isso numa nota de rodapé:
Plutarco nos fala, (Symp. 1. 2., Page 638,) que a luta livre era a mais hábil e sutil de todos os jogos antigos e que o nome dela palë era derivado de uma palavra que significa derrubar um homem no chão por um golpe armado e habilidade.
Está claro que pessoas que praticam esse esporte precisam usar de muitas investidas, voltas e mudanças de postura, os quais eles fazem uso para vencer e derrubar seus adversários.
E é com grande justiça que um estado de opressão é comparado com isso; desde que são muitas as artes, levantamento de terrores do mal mundano, o amor natural que os homens têm para vida,
liberdade, fartura e os prazeres da vida por um lado; por outro lado, que o diabo faz uso de enganos e armadilhas.[1]
Para Calvino, o texto demonstra que o diabo está em plena atividade tentando nos derrubar em suas armadilhas e investidas numa luta livre, pois é isso que o texto quer dizer.
Isso demonstra que o diabo não está debaixo de nossos pés. Essa expressão demonstra um término de uma batalha em vitória. Ao contrário disso, o diabo está numa posição de luta livre conosco palë. Cara a cara. Não estamos numa posição de conforto contra o diabo.
Se fosse assim, Paulo não aconselharia a usarmos a armadura de Deus (Ef 6.13) e que deveríamos embraçar o escudo da fé contra as setas inflamadas do Maligno (Ef 6.16).
O apóstolo Pedro demonstra que o diabo não está debaixo dos nossos pés, mas numa posição contínua de ataque ao nosso redor como um leão:
8 Sede sóbrios e vigilantes. O diabo, vosso adversário, anda em derredor, como leão que ruge procurando alguém para devorar; 9 resisti-lhe firmes na fé, certos de que sofrimentos iguais aos vossos estão-se cumprindo na vossa irmandade espalhada pelo mundo. (1Pe 5.8,9)
Pedro, primeiramente adverte que devemos ser sóbrios e vigilantes Nëpsate gregorësate.
Ele fala o motivo por que deveríamos estar assim: o diabo, que é o nosso adversário, anda em volta como um leão. O verbo grego peripateö é usado para um andar em volta
. A idéia é de um animal que fica em círculos procurando uma oportunidade para o ataque. Isso quer dizer que o apóstolo Pedro afirma que estamos sendo observados por um inimigo feroz e astuto procurando uma oportunidade para o ataque.
Por isso, não estamos numa posição confortável, mas precisamos resisti-lhe firmes na fé. O verbo grego anthistëmi, traduzido para “resistir, opor-se” quer dizer novamente uma resistência em uma disputa perigosa, pois é contra alguém que ele identificou como um leão. A mesma palavra que Tiago usou para “resistir ao diabo”:
Sujeitai-vos, portanto, a Deus; mas resisti ao diabo, e ele fugirá de vós. (Tg 4.7)
Howard, em seu comentário exegético desse texto faz uma relação com alguns textos da LXX e afirma:
A comparação de inimigo de almas a um leão é sugerido por várias passagens nos Salmos (Sl 7.2; 10.9; 22.13). A última destas é provavelmente a referência na mente do escritor, hös leön ho harpazön kai öryomenos. In peripateö nós temos uma reminiscência da descrição de Satan em Jó 1.7; 2.2.[2]
O professor Howard demonstra que a descrição de Pedro sobre Satanás é uma relação direta aos Salmos que descrevem esses inimigos em plena atividade, assim como o diabo que está contra nós. Portanto, podemos notar pelo texto de Pedro que o diabo está em plena luta conosco como os inimigos estavam contra Davi.
Outro texto que precisamos levar em conta é que Paulo ensina que o diabo será pisado por nós no futuro. Ele escreve aos romanos:
E o Deus da paz, em breve, esmagará debaixo dos vossos pés a Satanás. A graça de nosso Senhor Jesus seja convosco. (Rm 16.20)
Paulo demonstra que isso acontecerá no futuro. Tanto o adjunto adverbial en tachei (em breve) como o verbo Suntripsei (esmagará) no futuro demonstram que Satanás não está, no momento, debaixo de nossos pés, mas isso acontecerá no futuro. A ênfase está no verbo e não na preposição hypo. A preposição lidera o sentido adverbial que é regido pelo verbo. Portanto, Paulo afirma que isso acontecerá na vinda de Cristo e não agora.
2. Análise de Efésios 1.20-23
20 o qual exerceu ele em Cristo, ressuscitando-o dentre os mortos e fazendo-o sentar à sua direita nos lugares celestiais, 21 acima de todo principado, e potestade, e poder, e domínio, e de todo nome que se possa referir não só no presente século, mas também no vindouro. 22 E pôs todas as coisas debaixo dos pés e, para ser o cabeça sobre todas as coisas, o deu à igreja, 23 a qual é o seu corpo, a plenitude daquele que a tudo enche em todas as coisas. (Ef 1.20-23)
Mas o que dizer desse texto de Paulo aos efésios? Esse texto é usado para demonstrar, por essas pessoas, que Satanás está debaixo de nossos pés nesta era.
Afirmam por inferência dessa interpretação: se todas as coisas estão debaixo dos pés de Cristo como os demônios, potestades e anjos, pois a expressão demonstra que são tanto seres angelicais como todo ser existente; então, estão debaixo de nossos pés também, já que somos o corpo de Cristo e ele foi dado à Igreja como foi escrito no v.22,23.
A lógica é a seguinte: se Cristo é a cabeça de todas as coisas e todas as coisas foram colocadas por Deus debaixo dos pés de Cristo e se somos o seu corpo, então, os demônios estão debaixo de nossos pés.
Pesa ainda nessa interpretação que estamos sentados com Cristo nas regiões celestiais conforme Paulo escreveu:
6 e, juntamente com ele, nos ressuscitou, e nos fez assentar nos lugares celestiais em Cristo Jesus; (Ef 2.6)
Se nós estamos sentados com Cristo nas regiões celestiais, fica óbvio que os demônios estão debaixo de nossos pés, concluem alguns.
Essa interpretação tem um problema hermenêutico que, se não tivermos cuidado, poderemos entrar numa distorção séria. Por exemplo, precisamos analisar que o texto afirma que todas as coisas estão debaixo dos pés de Cristo, pois ele assumiu toda a autoridade (Mt 28.18).
O texto não afirma, em hipótese alguma, que Jesus está pisando Satanás definitivamente, embora que o venceu na cruz. Porém, o texto não afirma isso.
O texto afirma que Cristo tem o domínio absoluto e autoridade sobre todas as potestades. Mesmo assim, essa vitória completa de Cristo sobre Satanás ainda não se manifestou, embora que ele o tenha vencido uma vez por todas na cruz (Cl 2.14,15). Por isso o apóstolo aos Hebreus escreveu:
7 Fizeste-o, por um pouco, menor que os anjos, de glória e de honra o coroaste e o constituíste sobre as obras das tuas mãos. 8 Todas as coisas sujeitaste debaixo dos seus pés. Ora, desde que lhe sujeitou todas as coisas, nada deixou fora do seu domínio. Agora, porém, ainda não vemos todas as coisas a ele sujeitas; (Hb 2.7,8)
Esse texto explica o texto de Efésios 1.22,23. Ainda não vemos todas as coisas a ele sujeitas porque será no futuro, na sua vinda.
O apóstolo Paulo ensinou exatamente que será no futuro:
E o Deus da paz, em breve, esmagará debaixo dos vossos pés a Satanás. A graça de nosso Senhor Jesus seja convosco. (Rm 16.20)
24 E, então, virá o fim, quando ele entregar o reino ao Deus e Pai, quando houver destruído todo principado, bem como toda potestade e poder. 25 Porque convém que ele reine até que haja posto todos os inimigos debaixo dos pés.
(1Co 15.24,25)
Paulo ensina aos coríntios que isso acontecerá quando todo principado e toda potestade forem destruídos. No episódio da sua vinda, pois então se cumprirá o Salmos 110.1.
O apóstolo aos Hebreus ensinou a mesma coisa:
2 Jesus, porém, tendo oferecido, para sempre, um único sacrifício pelos pecados, assentou-se à destra de Deus, 13 aguardando, daí em diante, até que os seus inimigos sejam postos por estrado dos seus pés. (Hb 10.12,13)
Outro perigo hermenêutico que precisamos ter muito cuidado é com essa inferência de corpo de Cristo.
Quando Paulo afirma que Deus colocou todas as coisas debaixo dos pés de Cristo, não implica que todas essas coisas estejam da mesma forma diante da igreja, pois isso implica em total soberania e domínio.
Claro que isso é um atributo somente divino. Jamais a igreja terá o domínio absoluto igual ao de Deus.
Temos o privilégio de estar assentados com ele nas Regiões Celestiais, mas esse assentar-se não nos dá o atributo de soberanos.
Da mesma forma, não podemos fazer uma inferência da afirmação de Cristo: “toda autoridade me foi dada nos céus e na terra” (Mt 28.18) para afirmar que temos essa autoridade porque somos o corpo de Cristo.
Com base nessa inferência, alguém poderia dizer: ora, se Cristo recebeu toda autoridade e a igreja é o corpo de Cristo, então a igreja tem toda a autoridade nos céus e na terra também.
A falácia desse silogismo está em que o corpo de Cristo é relacionado à comunhão da igreja, da identificação dos sofrimentos de Cristo e da honra na vitória de Cristo (confira: 1Co 10.16,17; 1Co 12.26,27; Ef 4.12; Cl 1.24; 2.17; 3.15) e não nos seus atributos que só pertencem a Deus. Nenhuma passagem das Escrituras é colocada para o corpo de Cristo no sentido de usarmos os mesmos atributos de Deus.
Paulo tinha a intenção de dizer que Cristo tem o domínio e Deus deu esse Cristo à igreja.
Claro que Paulo usa um pronome relativo indefinido hëtis para afirmar que de qualquer forma essa igreja é o corpo de Cristo. Na verdade a estrutura gramatical grega não faz uma relação Cristo como cabeça da igreja diretamente, embora que se possa inferir. Paulo usa o substantivo kephalë como um aposto do objeto auton, que é Cristo e afirma
que Deus o deu à igreja. O objeto indireto é a igreja të ekklësia. A ênfase é que Cristo é a cabeça de todas as coisas e Deus deu esse Cristo-cabeça à igreja, que é o seu corpo.
William Hendriksen em seu comentário desse texto escreve:
Nas epístolas gêmeas – Colossenses e Efésios
–, a figura cabeça-corpo surge pela primeira vez nas epístolas de Paulo, para indicar a relação entre Cristo e sua Igreja. É verdade, sem dúvida, que aqui em Ef 1.22, 23 não se diz que Cristo de fato é a cabeça da igreja, senão antes que Ele é a “cabeça, sobre todas as coisas, à igreja... seu corpo”.
Porém, esta maneira de expressar-se simplesmente realça a beleza do simbolismo.
A significação, pois, é esta: já que a igreja é o corpo de Cristo, com a qual Ele está organicamente unido, seu amor por ela é tão grande que faz uso de seu poder infinito para que o universo inteiro, com tudo que nele existe, coopere em benefício dela, seja de bom grado ou não.[3]
Hendriksen demonstra exatamente que a ênfase de Paulo não é trazer uma relação direta Cabeça-corpo da igreja, mas demonstrar que o Cristo como cabeça de tudo foi dado à sua igreja. Essa igreja é o seu corpo onde ele preenche e dá sentido, cuidando e agindo em amor para com ela.
Portanto, não podemos fazer essa inferência para a igreja em Ef 1.20-23, pois o verso 23 demonstra o porquê que Paulo escreve sobre o corpo, pois Cristo o preenche e completa-o. Isso quer dizer que se Cristo é soberano e Senhor de principados e potestades, a sua igreja estará segura, mesmo que no momento ainda esses principados não estejam debaixo de seus pés totalmente. Somente no porvir (Rm 16.20; 1Co 15.24,25; Hb 10.12,13)
Análise de Lucas 10.19
Eis aí vos dei autoridade para pisardes serpentes e escorpiões e sobre todo o poder do inimigo, e nada, absolutamente, vos causará dano.
Precisamos admitir que esse texto pode levar alguém facilmente a aderir que Satanás esteja debaixo de nossos pés. Primeiro, por causa dos tempos verbais gregos “dar” e “pisar” que estão no presente didömi / patein que demonstra um tempo continuo. Esse tempo usado por Jesus nos evangelhos demonstra uma certa autoridade nas palavras.
Depois, as expressões serpentes e escorpiões demonstram que se referem aos demônios, pois na segunda parte do verso Jesus afirma sobre todo o poder do inimigo. Portanto, temos que admitir que Jesus está dando uma promessa à sua igreja através dos seus discípulos, pois os evangelistas tinham uma intenção doutrinária ao escrever os seus evangelhos. Se alguém não aceita esse texto para igreja, fica difícil aceitar os da grande comissão, pois todos foram dirigidos aos apóstolos especificamente também.
O que precisamos notar é que esse pisar em serpentes e escorpiões não são a mesma coisa de afirmar que Satanás está debaixo dos nossos pés, pois isso acontecerá somente depois (Rm 16.20). Esse pisar significa que Jesus nos deu autoridade sobre o poder das trevas e, por isso, podemos resisti-los sem nos causar danos (Tg 4.7; 1Pe 5.9).
Essa expressão de Jesus precisa ser interpretada segundo o Salmo 91.11-13, onde afirma:
11 Porque aos seus anjos dará ordens a teu respeito, para que te guardem em todos os teus caminhos. 12 Eles te sustentarão nas suas mãos, para não tropeçares nalguma pedra. 13 Pisarás o leão e a áspide, calcarás aos pés o leãozinho e a serpente.
Os próprios discípulos foram abatidos diante de um demônio em um jovem, mesmo recebendo a autoridade de expulsá-los:
Tendo Jesus convocado os doze, deu-lhes poder e autoridade sobre todos os demônios, e para efetuarem curas. (Lc 9.1)
39 um espírito se apodera dele, e, de repente, o menino grita, e o espírito o atira por terra, convulsiona-o até espumar; e dificilmente o deixa, depois de o ter quebrantado. 40 Roguei aos teus discípulos que o expelissem, mas eles não puderam. (Lc 9.39,40)
Jesus ainda disse que certas castas somente saem com oração e Jejum (Mt 17.21). Isso demonstra que a batalha não é tão simples como pensamos, mas apesar de termos poder e autoridade para pisar nas investidas do maligno, precisamos entender que ele ainda está em plena batalha contra nós como um adversário num ringue e como um leão (Ef 6.12; 1Pe 5.8)
.
Esse pisar não é a mesma coisa do que Cristo fará. As imagens são diferentes. Uma diz respeito a resistir os adversários e seu poder sob o poder de Deus, a outra, diz respeito a pisar o inimigo em uma batalha definitiva. Uma é temporária e que até podemos ser abatidos, a outra é definitiva e decisiva.
A segunda ainda não aconteceu. Anthony Hoekema, falando dessa passagem em seu livro A Bíblia e o Futuro, escreve: “Resta dizer que essa vitória sobre Satanás, embora decisiva, ainda não é final, uma vez que Satanás continua ativo durante o ministério subseqüente de Jesus (Mc 8.33; Lc 22.3 e 3.1)”[4].
Em que consiste a nossa vitória sobre Satanás
Vem uma pergunta imediata diante do fato que Satanás ainda esteja em plena guerra conosco, frente a frente e rugindo como um leão: afinal de contas, em que consiste a nossa vitória em Cristo?
O apóstolo João afirmou por duas vezes no mesmo contexto que temos vencido o Maligno:
13 Pais, eu vos escrevo, porque conheceis aquele que existe desde o princípio. Jovens, eu vos escrevo, porque tendes vencido o Maligno. 14 Filhinhos, eu vos escrevi, porque
conheceis o Pai. Pais, eu vos escrevi, porque conheceis aquele que existe desde o princípio. Jovens, eu vos escrevi, porque sois fortes, e a palavra de Deus permanece em vós, e tendes vencido o Maligno. (1Jo 2.13,14)
Precisamos responder essa pergunta observando nas Escrituras em que consiste a nossa vitória sobre Satanás, já que o tempo verbal para vencer nikaö usado por João é o perfeito. Portanto, tem o sentido extensivo de resultado.
Isso demonstra uma vitória que aconteceu no passado e estende-se até agora. Na verdade, a nossa vitória sobre Satanás aconteceu na cruz, mas ainda não se manifestou totalmente, pois ainda temos que lutar contra o poder de Satanás. Então em que consiste a nossa vitória sobre Satanás no momento?
4.1.Não somos mais manipulados ou possuídos por ele
O apóstolo Paulo ensinou bem claro que a manipulação extensiva e a possessão são daqueles que ainda não foram redimidos.
nos quais andastes outrora, segundo o curso deste mundo, segundo o príncipe da potestade do ar, do espírito que agora atua nos filhos da desobediência; (Ef 2.2)
Paulo afirma que “outrora, antes” andastes pote periepatësate – aoristo indicativo demonstrando que aconteceu uma vez por todas.
Antes, tínhamos as nossas vidas segundo os demônios. Os espíritos operavam em nós que éramos chamados de “filhos da desobediência”.
Eles nos dominavam, seja de uma forma direta ou indireta, mas em Cristo, fomos livres dessa ação demoníaca. Embora que se tenha que admitir que Satanás possa usar ainda um crente (Mc 8.33; 2Tm 2.25,26), mas isso não é contínuo ou que chegue à possessão, pois Paulo ensina que fomos selados pelo Espírito Santo da Promessa e que ele habita em nós (Ef 1.13; 4.30; 1Co 6.19).
Muitos usam o texto de Ef 4.27 para comprovar a possessão de crentes, mas o substantivo grego topos quer dizer não somente lugar, mas oportunidade (At 25.16 [no original topon te apologias laboi Peri tou enklëmatos “que receba oportunidade de defesa da acusação”]; Rm 12.19; 15.23; Hb 12.17).
Paulo está deixando claro que podemos dar oportunidade para que o diabo nos ataque nas áreas exortadas e sejamos abatidos na batalha, desmoralizados, desanimados ou anulados no avanço do Evangelho, pois no verso 30 Paulo afirma que fomos selados uma vez por todas esphragisthëte (aoristo passivo). Portanto, não é base para a possessão de demônios na vida de um crente.
Precisamos notar que podemos ser abatidos num determinado combate por Satanás, seja por oportunidade ao diabo que damos, seja porque estamos diante de uma situação que exigirá mais oração, jejum e perseverança.
Paulo não negou que podemos ser abatidos. Ele afirma:
perseguidos, porém não desamparados; abatidos, porém não destruídos; (2Co 4.9)
Paulo usou o verbo kataballö usado na LXX para batalha entre inimigos e povos rivais. Paulo admite que podemos ser abatidos, mas não destruídos. Notem que Paulo foi impedido de ir a determinado lugar por Satanás:
Por isso, quisemos ir até vós (pelo menos eu, Paulo, não somente uma vez, mas duas); contudo, Satanás nos barrou o caminho. (1Ts 2.18)
O verbo para barrar é enkoptö era usado para impedir estradas e o caminho de alguém. Paulo afirma que ele foi impedido mais de uma vez de ir a Tessalônica por Satanás.
Não sabemos os detalhes e nem por que ele foi impedido, mas ele teve o discernimento e registrou isso inspirado pelo Espírito Santo. Se Satanás estivesse debaixo dos pés de Paulo, seria difícil pensar que Paulo fora abatido por Satanás e impedido por ele, principalmente que era para pregar o Evangelho.
Outro exemplo é a carta que Jesus mandou à igreja de Esmirna:
Não temas as coisas que tens de sofrer. Eis que o diabo está para lançar em prisão alguns dentre vós, para serdes postos à prova, e tereis tribulação de dez dias. Sê fiel até à morte, e dar-te-ei a coroa da vida. (Ap 2.10)
Quem está escrevendo é o próprio Jesus que venceu e tinha sido louvado pela sua vitória como o Cordeiro que tomou o livro e abriu os seus selos. Porém, aqui Jesus escreve que terão alguns que Satanás prenderá para serem provados e teriam uma tribulação de 10 dias.
A mesma coisa na igreja de Pérgamo:
3 Conheço o lugar em que habitas, onde está o trono de Satanás, e que conservas o meu nome e não negaste a minha fé, ainda nos dias de Antipas, minha testemunha, meu fiel, o qual foi morto entre vós, onde Satanás habita.
(Ap 2.13)
Antipas, apesar de ser uma fiel testemunha, por habitar no que Jesus chamou de trono de Satanás, foi morto e abatido, mas não destruído porque Jesus o recebeu depois.
Portanto, podemos ser abatidos como numa batalha, pois Satanás ainda não está destruído totalmente porque o Senhor não o pisou definitivamente. Isso acontecerá somente na sua vinda em glória e poder (1Co 15.24,25; Hb 10.12,13; 2Ts 2.8; Ap 20.10).
4.2.Suas acusações não têm mais valor por causa da redenção de Cristo
A Bíblia afirma que Satanás é o nosso acusador (Ap 12.10). O seu outro nome é chamado de diabolos, que quer dizer “aquele que lança em rosto ou aquele que acusa”. Éramos, antes, escravos das acusações de Satanás devido os nossos pecados e nossa natureza. Paulo ensina que fomos livres de toda acusação e condenação.
Agora, pois, já nenhuma condenação há para os que estão em Cristo Jesus. 2 Porque a lei do Espírito da vida, em Cristo Jesus, te livrou da lei do pecado e da morte. (Rm 8.1,2)
33 Quem intentará acusação contra os eleitos de Deus? É Deus quem os justifica. 34 Quem os condenará? É Cristo Jesus quem morreu ou, antes, quem ressuscitou, o qual está à direita de Deus e também intercede por nós. (Rm 8.33,34)
4.3.Autoridade de expulsar os demônios
A vitória de Cristo nos deu autoridade de expulsar os demônios e enfrentá-los no poder do Espírito Santo. Jesus tinha dado essa autoridade aos seus discípulos:
19 Eis aí vos dei autoridade para pisardes serpentes e escorpiões e sobre todo o poder do inimigo, e nada, absolutamente, vos causará dano. (Lc 10.19)
Jesus deu autoridade aos seus discípulos que se estende à sua igreja, confirmado na sua subida aos céus:
17 Estes sinais hão de acompanhar aqueles que crêem: em meu nome, expelirão demônios; falarão novas línguas; (Mc 16.17)
Essa autoridade implica na vitória de Cristo na cruz que os despojou e os humilhou, dando-nos autoridade para expulsá-los e resisti-los em oração e jejum (Cl 2.14,15).
O Já e o Ainda-não do Reino
A Igreja precisa entender e viver consciente dessa grande tensão entre o que Hoekema chamou de “a tensão entre o já e ao ainda-não”. Ele escreve em seu livro A Bíblia e o Futuro o seguinte:
Vimos que aquilo que caracteriza especificamente a escatologia do Novo Testamento é uma tensão subliminar entre o “já” e o “ainda-não”.
O crente, assim ensina o Novo Testamento, já está na era da escatológica mencionada pelos profetas do Antigo Testamento, mas ainda não está no estado final. Ele já experimenta a presença do Espírito Santo em si, mas ainda espera por seu corpo ressurreto.
Ele vive nos últimos dias, mas o último dia ainda não chegou.[5]
Hoekema demonstra essa tensão entre o Reino que se manifestou e o Reino que se consumará na vinda de Jesus Cristo. Assim também, com respeito a Satanás. Ele já foi vencido uma vez por todas na cruz, mas ainda não consumou essa vitória totalmente. Ele ainda age com sagacidade, ferocidade e ardis. A Igreja precisa entender que o diabo ainda não foi destruído totalmente que acontecerá quando Jesus vier em sua glória e poder (2Ts 2.8).
A tensão do Já e o Ainda-não precisa ser levada a sério, porque Satanás ainda pode nos abater e deixar-nos no chão, mesmo que já sejamos vitoriosos em relação à salvação. Podemos perceber isso nos ensinos de Paulo aos coríntios:
em nome do Senhor Jesus, reunidos vós e o meu espírito, com o poder de Jesus, nosso Senhor, 5 entregue a Satanás para a destruição da carne, a fim de que o espírito seja salvo no Dia do Senhor Jesus. (1Co 5.4,5)
A igreja ainda não tem Satanás debaixo dos seus pés, embora que ele já foi humilhado e derrotado por Cristo na cruz. A posição de Satanás é de linha de frente guerreando com toda a sua fúria para nos abater e frustrar os desígnios de Deus.
CONCLUSÃO
A vitória de Cristo não nos exclui da batalha diária contra a força das trevas e dos demônios que tentam nos abater lançando suas setas inflamadas.
Satanás não está ainda debaixo de nossos pés, embora que Jesus nos deus autoridade para expulsar os demônios, mas poderemos ser abatidos se dermos oportunidade topos ao diabo ou se estivermos numa situação de conflito maior com demônios como Antipas que foi morto num lugar que Jesus chamou “Trono de Satanás”.
A consequência de não levarmos em conta isso é o descuido da vigilância e da batalha espiritual. Se Satanás está debaixo dos nossos pés, por que vigiar e cuidar para não ser abatido? Se ele está debaixo de nossos pés, resta-nos agora descansar, pois não temos o que temer ou vigiar.
Jesus ainda não pisou a Satanás definitivamente, como foi mostrado. Isso acontecerá somente na ocasião da sua vinda em glória e poder.
Portanto, a posição de Satanás não é debaixo de nossos pés, mas à nossa frente, pronto para nos derrubar ou como um leão pronto para nos atacar. Devemos vencê-los firmes na fé, conscientes que é maior aquele que está em nós do que aquele que está no mundo e o domínio está nas mãos do nosso Deus (1Jo 4.4; 1Pe 5.11).

Introdução a Teologia Sistematica


Um apelo se ter discernimento.

Muitos têm perdido a confiança na suficiência da Palavra de Deus porque nunca, de fato, aprenderam suas verdades ou como aplicá-la adequadamente.
No entanto, a Escritura é uma parte crucial da armadura espiritual e compõe o equipamento necessário para que o cristão seja completo (Ef 6.11). A espada do Espírito, a Palavra de Deus (v. 17), é a única arma ofensiva que Paulo menciona naquela passagem. Como qualquer arma, ela deve ser usada habilmente para ser mais eficaz. Isso está implícito na palavra grega que Paulo usou para "espada".
Paulo não usou a palavra rhomphaia, que se refere a uma espada larga, mas machaira, uma pequena adaga. O termo grego traduzido por "palavra" é rhêma. Isto se refere a algo específico.
Como uma pequena adaga é aplicada com habilidade e precisão a uma área vital do corpo, assim também devemos usar a
Palavra cuidadosamente e com maestria, aplicando princípios específicos dela a cada situação que enfrentamos. Foi assim que Jesus lidou com Satanás (Mt 4.1-11; Lc 4.1-13).
Como está a sua habilidade com a espada do Espírito? Você tem uma compreensão ampla da Escritura e sabe como aplicá-la com precisão. Se você aprender a usá-la apropriadamente, a Palavra poderá ser uma arma eficaz para qualquer desafio.; Entretanto, perder tempo e energia com armas fabricadas por homens, fará de você uma vítima indefesa na batalha espiritual.
Lucas descreveu como nobre o povo judeu de Beréia (At 17.11), pois eles examinaram as Escrituras antes de aceitar qualquer coisa que Paulo dizia como verdade.
Ah! se hoje os cristãos fossem tão nobres! Asseverar a verdade da Palavra de Deus e apoiar aqueles que a proclamam com exatidão é uma atitude digna de louvor. Por outro lado, tolerar falsa doutrina e mestres apóstatas é espiritualmente fatal; e é tolice não sabermos a diferença. Mas o espírito de tolerância que hoje prolifera na igreja tem a tendência de tachar como estreita, sem amor e causadora de divisão qualquer pessoa que tenta questionar o ensino dos outros. A consequência da tolerância ao erro é a indiferença à verdade; e isso é desastroso.
A igreja tornou-se indolente. Ela tem deixado de pensar de modo bíblico e cuidadoso e tem tolerado muito ensinamento falso. Cada vez menos cristãos estão encarando a vida com a mesma atitude dos bereanos. Deixaram de desenvolver o hábito de discernir ou aplicar os princípios bíblicos às suas situações diárias. Conseqüentemente, quando se vêem em problemas, presumem que a
Escritura não lhes pode ajudar. Então se voltam para alternativas humanistas e mundanas que apenas lhes trazem pesar. Desajuizada-mente renunciam a suficiência que possuem em Cristo e, então, lutam para preencher o vazio com substitutos totalmente inadequados. Além do mais, ao deixarem de se firmar sobre princípios bíblicos, abrem a porta para todo tipo de influências malignas.
O Dr. Robert Thomas, professor de Novo Testamento no Seminário Master, adverte:
"As pessoas não se tornam heréticas de uma vez; isso acontece gradualmente. Elas não fazem isso intencionalmente, na maioria das vezes. Deslizam para a heresia através do relaxamento no manusear a palavra da verdade... Tudo o que é necessário para tomar o caminho da heresia é uma ansiedade por algo novo e diferente, uma idéia nova, juntamente com uma certa preguiça, descuido ou falta de exatidão no manusear a verdade de Deus. Por todo lado há espantosos exemplos de deslize doutrinário e total fracasso. Caso após caso, alguém que deveria conhecer bem a verdade de Deus fracassou em sustentar essa verdade."
Assim a igreja está perdendo sua habilidade em discernir entre a verdade e o erro. Isso por sua vez se reflete no viver profano daqueles que se identificam com a igreja. Estamos vendo estas coisas acontecerem com alarmante rapidez.
Infelizmente, alguns dos mais descuidados manuseadores da Escritura são aqueles cuja responsabilidade é ensinar.
A teologia superficial que atualmente procede de muitos púlpitos é chocante. A igreja poderá aprovar os seus pastores cumprindo o seu chamado com indolente negligência? Certamente que não. Imagine as implicações práticas se professores de matemática ou química fossem tão descuidados quanto aqueles que manuseiam a Palavra de Deus.
Você gostaria de ser atendido por um algum farmacêutico que se descuidasse ao fornecer os remédios de sua receita médica? Você levaria seu projeto a um arquiteto que trabalhasse principalmente com cálculos aproximados? Você permitiria que um cirurgião lhe operasse com uma faca de mesa em vez de um bisturi? A triste verdade é que a sociedade rapidamente ficaria paralisada, se a maioria dos profissionais realizasse seu trabalho da forma como muitos professores da Bíblia o fazem.
Observe o que o Dr. Thomas escreve sobre a importância da exatidão no ensinar a Bíblia:
"A exatidão... é um desejo que nos constrange a dominar a verdade de Deus em termos mais definidos, para facilitar uma apresentação mais exata dessa verdade aos outros e para nos guardar do deslize doutrinário, que leva ao erro e à falsa doutrina.
Nem todos apreciarão a exatidão e voluntariamente concordarão com sua importância. Vivemos em um mundo cujo desejo é que estejamos satisfeitos com as estimativas aproximadas, particularmente quando se trata de assuntos teológicos. É necessário muita paciência e coragem para tolerar a crítica e a completa oposição que virá quando o servo de Deus insistir na exatidão...
Hoje, há muitos intérpretes e expositores do tipo "eu acho que..." A atmosfera teológica do evangelicalismo está saturada com uma densa nuvem de incertezas e ênfases erradas, no manusear a Palavra de Deus. Muitas igrejas estão arruinadas por causa de uma hermenêutica negligente, da ignorância sobre as línguas bíblicas e da teologia não-sistemática.
Interpretações aproximadas sobre o que esta ou aquela passagem significa não servirão. Precisamos de expositores de qualidade, que tomarão tempo e farão os sacrifícios necessários para cumprirem suas tarefas corretamente e trazerem clareza às mentes do povo de Deus, enquanto lêem e estudam a santa Palavra de Deus."
Recentemente, em certo domingo pela manhã, enquanto as pessoas se reuniam para o culto em uma igreja perto de minha residência, as vigas que sustentavam o teto começaram a rachar e ruir. Felizmente, ninguém ficou machucado, mas o prédio da igreja está inutilizado, necessitando de total reconstrução. O projeto pobre dos engenheiros deixou aquela congregação sem um lugar de reunião.
Porém, por pior que seja, o desmoronamento da cobertura de um edifício não se compara ao desastre de um colapso espiritual em igrejas planejadas por "engenheiros" ineptos em manejar a Palavra. No entanto, este último ocorre com bem mais freqüência.

Tornai-vos ,pois,praticantes da palavra e não só ouvintes.

Foto de um usuário.
“Tornai-vos, pois, praticantes da palavra e não somente ouvintes, enganando-vos a vós mesmos” (Tiago 1.22).
É motivo de gratidão, de muita gratidão, quando se percebe que o Espírito Santo iluminou o entendimento de alguém, dissipando a névoa do erro, estabelecendo-o na verdade. Contudo isso é só o começo.
As Escrituras Sagradas são proveitosas não apenas para “o ensino”, mas também para “a repreensão, para a correção, para a educação na justiça” (2 Timóteo 3.16).
Repare bem na ordem: antes que estejamos prontos para sermos educados “na justiça” (agir corretamente), há muito em nossa vida que Deus “reprova”, e que nós temos de “corrigir”.
Isso é assim por necessidade, porque antes da conversão tudo em nossa vida estava errado, pois tudo o que fazíamos era para gratificar a nós mesmos, sem nem mesmo pensar em Deus, nem nos preocupávamos com a Sua honra e glória.
Por isso, a primeira grande necessidade, e a fundamental obrigação de cada novo convertido não é estudar os tipos do Antigo Testamento, nem confundir a cabeça com profecias, mas diligentemente examinar as Escrituras com o propósito de encontrar o que agrada e o que desagrada a Deus, o que Ele proíbe e o que Ele ordena.
Se você de fato se converteu, então o seu primeiro interesse tem de ser ordenar todos os detalhes da sua vida — em casa, na igreja, no mundo — de forma agradável a Deus. E na prática isso significa fazer o seguinte: “cessai de fazer o mal. Aprendei a fazer o bem” (Isaías 1.16,17); “Aparta-te do mal e pratica o que é bom” (Salmo 34.14, cfe. 37.27). Antes de se poder construir, tem de ser feita uma demolição (Eclesiastes 3.3).
É necessário ocorrer um esvaziamento de si mesmo, antes de haver um enchimento do Espírito. É preciso desaprender, antes que haja verdadeira aprendizagem. E é necessário haver um ódio pelo “mal” antes que haja o amor ao “bem” (Amós 5.15, cfe. Romanos 12.9).
Aquilo que determinará em grande parte a medida da bênção que o jovem cristão experimentará na vida, é o grau em que ele aplica as Santas Escrituras na prática, regulando seus pensamentos, desejos, e ações, por meio das suas advertências e incentivos, suas proibições e preceitos. Como Governador moral deste mundo, Deus repara em nossa conduta, e mais cedo ou mais tarde manifesta o Seu desagrado contra nossos pecados, e Sua aprovação ao andar reto, conferindo a medida de prosperidade que é melhor para nosso bem e para a Sua glória. Em guardar os Seus mandamentos “há grande recompensa” (Salmo 19.11) nesta vida (1 Timóteo 4.8).
Oh! Quantas bênçãos — espirituais e temporais — muitos cristãos perdem por causa de conduta negligente e desobediente (veja Isaías 48.18)! A coisa trágica é que, em vez do jovem cristão estudar diligentemente a Palavra de Deus a fim de descobrir todos os detalhes da vontade divina para ele, ele faz de tudo menos isso.
Muitos se atracam a alguma “obra pessoal” ou alguma forma de “trabalho” cristão, ao passo que a própria vida permanece cheia de coisas desagradáveis a Deus! A presença dessas coisas desagradáveis na vida atrapalham a bênção de Deus sobre a sua alma, corpo e atividades temporais; e é necessário dizer-lhe: “os vossos pecados afastam de vós o bem” (Jeremias 5.25). A palavra de Deus para o Seu povo é a seguinte: “desenvolvei a vossa salvação com temor e tremor” (Filipenses 2.12).
Mas como é raro encontrar esse “temor e tremor” em nossos dias! Em vez disso, encontra-se auto-estima, auto-confiança, vanglória e segurança carnal.
Há outros que se entregam ao diligente estudo da doutrina, mas em geral falham em perceber que a doutrina da Escritura não é uma série de proposições intelectuais, mas é “a doutrina que é segundo a piedade” (1 Timóteo 6.3 — Versão Revista e Corrigida). A “doutrina” ou o “ensino” da santa Palavra de Deus não nos é concedida para instruir nossa cabeça, mas para regular todos os detalhes da nossa vida diária; e isso “a fim de ornarem, em todas as coisas, a doutrina de Deus, nosso Salvador” (Tito 2.10).
Mas isso pode ocorrer somente através da constante leitura da Palavra com um propósito dominante — descobrir o que Deus proíbe e o que Ele ordena; através da nossa freqüente meditação naquilo que lemos; e por meio da oração fervorosa suplicando graça sobrenatural que nos capacite a obedecer. Se o jovem convertido não cria logo o hábito de trilhar o caminho da prática da obediência a Deus, ele não será ouvido por Ele quando fizer as suas orações!
1 João 3.22 expõe claramente uma das principais condições para termos nossas orações atendidas, e para a qual temos de constantemente buscar graça: “e aquilo que pedimos dele recebemos, porque guardamos os seus mandamentos e fazemos diante dele o que lhe é agradável”.
Mas se, ao invés de nos submetermos às santas exigências de Deus, seguirmos nossas próprias inclinações, ser-nos-á dito o seguinte: “as vossas iniqüidades fazem separação entre vós e o vosso Deus; e os vossos pecados encobrem o seu rosto de vós, para que vos não ouça” (Isaías 59.2). Isso é extremamente solene. Há uma diferença enorme entre ter ou não acesso prático a Deus!
Quando o jovem cristão trilha um caminho de auto-gratificação, ele não só reduz as próprias orações a palavras vazias, mas também traz sobre si mesmo o castigo de Deus, e tudo lhe vai mal na vida. Essa é uma das razões porque, nestes dias difíceis, muitos cristãos sofrem tanto quanto os pobres homens mundanos: Deus Se desagrada dos seus caminhos, e não Se mostra forte em seu favor (2 Crônicas 16.9).
A solução é humilhar-se verdadeiramente de coração diante do Senhor, com tristeza piedosa, verdadeiro arrependimento, confissão genuína, com a firme determinação de consertar os nossos caminhos; e então (e não antes disso) fé que conta com a misericórdia de Deus e uma paciente expectação de que Ele vai operar maravilhas por nós, se agora trilharmos o caminho da plena submissão a Ele.
Tradução: Helio Kirchheim

Teologia Bíblica e Exposição Evangelística


Pode a pregação expositiva ser consistentemente evangelística?
Às vezes, os pregadores evitam expor os livros da Bíblia por suspeitarem de que tal abordagem é boa para ensinar teologia a cristãos maduros, mas ruim para ajudar descrentes a compreenderem o evangelho.
Essa preocupação aumenta quando os pastores pensam em pregar um livro do Antigo Testamento. Como um estudo da vida de Abraão ou uma série sobre Agar pode tornar claro o evangelho, domingo após domingo? Nós simplesmente mencionamos um resumo do evangelho ao final do sermão? “Aos nossos amigos não cristãos que estão aqui hoje, eu gostaria de concluir esta mensagem sobre a circuncisão de Abraão dizendo-lhes como vocês podem receber o dom gratuito da vida eterna”. Algo como um apelo evangelístico.
Há outra maneira, mais orgânica, de proclamar fielmente o evangelho domingo após domingo, até mesmo no Antigo Testamento: empregando a teologia bíblica.
A grande história
O que é teologia bíblica? Podemos defini-la como o estudo do enredo geral da Bíblia. Juntos, os 66 livros da Bíblia contam uma única narrativa sobre a missão de Deus de salvar um povo e estabelecer um reino para a sua glória, por meio da morte e ressurreição de Jesus Cristo. O Antigo Testamento monta o palco e nos conduz a Jesus. Os evangelhos revelam sua pessoa e obra. O restante do Novo Testamento descortina as implicações da morte e da ressurreição de Jesus até o fim, até Deus realizar plenamente a sua missão. Quanto mais compreendemos essa trama abrangente, mais somos capazes de ver como o texto da nossa pregação se relaciona com o evangelho.
Pregar uma passagem da Escritura cônscio da teologia bíblica é como ter uma “visão de jogo” no basquete. Bons jogadores de basquete não se concentram apenas em arremessar a bola à cesta. Eles estão atentos à posição de seus companheiros de time e dos oponentes na quadra, assim como ao fluxo do jogo. Semelhantemente, uma boa exposição não apenas provê um comentário sequenciado dos versículos lidos. Ela também tem uma “visão de jogo” do que se passa antes e depois do texto e de como tudo isso se relaciona com a progressão geral da grande história de Deus.
Teologia bíblica em ação
Vejamos algumas estratégias de teologia bíblica que podemos utilizar para relacionar a nossa passagem particular à história principal da Bíblia, a história do evangelho. Você pode pensar nessas estratégias como possíveis caminhos que nos levam do nosso texto ao evangelho, como as rotas alternativas que, num aplicativo de mapas de celular, nos guiam de nossa posição atual ao destino desejado.
1. Promessa e cumprimento
Comecemos com a rota mais simples e direta para o evangelho. Na estratégia de promessa e cumprimento, o texto que você está estudando contém uma profecia ou promessa que é explicitamente cumprida em algum aspecto do evangelho. Promessa e cumprimento são os frutos mais baixos da teologia bíblica: fáceis de ver e de pegar.
Então, se você está pregando na profecia de Miquéias acerca de um senhor que sairia de Belém (Miquéias 5.2), você pode facilmente convidar a congregação a voltar-se para Mateus 2.6 para ver como isso se cumpre no nascimento de Jesus. Ou, se decidir expor a vida de Abraão, você deve em algum ponto conectar as promessas de Deus de abençoar a descendência ou “semente” de Abraão (Gênesis 12.7; 13.15; 17.8; 24.7) ao seu cumprimento em Jesus (Gálatas 3.16).
Além de nos prover caminhos óbvios para chegarmos ao evangelho, a estratégia de promessa e cumprimento também nos mostra como os autores do Novo Testamento interpretaram o Antigo Testamento à luz do evangelho. Quanto mais aprendemos a ler a Bíblia pelas lentes interpretativas dos apóstolos, melhor conseguiremos chegar ao evangelho a partir de outros textos, até mesmo aqueles que não têm um cumprimento explícito em Jesus.
2. Tipologia
A tipologia é semelhante à promessa e cumprimento, exceto porque, em vez de uma profecia verbal sendo cumprida em Jesus, nós vemos eventos, instituições ou pessoas que preanunciam Jesus e o evangelho. Você pode pensar na tipologia como uma profecia não verbal.
Pense no templo de Jerusalém, por exemplo. Ele desempenhava um papel central no Antigo Testamento como o lugar da presença de Deus, como salvador e rei, entre o seu povo. Mas ele, em última instância, apontava para Jesus. Jesus chocou as multidões quando se levantou no templo e disse: “Destruí este santuário, e em três dias o reconstruirei” (João 2.19). Elas pensaram que ele se falava da construção literal, mas ele “se referia ao santuário do seu corpo” (v. 21). Assim como o templo, Jesus era, e é, a presença física de Deus no meio do seu povo para salvar e reinar. É também por isso que os apóstolos repetidamente identificavam a igreja, aqueles que estão em Cristo, com o templo do Espírito (p. ex., 1Coríntios 3.16-17; Efésios 2.19-22; 1Pedro 2.5).
Sob essa ótica, suponhamos que você esteja expondo o Salmo 122, que comunica a alegria de subir ao templo de Deus em Jerusalém: “Alegrei-me quando me disseram: Vamos à Casa do SENHOR” (v. 1). Você pode empregar a tipologia do templo para ajudar as pessoas, até mesmo os desigrejados, a verem a alegria de achegar-se a Jesus pela fé.
O Novo Testamento está repleto de tais tipos de Jesus e de sua obra. Os apóstolos viam Jesus como o último Adão, o verdadeiro cordeiro pascal, o novo Moisés, o sacrifício expiatório definitivo, o grande sumo sacerdote, o rei ungido (messias) da linhagem de Davi, o verdadeiro Israel, e muito mais. Essas rotas seguras podem conduzi-lo fielmente de muitos lugares da Escritura para Jesus e sua obra salvadora.
3. Temas
Estou usando a palavra “temas” para descrever motivos ou imagens recorrentes no enredo bíblico que não apontam diretamente para Jesus do modo como a tipologia faz. Contudo, esses temas ou motivos estão inteiramente conectados ao evangelho e podem nos ajudar a situar o nosso texto no descortinar da história bíblica.
Um tema bíblico clássico é a criação. A Bíblica começa com “No princípio, criou Deus os céus e a terra”. Deus trouxe ordem ao caos, criou Adão e Eva à sua imagem e ordenou que eles governassem a criação e a enchessem com sua descendência, tudo para a glória de Deus. Tragicamente, Adão e Eva falharam em seu chamado e se rebelaram contra Deus.
Mas Deus tinha um plano para redimir a sua criação. Ao longo do Antigo Testamento nós vemos repetidas “recriações”, eventos nos quais Deus graciosamente começa de novo com o seu povo, sendo que esses novos começos são descritos com imagens e com a linguagem da criação. Essas recriações incluem a história de Noé e sua família após o dilúvio, a saída de Israel do Egito e sua entrada na terra prometida, o estabelecimento de um reino edênico por Salomão, até mesmo o retorno dos israelitas do cativeiro babilônico. Contudo, em todas essas situações, o recomeço falhou. A humanidade se rebelou. Adão fracassou de novo e de novo. Será que alguma dessas releituras de Adão porventura seria bem sucedida?
Sim. O último Adão, Jesus Cristo, realizou perfeitamente a vontade do Pai. A ressurreição de Jesus e a salvação de seu povo inauguraram a verdadeira nova criação. E ela continua a crescer hoje. Jesus enviou o seu povo redimido para subjugar a terra e enchê-la de filhos e filhas de Deus por meio da pregação do evangelho. E, algum dia, esse trabalho culminará em novos céus e nova terra, muito mais sublimes e gloriosos do que os originais.
Você percebe como ser capaz de traçar o motivo da criação nos fornece uma moldura para, organicamente, mover de muitos textos para o ponto chave da nova criação, a morte e a ressurreição de Jesus?
Há muitas outras linhas temáticas que se entrelaçam no enredo bíblico, tais como as alianças, o êxodo, o dia do Senhor e o reino de Deus.
4. Ensino ético
Mas e se você estiver tentando pregar em Provérbios ou nos Dez Mandamentos? E se você estiver de fato louco e tentar fazer evangelismo expositivo a partir de Levítico? Parece que esse tipo de passagem é melhor para ensinar o que o cristão maduro deve ou não fazer, em vez de mostrar às pessoas não salvas o que Jesus já fez, de modo que elas possam tornar-se cristãs.
Novamente, a teologia bíblica mapeia um caminho da lei para o evangelho. Nós podemos ler mandamentos morais específicos no fluxo do enredo bíblico de, pelo menos, três modos distintos. Primeiro, as leis e a ética bíblica nos conduzem a Jesus ao nos mostrarem nosso pecado e nossa necessidade de um salvador. Como se costuma dizer, os mandamentos de Deus funcionam como um espelho que nos confronta com a nossa deformidade moral. Quando lemos a história crônica do colapso moral de Israel, nós vemos a história da humanidade e a nossa própria história. “Visto que ninguém será justificado diante dele por obras da lei, em razão de que pela lei vem o pleno conhecimento do pecado” (Romanos 3.20).
Segundo, os mandamentos morais da Bíblia nos apontam para Jesus, como o único que os guardou perfeitamente. Ele não veio para destruir a lei de Deus, mas para cumpri-la em cada aspecto (Mateus 5.17). Todos os demais filhos de Deus (Adão, Israel, os reis de Israel) foram pródigos; apenas Jesus agradou o Pai. E, assim, os mandamentos éticos da Bíblia revelam, em última instância, o caráter do próprio Jesus.
Terceiro, pela dependência do poder da ressurreição de Jesus e do seu Espírito em nós, agora podemos guardar a lei de Deus como filhos e filhas obedientes. Jesus nos libertou do poder do pecado, “a fim de que o preceito da lei se cumprisse em nós, que não andamos segundo a carne, mas segundo o Espírito” (Romanos 8.4).
Então, imagine que você esteja pregando Provérbios 11.17: “O homem bondoso faz bem a si mesmo, mas o cruel a si mesmo se fere”. Ao seguir os contornos da teologia bíblica, você não irá meramente proferir uma mensagem de trinta minutos sobre como tornar-se mais bondoso. Você também poderá mostrar como nós fracassamos em exercitar a bondade e como somos excelentes em ser cruéis, de maneiras muito sutis. Você mostrará às pessoas como Jesus encarnou a bondade, especialmente ao dar a sua vida pelos pecadores. E, finalmente, você conectará essa bondosa graça de Jesus a nós mesmos, como o combustível para a nossa própria transformação por meio do Espírito Santo.
5. Solucionando enigmas
Quando começamos a perceber o fluxo da teologia bíblica, também vemos como o evangelho soluciona, com freqüência, enigmas do Antigo Testamento. Como Deus poderia cumprir suas promessas a Davi, uma vez que Judá fora enviado ao exílio e não havia rei em Jerusalém? Se os sacrifícios do templo removiam o pecado, então por que Deus julgava Israel? O Antigo Testamento fala com freqüência sobre as bênçãos de Deus sobre o justo e o julgamento sobre os ímpios. Então por que nós vemos ocorrer o contrário?
Nós poderíamos dizer mais aqui, mas por ora é suficiente dizer que, quando você encontrar uma charada bíblica, considere como o evangelho de Jesus pode resolver o mistério. Como um grande romance, o Antigo Testamento constrói pontos de tensão na trama que o herói, Jesus, vem resolver.
“Vocês estão aqui”
Quando usamos a teologia bíblica para praticar esse tipo de exposição cônscia do evangelho, algo empolgante acontece com os descrentes. Não apenas eles são confrontados por seus pecados, introduzidos a Jesus e chamados ao arrependimento e à fé semana após semana. Eles também começam a situar a si mesmos no fluxo histórico da obra de Deus. O evangelho não é simplesmente uma metáfora ou uma idéia que eles estão livres para usar ou descartar se isso “funcionar” para eles. Em vez disso, a história de Jesus é uma força histórica arraigada no passado, que continua no presente e dominará a eternidade. O Deus que agiu no mundo bíblico está agindo no mundo deles também, porque é o mesmo mundo, a mesma história, a mesma narrativa.

Comunhão é Mais Que Bolo e Café


Comunhão é Mais Que Bolo e Café
“E perseveravam na doutrina dos apóstolos e na comunhão, no partir do pão e nas orações.” Atos 2.42
Uma das características da Igreja Primitiva era a comunhão. Comunhão significa “compartilhar ou ter tudo em comum”. Na caminhada da fé cristã a comunhão está profundamente ligada. Não existe divórcio nem dicotomia entre fé cristã e comunhão.
A comunhão sem caminhada cristã, ou caminhada cristã sem comunhão deixa de ser koinonia para ser koinonite (koinonia refere-se à comunhão fraternal, enquanto que koinonite refere-se a uma doença relacional). A comunhão anda de mãos juntas com a jornada cristã. É uma condição indispensável para o caminhar com eficiência e eficácia.
A nossa comunhão com Deus depende muito de nossa comunhão com o próximo. A Bíblia diz que para recebermos o perdão de Deus, antes, precisamos perdoar o nosso próximo:
“se, porém, não perdoardes aos homens [as suas ofensas], tampouco vosso Pai vos perdoará as vossas ofensas” (Mateus 6.15). As Escrituras Sagradas também afirmam que para Deus aceitar a nossa oferta é preciso antes reconciliarmos com o nosso irmão: “Se, pois, ao trazeres ao altar a tua oferta, ali te lembrares de que teu irmão tem alguma coisa contra ti, deixa perante o altar a tua oferta, vai primeiro reconciliar-te com teu irmão; e, então, voltando, faze a tua oferta” (Mateus 5.23,24).
Isto nos ensina que a verdadeira religião está embasada mais na direção horizontal do que na vertical: “A religião pura e sem mácula, para com o nosso Deus e Pai, é esta: visitar os órfãos e as viúvas nas suas tribulações e a si mesmo guardar-se incontaminado do mundo” (Tiago 1.27).
Comunhão é mais que bolo e café. É mais que sentarmos juntos e tomarmos uma refeição. É viver a transparência do Evangelho. É ser verdadeiro com o próximo. É saber que nossas diferenças representam a multiforme sabedoria de Deus que nos complementam uns aos outros. Nossas diferenças não devem nos dividir, mas nos integrar. Comunhão não é simplesmente sentarmos e tomarmos um delicioso café e comer um bolo. É mais do que compartilhar o que temos. É compartilhar o que somos.
Comunhão é perseverar em buscar ser amigo dos nossos inimigos. É virar a outra face. É compartilhar a vida, a esperança, o perdão e o amor. Comunhão é insistir em partilhar o pão, não ter apenas momentos de caridade. É perseverar juntos na oração. É termos um só pensamento e um só coração.
Sejamos unidos na obra do Senhor, pois assim, avançaremos mais rápido e eficiente na proclamação do Evangelho. Devemos esquecer as nossas “diferenças” e agirmos com harmonia em favor do Reino de Deus.

A Unidade da Igreja


Foto de um usuário.
A unidade da igreja é apresentada no Credo Apostólico: “Creio na santa igreja (singular) católica”, e ensinada, por exemplo, em Efésios 4:4-6: “Há um só corpo e um só Espírito, como também fostes chamados em uma só esperança da vossa vocação; um só Senhor, uma só fé, um só batismo; um só Deus…”.
A igreja de Cristo, que é uma, é um organismo vivo (“um só corpo”) com uma cabeça, Jesus Cristo (“um só Senhor”), e um princípio vivificador, o Espírito Santo (“um só Espírito”), que adora e serve a um Deus Triúno: Pai, Filho e Espírito Santo (“um só Deus”).
O fundamento mais profundo da unidade da igreja é que Deus mesmo é um (“um só Deus”). Assim, a igreja é uma, e pode ser apenas uma, e não duas ou mais.
A unidade da igreja foi eternamente decretada por Deus, pois ele “nos elegeu nele [isto é, Cristo] antes da fundação do mundo” (Ef. 1:4). No curso da história do mundo, Deus chama eficazmente todos os seus eleitos das trevas do pecado e da maldição, para o “um só corpo” de Jesus Cristo. Assim, todos do povo eleito de Deus são batizados com “um só batismo”.
“Pois todos nós fomos batizados em um Espírito, formando um corpo” (1Co. 12:13).
O Espírito Santo habita em Cristo, a cabeça, e assim nos crentes como seus membros, pois “se alguém não tem o Espírito de Cristo, esse tal não é dele” (Rm. 8:9). O “um só Espírito” em todos os crentes testifica a verdade da Palavra de Deus, e assim, todos cristãos verdadeiros recebem como verdade tudo o que foi relevado na Escritura sagrada (“uma só fé”).
Similarmente, o povo de Deus compartilha “uma só esperança”, e assim, pelo “um só Espírito”, aguardamos, oramos e anelamos pela “bem-aventurada
esperança e o aparecimento da glória do grande Deus e nosso Salvador Jesus Cristo” (Tito 2:13).
Jesus Cristo é o “um só Senhor” da igreja, que a possui e tem completa autoridade sobre ela, pois a igreja pertence ao seu fiel Salvador, que a comprou com o seu próprio sangue precioso. Cristo, o único Senhor da igreja, a redimiu, chamando e formando-a em “um só corpo”, vivificando-a com seu “um só Espírito”, dando-lhe “uma só fé”, “uma só esperança” e “um só batismo”.
Isso, e somente isso, é a unidade da igreja. A unidade da igreja não deve ser encontrada em igrejas que não reconhecem verdadeiramente o senhorio de Cristo em todas as coisas, que abandonam a “uma só fé” e “uma só esperança” das Escrituras, acomodando-se ao pecado, ao mundo e às demais falsas igrejas. Nem a unidade de uma igreja deve residir no compartilhamento de opiniões políticas ou status social comum.
A
unidade da igreja de Cristo transcende e sobrepuja todas as diferenças terrenas: classe, cor, sexo, idade, etc., pois “não há grego, nem judeu, circuncisão, nem incircuncisão, bárbaro, cita, servo ou livre; mas Cristo é tudo em todos” (Cl. 3:11).
A unidade da igreja é um fato. Assim, o Espírito declara “há um só corpo”, e não “vocês devem criar um só corpo”.
A unidade da igreja não deve ser criada por nós, pois é um dom da graça soberana de Deus. Pelo contrário, a igreja é chamada a “guardar” a “unidade do Espírito pelo vínculo da paz” (Ef. 4:3). Isso é feito quando os crentes amam, confessam e se apegam a “uma só fé” e “uma só esperança” do “um só Senhor”, por “um só Espírito”, e quando os crentes pronta e alegremente empregam seus dons para o crescimento e salvação dos outros membros do “um só corpo”, com “toda a humildade”, “mansidão” e “amor” (Ef. 4:2).
Tradução: Felipe Sabino de Araújo Neto