1. Apresentação da Doutrina 2. Prova da Bíblia 3. Prova da Razão 4. Fé e Boas Obras são os Frutos e a Prova, não as Bases, da Eleição 5. Rejeição 6. Infralapsarianismo e Supralapsarianismo 7. Muitos são Escolhidos 8. Uma Raça ou Mundo Redimido 9. Vastidão da Multidão de Redimidos 10. O Mundo está Ficando Melhor 11. Salvação Infantil 12. Sumário
1. APRESENTAÇÃO DA DOUTRINA
A doutrina da Eleição deve ser encarada somente sob uma aplicação particular da doutrina geral da Predestinação ou Pré Ordenação conforme relaciona-se com a salvação de pecadores; e desde que as Escrituras estão preocupadas mais com a redenção de pecadores, esta parte da doutrina é naturalmente colocada em um lugar de proeminência especial. Ela compartilha todos os elementos da doutrina geral; e desde que é o ato de uma Pessoa moral infinita, é representada como sendo a determinação eterna, absoluta, imutável efetiva da Sua vontade, dos objetos de Suas operações salvíficas. E nenhum aspecto desta escolha eletiva é mais constantemente enfatizado do que o da sua absoluta soberania.
A Fé Reformada tem se apegado à existência de um decreto eterno, divino, o qual, antecedentemente a qualquer diferença ou excelência nos próprios homens, separa a raça humana em duas porções e ordena uma para a vida eterna e a outra para a morte eterna. Tanto quanto tal decreto é relacionado aos homens e designa o conselho de Deus referente àqueles que tiveram uma chance supremamente favorável em Adão para ganhar a salvação, mas que perderam tal chance. Como resultado da queda eles são culpados e corruptos, seus motivos são errados e eles não podem operar a sua própria salvação. Eles perderam todas causas ente a misericórdia de Deus, e podem simplesmente terem sido deixados para sofrer o castigo da sua desobediência como todos os anjos caídos também o foram. Mas ao contrário, os membros eleitos desta raça são resgatados deste estado de culpa e pecado e são trazidos a um estado de santidade e bênçãos. Os não eleitos são simplesmente deixados em seu estado prévio de ruína, e estão condenados pelos seus pecados. Eles não sofrem nenhum tipo de castigo não merecido, pois Deus está tratando-os não meramente como homens, mas como pecadores.
A Confissão de Fé de Westminster apresenta a doutrina desta forma [Capítulo III - Dos Eternos Decretos de Deus]: "Pelo decreto de Deus e para manifestação da sua glória, alguns homens e alguns anjos são predestinados para a vida eterna e outros preordenados para a morte eterna."[ Ref. I Tim.5:21; Mar. 5:38; Jud. 6; Mat. 25:31, 41; Prov. 16:4; Rom. 9:22-23; Ef. 1:5-6.]
"Esses homens e esses anjos, assim predestinados e preordenados, são particular e imutavelmente designados; o seu número é tão certo e definido, que não pode ser nem aumentado nem diminuído." [Ref. João 10: 14-16, 27-28; 13:18; II Tim. 2:19]
"Segundo o seu eterno e imutável propósito e segundo o santo conselho e beneplácito da sua vontade, Deus antes que fosse o mundo criado, escolheu em Cristo para a glória eterna os homens que são predestinados para a vida; para o louvor da sua gloriosa graça, ele os escolheu de sua mera e livre graça e amor, e não por previsão de fé, ou de boas obras e perseverança nelas, ou de qualquer outra coisa na criatura que a isso o movesse, como condição ou causa."[Ref. Ef. 1:4, 9, 11; Rom. 8:30; II Tim. 1:9; I Tess, 5:9; Rom. 9:11-16; Ef. 1: 19: e 2:8-9.]
"Assim como Deus destinou os eleitos para a glória, assim também, pelo eterno e mui livre propósito da sua vontade, preordenou todos os meios conducentes a esse fim; os que, portanto, são eleitos, achando-se caídos em Adão, são remidos por Cristo, são eficazmente chamados para a fé em Cristo pelo seu Espírito, que opera no tempo devido, são justificados, adotados, santificados e guardados pelo seu poder por meio da fé salvadora. Além dos eleitos não há nenhum outro que seja remido por Cristo, eficazmente chamado, justificado, adotado, santificado e salvo."[Ref. I Pedro 1:2; Ef. 1:4 e 2: 10; II Tess. 2:13; I Tess. 5:9-10; Tito 2:14; Rom. 8:30; Ef.1:5; I Pedro 1:5; João 6:64-65 e 17:9; Rom. 8:28; I João 2:19.]
"Segundo o inescrutável conselho da sua própria vontade, pela qual ele concede ou recusa misericórdia, como lhe apraz, para a glória do seu soberano poder sobre as suas criaturas, o resto dos homens, para louvor da sua gloriosa justiça, foi Deus servido não contemplar e ordená-los para a desonra e ira por causa dos seus pecados."[Ref. Mat. 11:25-26; Rom. 9:17-22; II Tim. 2:20; Jud. 4; I Pedro 2:8.]"
É importante que tenhamos uma clara compreensão desta doutrina da Eleição divina, pois a nossa visão relacionada a ela é o que determina a nossa visão de Deus, o homem, o mundo, e a redenção. Como Calvino corretamente disse, "Nós nunca estaremos tão claramente convencidos como deveríamos, de que a nossa salvação provém da fonte da gratuita misericórdia de Deus, até que estejamos familiarizados com esta eleição eterna, que ilustra a graça de Deus por esta comparação, que Ele não adota todos indiscriminadamente para a esperança de salvação, mas a alguns dá o que recusa a outros. Ignorância deste princípio evidentemente desvia da glória divina, e diminui a real humildade." 2 Calvino admite que esta doutrina levantou questões muito perplexas nas mentes de alguns, pois, diz ele, "eles não consideram nada mais irracional do que, da massa comum da raça humana, alguns deverial estar predestinados à salvação; e outros à destruição."
Os teólogos Reformados consistentemente aplicaram este princípio à experiência real do fenômeno espiritual, o qual eles mesmos sentiram e viram nos outros ao seu redor. O propósito divino, ou Predestinação, sozinho poderia explicar a distinção entre bem e mal, entre o santo e o pecador.
2. PROVA DA BÍBLIA
A primeira questão que devemos perguntarmo-nos então, é, "Encontramos esta doutrina ensinada nas Sagradas Escrituras?" Voltemo-nos então para a Epístola de Paulo aos Efésios. Lá podemos ler: "[4] como também nos elegeu nele antes da fundação do mundo, para sermos santos e irrepreensíveis diante dele em amor; [5] e nos predestinou para sermos filhos de adoção por Jesus Cristo, para si mesmo, segundo o beneplácito de sua vontade,"[Efésios 1:4,5]. Na carta aos Romanos lemos que a corrente dourada da redenção estende-se desde a eternidade já passada até a eternidade ainda porvir -- "Porque os que dantes conheceu, também os predestinou para serem conformes à imagem de seu Filho, a fim de que ele seja o primogênito entre muitos irmãos; [30] e aos que predestinou, a estes também chamou; e aos que chamou, a estes também justificou; e aos que justificou, a estes também glorificou."[Romanos 8:29,30]. Pré-sabido, preordenados, chamados, justificados, glorificados, sempre com as mesmas pessoas incluídas em cada grupo, e onde um desses fatores estiver presente, todos os demais estarão em princípio, também presentes.
Paulo redigiu o versículo conjugando os verbos no tempo passado porque com Deus o propósito é em princípio executado quando formado, tão certamente é o seu cumprimento. "Estes cinco elos dourados", diz o Dr. Warfield, "são todos unidos em uma corrente inquebrável, de modo que todos os que estão sob a graciosa vista diferenciadora de Deus são carregados por Sua graça somente, passo a passo, até a grande consumação da glorificação que completa a prometida conformidade à imagem do próprio Filho de Deus. Veja, é a 'eleição' que faz tudo isso; a 'quem Ele justificou, . . . . . eles também glorificou'." 3
As Escrituras Sagradas representam a eleição como um acontecimento no passado, sem relacionamento com o mérito pessoal, e totalmente soberana, -- "[11] (pois não tendo os gêmeos ainda nascido, nem tendo praticado bem ou mal, para que o propósito de Deus segundo a eleição permanecesse firme, não por causa das obras, mas por aquele que chama), [12] foi-lhe dito: O maior servirá o menor. [13] Como está escrito: Amei a Jacó, e aborreci a Esaú."[Romanos 9:11-13]. Agora, se a doutrina da eleição não for verdadeira, podemos seguramente desafiar qualquer homem a dizer-nos o que o apóstolo Paulo quis dizer com tal tipo de linguagem. "Nos é ilustrada a soberana aceitação de Isaque e a rejeição de Ismael, e a escolha de Jacó e não a de Esaú antes mesmo dos seus nascimentos e portanto antes que tivessem praticado qualquer bem ou mal; nos é explicitamente dito que no que tange à salvação não de um que quer ou de outro que corre, mas de Deus que mostra misericórdia, e que Ele tem misericórdia para com quem Ele quer e a quem Ele confirma; somos pertinentemente direcionados a observar em Cristo, o oleiro que faz os vasos que procedem de Sua mão, um para cada finalidade que Ele aponta, para que Ele possa operar a Sua vontade através deles. É seguro dizer que não se pode escolher linguagem melhor adaptada para ensinar Predestinação no seu ápice." 4
Mesmo se não tivéssemos quaisquer outros testemunhos inspirado que aqueles escritos por Paulo, tão claros e precisos são aqueles mesmos que seríamos constrangidos a admitir que a doutrina da Eleição encontra lugar na Bíblia. Em se olhando às referências Bíblicas na Confissão de Fé, vemos que a mesma é abundantemente sustentada pela Bíblia. Se admitimos a inspiração da Bíblia; se admitimos que os escritos dos profetas e apóstolos foram soprados pelo Espírito de Deus, e são assim infalíveis, então o que lá encontrarmos será suficiente; e assim no testemunho irrefutável das Escrituras devemos reconhecer que a Eleição, ou a Predestinação são uma verdade estabelecida, e que devemos receber se tomamos posse do conselho de Deus. Cada Cristão deve crer em alguma forma de eleição; pois enquanto as Escrituras deixam muitas coisas inexplicadas a respeito da doutrina da Eleição, elas deixam muito claro o FATO de que houve uma eleição.
Cristo declarou abertamente aos Seus discípulos, "Vós não me escolhestes a mim mas eu vos escolhi a vós, e vos designei, para que vades e deis frutos, ..."[João 15:16], pelo que Ele fez primária a escolha de Deus e a do homem somente secundária, como resultado dO que escolheu primeiro. Os Arminianos, contudo, em fazendo com que a salvação dependa da escolha do homem em usar ou abusar da graça proferida inverte esta ordem, fazendo com que a escolha do homem seja a primária e a decisiva. Não há lugar nas Escrituras para uma eleição que esteja cuidadosamente ajustada às pré-vistas atitudes da criatura. A vontade divina nunca é feita dependente da vontade da criatura para as suas determinações.
Cristo declarou abertamente aos Seus discípulos, "Vós não me escolhestes a mim mas eu vos escolhi a vós, e vos designei, para que vades e deis frutos, ..."[João 15:16], pelo que Ele fez primária a escolha de Deus e a do homem somente secundária, como resultado dO que escolheu primeiro. Os Arminianos, contudo, em fazendo com que a salvação dependa da escolha do homem em usar ou abusar da graça proferida inverte esta ordem, fazendo com que a escolha do homem seja a primária e a decisiva. Não há lugar nas Escrituras para uma eleição que esteja cuidadosamente ajustada às pré-vistas atitudes da criatura. A vontade divina nunca é feita dependente da vontade da criatura para as suas determinações.
Novamente a soberania desta escolha é claramente ensinada quando Paulo declara que Deus provou o Seu amor para conosco pelo fato de haver Cristo morrido por nós enquanto éramos ainda pecadores (Romanos 5:8), e que Cristo morreu pelos ímpios (Romanos 5:6). Aqui vemos que o Seu amor não foi estendido até nós porque éramos bons, mas apesar do fato de que nós éramos maus. É Deus quem escolhe a pessoa e faz com que ele se aproxime dEle (Salmo 65:4). O Arminianismo tira tal escolha das mãos de Deus e a coloca nas mãos do homem. Qualquer sistema teológico que substitua a eleição feita pelo homem cai sob o ensino Bíblico deste assunto.
Nos dias mais negros da apostasia de Israel, como em qualquer outra época, foi este princípio de eleição que fez diferença ente a raça humana e manteve seguro um remanescente. "Todavia deixarei em Israel sete mil: todos os joelhos que não se dobraram a Baal, e toda boca que não o beijou." [I Reis 19:18]. Aqueles sete mil não permaneceram por sua própria força e poder; está expressamente dito que Deus reservou-os para Si mesmo, que eles pudessem ser um remanescente.
É para o bem dos eleitos que Deus governa o curso de toda a história (Marcos 13:20 = "Se o Senhor não abreviasse aqueles dias, ninguém se salvaria mas ele, por causa dos eleitos que escolheu, abreviou aqueles dias."). Ele são o "sal da terra", e a "luz do mundo"; e até agora pelo menos na história do mundo eles são os poucos através de quem os muitos são abençoados, -- Deus abençoa a casa de Potifar para o bem de José; e dez justos teriam salvo a cidade de Sodoma. Sua eleição, é claro, inclui a oportunidade de ouvir o Evangelho e receber os dons da graça, pois sem estes grandes meios o fim grandioso que é a eleição não seria alcançado. Eles são, de fato, eleitos para tudo o que está incluído na idéia de vida eterna.
À parte da eleição de indivíduos para a vida, tem havido o que poderíamos chamar de uma eleição natural, ou a divina predestinação de nações e de comunidades a um conhecimento da verdadeira religião e aos privilégios externos do Evangelho. Deus indubitavelmente escolhe algumas nações para receber bênçãos temporais e espirituais maiores que outras. Esta forma de eleição sem sido bem ilustrada na nação Judia, em certas nações e comunidades Européias, e na América. O contraste é violento, quando comparamos estas com outras nações tais como China, Japão, Índia, etc.
Em todo o Velho Testamento, é repetidamente mostrado que os Judeus eram um povo escolhido. "De todas as famílias da terra só a vós vos tenho conhecido; ..."[Amós 3:2]. "Não fez assim a nenhuma das outras nações; ..."[Salmo 147:20]. "Porque tu és povo santo ao Senhor teu Deus; o Senhor teu Deus te escolheu, a fim de lhe seres o seu próprio povo, acima de todos os povos que há sobre a terra."[Deuteronômio 7:6]. Porém, é igualmente feito certo que Deus não encontrou nenhum mérito ou dignidade nos próprios Judeus, que O fizessem escolhe-los em detrimento de outros povos. "[7] - O Senhor não tomou prazer em vós nem vos escolheu porque fôsseis mais numerosos do que todos os outros povos, pois éreis menos em número do que qualquer povo; [8] - mas, porque o Senhor vos amou, e porque quis guardar o juramento que fizera a vossos pais, foi que vos tirou com mão forte e vos resgatou da casa da servidão, da mão de Faraó, rei do Egito."[Deuteronômio 7:7,8]. E de novo, "Entretanto o Senhor se afeiçoou a teus pais para os amar; e escolheu a sua descendência depois deles, isto é, a vós, dentre todos os povos, como hoje se vê."[Deuteronômio 10:15]. Nesta passagem é cuidadosamente explicado, que Israel foi honrado com a escolha divina, em contraste com o tratamento dispensado a todos os demais povos da terra, que a escolha proveio só e unicamente do amor imerecido de Deus; e que não havia base nenhuma em Israel para tanto.
Quando Paulo foi proibido pelo Espírito Santo de pregar o Evangelho na província da Ásia, e lhe foi dada a visão de um homem na Europa clamando através das águas, "Venha até a Macedônia e ajude-nos", uma seção do mundo foi soberanamente excluída dos privilégios do Evangelho, enquanto que a outra seção os mesmos privilégios foram soberanamente dados. Tivesse a chamada divinamente direcionada sido feita mais para a Índia, a Europa e a América poderiam ser hoje menos civilizadas que os nativos do Tibete. Foi a escolha soberana de Deus que trouxe o Evangelho aos povos da Europa e mais tarde da América, enquanto que os povos do leste, e norte, e sul foram deixados em trevas. Nós não podemos assinalar razão alguma, por exemplo, por que deveriam ter sido escolhidos os povos da semente de Abraão, e não a semente dos Egípcios ou dos Assírios; ou por que a Grã Bretanha e a América, que à época do aparecimento de Cristo na Terra encontravam-se num estado de tão completa ignorância, deveriam atualmente possuir tão abundantemente para si mesmas, e disseminarem tão grandemente para outros, tão importantes privilégios espirituais. As diversificações relacionadas aos privilégios religiosos em diferentes nações não podem ser atribuídas a nada mais que o prazer de Deus.
Uma terceira forma de eleição ensinada na Bíblia é a de indivíduos no sentido externo da graça, tais como a audição e a leitura do Evangelho, associação com o povo de Deus, e compartilhar os benefícios da civilização que floresceu onde esteve o Evangelho. Ninguém jamais teve a chance de dizer em que época em particular na história do mundo, ou em que país, alguém teria nascido, se seria ou não um membro da raça branca, ou alguma outra. Uma criança nasce com saúde, abundância, e honra num lugar favorecido, num lar Cristão, e cresce com todas as bênçãos que acompanham a plenitude do Evangelho. Uma outra criança nasce na pobreza e na desonra de pais separados e cheios de pecado, e destituída das influências Cristãs. Todas estas coisas são soberanamente decididas por elas (as crianças). Certamente nenhum insistiria que a criança favorecida tenha qualquer mérito que pudesse ser motivo para tal diferença. Além do mais, não foi de Deus próprio a escolha da criação de seres humanos, à Sua própria imagem, quando Ele poderia haver criado-nos gado, ou cavalos, ou cachorros? Ou quem permitiria aos idiotas blasfemar contra Deus por sua condição de vida, como se a distinção fosse injusta? Todas estas coisas são devidas à providência de Deus, que prevalece. "Os Arminianos têm batalhado para reconciliar tudo isto, na verdade, com seus pontos de vista errôneos e defeituosos quanto a soberania Divina, e com suas doutrinas não Bíblicas da graça universal e da redenção universal; mas eles usualmente não se satisfazem com suas próprias tentativas de explicar, e têm comumente no mínimo admitido, que houve mistérios neste assunto, os quais não poderiam ser explicados, e os quais devem ser resolvidos na soberania de Deus e na inescrutabilidade dos Seus conselhos." 5
Talvez nós possamos mencionar um quarto tipo de eleição, a de indivíduos com certas vocações, -- os dons de talentos especiais que fazem com que uma pessoa venha a tornar-se um estadista, que outra venha a ser um doutor, ou advogado, ou fazendeiro, ou músico, ou artesão; dons de beleza pessoal, inteligência, disposição, etc. Estes quatro tipos de eleição são, em princípio, o mesmo. Os Arminianos não têm dificuldade em admitir o segundo, o terceiro e o quarto tipo de eleição, enquanto que negam o primeiro. Em cada instância Deus dá a alguns o que ele retém de outros. Tanto nossa experiência na vida diária como condições amiúde no mundo nos mostram que as bênçãos dispensadas são soberanas e incondicionais, sem qualquer relação com o mérito ou a ação por parte daqueles que são escolhidos. Se somos altamente favorecidos, podemos somente ser gratos por Suas bênçãos; se não altamente favorecidos, não temos razão nenhuma para reclamar. Por que precisamente este ou aquele é colocado em circunstâncias que levam à fé salvadora, enquanto que outros não são também colocados, é de fato um mistério. Não podemos explicar as obras da Providência; mas sabemos que o Juiz de toda a terra fará o certo, e que quando nos ativermos ao perfeito conhecimento, veremos que ele tem razões suficientes para todos os Seus atos.
Ademais, pode ser dito que em geral as condições exteriores que cercam o indivíduo determinam o seu destino, -- pelo menos neste ponto, que aqueles de quem o Evangelho é suprimido não têm chance alguma de salvação. Cunningham escreveu isto muito bem no seguinte parágrafo: -- "Há uma conexão invariável estabelecida no governo de Deus sobre o mundo, entre o prazer de privilégios exteriores, ou os meios da graça, por um lado; e fé e salvação por outro, nesse sentido e neste ponto, que a negação do primeiro implica na negação do segundo. O significado de toda a Bíblia nos assegura que onde Deus, em Sua soberania, deixa de proporcionar aos homens o prazer dos meios da graça, -- uma oportunidade de familiarizarem-se com o único meio de salvação, -- Ele ao mesmo tempo, e através dos mesmos métodos, em ordenação, retém deles a oportunidade e o poder de crerem e de serem salvos." 6
Os Calvinistas mantêm que Deus lida não somente com a massa da raça humana, mas também com os indivíduos que são realmente salvos, que Ele elegeu pessoas em particular para a vida eterna e para todos os meios necessários para que aquela vida eterna seja alcançada. Eles admitem que algumas das passagens nas quais a eleição é mencionada ensinam somente uma eleição de nações, ou uma eleição para os privilégios externos, mas mantêm que muitas outras passagens ensinam exclusiva e somente uma eleição de indivíduos para a vida eterna.
Há alguns, é claro, que negam ter havido algo como eleição. Segundo eles, a começar pelo próprio vocábulo, como se fosse um espectro que de repente aparecesse das trevas, sem nunca antes ter sido visto. Todavia, somente no Novo Testamento, as palavras 'eklektos', 'ekloga', e 'eklego'; eleito, eleição, escolhido, são encontrados quarenta e sete ou quarenta e oito vezes (referência para a lista completa é a "Young's Analytical Concordance). Outros aceitam o vocábulo mas tentam minimizar a importância do assunto com explicações vagas. Eles professam crer em uma "eleição condicional", baseada, como supõem, numa fé prevista e na obediência evangélica dos seus objetos. Isto, é claro, destrói a eleição em qualquer senso inteligível do termo, e a reduz a um mero reconhecimento ou profecia que em algum tempo futuro algumas pessoas serão possuídas por aquelas qualidades. Se baseado na fé e obediência evangélica, então, como tem sido cinicamente fraseado, Deus é cuidadoso ao escolher somente aqueles a quem Ele prevê que se elegerão a si próprios. No sistema teológico Arminiano, a eleição é reduzida a um mero vocábulo ou nome, do qual o uso somente tende a envolver o sujeito numa maior obscuridade e confusão. Um mero reconhecimento que aquelas qualidades estarão presentes em algum tempo futuro é, claro, algo falsamente chamado de "eleição", ou simplesmente nenhuma eleição qualquer que seja. E alguns Arminianos, consistentemente levando a cabo as suas próprias doutrinas que o ser humano pode ou não aceitar, e se ele efetivamente aceitar ele pode cair novamente, identificam o tempo deste decreto da eleição com a morte do crente, como se somente então a sua salvação viesse a ser certa.
A Eleição aplica-se não somente aos homens mas também e igualmente aos anjos, desde que eles também fazem parte da criação de Deus e estão sob o Seu governo. Alguns destes são santos e felizes, outros são cheios de pecado e miseráveis. As mesmas razões que levam-nos a crer numa predestinação de homens também nos fazem crer numa predestinação de anjos. As Escrituras confirmam este ponto de vista através de referências a "anjos eleitos"[I Timóteo 5:21], e "anjos santos" [Marcos 8:38], os quais contrastam com "anjos maus" ou "demônios". Lemos que Deus "... não poupou a anjos quando pecaram, mas lançou-os no inferno, e os entregou aos abismos da escuridão, reservando-os para o juízo;"[II Pedro 2:4]; lemos também acerca do "... fogo eterno, preparado para o Diabo e seus anjos;"[Mateus 25:41]; e de "... anjos que não guardaram o seu principado, mas deixaram a sua própria habitação, ele os tem reservado em prisões eternas na escuridão para o juízo do grande dia"[Judas 6]; e da "... guerra no céu: Miguel e os seus anjos batalhavam contra o dragão. E o dragão e os seus anjos batalhavam,"[Apocalipse 12:7]. Um estudo dessas passagens nos mostra que, conforme Dabney diz, "há dois tipos de espíritos, nesta ordem; santos e pecadores - os anjos, servos de Cristo e os servos de Satã; que foram criados num estado de santidade e de felicidade, e habitavam na região chamada Céu (a bondade e a santidade de Deus são prova suficiente de que Ele não os criaria de outra forma); que os anjos maus volutariamente perderam seu estado [de santidade e felicidade] ao pecarem, e foram excluídos para sempre do Céu e da santidade; que aqueles que mantiveram seu estado [de santidade e felicidade] foram doravante eleitos por Deus, e que o seu estado de santidade e beatitude é agora assegurado para sempre." 7
Paulo não faz nenhuma tentativa de explicar como Deus pode ser justo ao mostrar misericórdia e passa-la a quem Ele quiser. Em resposta à pergunta do opositor, "Por que se queixa ele ainda?" (com aqueles a quem Ele não estendeu a misericórdia salvadora), ele (Paulo) resolve a questão toda simplesmente evocando a soberania de Deus, ao replicar, "Mas, ó homem, quem és tu, que a Deus replicas? Porventura a coisa formada dirá ao que a formou: Por que me fizeste assim? 21 - Ou não tem o oleiro poder sobre o barro, para da mesma massa fazer um vaso para uso honroso e outro para uso desonroso?"[vide Romanos 9:19-21] (e note-se que Paulo aqui diz os vasos não são feitos de diferentes espécies ou tipos de barro, mas que é "da mesma massa", que Deus, o oleiro, faz um vaso para honra e outro para a desonra.) Paulo não tira Deus do Seu trono e O coloca perante a nossa razão humana para ser questionado e examinado. Estes Seus conselhos secretos, os quais mesmo aos anjos, que adoram com tremor e desejo de conhecer, não são explicados; exceto que são ordenados a ser conforme o Seu próprio prazer. E depois que Paulo assim afirma, ele como se colocando sua mão à frente, nos proíbe de ir adiante. Fosse verdadeira a hipótese assumida pelos Arminianos, nominalmente, que a todos os homens é dada suficiente graça e que cada um é recompensado ou punido, castigado conforme o seu próprio uso ou abuso de tal graça, não teria havido nenhuma dificuldade a que fazer conta.
MAIS PROVAS NAS ESCRITURAS
-- II Tessalonicenses 2:13 : "... porque Deus vos escolheu desde o princípio para a santificação do espírito e a fé na verdade,"
-- Mateus 24:24 : "porque hão de surgir falsos cristos e falsos profetas, e farão grandes sinais e prodígios; de modo que, se possível fora, enganariam até os escolhidos."
-- Mateus 24:31 : "E ele enviará os seus anjos com grande clangor de trombeta, os quais lhe ajuntarão os escolhidos desde os quatro ventos, de uma à outra extremidade dos céus."
-- Marcos 13:20 : "Se o Senhor não abreviasse aqueles dias, ninguém se salvaria mas ele, por causa dos eleitos que escolheu, abreviou aqueles dias." (quando da destruição de Jerusalém).
-- I Tessalonicenses 1:4 : "conhecendo, irmãos, amados de Deus, a vossa eleição;"
-- Romanos 11:7 : "... mas os eleitos alcançaram; e os outros foram endurecidos,"
-- I Timóteo 5:21 : "Conjuro-te diante de Deus, e de Cristo Jesus, e dos anjos eleitos ..."
-- Romanos 8:33 : "Quem intentará acusação contra os escolhidos de Deus? É Deus quem os justifica;"
-- Romanos 11:5 : "Assim, pois, também no tempo presente ficou um remanescente segundo a eleição da graça."
-- II Timóteo 2:10 : "... tudo suporto por amor dos eleitos."
-- Tito 1:1 : "Paulo, servo de Deus, e apóstolo de Jesus Cristo, segundo a fé dos eleitos de Deus..."
-- I Pedro 1:1 : "Pedro, apóstolo de Jesus Cristo, aos peregrinos ..." (algumas traduções como "eleitos"
-- I Pedro 5:13 : "A vossa co-eleita em Babilônia vos saúda, como também meu filho Marcos."
-- I Pedro 2:9 : "Mas vós sois a geração eleita, o sacerdócio real, a nação santa, o povo adquirido, para que anuncieis as grandezas daquele que vos chamou das trevas para a sua maravilhosa luz;"
-- I Tessalonicenses 5:9 : "porque Deus não nos destinou para a ira, mas para alcançarmos a salvação por nosso Senhor Jesus Cristo,
-- Atos 13:48 : "Os gentios, ouvindo isto, alegravam-se e glorificavam a palavra do Senhor; e creram todos quantos haviam sido destinados para a vida eterna."
-- João 17:9 : "Eu {Jesus Cristo} rogo por eles; não rogo pelo mundo, mas por aqueles que me tens dado, porque são teus;"
-- João 6:37 : "Todo o que o Pai me dá virá a mim ..."
-- João 6:65 : "... ninguém pode vir a mim, se pelo Pai lhe não for concedido."
-- João 13:18 : "Não falo de todos vós; eu conheço aqueles que escolhi ..."
-- João 15:16 : "Vós não me escolhestes a mim mas eu vos escolhi a vós ..."
-- Salmo 105:6 : "vós, descendência de Abraão, seu servo, vós, filhos de Jacó, seus escolhidos."
-- Romanos 9:23 : "... vasos de misericórdia, que de antemão preparou para a glória,"
(Veja também referências mencionadas no capítulo: Efésios 1:4, 5, 11; Romanos 9:11-13, 8:29, 30 e etc).
-- Mateus 24:24 : "porque hão de surgir falsos cristos e falsos profetas, e farão grandes sinais e prodígios; de modo que, se possível fora, enganariam até os escolhidos."
-- Mateus 24:31 : "E ele enviará os seus anjos com grande clangor de trombeta, os quais lhe ajuntarão os escolhidos desde os quatro ventos, de uma à outra extremidade dos céus."
-- Marcos 13:20 : "Se o Senhor não abreviasse aqueles dias, ninguém se salvaria mas ele, por causa dos eleitos que escolheu, abreviou aqueles dias." (quando da destruição de Jerusalém).
-- I Tessalonicenses 1:4 : "conhecendo, irmãos, amados de Deus, a vossa eleição;"
-- Romanos 11:7 : "... mas os eleitos alcançaram; e os outros foram endurecidos,"
-- I Timóteo 5:21 : "Conjuro-te diante de Deus, e de Cristo Jesus, e dos anjos eleitos ..."
-- Romanos 8:33 : "Quem intentará acusação contra os escolhidos de Deus? É Deus quem os justifica;"
-- Romanos 11:5 : "Assim, pois, também no tempo presente ficou um remanescente segundo a eleição da graça."
-- II Timóteo 2:10 : "... tudo suporto por amor dos eleitos."
-- Tito 1:1 : "Paulo, servo de Deus, e apóstolo de Jesus Cristo, segundo a fé dos eleitos de Deus..."
-- I Pedro 1:1 : "Pedro, apóstolo de Jesus Cristo, aos peregrinos ..." (algumas traduções como "eleitos"
-- I Pedro 5:13 : "A vossa co-eleita em Babilônia vos saúda, como também meu filho Marcos."
-- I Pedro 2:9 : "Mas vós sois a geração eleita, o sacerdócio real, a nação santa, o povo adquirido, para que anuncieis as grandezas daquele que vos chamou das trevas para a sua maravilhosa luz;"
-- I Tessalonicenses 5:9 : "porque Deus não nos destinou para a ira, mas para alcançarmos a salvação por nosso Senhor Jesus Cristo,
-- Atos 13:48 : "Os gentios, ouvindo isto, alegravam-se e glorificavam a palavra do Senhor; e creram todos quantos haviam sido destinados para a vida eterna."
-- João 17:9 : "Eu {Jesus Cristo} rogo por eles; não rogo pelo mundo, mas por aqueles que me tens dado, porque são teus;"
-- João 6:37 : "Todo o que o Pai me dá virá a mim ..."
-- João 6:65 : "... ninguém pode vir a mim, se pelo Pai lhe não for concedido."
-- João 13:18 : "Não falo de todos vós; eu conheço aqueles que escolhi ..."
-- João 15:16 : "Vós não me escolhestes a mim mas eu vos escolhi a vós ..."
-- Salmo 105:6 : "vós, descendência de Abraão, seu servo, vós, filhos de Jacó, seus escolhidos."
-- Romanos 9:23 : "... vasos de misericórdia, que de antemão preparou para a glória,"
(Veja também referências mencionadas no capítulo: Efésios 1:4, 5, 11; Romanos 9:11-13, 8:29, 30 e etc).
3. PROVAS DA RAZÃO
Se a doutrina da Depravação Total (Incapacidade Total) ou Pecado Original for admitida, a doutrina da Eleição Incondicional segue a mais inescapável lógica. Se, como as Escrituras e a experiência nos dizem, todos os homens estão por natureza num estado de culpa e depravação do qual eles são totalmente incapazes de livrarem-se a si mesmos e não têm nenhum direito, qualquer que seja, para que Deus os resgate, segue-se então que se qualquer um for salvo Deus deve então escolher aqueles que deverão ser objeto da Sua graça. O Seu amor para com os homens caídos expressa-se na escolha de uma multidão inumerável deles para a salvação, e na provisão de um redentor, quem, agindo como seu cabeça e representante, assumiu a sua culpa, sofreu o seu castigo, e ganhou para eles a salvação. É sempre ao amor de Deus que a Bíblia atribui o decreto eletivo, e ela nunca se cansa de elevar nossos olhos do decreto em si, para o motivo e razão que encontra-se por trás dele. A doutrina de que os homens são salvos somente através do imerecido amor e da imerecida graça de Deus encontra sua honesta e completa expressão somente nas doutrinas do Calvinismo.
Através da eleição de indivíduos o caráter verdadeiramente gracioso da salvação é mostrado de forma mais clara. Aqueles que declaram que a salvação é inteiramente obra da graça de Deus, e todavia negam a doutrina da eleição, adotam uma posição inconsistente. Os escritores inspirados utilizam-se de todos meios para guiar-nos ao fato de que a eleição dos homens por Deus é uma eleição absolutamente soberana, alicerçada unicamente no Seu amor que é imerecido pelo homem, e destinada a mostrar aos homens e aos anjos a Sua graça e misericórdia salvadoras.
Como Juiz e Soberano, Deus tem a liberdade de lidar com um mundo de pecadores conforme o Seu beneplácito. Ele tem todo o direito perdoar alguns e condenar outros; tem todo o direito de dar a Sua graça salvadora a um e não dá-la a outro. Desde que todos pecaram estão destituídos da Sua glória, Ele é livre para ter misericórdia de quem Ele quiser ter misericórdia. Não é pela vontade do homem, nem pelas obras do homem, mas por Deus, que mostrou misericórdia, e o motivo pelo qual um é salvo, e a razão pela qual um é salvo enquanto que outro não é, podem ser encontrados somente no beneplácito dEle, que ordenou todas as coisas após o conselho da Sua própria vontade. É por esta razão que antes que Deus criasse o mundo Ele escolheu todos aqueles a quem Ele daria gratuitamente a herança das bênçãos eternas, e os escritores Bíblicos tomam cuidados especiais para dar a cada crente na enorme multidão dos salvos a segurança de que desde toda a eternidade ele mesmo tem sido objeto peculiar da escolha divina, e que ele somente agora está atingindo o alto destino preparado para ele desde a fundação do mundo.
Esta doutrina da eleição eterna e incondicional tem algumas sido chamada algumas vezes de "o coração" da Fé Reformada. Ela enfatiza a soberania e a graça de Deus na salvação, enquanto que o ponto de vista Arminiano enfatiza a obra da fé e da obediência do homem, que decide aceitar a graça oferecida. No sistema teológico Calvinista, é somente Deus quem escolhe aqueles que serão os herdeiros do céu, aquels com quem Ele compartilhará as Suas riquezas na glória; enquanto que no sistema Arminiano é, em última análise, o homem quem determina tanto, -- um princípio no qual, de alguma forma falta humildade, para dizer o mínimo.
Pode ser questionado, "Por que Deus salva a alguns e a outros não?" Mas a resposta pertence aos Seus conselhos secretos, somente. Precisamente por que este homem recebe a salvação, e aquele homem não a recebe, quando nenhum dos dois merecia recebê-la, nós não sabemos. Que Deus ficou satisfeito em estabelecer sobre nós a Sua graça eletiva, deve ser-nos para sempre um tema de adorável maravilha. Certamente nada havia em nós, seja qualidade ou feito (obra), que pudesse atrair Sua atenção favoravelmente ou faze-LO parcial a nós; pois estávamos mortos nos nossos delitos e pecados e filhos da ira, como também os demais (vide Efésios 2:1-3). Podemos somente admirar, e maravilharmo-nos, e exclamar em coro com Paulo, "Ó profundidade das riquezas, tanto da sabedoria, como da ciência de Deus! Quão insondáveis são os seus juízos, e quão inescrutáveis os seus caminhos!"[Romanos 11:33]. A maravilha das maravilhas não é que Deus, nos Seus infinitos amor e justiça, não tenha elegido para a salvação a todos desta raça culpada, mas que Ele tenha elegido a alguns. Quando consideramos, por um lado, quão abominável é o pecado, junto com o merecimento de punição; e por outro lado, o que a santidade é, junto com a perfeita aversão de Deus pelo pecado; a maravilha é como Deus poderia ter o consentimento da Sua natureza santa para salvar um único pecador. Mais ainda, o motivo pelo qual Deus não escolheu a todos para a vida eterna não foi porque Ele não desejasse salvar a todos, mas que por razões as quais nós não conseguimos explicar totalmente, uma escolha universal teria sido inconsistente com a Sua perfeita retidão.
Nem ninguém pode fazer objeção que este ponto de vista represente Deus agindo arbitrariamente e sem razão. Postular tal seria afirmar mais do que qualquer homem sabe. As Suas razões, os Seus motivos para salvar uns em particular enquanto deixando outros de lado não nos são revelados. "... e segundo a sua vontade ele opera no exército do céu e entre os moradores da terra;"[Daniel 4:35]. Alguns são preordenados como filhos, "... segundo o beneplácito de sua vontade"[Efésios 1:5]. Quando um regimento é dizimado por insubordinação, o fato de cada décimo homem ser escolhido para a morte tem suas razões, mas as razões não estão nos homens.
Indubitavelmente Deus tem os melhores motivos para escolher um e rejeitar outro, embora Ele não nos tenha dito quais são.
"May not the Sov'reign Lord on high Dispense His favors as He will; Choose some to life, while others die, And yet be just and gracious still? | "Não pode o Soberano Senhor nas alturas Dispensar Seus favores como quiser; Escolher alguns para a vida, enquanto outros morrem, E todavia ainda ser justo e gracioso? |
Shall man reply against the Lord, And call his Maker's ways unjust? The thunder whose dread word Can crush a thousand worlds to dust. | Pode o homem replicar contra Deus, E chamar os caminhos de Seu Criador de injustos? O trovão cujo bramido Pode transformar mil mundos em pó. |
But, O my soul, if truths so bright
Should dazzle and confound thy sight, 'Yet still His written will obey, And wait the great decisive day!"8 | Mas minha alma, se a verdade tão brilhante Ofusca e confunde tua visão, Ainda assim, a Sua palavra obedecerás, e o grande e decisivo dia aguardarás!" 8 |
4. FÉ E BOAS OBRAS SÃO OS FRUTOS E AS PROVAS, NÃO A BASE, DA ELEIÇÃO
Nem a predestinação em geral, ou a eleição daqueles que serão salvos, está baseada na previsão de Deus de qualquer ação da criatura. Este princípio da Fé Reformada foi bem apresentado na Confissão de Westminster, onde lemos: "Ainda que Deus sabe tudo quanto pode ou há de acontecer em todas as circunstâncias imagináveis, ele não decreta coisa alguma por havê-la previsto como futura, ou como coisa que havia de acontecer em tais e tais condições."[Capítulo III - 'Dos Eternos Decretos de Deus' - parágrafo II (Referências At. 15:18; Prov.16:33; I Sam. 23:11-12; Mat. 11:21-23; Rom. 9:11-18.)] e ainda, "Estas boas obras, feitas em obediência aos mandamentos de Deus, são o fruto e as evidências de uma fé viva e verdadeira; por elas os crentes manifestam a sua gratidão, robustecem a sua confiança, edificam os seus irmãos, adornam a profissão do Evangelho, tapam a boca aos adversários e glorificam a Deus, cuja feitura são, criados em Jesus Cristo para isso mesmo, a fim de que, tendo o seu fruto em santificação, tenham no fim a vida eterna."[Capítulo XVI - 'Das Boas Obras' - parágrafo II (Referências Tiago 2:18, 22; Sal. 116-12-13; I Ped. 2:9; I João 2:3,5; II Ped. 1:5-10; II Cor. 9:2; Mat. 5:16; I Tim. 4:12; Tito 2:5, 912; I Tim. 6:1; I Pedr. 2:12, 15; Fil. 1,11; João 15:8; Ef. 2:10; Rom. 6:22.)]; "O poder de fazer boas obras não é de modo algum dos próprios fiéis, mas provém inteiramente do Espírito de Cristo. A fim de que sejam para isso habilitados, é necessário, além da graça que já receberam, uma influência positiva do mesmo Espírito Santo para obrar neles o querer e o perfazer segundo o seu beneplácito; contudo, não devem por isso tornar-se negligentes, como se não fossem obrigados a cumprir qualquer dever senão quando movidos especialmente pelo Espírito, mas devem esforçar-se por estimular a graça de Deus que há neles."[Capítulo XVI - 'Das Boas Obras' - parágrafo III (Referências João I5:4-6; Luc. 11:13; Fil. 2:13, e 4:13; II Cor. 3:5; Ef. 3:16; Fil. 2:12; Heb. 6:11-12; Isa. 64:7.)]
Fé prevista e boas obras não podem, então, nunca serem vistas como sendo a cauda da eleição Divina. Elas são mais os frutos e a prova da mesma. Elas mostram que a pessoa foi escolhida e regenerada. Fazer delas a base da eleição nos envolve novamente num pacto de obras, e coloca os propósitos de Deus no sentido temporal, ao invés de eterno. Não seria pré-destinação, mas sim pós-destinação, uma inversão do que a Bíblia apresenta, a qual faz a fé e a santidade serem o resultado, e não a causa da eleição (conforme Efésios 1:4; João 15:16; Tito 3:5). A declaração de que nós fomos escolhidos em Cristo "antes da fundação do mundo" exclui qualquer consideração de mérito nosso; pois no idioma Hebraico, algo feito "antes da fundação do mundo" quer dizer "algo feito na eternidade". E quando à declaração de Paulo que "... não por causa das obras, mas por aquele que chama", o Arminiano responde que trata-se de obras futuras, ele simplesmente contradiz-se com as palavras do próprio apóstolo.
Fé prevista e boas obras não podem, então, nunca serem vistas como sendo a cauda da eleição Divina. Elas são mais os frutos e a prova da mesma. Elas mostram que a pessoa foi escolhida e regenerada. Fazer delas a base da eleição nos envolve novamente num pacto de obras, e coloca os propósitos de Deus no sentido temporal, ao invés de eterno. Não seria pré-destinação, mas sim pós-destinação, uma inversão do que a Bíblia apresenta, a qual faz a fé e a santidade serem o resultado, e não a causa da eleição (conforme Efésios 1:4; João 15:16; Tito 3:5). A declaração de que nós fomos escolhidos em Cristo "antes da fundação do mundo" exclui qualquer consideração de mérito nosso; pois no idioma Hebraico, algo feito "antes da fundação do mundo" quer dizer "algo feito na eternidade". E quando à declaração de Paulo que "... não por causa das obras, mas por aquele que chama", o Arminiano responde que trata-se de obras futuras, ele simplesmente contradiz-se com as palavras do próprio apóstolo.
Que o decreto da eleição fosse de qualquer forma baseado na pré ciência é refutado por Paulo quando ele diz que o propósito era "...para sermos santos..."[Efésios 1:4]. Ele insiste que a salvação é "não vem das obras, para que ninguém se glorie." Em II Timóteo 1:9 lemos que é Deus "que nos salvou, e chamou com uma santa vocação, não segundo as nossas obras, mas segundo o seu próprio propósito e a graça que nos foi dada em Cristo Jesus antes dos tempos eternos,". Os Calvinistas portanto sustentam que a eleição precede, e não é baseada em nenhuma boa obra que a pessoa faça. A própria essência da doutrina é que na obra da redenção Deus não é movido por nenhuma consideração de mérito ou de bondade da parte dos objetos de sua misericórdia salvadora. "Que não é porque o homem corra, ou porque ele intente, mas é de Deus, que demonstra misericórdia, que o pecador obtém a salvação, é a testemunha confiável de toda a Bíblia, demandado tão reiteradamente e em conexões tão variadas que excluem a possibilidade de que possa esconder-se por trás do ato da eleição qualquer consideração de caracteres, atos ou circunstâncias previstos -- todos os quais aparecem como resultado da eleição." 10
Preordenação em geral não pode apoiar-se na pré ciência; pois somente aquilo que é certo pode ser pré sabido, e só o que é predeterminado pode ser certo. O Todo-Poderoso e Onipotente Rei do universo não governa a Si próprio embasado numa pré ciência das coisas que podem graciosamente virem a acontecer. Nas Escrituras Sagradas, a pré ciência divina é sempre considerada como dependente do propósito divino, e Deus sabe somente porque Ele predeterminou. Seu conhecimento é somente a transcrição da Sua vontade quanto ao que existirá no futuro; e o rumo que o mundo toma sob o Seu providencial controle é somente a execução do Seu plano todo abrangente. Sua pré ciência do que ainda será, seja relacionado ao mundo como um todo ou relacionado aos detalhes da vida de cada indivíduo, baseia-se no Seu plano pré organizado (vide Jeremias ':5; Salmo 139:14-16; Jó 23:13, 14: 28:26, 27; Amós 3:7).
Voltemos agora a nossa atenção para uma passagem na Bíblia que é comumente mostrada como ensinamento de que geralmente a eleição ou mesmo a pre-ordenação são baseadas na pré ciência. Em Romanos 8:29, 30, lemos: "[29] Porque os que dantes conheceu, também os predestinou para serem conformes à imagem de seu Filho, a fim de que ele seja o primogênito entre muitos irmãos; [30] e aos que predestinou, a estes também chamou; e aos que chamou, a estes também justificou; e aos que justificou, a estes também glorificou." A palavra "conhecer" é usada algumas vezes num sentido diferente do que simplesmente ter uma percepção intelectual de algo mencionado. Ocasionalmente pode significar que as pessoas "conhecidas" são os objetos especiais e peculiares do favor de Deus, como foi escrito a respeito dos Judeus: "De todas as famílias da terra só a vós vos tenho conhecido ..."[Amós 3:2]. Paulo escreveu, "Mas, se alguém ama a Deus, esse é conhecido dele."[I Coríntios 8:3]. Jesus, está escrito, "conhece" o Seu rebanho [João 10:14, 27]; e aos perversos Ele dirá, "... Nunca vos conheci..."[Mateus 7:23]. No primeiro capítulo do livro dos Salmos, lemos: "...o Senhor conhece o caminho dos justos, mas o caminho dos ímpios conduz à ruína."[Salmo 1:6]
Mais que uma percepção ou um reconhecimento mental estão envolvidos nestas passagens, pois Deus os tem tanto do perverso como do justo. É um tipo de conhecimento, de ciência, que tem como objeto e está conectado só com os eleitos, ou em outras palavras é o mesmo que amor, favor e aprovação. Aqueles em Romanos 8:29 são pré conhecidos no sentido de que eles foram pré designados a serem os objetos especiais do Seu favor. Tal é mostrado mais claramente em Romanos 11:2.5, onde lemos: "Deus não rejeitou ao seu povo que antes conheceu." (uma comparação é feita com a época de Elias, quando Deus "separou para Si" os sete mil que não dobraram seus joelhos a Baal) e no verso [5] ele complementa: "Assim, pois, também no tempo presente ficou um remanescente segundo a eleição da graça." Aqueles que 'antes foram conhecidos' como no versículo [2] e aqueles que são segundo a eleição da graça são o mesmo povo; assim é que eles foram pré conhecidos no sentido de haverem sido pré apontados, pré designados para serem objetos dos Seus graciosos propósitos. Note especialmente que em Romanos 8:29 não diz que eles foram pré conhecidos como perpetradores de boas obras, mas que eles foram pré conhecidos como indivíduos a quem Deus estenderia a graça da eleição. E seja notado também que se Paulo tivesse aqui usado o termo "pré conhecer" no sentido de que a eleição estava baseada meramente na pré ciência, sua afirmação seria contraditória com todas as demais passagens, que afirmam que a eleição é segundo o beneplácito de Deus.
O ponto de vista Arminiano tira a eleição das mãos de Deus e a coloca nas mãos do homem. Isto faz com que os propósitos do Deus Onipotente sejam condicionados às precárias vontades de homens apóstatas e transforma eventos temporais em motivos para os Seus atos eternos. Significa ainda mais que Ele criou um conjunto de seres soberanos de quem até certo ponto dependem a Sua vontade e os Seus atos. Deus é assim apresentado como um velho Pai, que procura fazer com que seus filhos façam o que é certo, mas que é usualmente derrotado pela vontade perversa deles; ou pior, Deus é apresentado como tendo evoluído um plano que, através dos tempos, tem sido tão geralmente derrotado que já mandou inumeravelmente mais pessoas para o inferno que para o céu. Uma doutrina que leve à tais absurdos como conclusão não somente é não Bíblica como também irracional e desonrosa para com Deus. Contrastando com tudo isto, o Calvinismo oferece um grande Deus que é infinito em Suas perfeições, que dispensa misericórdia e justiça como melhor Lhe convém, e quem realmente detém o governo sobre todos os assuntos na vida dos homens.
O ponto de vista Arminiano tira a eleição das mãos de Deus e a coloca nas mãos do homem. Isto faz com que os propósitos do Deus Onipotente sejam condicionados às precárias vontades de homens apóstatas e transforma eventos temporais em motivos para os Seus atos eternos. Significa ainda mais que Ele criou um conjunto de seres soberanos de quem até certo ponto dependem a Sua vontade e os Seus atos. Deus é assim apresentado como um velho Pai, que procura fazer com que seus filhos façam o que é certo, mas que é usualmente derrotado pela vontade perversa deles; ou pior, Deus é apresentado como tendo evoluído um plano que, através dos tempos, tem sido tão geralmente derrotado que já mandou inumeravelmente mais pessoas para o inferno que para o céu. Uma doutrina que leve à tais absurdos como conclusão não somente é não Bíblica como também irracional e desonrosa para com Deus. Contrastando com tudo isto, o Calvinismo oferece um grande Deus que é infinito em Suas perfeições, que dispensa misericórdia e justiça como melhor Lhe convém, e quem realmente detém o governo sobre todos os assuntos na vida dos homens.
A Bíblia e a experiência Cristã nos ensinam que a própria fé e o arrependimento através dos quais nós somos salvos, são eles próprios dádivas de Deus. "Porque pela graça sois salvos, por meio da fé, e isto não vem de vós, é dom de Deus;"[Efésios 2:8]. Os Cristãos em Acaia "... pela graça haviam crido."[Atos 18:27]. Um homem não está salvo por crer em Cristo, ele crê em Cristo porque está salvo. Mesmo o princípio da fé, a disposição para procurar salvação, é obra da graça dádiva de Deus. Paulo costumeiramente diz que somos salvos "através", "por meio" da fé (ou seja, como a causa instrumental), mas nenhuma vez ele diz que somos salvos "por conta" da fé (como sendo a causa meritória). E no mesmo sentido nós podemos dizer que os redimidos serão recompensados em proporção às suas boas obras, mas não em razão delas. E de acordo com isto, Agostinho diz que "Os eleitos de Deus são escolhidos por Ele para serem Seus filhos, de maneira que possam vir a crer, não porque Ele pré viu que eles creriam."
Quanto ao arrependimento, é igualmente declarado ser uma dádiva. "Ouvindo eles estas coisas, apaziguaram-se e glorificaram a Deus, dizendo: Assim, pois, Deus concedeu também aos gentios o arrependimento para a vida."[Atos 11:18]; "sim, Deus, com a sua destra, o elevou a Príncipe e Salvador, para dar a Israel o arreendimento e remissão de pecados;"[Atos 5:31]. Paulo criticou aqueles que não se deram conta de que era a benignidade de Deus que os levou ao arrependimento [veja Romanos 2:4]. Jeremias clamou "... restaura-me, para que eu seja restaurado, pois tu és o Senhor meu Deus ...... arrependi-me; e depois que fui instruído,"[Jeremias 31:18, 19]. O que, por exemplo, tinha João Batista a ver com o fato de estar "cheio do Espírito Santo já desde o ventre de sua mãe"[Lucas 1:15] ? Jesus disse aos Seus discípulos que para eles havia sido dado conhecer os mistérios do reino do céu, mas que a outros o mesmo não havia sido dado (veja Mateus 13:11). Basear a eleição em fé prevista é o mesmo que dizer que nós somos ordenados para a vida eterna porque nós cremos, enquanto que as Escrituras declaram o contrário: "...e creram todos quantos haviam sido destinados para a vida eterna."[Atos 13:48]
Nossa salvação é "não em virtude de obras de justiça que nós houvéssemos feito, mas segundo a Sua misericórdia, nos salvou mediante o lavar da regeneração e renovação pelo Espírito Santo,"[Tito 3:5]. Nós somos encorajados a efetuar a nossa própria salvação com temor e tremor, pois é Deus quem operou em nós tanto o querer como o efetuar da Sua boa vontade. E simplesmente porque Deus opera em nós, é que buscamos desenvolver e efetuar a nossa própria salvação (vide Filipenses 2:12,13). O Salmista nos diz que o povo do Senhor oferece-se voluntariamente no dia do Seu poder (vide Salmo 110:3). Assim é que a conversão é uma dádiva peculiar e soberana de Deus. O pecador não tem poder para voltar-se a Deus, mas é voltado ou renovado pela graça divina antes que ele possa fazer qualquer coisa espiritualmente boa. De acordo com esta premissa Paulo nos ensina que o amor, o gozo, a paz, a longanimidade, domínio próprio, etc., não são as bases meritórias da salvação, mas antes "os frutos do Espírito," (veja Gálatas 5:22, 23). O próprio Paulo foi escolhido de forma que viesse a conhecer e fazer a vontade de Deus, não porque houvesse sido previsto que ele o faria (veja Atos 22:14, 15). Agostinho nos diz que, "A graça de Deus não encontra homens para serem eleitos, mas faz com que sejam"; e novamente, "A natureza da bondade Divina não é somente para abrir àqueles que batem, mas também para faze-los bater e pedir." Lutero expressou a mesma verdade quando disse, "Somente Deus pelo seu Espírito opera em nós o mérito e a recompensa." João nos diz que, "Nós amamos, porque ele nos amou primeiro."[I João 4:19]. Estas passagens ensinam-nos sem margem para erros que a fé e as boas obras são os frutos da obra de Deus em nós. Não somos escolhidos porque somos bons, mas para que possamos vir a tornarmo-nos bons.
Mas enquanto boas obras não são o terreno da salvação, elas são absolutamente essenciais para tanto, como sendo os seus frutos e as suas evidências. Elas são produzidas pela fé tão naturalmente como as uvas são produzidas pela parreira. E todavia não nos façam justos perante Deus, elas são tão ligadas à fé que a verdadeira fé não pode ser encontrada sem elas. Nem podem as boas obras, no sentido estrito, serem encontradas em lugar algum sem a fé. Nossa salvação não provém "de obras", mas "para boas obras" (veja Efésios 2:9, 10); e o Cristão genuinamente salvo ver-se-á em seu elemento natural somente quando produzindo boas obras. Este é o mesmo princípio que Jesus estabeleceu quando Ele declarou que o caráter de uma árvore é mostrado por seus frutos, e que uma boa árvore não pode dar frutos maus. As boas obras são tão naturais para o Cristão quanto o é respirar; ele não respira para ter vida; ele respira porque ele tem vida, e por esta mesma razão ele não pode evitar respirar. Boas obras são a sua glória, por isso é que Jesus diz, "Assim resplandeça a vossa luz diante dos homens, para que vejam as vossas boas obras, e glorifiquem a vosso Pai, que está nos céus."[Mateus 5:16], a quem verdadeiramente todo o crédito é devido.
A visão Calvinista é a única lógica, se aceitarmos a declaração Bíblica de que a salvação é pela graça. Qualquer outra nos envolve num caos de pontos de vista sem saída, que são contraditórios às Escrituras. Há, é claro, mistérios conectados com esta visão Calvinista, e certamente não é a visão que o homem natural teria, tivesse ele sido chamado para sugerir um plano. Mas jogar fora a doutrina Bíblica da Predestinação, simplesmente porque ela não se adequa aos nossos preconceitos e noções pré concebidas, é agir tolamente. Faze-lo é colocar o Criador no banco dos réus no tribunal da razão humana, é negar a sabedoria e a retidão dos Seus atos só porque não podemos sondá-Los, e então declarar que a Sua revelação é falsa e enganosa.
"É uma atitude perigosa para os homens tomarem sobre si mesmos, ignorantemente, desvendar os profundos mistérios de Deus com sua razão carnal, onde o grande apóstolo posta-se clamando em assombro, 'Ó profundidade das riquezas, tanto da sabedoria, como da ciência de Deus! Quão insondáveis são os seus juízos, e quão inescrutáveis os seus caminhos!'[Romanos 11:33]. Tivesse Paulo sido da persuasão Arminiana, ele teria continuado, 'Aqueles que estão eleitos são os que foram pré vistos acreditar e perseverar' "11. E não haveria mistério algum, se a salvação fosse baseada naquelas palavras.
Então, temos um sistema teológico do qual todo discurso vanglorioso é excluído, e no qual salvação em todos as suas partes é vista como o produto de pura graça, que resulta em boas obras, sem contudo estar centrado nelas.
5. REJEIÇÃO
Proposição -- Comentários de Calvino, Lutero e Warfield -- Prova da Bíblia -- Baseada na Doutrina do Pecado Original -- Nenhuma Injustiça é Imputada aos Não-Eleitos -- Estado de Ateísmo -- Propósitos do Decreto da Rejeição -- Arminianos de Centro Atacam esta Doutrina -- Sem Nenhuma Obrigação de Explicar todas Estas Coisas.
Logicamente, é claro que a doutrina da Predestinação absoluta sustenta que alguns são preordenados à morte tão certamente quanto outros são preordenados à vida. Os termos "eleitos" e "eleição" correspondem aos termos "não eleitos" e "rejeição". Quando alguns são escolhidos outros não o são. Os altos privilégios e o destino glorioso daqueles escolhidos não são compartilhados com os outros que não o foram. Cremos que desde toda a eternidade Deus decidiu que parte da posteridade de Adão permaneceria no seu pecado, e que o fator decisivo na vida de cada um é deve ser encontrado somente na vontade de Deus. Como Mozley disse, a raça humana inteira, depois da queda, era uma "massa de perdição", e "pareceu bem a Deus em Sua soberana misericórdia resgatar alguns e deixar outros onde encontravam-se; elevar alguns para a glória, dando-lhes tal graça quanto os qualificou para recebe-la, abandonando o resto, de quem ele reteve aquela mesma graça, para o castigo eterno." 12
A maior dificuldade com a doutrina da Eleição, claro, emerge com relação aos não salvos; e as Escrituras não nos dão explicação detalhada para a condição e o estado deles. Uma vez que a missão de Jesus no mundo foi salvar o mundo ao invés de julgá-lo, este aspecto do assunto é chamado menos à atenção.
Em todos os credos Reformados que chegam a lidar com a doutrina da Rejeição, o tema é tratado como uma parte essencial da doutrina da Predestinação. A Confissão de Westminster, depois de apresentar a doutrina da eleição, acrescenta: "Segundo o inescrutável conselho da sua própria vontade, pela qual ele concede ou recusa misericórdia, como lhe apraz, para a glória do seu soberano poder sobre as suas criaturas, o resto dos homens, para louvor da sua gloriosa justiça, foi Deus servido não contemplar e ordená-los para a desonra e ira por causa dos seus pecados."[Capítulo III - Dos Eternos Decretos de Deus - parágrafo VII (referências Mat. 11:25-26; Rom. 9:17-22; II Tim. 2:20; Jud. 4; I Pedro 2:8)]." 13
Aqueles que adotam e sustentam a doutrina da Eleição mas negam a doutrina da Rejeição não podem alegar consistência. Afirmar a primeira e ao mesmo tempo negar a segunda faz do decreto da predestinação um decreto ilógico e sem qualquer simetria. O credo que apresenta a Eleição e no entanto nega a Rejeição se parecerá como uma ave ferida tentando levantar vôo com somente uma asa. No interesse de um "Calvinismo moderado" alguns tem-se inclinado a abandonar a doutrina da Rejeição, e este termo (em si mesmo um termo muito inocente) tem sido usado como cunha para ataques injuriosos contra o Calvinismo puro e simples. "Calvinismo Moderado" é sinônimo Calvinismo doente, e doença, se não curada, é o princípio do fim.
Comentários de Calvino, Lutero, e Warfield
Calvino não hesitou em basear a rejeição dos perdidos, assim como a eleição dos salvos, no propósito eterno de Deus. Temos já mencionado-o no sentido de que "nem todos homens são criados com um destino similar mas a vida eterna é preordenada para alguns, e a danação eterna para outros. Cada homem, portando, criado para um ou outro destes fins, dizemos, é predestinado seja para a vida ou para a morte." 14. Que a segunda alternativa levante problemas que não são fáceis de serem resolvidos, ele prontamente admite, mas advoga tal como a única explicação inteligente e Bíblica dos fatos.
Lutero também, tão certamente quanto Calvino, atribui a perdição eterna dos perversos, assim como a salvação eterna dos justos, ao plano de Deus. "Pode muito bem ofender a nossa natureza racional, que Deus, de Sua própria e imparcial vontade, deixasse alguns homens entregues a si próprios, endurecesse-os e os condenasse; mas Ele demonstra abundante e continuamente, que este é realmente o caso; quer dizer, que a única razão pela qual alguns são salvos e outros perecem, procede da Sua vontade a salvação de alguns e a perdição de outros, conforme o que escreveu Paulo, Ele 'Portanto, tem misericórdia de quem quer, e a quem quer endurece.'[Romanos 9:18] " E de novo, "Pode parecer absurdo à sabedoria humana que Deus devesse endurecer, cegar e entregar alguns homens a um senso corrupto; que Ele primeiramente os deixasse à mercê do mal, e depois os condenasse por aquele mesmo mal; mas o crente, o homem espiritual não vê absurdo em tudo isso; sabendo que Deus não seria um mínimo menos bom, mesmo que Ele destruísse todos os homens." Lutero segue, então, dizendo que isto não deve ser compreendido como se Deus encontra homens bons, sábios, obedientes e os transforma em homens maus, tolos e obtusos, mas que tais homens já são depravados e caídos e que aqueles homens que não são regenerados, ao invés de tornarem-se melhores sob os comandos e as influências divinos, sua reação é somente a de piorarem. Referindo-se aos capítulos IX, X e IX da Epístola de Paulo aos Romanos, Lutero diz que "Absolutamente todas as coisas acontecem a partir da e dependem do comando Divino; por onde foi préordenado quem deveria receber a palavra da vida e quem deveria não aceitá-la; quem deveria ser livrado dos seus pecados e quem deveria ser endurecido neles, quem seria justificado e quem seria condenado." 15
"Os escritores Bíblicos," diz o Dr. Warfield, "estão tão longe quanto possível de obscurecer a doutrina da eleição por causa de quaisquer idéias ou proposições aparentemente desagradáveis que advém dela. Ao contrário, eles expressamente separam tais idéias ou proposições as quais freqüentemente são assim designadas, e as fazem uma porção do seus estudos explícitos. Sua doutrina da eleição, eles nos dizem livremente, por exemplo, certamente envolve uma correspondente doutrina da preterição. O próprio termo adotado no Novo Testamento assim o expressa -- eklegomai, que como Meyer diz com justiça (Efésios 1:4), 'sempre tem, e deve ter por uma necessidade lógica, uma referência a outros a quem os eleitos, sem a 'ekloga', ainda pertenceriam' -- encorpando uma declaração do fato que na sua eleição outros são passados e deixados sem a dádiva da salvação; a apresentação inteira da doutrina é tal que ou ela implica ou ela abertamente declara, na sua própria emergência, a remoção dos eleitos pela pura graça de Deus, não só e meramente de um estado de condenação, mas também da companhia dos condenados -- uma companhia em quem a graça de Deus não tem nenhum efeito salvador, e que são portanto deixados sem esperança em seus pecados; e a positiva e justa condenação dos impenitentes por seus pecados é explícita e repetidamente ensinada em acentuado contraste com a salvação gratuita dos eleitos apesar dos seus pecados." 16
E novamente ele diz: "A dificuldade que é sentida por alguns quanto a seguir o argumento do apóstolo (vide Romanos 11 f), podemos suspeitar, tem raízes em parte num resumo do que lhes parece um desígnio arbitrário de homens para destinos diversos sem qualquer consideração do seu merecimento. Certamente Paulo afirma explicitamente tanto a soberania da rejeição quanto da eleição, -- se estas idéias gêmeas forem, de fato, separáveis mesmo que seja em pensamento; se ele representar a Deus como soberanamente amando a Jacó, ele igualmente O representará como soberanamente odiando a Esaú; se declarar que Ele tem misericórdia de quem Ele quer, ele também declarará, igualmente, que Ele endurece a quem Ele quer. Sem dúvida a dificuldade normalmente sentida é, em parte, conseqüência de uma realização insuficiente da concepção fundamental de Paulo quanto ao estado do homem, em muito como pecadores condenados perante um Deus irado. Ele apresenta Deus lidando com um mundo cheio de pecadores, e a partir daquele mesmo mundo, a construção de um Reino de Graça. Não fossem todos os homens pecadores, talvez ainda existisse uma eleição, tão soberana como agora, e em havendo uma eleição, ainda haveria uma rejeição também soberana; mas a rejeição não seria uma rejeição para castigo, para destruição, para morte eterna, mas para algum outro destino consoante com o estado daqueles não eleitos, onde eles devessem ser deixados. Não é, de fato, porque os homens são pecadores que eles são deixados 'não eleitos'; a eleição é livre, e em assim sendo a rejeição também deve ser igualmente livre; mas é somente porque os homens são pecadores que o que é deixado aos não eleitos é a destruição. E é nesse universalismo de ruína, ao invés de em um universalismo de salvação, que Paulo realmente tem as raízes da sua defesa da bondade e onipotência de Deus. Quando todos merecem a morte, é uma maravilha de pura graça que alguém receba a vida; e quem poderia negar o direito dAquele que mostra misericórdia tão miraculosa, de ter misericórdia de quem Ele quer, e endurecer a quem Ele quer?" 17
Prova das Escrituras
Esta é, admitidamente, uma doutrina desagradável. Ela não é ensinada com o propósito de ganhar o favor dos homens, mas o é somente o pleno ensino das Escrituras e a contrapartida lógica da doutrina da Eleição. Nós veremos que algumas passagem ensinam esta doutrina com uma clareza incontestável. Tais passagens deveriam ser suficientes para qualquer um que aceite a Bíblia como a palavra de Deus. "O Senhor fez tudo para um fim; sim, até o ímpio para o dia do mal"[Provérbios 16:4]. A respeito de Cristo, é dito quanto ao ímpio: "...Como uma pedra de tropeço e rocha de escândalo; porque tropeçam na palavra, sendo desobedientes; para o que também foram destinados"[I Pedro 2:8]. "Porque se introduziram furtivamente certos homens, que já desde há muito estavam destinados para este juízo, homens ímpios, que convertem em dissolução a graça de nosso Deus, e negam o nosso único Soberano e Senhor, Jesus Cristo."[Judas 4]. "Mas estes, como criaturas irracionais, por natureza feitas para serem presas e mortas, blasfemando do que não entendem, perecerão na sua corrupção"[II Pedro 2:12]. "Porque Deus lhes pôs nos corações o executarem o intento dele, chegarem a um acordo, e entregarem à besta o seu reino, até que se cumpram as palavras de Deus."[Apocalipse 17:17]. Com relação à besta da visão de João, é dito, "E adora-la-ão todos os que habitam sobre a terra, esses cujos nomes não estão escritos no livro do Cordeiro que foi morto desde a fundação do mundo."[Apocalipse 13:8]. E podemos ainda contrastar estas passagens com os discípulos a quem Jesus disse: "Contudo, não vos alegreis porque se vos submetem os espíritos; alegrai-vos antes por estarem os vossos nomes escritos nos céus."[Lucas 10:20], e com o que Paulo disse aos seus colaboradores: "E peço também a ti, meu verdadeiro companheiro, que as ajudes, porque trabalharam comigo no evangelho, e com Clemente, e com os outros meus cooperadores, cujos nomes estão no livro da vida"[Filipenses 4:3]
Paulo declara que os "vasos da ira" que pelo Senhor foram "preparados para a destruição," foram "suportou com muita paciência" de modo que Ele pudesse "mostrar a sua ira, e dar a conhecer o seu poder"; e estes vasos da ira contrastados com os "vasos de misericórdia, que de antemão preparou para a glória" de modo "que [Ele] também desse a conhecer as riquezas da sua glória", naqueles mesmos vasos {na Epístola aos Romanos, 9:22, 23}. Com relação aos ímpios, é dito que "Deus, por sua vez, os entregou a um sentimento depravado, para fazerem coisas que não convêm;"[Romanos 1:28]; e do perverso, "a tua dureza e teu coração impenitente, entesouras ira para ti no dia da ira e da revelação do justo juízo de Deus"[Romanos 2:5].
Com relação àqueles que perecem, Paulo diz que "...por isso Deus lhes envia a operação do erro, para que creiam na mentira;"[II Tessalonicenses 2:11]. Eles são chamados a sustentarem tais coisas (erro, mentira - n.t.) de um modo aparente, admirá-las e depois perecer nos seus pecados. Ouçam as palavras de Paulo na sinagoga em Antioquia em Psídia: "...porque realizo uma obra em vossos dias, obra em que de modo algum crereis, se alguém vo-la contar."[Atos 13:41]
O apóstolo João, depois de narrar que o povo ainda não cria, embora Jesus houvesse feito tantos sinais na sua frente, acrescenta, "[39] Por isso não podiam crer, porque, como disse ainda Isaías: [40] Cegou-lhes os olhos e endureceu-lhes o coração, para que não vejam com os olhos e entendam com o coração, e se convertam, e Eu os cure."[João 12:39, 40].
O mandamento de Cristo aos perversos no julgamento final, "...Apartai- vos de mim, malditos, para o fogo eterno, preparado para o Diabo e seus anjos;"[Mateus 25:41] é o decreto de rejeição mais forte possível; e é o mesmo em princípio, seja comandado no tempo ou na eternidade. O que é certo para Deus fazer no tempo, não é errado para que Ele inclua no Seu plano eternal.
Em uma ocasião, o próprio Jesus declarou: "...Eu vim a este mundo para juízo, a fim de que os que não vêem vejam, e os que vêem se tornem cegos."[João 9:39]. E em outra oportunidade, Ele disse, "...Graças te dou, ó Pai, Senhor do céu e da terra, porque ocultaste estas coisas aos sábios e entendidos, e as revelaste aos pequeninos."[Mateus 11:25]. É difícil para nós aceitar que o Redentor adorável e o único Salvador dos homens seja, para alguns, pedra de tropeço e rocha de ofensa; todavia é exatamente isto que a Bíblia O declara ser. Mesmo antes do Seu nascimento, foi dito que Ele estava designado (ou seja, apontado) para a queda, tanto quanto para o levantamento, de muitos em Israel {"E Simeão os abençoou, e disse a Maria, mãe do menino: Eis que este é posto para queda e para levantamento de muitos em Israel, e para ser alvo de contradição."[Lucas 2:34]}. E quando, em sua oração de intercessão no jardim do Getsêmane, Ele disse, "Eu rogo por eles; não rogo pelo mundo, mas por aqueles que me tens dado..."[João 17:9] , os não eleitos foram repudiados com todas as palavras.
Jesus Ele mesmo declarou que uma das razões porque ele falava em parábolas era porque a verdade poderia estar oculta daqueles para quem ela não era intencionada. Deixemos a história sagrada falar por si própria: "[10] E chegando-se a ele os discípulos, perguntaram-lhe: Por que lhes falas por parábolas? [11] Respondeu-lhes Jesus: Porque a vós é dado conhecer os mistérios do reino dos céus, mas a eles não lhes é dado; [12] pois ao que tem, dar-se-lhe-á, e terá em abundância; mas ao que não tem, até aquilo que tem lhe será tirado. [13] Por isso lhes falo por parábolas; porque eles, vendo, não vêem; e ouvindo, não ouvem nem entendem. [14] E neles se cumpre a profecia de Isaías, que diz..."[Mateus 13:10-14]:
"[9] ...Vai, e dize a este povo: Ouvis, de fato, e não entendeis, e vedes, em verdade, mas não percebeis. [10] Engorda o coração deste povo, e endurece-lhe os ouvidos, e fecha-lhe os olhos; para que ele não veja com os olhos, e ouça com os ouvidos, e entenda com o coração, e se converta, e seja sarado."[Isaías 6:9, 10]
Jesus Ele mesmo declarou que uma das razões porque ele falava em parábolas era porque a verdade poderia estar oculta daqueles para quem ela não era intencionada. Deixemos a história sagrada falar por si própria: "[10] E chegando-se a ele os discípulos, perguntaram-lhe: Por que lhes falas por parábolas? [11] Respondeu-lhes Jesus: Porque a vós é dado conhecer os mistérios do reino dos céus, mas a eles não lhes é dado; [12] pois ao que tem, dar-se-lhe-á, e terá em abundância; mas ao que não tem, até aquilo que tem lhe será tirado. [13] Por isso lhes falo por parábolas; porque eles, vendo, não vêem; e ouvindo, não ouvem nem entendem. [14] E neles se cumpre a profecia de Isaías, que diz..."[Mateus 13:10-14]:
"[9] ...Vai, e dize a este povo: Ouvis, de fato, e não entendeis, e vedes, em verdade, mas não percebeis. [10] Engorda o coração deste povo, e endurece-lhe os ouvidos, e fecha-lhe os olhos; para que ele não veja com os olhos, e ouça com os ouvidos, e entenda com o coração, e se converta, e seja sarado."[Isaías 6:9, 10]
Nessas palavras podemos ver uma aplicação das próprias palavras de Jesus, "Não deis aos cães o que é santo, nem lanceis aos porcos as vossas pérolas..."[Mateus 7:6]. Ele que afirma que Cristo designado para dar a Sua verdade salvadora para cada um contradiz em cheio ao próprio Cristo. Aos não eleitos, a Bíblia é um livro selado; e somente aos verdadeiros Cristãos é "dado" ver e entender todas essas coisas. Tão importante é esta verdade que o Espírito Santo se compraz em repetir por seis vezes no Novo Testamento o escrito pelo profeta Isaías (compare em Mateus 13:14, 15 ; Marcos 4:12 ; Lucas 8:10 ; João 12:40 ; Atos 28:27 , Romanos 11:9, 10). Paulo nos diz que pela graça a "eleição" recebeu salvação, e que o resto foi endurecido; então acrescenta, "...Deus lhes deu um espírito entorpecido, olhos para não verem, e ouvidos para não ouvirem..."[Romanos 11:8]. E mais adiante, lembra as palavras de Davi, para o mesmo propósito: "[9] E Davi diz: Torne-se-lhes a sua mesa em laço, e em armadilha, e em tropeço, e em retribuição; [10] escureçam-se-lhes os olhos para não verem, e tu encurva-lhes sempre as costas."[Romanos 11:9, 10].
Assim, com relação a alguns, as proclamações evangélicas foram designadas para ferir, e não para curar.
Esta mesma doutrina encontra expressão em muitas outras partes da Bíblia. Moisés disse às crianças de Israel, "Mas Siom, rei de Hesbom, não nos quis deixar passar por sua terra, porquanto o Senhor teu Deus lhe endurecera o espírito, e lhe fizera obstinado o coração, para to entregar nas mãos, como hoje se vê."[Deuteronômio 2:30]. Referindo-se às tribos Canaatitas que marcharam contra Josué, está escrito, "Porquanto do Senhor veio o endurecimento dos seus corações para saírem à guerra contra Israel, a fim de que fossem destruídos totalmente, e não achassem piedade alguma, mas fossem exterminados, como o Senhor tinha ordenado a Moisés."[Josué 11:20]. Hofni e Finéias, os filhos de eli, quando reprovados por sua perversidade, "...eles não ouviram a voz de seu pai, porque o Senhor os queria destruir."[I Samuel 2:25]. Embora o Faraó houvesse agido muito arrogante e perversamente para com os Israelitas, Paulo não assinala nenhuma outra razão senão a que ele era um dos rejeitados cujas más ações seriam sobrepassadas pelo bem: "Pois diz a Escritura a Faraó: Para isto mesmo te levantei: para em ti mostrar o meu poder, e para que seja anunciado o meu nome em toda a terra."{[Romanos 9:17] - veja também em [Êxodo 9:16 : "mas, na verdade, para isso te hei mantido com vida, para te mostrar o meu poder, e para que o meu nome seja anunciado em toda a terra."]}. Em todos os rejeitados há uma cegueira e um obstinado endurecimento de coração; e quando de algum, como o Faraó por exemplo, é dito ter sido endurecido por Deus, nós podemos estar certos de que eles já eram valorizados com tendo sido entregues a Satã. Os corações dos perversos são, é claro, nunca endurecidos através de uma influência direta de Deus -- Ele simplesmente permite que alguns homens sigam os impulsos de maldade que já estão nos seus corações, de modo que, como resultado das suas próprias escolhas, eles se tornem mais e mais "calejados" e obstinados. E enquanto é dito, por exemplo, que Deus endureceu o coração do Faraó, também é dito que o Faraó endureceu o seu próprio coração (compare em Êxodo 8:15; 8:32, 9:34). Uma descrição é dada a partir do ponto de vista divino, a outra é fornecida a partir do ponto de vista humano. Em última instância Deus é responsável pelo endurecimento do coração, tanto quanto Ele é quem permite que isto ocorra, e o escritor inspirado, em linguagem gráfica simplesmente diz que Deus o faz; mas nunca devemos nós entender que Deus seja a causa imediata e eficiente.
Embora esta doutrina seja difícil, ela é, não obstante, Bíblica. E desde que ela é tão plenamente ensinada nas Escrituras, nós não podemos assinalar nenhuma outra razão para a oposição que ela tem enfrentado, a não ser a pura ignorância e o preconceito irracional com que as mentes dos homens têm sido cheias quando eles se propõem a estudá-la. Quão aplicáveis aqui são as palavras de Rice: -- "Que felicidade seria para a Igreja de Cristo e para o mundo, se os ministros Cristãos e o povo Cristão se contentassem em serem discípulos, -- APRENDIZES; se, conscientes das suas faculdades limitadas, da sua ignorância quanto às coisas divinas, e da sua inclinação para o erro através da sua depravação e do seu preconceito, eles poderiam ser induzidos a sentarem-se aos pés de Jesus e aprender dEle. A Igreja tem sido corrompida e amaldiçoada em quase todas as eras pela indevida confiança dos homens no seu próprio poder de raciocínio. Eles têm se proposto a pronunciarem-se sobre a racionabilidade ou a irracionabilidade de doutrinas infinitamente acima da sua razão, as quais são necessariamente matéria de pura revelação. Na sua presunção eles têm tentado compreender 'as profundezas de Deus' e têm interpretado as Escrituras, não conforme o seu sentido óbvio, mas conforme as decisões da razão finita." E ele diz novamente, "Ninguém nunca estudou as obras da Natureza ou o Livro do Apocalipse sem encontrar-se rodeado por todos os lados por dificuldades, por enigmas que ele não poderia solucionar. O filósofo é obrigado a satisfazer-se com fatos; e o teólogo deve contentar-se com as declarações de Deus."18
É estranho afirmar que, muitos daqueles que insistem que quando o povo passa a estudar a doutrina da Trindade eles devem colocar de lado quaisquer noções pré concebidas e apoiar-se somente na razão humana, sem ajuda, para decidir o que pode e o que não pode ser verdade acerca de Deus, e quem insiste que as Escrituras devem ser aceitas aqui como guia autoritativo e inquestionável, não estão na realidade dispostos a seguir aqueles regras no estudo da doutrina da predestinação.
A doutrina da rejeição é Baseada na Doutrina do Pecado Original; Nenhuma Injustiça é Feita aos Não Eleitos.
É óbvio que esta parte da doutrina da Predestinação, que afirma que Deus tem, por um decreto eterno e soberano, escolhido uma porção da espécie humana para a salvação, enquanto deixando a outra porção destinada a destruição, nos atinge como sendo oposta às nossas idéias comuns de justiça, e assim precisa de defesa. A defesa da doutrina da Rejeição encontra-se na predecessora doutrina do Pecado Original ou da Depravação Total (Incapacidade Total). Este decreto encontra toda a raça humana caída. Ninguém tem qualquer direito à graça de Deus. Mas ao invés de deixar todos à sua justa punição, Deus gratuitamente confere felicidade imerecida para aquela porção da espécie humana, -- um ato de pura misericórdia e graça ao qual ninguém pode opor-se, -- enquanto a outra porção é simplesmente deixada de lado. Nenhuma miséria imerecida é direcionada sobre aquele grupo. Assim, ninguém tem qualquer direito de opor-se a esta parte do decreto. Se o decreto lida simplesmente com homens inocentes, seria injusto assinalar uma porção para a condenação; mas desde que ele lida com homens num estado particular, estado o qual é de culpa e de pecado, ele portanto não é injusto. "A concepção do mundo como um mundo que encontra-se no mal e portanto já julgado (veja João 3:18), de forma que sobre aqueles que não são removidos do mal do mundo a ira de Deus não é derramada, mas simplesmente sobre eles ela permanece (veja João 3:36; confirme com I João 3;14); é fundamental para esta apresentação. É por outro lado, portanto, que Jesus a Si próprio Se representa como tendo vindo não ára condenar o mundo, mas para que o mundo fosse salvo por Ele (veja em João 3:17 ; 8:12 ; 9:5 ; 12:47 , confirme com João 4:42); e tudo o quanto Ele faz, tendo por motivo a introdução da vida no mundo (veja João 6:33, 51); o mesmo mundo já condenado não precisa de mais condenação, precisa de salvação." 19
O homem culpado perdeu os seus direitos e cai sob a vontade de Deus. A soberania absoluta de Deus agora entra em cena e quando Ele em alguns casos demonstra misericórdia, não podemos opor-nos à sua justiça em outros, a não ser que estejamos questionando o Seu governo do universo. Visto sob este prisma, o decreto da Predestinação encontra na raça humana uma massa de perdição e permite que somente uma parte dela permaneça em tal estado. Quando todos, antecedentemente mereceram castigo, não era injusto para alguns serem antecedentemente consignados a tanto; caso contrário a execução de uma justa sentença seria injusta.
Quando o Arminiano diz que fé e obras constituem as bases da eleição nós discordamos," diz Clark. "mas se ele disser que crença prevista e desobediência constituem a base da rejeição nós assentimos bastante prontamente. Um homem não é salvo com base nas suas virtudes mas ele é condenado com base no seu pecado. Como Calvinistas convictos nós insistimos que enquanto alguns homens são salvos de sua descrença e desobediência, nas quais todos encontram-se envolvidos, e outros não o são, é ainda a pecaminosidade do pecador que constitui a base da sua rejeição. A eleição e a rejeição procedem de diferentes bases; uma é a graça de Deus, a outra é o pecado do homem. É uma caricatura do Calvinismo dizer que porque Deus elege um homem para a salvação independentemente de seu caráter ou merecimentos, que portanto Ele eleja outro homem para a danação independentemente de seu caráter ou merecimentos." 20
Esta rejeição ou "deixar de lado os não eleitos" não é fundamentada meramente numa previsão da sua continuidade no pecado; pois se a fé tivesse sido uma causa própria, rejeição teria sido a sina de todos os homens, pois todos foram pré vistos como pecadores. Nem poderia ser dito que aqueles que foram "deixados de lado" fossem em todo caso piores pecadores que aqueles trazidos à vida eterna. As Escrituras sempre atribuem a fé e o arrependimento ao beneplácito de Deus e a operação especialmente graciosa do Seu Espírito. Aqueles que concebem a raça humana como inocente e merecedora da salvação ficam escandalizados, naturalmente, quando a qualquer parte da raça seja antecedentemente consignado o castigo. Mas quando a doutrina do Pecado Original, que é ensinada tão clara e repetidamente na Bíblia, é vista e analisada em seu escopo adequado, as objeções à predestinação desaparecem e a condenação dos perversos parece nada mais que natural. Assim, a salvação procede somente do Senhor, e a danação procede inteiramente de nós. Os homens perecem por não virem a Cristo; todavia se eles tiverem a vontade de vir, é o Bem que opera tal vontade neles. A Graça, a graça que elege, promove ambas coisas, desperta a vontade e a mantém firme; e à graça seja todo o louvor.
Ademais, num mundo cheio de pecado e rebeldia, ninguém vale a pena ser salvo, por si mesmo. Deus graciosamente escolheu alguns quando ele poderia ter passado ao largo por todos, como ele fez com os anjos caídos (veja em II Pedro 2:4 ; Judas 6). Ele levou tudo sobre si para prover a redenção através da qual o Seu povo é salvo. A expiação, portanto, é Sua propriedade; e Ele certamente pode, como Ele muito certamente o fará, qualquer coisa que seja da Sua vontade, através da Sua própria Graça, dada para um e negada a outro, conforme melhor Lhe convenha. Deve ser notado que o fato de a não dispensação da Sua graça ao não eleito não se constitui a causa do perecer, tanto como a ausência do médico ao lado do enfermo é a ocasião, não a causa eficiente, da sua morte. "À vista de um Deus infinitamente bom e misericordioso," diz o Dr. Charles Hodge, "era necessário que alguns integrantes da rebelde raça humana devessem sofrer o castigo pela lei que todos em conjunto haviam quebrado. É uma prerrogativa de Deus determinar quais serão vasos de misericórdia e quais serão deixados à justa recompensa do seus pecados." 21
Desde que o homem levou-se a si mesmo até este estado de pecado, a sua condenação é justa, e cada demanda por justiça resultaria no seu castigo. A consciência nos diz que o homem perece justamente, desde que ele decida seguir a Satã ao invés de seguir a Deus. "mas não quereis vir a mim para terdes vida!"[João 5:40]. E neste sentido a palavras do Prof. F. E. Hamilton é muito apropriada: "Tudo o que Deus faz é deixá-lo só (o não regenerado) e permitir que ele trilhe o seu próprio caminho sem interferência. É da sua natureza ser mau, e Deus simplesmente pré ordenou deixar que aquela natureza permanecesse sem modificação. O quadro muitas vezes pintado por oponentes do Calvinismo, de um Deus cruel que recusa-Se a salvar aqueles que de há muito deveriam ser salvos, é uma caricatura grotesca. Deus salva todos quantos queiram ser salvos, mas ninguém cuja natureza não seja modificada quer ser salvo." Aqueles que estão perdidos, perdidos estão porque eles deliberadamente escolheram caminhar na senda do pecado; e isto será mesmo o inferno dos infernos, que os homens tenham destruído a si próprios.
Muita gente discute se a salvação é um direito inato do homem. E esquecidos do fato de que o homem perdeu a sua supremamente favorável chance em Adão, eles nos dizem que Deus seria injusto se ele não desse a todos os seres culpados uma oportunidade para serem salvos. Com relação à idéia de que a salvação é dada em retribuição a algo feito pela pessoa, Lutero diz, "Mas suponhamos, eu lhes rogo, que Deus devesse ser tal, que tivesse respeito para com o mérito naqueles que estão danados. Não deveríamos nós, semelhantemente, também requerer e acreditar que Ele também devesse ter respeito para com aqueles que serão salvos? Pois se vamos seguir a razão, é igualmente injusto, que os que não merecem devessem ser coroados, tanto quanto que os que merecem devessem ser condenados." 22
Ninguém com idéias próprias acerca de Deus supõe que Ele de repente faça algo sobre o que Ele não tenha pensado antes. Uma vez que os Seus propósitos são eternos, o que Ele faz no tempo é o que Ele propôs-Se a fazer desde a eternidade. Aqueles a quem Ele salva são aqueles a quem Ele propôs-Se a salvar desde a eternidade, e aqueles a quem Ele deixa a perecer são aqueles a quem Ele propôs-Se deixar desde a eternidade. Se é justo para Deus fazer uma determinada coisa no tempo, também é, pela paridade do argumento, justo para Ele resolver sobre determinado assunto e decretar como tal desde a eternidade, pois o princípio da ação é o mesmo em ambos casos. E se nós somos justificados em dizer que desde toda a eternidade Deus intencionou demonstrar a Sua misericórdia ao perdoar a vasta multidão de pecadores, por que algumas pessoas objetam tão estressadamente quando dizemos que desde toda a eternidade Deus intencionou demonstrar a Sua justiça ao castigar outros pecadores?
Assim é que, se é justo para Deus reter-Se de salvar algumas pessoas depois que elas nascem, foi também justo para Ele formar aquele propósito antes que elas nascessem, ou na eternidade. E desde que a vontade determinante de Deus é onipotente, ela não pode ser obstruída ou anulada. Em sendo verdade, segue-se que Ele nunca antes, nem mesmo agora, quis ou quer que cada indivíduo da raça humana seja salvo. Se Ele assim quisesse, nenhuma só alma, nunca, poderia ou teria se perdido, "...Pois, quem resiste à sua vontade?"[Romanos 9:19]. Se Ele quisesse que ninguém se perdesse, Ele teria certamente dado para todos os homens aqueles meios efetivos de salvação, sem os quais não podem tê-la. Agora, Deus poderia dar aqueles meios tão facilmente para toda a humanidade, como para somente alguns, mas a experiência prova que Ele não o faz. Assim é que, logicamente, não é nenhum propósito secreto de Deus ou um decreto da Sua vontade que todos devam ser salvos. De fato, as duas verdades, que o que Deus faz Ele o faz desde a eternidade, e que somente uma parte da raça humana é salva, são suficientes para completar as doutrinas da Eleição e da Rejeição.
O Estado dos Ateus
O fato de que, na obra providencial de Deus, alguns homens são deixados sem o Evangelho e os outros meios da graça, virtualmente envolve o princípio estabelecido na doutrina Calvinista da Predestinação. Nós vemos que em todas as épocas a grande parte da humanidade tem sido deixada destituída dos meios externos da graça. Por séculos os Judeus, cujo número era pequeno, foram o único povo a quem aprouve a Deus revelar-Se de maneira especial. Jesus restingiu o Seu ministério público quase que exclusivamente a eles e proibiu os Seus discípulos de andarem no meio de outros até passado o dia de Pentecostes (veja Mateus 10:5, 6; 28:19; Marcos 16:15; Atos 1:4). Multidões foram deixadas sem a oportunidade de ouvir o Evangelho, e consequentemente morreram em seus pecados. Se Deus tivesse a intenção de salvá-los, indubitavelmente Ele teria enviado a eles os meios de salvação. Se Ele tivesse escolhido cristianizar a Índia e a China há mil anos atrás, Ele mais que certamente poderia ter atingido o Seu propósito. Ao contrário, eles permaneceram em densas trevas e descrença. Para o estado passado e presente do mundo, com todo o seu pecado, miséria e morte, não pode haver outra explicação senão aquela que é dada na Bíblia, -- nominalmente, que a raça caiu em Adão e que em misericórdia Deus soberanamente escolheu trazer uma multidão inumerável à salvação através de uma redenção que Ele pessoalmente providenciou. É uma visão pervertida e desonrosa de Deus, imaginá-lo lutando e batalhando com homens desobedientes, fazendo o Seu melhor para converte-los, mas incapaz de atingir o Seu propósito.
Se a teoria Arminiana fosse verdadeira, nominalmente, que Cristo morreu por todos os homens e que os benefícios da Sua morte são realmente aplicados a todos homens, seria de se esperar que Deus tivesse provisionado para que o Evangelho fosse comunicado a todos os homens. O problema com os ateus, com aqueles povos que vivem e morrem sem o Evangelho, tem sido sempre um problema muito difícil para os Arminianos, que insistem que todos os homens têm graça suficiente se eles simplesmente quiserem fazer uso dela. Poucos negarão que a salvação está condicionada à pessoa que ouve e que aceita o Evangelho. A Igreja Cristã tem praticamente sido unânime ao declarar que os ateus como uma classe estão perdidos. Que isto seja um ensinamento claro na Bíblia, nós podemos facilmente mostrar: ---
"E em nenhum outro há salvação; porque debaixo do céu nenhum outro nome há, dado entre os homens, em que devamos ser salvos."[Atos 4:12]. "Porque todos os que sem lei pecaram, sem lei também perecerão; e todos os que sob a lei pecaram, pela lei serão julgados."[Romanos 2:12]. "Porque ninguém pode lançar outro fundamento, além do que já está posto, o qual é Jesus Cristo."[I Coríntios 3:11]. "Eu sou a videira; vós sois as varas. Quem permanece em mim e eu nele, esse dá muito fruto; porque sem mim nada podeis fazer."[João 15:5]. "...Eu sou o caminho, e a verdade, e a vida; ninguém vem ao Pai, senão por mim."[João 14:6]. "Quem crê no Filho tem a vida eterna; o que, porém, desobedece ao Filho não verá a vida, mas sobre ele permanece a ira de Deus."[João 3:36]. "Quem tem o Filho tem a vida; quem não tem o Filho de Deus não tem a vida."[I João 5:12]. "E a vida eterna é esta: que te conheçam a ti, como o único Deus verdadeiro, e a Jesus Cristo, aquele que tu enviaste."[João 17:3]. "Ora, sem fé é impossível agradar a Deus ..."[Hebreus 11:6]. "[13] Porque: Todo aquele que invocar o nome do Senhor será salvo. [14] Como pois invocarão aquele em quem não creram? e como crerão naquele de quem não ouviram falar? e como ouvirão, se não há quem pregue?"[Romanos 10:13, 14] (ou, em outras palavras, como podem os ateus possivelmente serem salvos quando eles nunca sequer ouviram falar de Cristo, que é o único caminho para a salvação?). "Disse-lhes Jesus: Em verdade, em verdade vos digo: Se não comerdes a carne do Filho do homem, e não beberdes o seu sangue, não tereis vida em vós mesmos."[João 6:53]. Quando aquele que vigia vê o perigo se aproximando mas não avisa, não alerta o povo e eles morrem na sua iniqüidade, {"Se eu disser ao ímpio: O ímpio, certamente morrerás; e tu não falares para dissuadir o ímpio do seu caminho, morrerá esse ímpio na sua iniqüidade, mas o seu sangue eu o requererei da tua mão."[Ezequiel 33:8]} -- verdade, seremos responsabilizados se não falarmos, se não avisarmos, todavia isto não muda a sorte do povo. Jesus declarou que mesmo os Samaritanos que tinham privilégios muito mais altos que as nações fora da Palestina, adoravam o que não conheciam, e que a salvação vinha dos Judeus. Veja também o primeiro e o segundo capítulos da Epístola de Paulo aos Romanos. As Escrituras, então, são plenas em declarar que sob condições ordinárias, normais, aqueles que não têm a Cristo e o Evangelho estão perdidos.
E de acordo com isto, a Confissão de Fé de Westminster, depois de declarar que aqueles que rejeitam a Cristo não podem ser salvos, acrescenta: "...muito menos poderão ser salvos por qualquer outro meio os que não professam a religião cristã, por mais diligentes que sejam em conformar as suas vidas com a luz da natureza e com a lei da religião que professam ..." [parte da seção IV, Capítulo X, = referências Bíblicas: Mat. l3:14-15; At. 28:24; Mat. 22:14; Mat. 13:20-21, e 7:22; Heb. 6:4-5; João 6:64-66, e 8:24; At. 4:12; João 14:6 e 17:3; Ef. 2:12-13; II João 10: l 1; Gal. 1:8; I Cor. 16:22].
Na verdade, a crença de que os ateus, aqueles que vivem sem o Evangelho estão perdidos tem sido um dos mais fortes argumentos a favor da missões estrangeiras. Se crermos que as suas próprias religiões têm luz e verdade suficientes para salvá-los, a importância de pregar o Evangelho a eles é então diminuída consideravelmente. Nossa atitude quanto às missões estrangeiras é muito grandemente determinada pela resposta que damos àquela questão.
Não negamos que Deus pode salvar até mesmo alguns dos ateus adultos se Ele escolher fazê-lo, pois o Seu Espírito opera quando e onde e como Lhe apraz, com ou sem meios. Se qualquer um dos tais é salvo, contudo, é por um milagre de pura graça. Certamente o método normal de Deus é reunir, separar os Seus eleitos da parte evangelizada da humanidade, embora devemos admitir a possibilidade de, através de um método extraordinário, alguns dos Seus eleitos possam ser reunidos, separados da parte não evangelizada. (A sina, o destino daqueles que morrem na infância em terras pagãs é tema a ser discutido sob o tópico "Salvação Infantil", mais adiante).
É irracional supor que povos podem apropriar-se de alguma coisa da qual não sabem nada. Isto pode ser facilmente visto tanto quanto os ateus (os povos ainda não alcançados) são deixados de lado no que se refere a muitos prazeres, a alegrias e oportunidades relacionados com este mundo; e segundo o mesmo princípio, seria de se esperar que fossem também deixados de lado também no próximo. Aqueles que são providencialmente colocados nas trevas pagãs da China setentrional não podem aceitar a Cristo como Salvador mais do que podem aceitar o rádio, o avião ou o sistema Copérnico de astronomia, coisas a respeito das quais são totalmente ignorantes. Quando Deus coloca pessoas em tais condições, podemos estar certos de que Ele não tem intenção de que elas sejam salvas, mais do que ele teria intenção que o solo ao norte da Sibéria, que permanece congelado durante o ano inteiro, devesse produzir grãos de trigo. Tivesse Ele querido o contrário, Ele teria suprido os meios que levassem ao fim determinado. Há também multidões nas terras nominalmente Cristãs, a quem o Evangelho nunca foi apresentado de qualquer forma adequada, que não têm nem mesmo as condições externas para a salvação, sem mencionar o estado de indefesa dos seus corações.
É claro que isto não significa que todos os perdidos sofrerão o mesmo grau de castigo. Nós cremos que a partir de um 'ponto zero' em comum haverá todos graus de recompensas bem como todos os graus de punições; e que a recompensa ou o castigo de uma pessoa serão, até determinada extensão, baseados na oportunidade que ela tenha tido neste mundo. Jesus Ele próprio declarou que no dia do julgamento, seria mais tolerável para a cidade pagã de Sodoma que para aquelas cidades da Palestina, que ouviram a Sua mensagem mas a rejeitaram (veja em Lucas 10:12-14); e ele concluiu a parábola dos servos fiéis e infiéis com as palavras: "[47] O servo que soube a vontade do seu senhor, e não se aprontou, nem fez conforme a sua vontade, será castigado com muitos açoites; [48] mas o que não a soube, e fez coisas que mereciam castigo, com poucos açoites será castigado. Daquele a quem muito é dado, muito se lhe requererá; e a quem muito é confiado, mais ainda se lhe pedirá."[Lucas 12:47, 48]. Então, enquanto os ateus, os pagãos (enfim, povos não alcançados pelo Evangelho) estão perdidos, eles deverão sofrer relativamente menos que aqueles que ouviram o Evangelho e o rejeitaram.
Assim, com relação a esta questão das raças pagãs, os Arminianos estão, em muito, envolvidos em dificuldades que subvertem seu sistema por completo, dificuldades das quais eles nunca foram capazes de safarem-se. Eles admitem que somente em Cristo há salvação; todavia eles vêm que multidões morrem sem sequer haverem ouvido falar de Cristo ou do Evangelho. Ao sustentar que graça suficiente ou oportunidade devem ser proporcionadas a cada homem antes que ele seja condenado, muitos deles têm sido levados a postular uma provação futura, -- isto contudo não é o que a Bíblia advoga, mas é contrário às Sagradas Escrituras. Como Cunningham diz, "os Calvinistas têm sempre tido como um forte argumento contra as doutrinas Arminiadas da graça universal e da redenção universal, e em favor dos seus próprios pontos de vista dos soberanos propósitos de Deus; que, ponto pacífico, tão grande a porção da raça humana que tem sido sempre deixada em completa ignorância da misericórdia de Deus, e do caminho da salvação revelado no Evangelho; nem, em tais circunstâncias como, para todas as aparências, atirar obstáculos insuperáveis no seu caminho para alcançar aquele conhecimento de Deus e de Jesus Cristo, que é a vida eterna." 23
Somente no Calvinismo, com a sua doutrina da culpa e da corrupção de toda a humanidade através da queda, e sua doutrina da graça através da qual alguns são soberanamente resgatados e trazidos à salvação enquanto outros são deixados de lado, é que encontramos uma explicação adequada para o fenômeno do mundo pagão, do mundo ainda não alcançado pelo Evangelho.
Propósitos do Decreto da Rejeição
A condenação dos não eleitos é primariamente designada a fornecer uma exibição eterna, diante dos homens e dos anjos, da animosidade, do ódio de Deus com relação ao pecado, ou, em outras palavras, é uma manifestação eterna da justiça de Deus. (Deve ser recordado que a justiça de Deus tão certamente demanda o castigo do pecado, como demanda a recompensa da retidão.) Este decreto mostra um dos atributos divinos o qual, se separado daquele decreto, nunca seria apreciado adequadamente. A salvação de alguns através de um redentor destina-se a demonstrar os atributos do amor, da misericórdia e da santidade. Os atributos da sabedoria, do poder e da soberania são demonstrados no tratamento dispensado a ambos grupos. Assim é que a verdade do testemunho das Escrituras que, "O Senhor fez tudo para um fim; sim, até o ímpio para o dia do mal."[Provérbios 16:4]; como também o testemunho de Paulo que este arranjo estava intencionado por um lado "para que também desse a conhecer as riquezas da sua glória nos vasos de misericórdia, que de antemão preparou para a glória." por outro lado para "mostrar a sua ira, e dar a conhecer o seu poder, suportou com muita paciência os vasos da ira, preparados para a perdição"[Romanos 9:23, 22]
Este decreto da rejeição também serve para subordinar propósitos relacionados com os eleitos; pois, ao observar a rejeição e o estado final dos maus, (1) eles aprendem que eles também teriam sofrido, não tivesse a graça agido em seu cuidado; e eles entendem mais profundamente as riquezas do amor divino que os levantou do pecado e os trouxe para a vida eterna, enquanto outros não mais culpados um de valor menor que eles foram deixados para a destruição eterna. (2) Provê um motivo muito poderoso para estarem gratos por haverem recebido tão altas bênçãos. (3) São levados a uma confiança mais profunda no Pai celeste que supre todas as suas necessidades nesta vida e na próxima. (4) A consciência do que eles têm recebido resulta na razão mais forte possível para que eles amem seu Pai celeste, e vivam vidas tão puras quanto possível. (5) Leva-os a um maior horror ao pecado. (6) Leva-os a caminharem mais próximos com Deus e uns com os outros, especialmente com aqueles herdeiros escolhidos do reino dos céus. (7) Quanto ao argumento da soberana rejeição dos Judeus, Paulo aniquila na fonte qualquer acusação de que eles foram deixados de fora sem razão. "Logo, pergunto: Porventura tropeçaram de modo que caíssem? De maneira nenhuma, antes pelo seu tropeço veio a salvação aos gentios, para os incitar à emulação."[Romanos 11:11]. Assim, vemos que a rejeição por Deus, dos Judeus, teve um propósito muito sábio e definitivo; ou seja, que a salvação pudesse ser dada aos Gentios, e de maneira tal que reagiria para a salvação dos próprios Judeus. Historicamente, vemos que a Igreja Cristã tem sido quase que exclusivamente uma Igreja Gentia. Mas em cada era os Judeus têm sido convertidos ao Cristianismo, e cremos que com o passar do tempo, números muito maiores serão "provocados ao ciúme" ('incitados à emulação') e feitos com que se voltem a Deus. Vários versos no décimo primeiro capítulo da Epístola aos Romanos indicam que números consideráveis serão convertidos e que eles serão extremamente zelosos pela retidão.
O Ataque Arminiano Central a Esta Doutrina
A doutrina da Rejeição é a que os Arminianos mais gostam de atacar. Eles costumeiramente a isolam e enfatizam-na como se ela fosse a essência e a substância do Calvinismo, enquanto que as outras doutrinas tais como a da Soberania de Deus, o puramente gracioso caráter da Eleição, a Perseverança dos santos, etc., as quais tanta glória dão a Deus, são deixadas de lado com pouco ou nenhum comentário. No Sínodo de Dort, os Arminianos insistiram em primeiro discutir o tema da Rejeição, e reclamaram como se fosse um grande sofrimento quando o Sínodo recusou-se a faze-lo. Até hoje, eles tem geralmente buscado esta mesma política. Seu objetivo é claro, pois eles sabem quão fácil é deturpar esta doutrina, bem como apresentá-la sob ótica tal que incitará preconceitos nos sentimentos dos homens contra ela. Eles usualmente distorcem os pontos de vista que são sustentados pelos Calvinistas, fazendo em seguida todas as alegações que podem contra a doutrina; eles argumentam que desde que não pode haver tal coisa como a Rejeição, tampouco pode haver coisa alguma como a Eleição. A ênfase injusta nesta doutrina indica qualquer coisa menos uma busca pela verdade, sincera e sem preconceitos. Quiçá eles tornassem-se para o lado positivo do sistema; quiçá eles argumentassem e considerassem a grande quantidade de evidências que foram coletadas em favor desse sistema teológico.
Por outro lado, Calvinistas freqüentemente apresentam primeiro a evidência em favor da doutrina da Eleição e então, tendo estabelecido esta, eles mostram que o que eles sustentam com relação à doutrina da Rejeição ocorre naturalmente. Eles, de fato, não interpretam a segunda como sendo dependente da primeira exatamente pelas provas que ela apresenta. Eles crêem que ela é sustentada por provas independentes, nas Escrituras; eles todavia crêem que se o que eles sustentam com relação à doutrina da Eleição é provadamente verdadeiro, então o que eles sustentam com relação à doutrina da Rejeição seguirá a lógica necessária. Uma vez que as Escrituras nos dão mais informação acerca do que Deus faz ao produzir fé e arrependimento naqueles que estão salvos do que elas nos dão com relação ao Seu procedimento com relação àqueles que continuam impenitentes e descrentes, a razão demanda que investiguemos primeiro a doutrina da Eleição, e depois consideremos a doutrina da Rejeição. Esta última consideração nos mostra a injustiça interior dos Arminianos em dar tal proeminência à doutrina da Rejeição. Como já dito anteriormente, esta é admitidamente uma doutrina desagradável. Os Calvinistas não se retraem de discuti-la; ainda que naturalmente, por causa do seu caráter terrível, eles não encontrem satisfação em argumentar a respeito dela. Eles também compreendem que aqui os homens devem ser particularmente cuidadosos para não serem tentados a serem mais sábios do que o que está escrito, uma vez que muitos são inclinados a fazerem o que lhes apetece em presunçosas especulações acerca de assuntos os quais estão muito elevados para eles.
Sem Nenhuma Obrigação de Explicar Todas Estas Coisas
Deve ser relembrado que estamos sob nenhuma obrigação de explicar todos os mistérios relacionados com estas doutrinas. Estamos somente sob a obrigação de estabelecer o que as Escrituras Sagradas ensinam com relação a elas, e vindicar tal ensinamento tanto quanto possível, desde as objeções que são alegadas contra as mesmas. O "Sim, ó Pai, porque assim foi do teu agrado."[Mateus 11:26, Lucas 10:21], foi, para o nosso Senhor, um testemunho cabal e em si mesmo suficiente da Sua onipotência, face a todas diversas interações com os homens. A resposta única e suficiente que Paulo dá aos argumentadores vãos que penetrariam mais fundo nestes mistérios é que eles são resolvidos pela sabedoria e soberania divinas. Aqui, as palavras de Toplady são apropriadas de uma maneira especial: "Não digam, portanto, como os opositores dessas doutrinas o fizeram nos dias de Paulo: 'Por que Deus acha falta no ímpio? Pois quem é capaz de resistir à Sua vontade? Se Ele, O único que pode converte-lo, não o faz, que razão há para culpar a eles, que perecem, sabendo ser impossível resistir à vontade do Onipotente?' Satisfaçam-se com a resposta de Paulo, 'Ó homem, quem és tu para replicar contra Deus?'. O apóstolo centraliza todo o tema, inteiramente, na absoluta soberania de Deus. É ali que ele o deposita; e é ali que deve permanecer." 24
O homem não pode mensurar a justiça de Deus através da sua própria compreensão; e a nossa modéstia deveria ser tal que quando os motivos para alguma das obras de Deus nos for encoberto, nós não obstante creiamos que Ele é justo. Se qualquer um pensar que esta doutrina representa a Deus com um Deus injusto, será somente porque ele não se dá conta do que é a doutrina Bíblica do Pecado Original, nem a que ele está comprometido, por intermédio dela. Deixe que ele pense sobre a existência de um motivo doentio, real, antecedente ao pecado real; e a condenação lhe parecerá justa e natural. Dado o primeiro passo, o segundo não apresentará realmente nenhuma dificuldade.
É difícil compreendermos que muitos daqueles bem à nossa volta (em alguns casos nossos amigos chegados e mesmo parentes) estão provavelmente preordenados ao castigo eterno; e tanto quanto nos damos conta disso ficamos inclinados a nutrir certa simpatia por eles. Todavia, quando vista à luz da eternidade essa nossa simpatia pelos perdidos provará ter sido um sentimento não merecido e mal colocado. Aqueles que estão fatalmente perdidos serão então vistos como eles realmente são, inimigos de Deus, inimigos de toda a justiça, e amantes do pecado, sem qualquer desejo de salvação ou da presença do Senhor. Podemos ainda acrescentar que, desde que Deus é perfeitamente justo, ninguém será mandado para o inferno exceto aqueles que para lá merecem ir; e quando virmos seus reais caracteres, estaremos satisfeitos com o que Deus fez.
A bem da verdade, os Arminianos não se safam de nenhuma dificuldade neste ponto. Pois desde que eles admitem que Deus tem o pré conhecimento de todas as coisas eles devem explicar por que Ele cria aqueles que ele ante vê que viverão vidas pecaminosas, rejeitarão o Evangelho, morrerão impenitentes, e sofrerão eternamente no inferno. Os Arminianos realmente têm um problema mais difícil do que os Calvinistas agora; pois os Calvinistas mantém que aqueles a quem Deus assim cria, sabendo que estarão perdidos, são os não eleitos que voluntariamente escolhem o pecado e em cujo merecido castigo Deus determina a manifestação da Sua justiça, enquanto que os Arminianos devem dizer que Deus deliberadamente cria aqueles a quem ele ante vê que serão criaturas pobres, tão miseráveis que sem serventia para qualquer bom propósito trarão a destruição sobre si mesmos e passarão a eternidade no inferno, apesar do fato de que o Próprio Deus sinceramente deseja traze-los para o paraíso, e que Deus se entristecerá para sempre ao ver que eles estão onde Ele não desejava que estivessem. Será que isto não representa Deus como se agindo muito tolamente, ao trazer sobre Si próprio tal dissatisfação e sobre algumas de Suas criaturas miséria tal, enquanto Ele poderia, pelo menos, não havê-las criado, já que Ele mesmo anteviu que estariam perdidas?
Talvez existam alguns que, ao ouvirem sobre a doutrina da Predestinação, colocar-se-ão no grupo dos rejeitados; e estarão inclinados a mergulhar fundo no pecado, com a desculpa de que já estão perdidos, de qualquer forma. Mas faze-lo é o mesmo que envenenar-se, é atirar-se de volta à Idade das Pedras. Ninguém tem o direito de julgar-se rejeitado nesta vida, e daí viver em desespero; pois a desobediência final (o único infalível sinal de rejeição) não pode ser descoberto até o momento da morte. Nenhuma pessoa não convertida nesta vida sabe ao certo se Deus não irá convertê-la e salvá-la, muito embora ela esteja ciente de que tal mudança ainda não aconteceu. Assim, ela não tem o direito de numerar-se, de colocar-se em definitivo no grupo dos não eleitos. Deus não nos disse quem entre os não convertidos ele ainda tem o propósito de regenerar e salvar. Se qualquer homem sente e ouve os gemidos angustiantes da sua consciência, estes podem muito bem ser os próprios meios que Deus está usando para chamá-lo.
Utilizamos um espaço considerável para a discussão da doutrina da Rejeição, porque tem sido impedimento e bloqueio à compreensão para muitos daqueles que rejeitam o sistema teológico Calvinista. Nós cremos que se esta doutrina puder ser provada Bíblica e razoável, as demais partes do sistema serão prontamente aceitas.
6. INFRALAPSARIANISMO E SUPRALAPSARIANISMO
Entre aqueles que a si mesmos chamam-se Calvinistas tem freqüentemente havido diferenças de opinião sobre a ordem dos eventos no plano Divino. A questão aqui é a seguinte, Quando os decretos de eleição e de rejeição vieram a existir os homens eram considerados como caídos ou como não caídos? Os objetos desses decretos foram contemplados como membros de uma massa corrupta e pecadora, ou foram contemplados meramente como homens a quem Deus criaria? De acordo com o ponto de vista do "infralapsarianismo" a ordem dos eventos foi a seguinte: Deus propôs (1) criar; (2) permitir a queda; (3) eleger dessa massa de homens caídos uma multidão para a vida eterna e bênçãos; e deixar outros, como Ele deixou o Diabo e os anjos caídos, para sofrer o justo castigo por seus pecados; (4) dar o Seu Filho, Jesus Cristo, para a redenção dos eleitos; e (5) enviar o Espírito Santo para aplicar aos eleitos a redenção que havia sido comprada por Cristo. De acordo com o ponto de vista "supralapsariano" a ordem dos eventos foi a seguinte: (1) eleger alguns homens 'criáveis' (isto é, homens que seriam criados) para a vida e condenar outros para a destruição; (2) criar; (3) permitir a queda; (4) enviar Cristo para redimir os eleitos; e (5) enviar o Espírito Santo para aplicar tal redenção aos eleitos. A questão agora é quanto a se a eleição precede a queda.
Um dos principais motivos no esquema "supralapsariano" é enfatizar a idéia da discriminação e forçar esta idéia. No veio da natureza do caso, esta idéia não pode ser consistentemente levada a efeito, por exemplo, na criação, e especialmente na queda. Não foram meramente alguns dos membros da raça humana que foram objetos do decreto da criação, mas toda a espécie humana, e isto com a mesma natureza. E não foi meramente a alguns homens, mas toda a raça, a quem foi permitida a queda. O "supralapsarianismo" vai em frente até o extremo, de um lado, como o faz o "universalismo", de outro. Somente o esquema "infralapsariano" é em si consistente com outros fatos.
Com relação a esta diferença, o Dr. Warfield escreve: "O mero colocar da questão parece trazer consigo a resposta. Pois o que está em questão é o tratamento real dispensado aos homens, que é igual para ambas classes; aqueles que são eleitos e aqueles que são deixados de lado, condicionados em pecado. Não se pode falar de salvação mais do que de rejeição sem postular o pecado. O pecado é necessariamente precedente em pensamento. Na realidade, não até a idéia abstrata da percepção, mas ao instante concreto da percepção, que está em questão; a percepção relacionada a um destino, que envolve ou salvação ou castigo. Deve haver pecado em intenção, para fundamentar um decreto de salvação, tão verdadeiramente quanto um decreto de punição. Não se pode falar de um decreto referente à salvação e castigo, que seja discriminatório entre homens, portanto; sem postular a intenção dos homens como pecadores, de acordo com a lógica original do decreto." 25
E no mesmo sentido o Dr. Charles Hodge diz: "É um princípio Bíblico claramente revelado, que onde não há pecado não há condenação ... Ele teve misericórdia para um e não para com outro, conforme a Sua própria vontade, porque todos são igualmente pecadores e culpados . . . Em todo lugar, como em Romanos 1:24, 26, 28, a rejeição é declarada ser judicial, baseada na pecaminosidade do que é rejeitado. De outra forma não seria uma manifestação da justiça de Deus." 26
Não está em harmonia com as idéias de Deus conforme mostradas na Bíblia, que homens inocentes, homens que não são contemplados como pecadores, estivessem pré ordenados para a miséria e morte eternas. Não se deveria estudar o decreto relacionado com os salvos e os perdidos baseado somente em soberania abstrata. Deus é verdadeiramente soberano, mas esta soberania não é exercida de maneira arbitrária. Antes, é uma soberania exercida em harmonia com os Seus outros atributos, especialmente a Sua justiça, a Sua santidade e a Sua sabedoria. Deus não peca; e nesse respeito Ele é limitado, embora fosse mais acurado falar da sua incapacidade de pecar como sendo uma perfeição. Há, é claro, mistério relacionado com qualquer um dos sistemas, mas o sistema "Supralapsariano" parece ir além do mistério, e na contradição.
As Escrituras Sagradas são praticamente "infralapsarianas", -- os Cristãos são ditos terem escolhidos "do" mundo (veja em João 15:19 = "Se fôsseis do mundo, o mundo amaria o que era seu; mas, porque não sois do mundo, antes eu vos escolhi do mundo, por isso é que o mundo vos odeia"); o oleiro tem o direito sobre o barro (veja em Romanos 9:21 = "Ou não tem o oleiro poder sobre o barro, para da mesma massa fazer um vaso para uso honroso e outro para uso desonroso?"); e os eleitos e não eleitos são reputados com estando originalmente num estado comum de miséria. Sofrer e morrer estão uniformemente representados como os salários do pecado. O esquema "infralapsariano" naturalmente a si mesmo relaciona-se com as nossas idéias de justiça e de misericórdia, e ao menos é isento da objeção Arminiana de que Deus simplesmente cria alguns homens para danação. Agostinho e a grande maioria daqueles que têm sustentado a doutrina da eleição desde a sua promulgação foram e são "infralapsarianos", -- quer dizer, eles crêem que foi da massa de homens caídos que alguns foram eleitos para a vida eterna, enquanto que outros foram sentenciados à morte eterna em razão dos seus pecados. Não há nenhuma confissão Reformada que ensine o ponto de vista "supralapsariano"; mas por outro lado, um número considerável ensina abertamente a visão "infralapsariana", que assim emerge como a forma típica do Calvinismo. Até os dias de hoje é provavelmente dizer que não mais que um Calvinista dentre cem sustenta a visão "supralapsariana". Nós somos Calvinistas o bastante, mas não somos "altos Calvinistas". O termo "alto Calvinista" aplica-se àquele que sustenta a visão "supralapsariana".
É sem dúvida verdadeiro que a escolha soberana de Deus está disseminada em qualquer dos sistemas e a salvação como um todo é obra de Deus. Os oponentes usualmente enfatizam o sistema "supralapsariano", por ser o que, sem explicação, é mais provável de vir a conflitar com os sentimentos e as impressões naturais do homem. Também é verdadeiro que há algumas coisas que não podem ser formatadas no tempo, -- que estes eventos não estão na mente Divina como encontram-se na nossa mente, por uma sucessão de atos, um após outro, mas que por um único ato Deus ordenou, todas essas coisas de uma só vez. Na mente Divina o plano é uno, cada parte do qual constituída com referência a um estado de fatos, os quais intencionados por Deus, como sendo resultados das outras partes. Todos esses decretos são eternos. Eles têm uma relação lógica, mas não cronológica. Todavia, de maneira a podermos raciocinar inteligentemente sobre eles, devemos ter nossos pensamentos numa certa ordem. Nós, muito naturalmente, temos a opinião de que a dádiva de Cristo, em santificação e em glorificação, foi posterior aos decretos da criação e da queda.
Com relação ao ensinamento da Confissão de Westminster, o Dr. Charles Hodge faz o seguinte comentário: "Twiss, presidente oficial daquele corpo venerável (a Assembléia de Westminster), era um "supralapsariano" zeloso; a grande maioria de seus membros, contudo, estavam do outro lado. Os símbolos daquela Assembléia, enquanto claramente implicando numa visão "infralapsariana", foram todavia tão emoldurados de maneira a evitar qualquer ofensa àqueles que adotaram a teoria "supralapsariana". Na 'Confissão de Westminster', é dito que Deus apontou os eleitos para a vida eterna, e o restante da espécie humana, a Deus pareceu bem, conforme o inescrutável conselho da Sua própria vontade, através do qual Ele estende ou retrai a misericórdia conforme Lhe apraz, para a glória do Seu soberano poder sobre as Suas criaturas, deixar de lado, e ordená-los à desonra e à ira pelo seu pecado, para o louvor da Sua gloriosa justiça: Neste ponto é ensinado que aqueles a quem Deus deixa de lado são 'o resto da espécie humana; não o restante de ideais ou homens possíveis, mas o restante daqueles seres humanos que constituem a espécie humana, ou a raça humana. Em segundo lugar, a passagem cotada mostra e ensina que os não eleitos são deixados de lado e ordenados à ira 'pelo seu pecado'. Isto implica que eles foram contemplados como cheios de pecado antes desta pré ordenação para julgamento. A visão "infralapsariana" é assumida ainda mais obviamente na resposta às questões 19ª e 20ª no 'Pequeno Catecismo'. Ali é ensinado que toda a humanidade perdeu comunicação com Deus quando da queda, e que está desde então sob a Sua ira e maldição, e que Deus, do Seu próprio beneplácito elegeu alguns (alguns daqueles sob a Sua ira e maldição), para a vida eterna. Tal tem sido a doutrina da grande massa de Agostinianos, desde o tempo de Agostinho até os dias de hoje." 27
7. MUITOS SÃO ESCOLHIDOS
Quando a doutrina da Eleição é mencionada muita gente imediatamente assume que ela significa que a grande maioria da humanidade estará perdida. Mas por que alguém deveria chegar a tal conclusão? Deus é livre, na eleição, para escolher tantos quantos Lhe aprouver, e nós cremos que Ele, que é infinitamente misericordioso e benevolente e santo escolherá a grande maioria para a vida. Não há uma boa razão pela qual Ele devesse limitar-se a uns poucos somente. Nos é dito que Cristo terá a preeminência em todas as coisas, e nós não cremos que ao Diabo será permitido emergir vitorioso, mesmo em números.
O nosso posicionamento neste respeito foi mui habilmente apresentado pelo Dr. W. G. T. Shedd nas seguintes palavras: "Note-se que a questão 'quantos estão eleitos e quantos estão rejeitados', não tem nada a ver com a questão 'se Deus pode eleger ou rejeitar pecadores'. Se estiver intrinsecamente correto para Ele eleger ou não eleger, salvar ou não salvar aqueles 'agentes morais livres' que, por sua própria falta atiraram-se no pecado e na ruína, números não são importantes para estabelecer-se estatística correta. E se estiver intrinsecamente errado, números não são importantes para estabelecer-se estatística errada. Nem tampouco há qualquer necessidade de que o número dos eleitos seja pequeno, e consequentemente o de não eleitos seja grande, ou vice versa. A eleição e a não eleição, assim como os números dos eleitos e dos não eleitos são ambos um assunto da soberania e decisão opcional. Ao mesmo tempo, alivia a solenidade e o horror que pairam sobre o decreto da rejeição, ao lembrar que as Escrituras Sagradas ensinam que o número dos eleitos é muito maior que o dos não eleitos. O reino do Redentor neste mundo caído é sempre descrito como muito maior e grandioso que o de Satã. A operação da graça na terra é uniformemente representada como mais poderosa que a do pecado. 'Onde abunda o pecado, a graça superabundou.' E o número final dos redimidos é dito ser um 'número o qual nenhum homem pode contar,' mas o (número) dos perdidos não é tão magnificado e enfatizado." 28
O nosso posicionamento neste respeito foi mui habilmente apresentado pelo Dr. W. G. T. Shedd nas seguintes palavras: "Note-se que a questão 'quantos estão eleitos e quantos estão rejeitados', não tem nada a ver com a questão 'se Deus pode eleger ou rejeitar pecadores'. Se estiver intrinsecamente correto para Ele eleger ou não eleger, salvar ou não salvar aqueles 'agentes morais livres' que, por sua própria falta atiraram-se no pecado e na ruína, números não são importantes para estabelecer-se estatística correta. E se estiver intrinsecamente errado, números não são importantes para estabelecer-se estatística errada. Nem tampouco há qualquer necessidade de que o número dos eleitos seja pequeno, e consequentemente o de não eleitos seja grande, ou vice versa. A eleição e a não eleição, assim como os números dos eleitos e dos não eleitos são ambos um assunto da soberania e decisão opcional. Ao mesmo tempo, alivia a solenidade e o horror que pairam sobre o decreto da rejeição, ao lembrar que as Escrituras Sagradas ensinam que o número dos eleitos é muito maior que o dos não eleitos. O reino do Redentor neste mundo caído é sempre descrito como muito maior e grandioso que o de Satã. A operação da graça na terra é uniformemente representada como mais poderosa que a do pecado. 'Onde abunda o pecado, a graça superabundou.' E o número final dos redimidos é dito ser um 'número o qual nenhum homem pode contar,' mas o (número) dos perdidos não é tão magnificado e enfatizado." 28
Há, no entanto, uma prática muito comum entre os escritores Arminianos, de representar os Calvinistas como tendendo a consignar à miséria eterna uma grande parte da raça humana, que eles admitiriam às glórias do céu. É uma mera caricatura do Calvinismo, representá-lo como se baseado no princípio que os salvos serão somente um punhado, ou uns poucos arrancados das chamas. Quando os Calvinistas insistem na doutrina da Eleição, sua ênfase reside no fato de que Deus lida pessoalmente com cada alma individual, ao invés de simplesmente lidar com a humanidade como um todo; e é algo totalmente à parte da proporção relativa que deve existir entre os salvos e os perdidos. Em resposta àqueles que são inclinados a dizer, "De acordo com esta doutrina somente Deus pode salvar a alma; haverá poucos salvos," responder que a sua ponderação poderia muito bem ser, "Uma vez que somente Deus pode criar estrelas, pode haver somente poucas estrelas." A objeção não é muito bem aceita. A doutrina da Eleição em si mesma não nos diz nada a respeito do que deverá ser a proporcionalidade no final. O único limite estabelecido é o de que nem todos serão salvos.
Tanto quanto diz respeito aos princípios de soberania e de eleição pessoal, não há razão por que um Calvinista não deva sustentar que todos os homens serão finalmente salvos; e alguns Calvinistas têm na verdade sustentado este ponto de vista. "O Calvinismo", escreveu W. P. Patterson, da Universidade de Edinburgh, "é o único sistema teológico que contém princípios -- nas suas doutrinas da eleição e da graça irresistível -- que poderia dar credibilidade à uma teoria de salvação universal." E o Dr. S. G. Craig, Editor da revista 'Cristianismo Hoje', e um dos mais destacados homens na Igreja Presbiteriana da atualidade, diz que "Sem dúvida que muitos Calvinistas, assim como muitos não Calvinistas, têm, em obediência aos supostos ensinamentos das Escrituras, sustentado que poucos serão salvos, mas não há nenhuma boa razão pela qual os Calvinistas não possão crer que os salvos serão, em última instância, a imensa maioria da raça humana. De qualquer forma, os nossos mais importantes teólogos -- Charles Hodge, Robert L. Dabney, W. G. T. Shedd e B. B. Warfield -- assim têm se manifestado."
Como citado por Peterson, o Calvinismo, com a sua ênfase na relação pessoal e íntima entre Deus e cada alma individualmente, é o único sistema teológico que ofereceria uma base para o universalismo, não fosse tal ponto de vista contraditório com as Sagradas Escrituras. E em contrasto com isto, não deveria então o Arminiano admitir que, comparativamente de acordo com os seus princípios, somente alguns poucos seriam realmente salvos? Ele deve admitir que na história humana, uma grande proporção de adultos, mesmo em paragens nominalmente Cristãs, no exercício do seu "livre arbítrio" com uma "habilidade graciosamente restaurada" têm morrido sem aceitar a Cristo. E a menos que Deus esteja trazendo o mundo para um destino já apontado, que bases existem para supor-se que, tanto quanto a natureza humana permanecer como está, a situação seria materialmente diferente, mesmo que o mundo durasse ainda hum bilhão de anos?
8. UM MUNDO OU UMA RAÇA REDIMIDA
Uma vez que foi o mundo, ou a raça humana, que caiu em Adão, foi também o mundo, ou a raça humana que foi redimida por Cristo. Isto, contudo, não significa que cada indivíduo será salvo, mas que a raça como raça será salva. Deus Jeová não é uma mera deidade tribal, mas é "O Deus de toda a terra"; e a salvação que Ele teve em mente não pode estar limitada a um pequeno e seleto grupo, ou a poucos favorecidos. O Evangelho não foi meramente um 'jornaleco' para umas poucas vilas e cidades na Palestina, mas foi uma mensagem mundial; e o testemunho abundante e constante da Bíblia é que o reino de Deus encherá a terra, "...o seu domínio se estenderá de mar a mar, e desde o Rio até as extremidades da terra."[Zacarias 9:10]
No começo, no Antigo Testamento, temos a promessa de que "...a glória do Senhor encherá toda a terra,"[Números 14:21]; e Isaías repete a promessa de que toda a carne verá a glória de Jeová [veja em Isaías 40:5: "A glória do Senhor se revelará; e toda a carne juntamente a verá; pois a boca do Senhor o disse."]. Israel foi chamado de 'luz para os Gentios' ["Sim, diz ele: Pouco é que sejas o meu servo, para restaurares as tribos de Jacó, e tornares a trazer os preservados de Israel; também te porei para luz das nações, para seres a minha salvação até a extremidade da terra."(Isaías 49:6)] e 'para a salvação da terra' ["porque assim nos ordenou o Senhor: Eu te pus para luz dos gentios, a fim de que sejas para salvação até os confins da terra."(Atos 13:47)]. Joel declarou abertamente que nos dias de bênção vindouros, o Espírito então dado somente a Israel seria derramado sobre toda a terra. "Acontecerá depois que derramarei o meu Espírito sobre toda a carne..."[Joel 2:28]; e Pedro aplicou a profecia ao derramamento que iniciou-se no Pentecostes ["Mas isto é o que foi dito pelo profeta Joel"(Atos 2:16)].
No começo, no Antigo Testamento, temos a promessa de que "...a glória do Senhor encherá toda a terra,"[Números 14:21]; e Isaías repete a promessa de que toda a carne verá a glória de Jeová [veja em Isaías 40:5: "A glória do Senhor se revelará; e toda a carne juntamente a verá; pois a boca do Senhor o disse."]. Israel foi chamado de 'luz para os Gentios' ["Sim, diz ele: Pouco é que sejas o meu servo, para restaurares as tribos de Jacó, e tornares a trazer os preservados de Israel; também te porei para luz das nações, para seres a minha salvação até a extremidade da terra."(Isaías 49:6)] e 'para a salvação da terra' ["porque assim nos ordenou o Senhor: Eu te pus para luz dos gentios, a fim de que sejas para salvação até os confins da terra."(Atos 13:47)]. Joel declarou abertamente que nos dias de bênção vindouros, o Espírito então dado somente a Israel seria derramado sobre toda a terra. "Acontecerá depois que derramarei o meu Espírito sobre toda a carne..."[Joel 2:28]; e Pedro aplicou a profecia ao derramamento que iniciou-se no Pentecostes ["Mas isto é o que foi dito pelo profeta Joel"(Atos 2:16)].
Ezequiel nos dá o retrato do fluxo crescente de águas curadoras que vertem de sob a soleira do templo, águas que estavam primeiro à altura dos tornozelos, depois dos joelhos, então dos quadris e em seguida um grande rio, águas que não se podiam atravessar {"(1) Depois disso me fez voltar à entrada do templo; e eis que saíam umas águas por debaixo do limiar do templo, para o oriente; pois a frente do templo dava para o oriente; e as águas desciam pelo lado meridional do templo ao sul do altar. (2) Então me levou para fora pelo caminho da porta do norte, e me fez dar uma volta pelo caminho de fora até a porta exterior, pelo caminho da porta oriental; e eis que corriam umas águas pelo lado meridional. (3) Saindo o homem para o oriente, tendo na mão um cordel de medir, mediu mil côvados, e me fez passar pelas águas, águas que me davam pelos artelhos. (4) De novo mediu mil, e me fez passar pelas águas, águas que me davam pelos joelhos; outra vez mediu mil, e me fez passar pelas águas, águas que me davam pelos lombos. (5) Ainda mediu mais mil, e era um rio, que eu não podia atravessar; pois as águas tinham crescido, águas para nelas nadar, um rio pelo qual não se podia passar a vau."[Ezequiel 47:1-5]}. A interpretação de Daniel para o sonho do Rei Nabucodonosor nos ensina a mesma verdade. O rei viu uma grande imagem, com várias partes em ouro, prata, bronze, ferro e barro. Então ele viu uma pedra cortada ser cortada sem o auxílio de mãos, pedra esta que feriu a estátua de modo que o ouro, a prata, o bronze, o ferro e o barro foram esmiuçados e levados pelo vento sem que se pudesse deles achar qualquer vestígio. Estes vários elementos representavam os grandes impérios do mundo, que seriam despedaçados e completamente varridos, enquanto que a pedra cortada sem o auxílio de mãos representava um reino espiritual que o Próprio Deus estabeleceria e que se tornaria uma grande montanha e encheria toda a terra. "Mas, nos dias desses reis, o Deus do céu suscitará um reino que não será jamais destruído; nem passará a soberania deste reino a outro povo; mas esmiuçará e consumirá todos esses reinos, e subsistirá para sempre."[Daniel 2:44]. À luz do Novo Testamento, vemos que este reino era aquele que Cristo estabeleceu. Na visão que Daniel teve, a besta guerreou com os santos e prevaleceu, ainda, por um tempo, -- mas, até que "...chegou o tempo em que os santos possuíram o reino."[Daniel 7:22].
Jeremias transmitiu a promessa de que o tempo vem quando "...não ensinarão mais cada um a seu próximo, nem cada um a seu irmão, dizendo: Conhecei ao Senhor; porque todos me conhecerão, desde o menor deles até o maior, diz o Senhor..."[Jeremias 31:34]. O salmista escreveu "Pede-me, e eu te darei as nações por herança, e as extremidades da terra por possessão"[Salmo 2:8]. O último livro do Antigo Testamento contém a promessa que "Mas desde o nascente do sol até o poente é grande entre as nações o meu nome; e em todo lugar se oferece ao meu nome incenso, e uma oblação pura; porque o meu nome é grande entre as nações, diz o Senhor dos exércitos."[Malaquias 1:11]
Encontramos no Novo Testamento o mesmo ensino. Quando o Senhor finalmente mandar chuvas de bênçãos espirituais para o Seu povo, "o resto dos homens" e "todos os Gentios" "busquem ao Senhor" (veja em Atos 15:17). "E Ele (Cristo) é a propiciação pelos nossos pecados, e não somente pelos nossos, mas também pelos de todo o mundo."[I João 2:2]. E ainda, "(16) Porque Deus amou o mundo de tal maneira que deu o seu Filho unigênito, para que todo aquele que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna. (17) Porque Deus enviou o seu Filho ao mundo, não para que julgasse o mundo, mas para que o mundo fosse salvo por ele."[João 3:16, 17]. E depois, "...o Pai enviou seu Filho como Salvador do mundo."[I João 4:14] ; "...Eis o Cordeiro de Deus, que tira o pecado do mundo."[João 1:29] ; "...nós mesmos temos ouvido e sabemos que este é verdadeiramente o Salvador do mundo."[João 4:24] ; "...Eu sou a luz do mundo..."[João 8:12] ; "...Eu vim, não para julgar o mundo, mas para salvar o mundo."[João 12:47] ; "E eu, quando for levantado da terra, todos atrairei a Mim."[João 12:32] ; "...Deus estava em Cristo reconciliando consigo o mundo..."[II Coríntios 5:19]. Acerca do reino dos céus, é dito ser "...semelhante ao fermento que uma mulher tomou e misturou com três medidas de farinha, até ficar tudo levedado."[Mateus 13:33]
No décimo primeiro capítulo da Carta de Paulo aos Romanos, ele escreve que a aceitação do Evangelho pelos Judeus será como "vida dentre os mortos" em suas bênçãos espirituais para o mundo. Através da sua queda o Evangelho foi dado aos Gentios - "Ora se o tropeço deles é a riqueza do mundo, e a sua diminuição a riqueza dos gentios, quanto mais a sua plenitude!" . . . . "Porque, se a sua rejeição é a reconciliação do mundo, qual será a sua admissão, senão a vida dentre os mortos?". O domínio universal e completo de Cristo é ensinado novamente, quando somos ditos que Ele está sentado à direita de Deus Pai até que todos os inimigos tenham sido postos sob os Seus pés.
Assim, forte ênfase é aplicada na universalidade da obra redentora de Cristo, e nos é ensinado que nossos olhos ainda verão um mundo Cristianizado. E, desde que nada é mencionado com relação a quanto tempo a terra continuará a existir após aquele objetivo ter sido alcançado, possivelmente podemos esperar uma "era dourada" de prosperidade espiritual, continuadamente por séculos, ou mesmo milênios, durante qual tempo o Cristianismo triunfará em toda a terra, e durante qual tempo uma grande proporção mesmo de adultos será salva. Parece que o número dos redimidos será multiplicado até que em muito ultrapasse o número dos perdidos.
Não podemos, é claro, fixar nem mesmo uma data aproximada para o fim do mundo. Em vários lugares na Bíblia nos é dito que Cristo voltará no fim desta presente ordem mundial, que a Sua vinda será pessoal, visível, e em grande poder e glória, que a ressurreição geral e o julgamento geral então terão lugar; e que o céu e o inferno então virão a existir em sua plenitude. Mas também tem sido expressamente revelado que o temo da vinda do nosso Senhor permanece "entre as coisas secretas que pertencem ao Senhor nosso Deus." "Pois quanto àquele dia ninguém sabe, nem mesmo os anjos no céu nem o Filho, mas somente o Pai," disse Jesus antes da Sua crucificação; e depois da Sua ressurreição Ele disse, "A vós não vos compete saber os tempos ou as épocas, que o Pai reservou à sua própria autoridade."[Atos 1:7]. Portanto, aqueles que atrevem-se a vaticinar quando será o fim do mundo, simplesmente falam sem conhecimento. À vista do fato de que já transcorreram 2.000 anos desde que Cristo veio ao mundo pela primeira vez, pode ser, tanto quanto sabemos e conhecemos, que outros 2.000 anos transcorrerão até que ele retorne, -- talvez muito mais tempo, talvez muito menos que isso.
Neste aspecto, o Dr. S. G. Craig disse: "Sabemos que certos eventos, tais como a pregação do Evangelho entre todas as nações (veja em Mateus 24:14), a conversão dos Judeus (veja em Romanos 11:25-27), a queda de 'todo domínio e toda autoridade e poder' que sejam opositores de Cristo (veja em I Coríntios 15:24); ocorrerão antes do retorno do nosso Senhor. Parece claro, portanto, que enquanto o tempo do retorno do nosso Senhor não é conhecido, ainda assim tal fato permanece um tanto quanto distante no futuro. Quanto mais ainda no futuro, não temos como saber. Sem dúvida, se os eventos moverem-se tão lentamente no futuro como moveram-se no passado, a vinda do nosso Senhor dar-se-á num futuro distante. Mas tendo em vista, contudo, que acontecimentos movem-se muito mais rapidamente que os que já se passaram, tanto quanto o que antigamente demorava séculos para ser conseguido, para ser alcançado, atualmente é alcançado, conseguido somente em poucos anos; é possível que o retorno de Cristo esteja para ocorrer então num futuro comparativamente próximo. Se futuro próximo ou remoto como medido na escala humana, podemos estar certos de que acontecerá num futuro próximo, conforme medido pela escala de Deus, para quem mil anos são como um dia somente. Contudo, nas presentes condições, parece haver pouco ou nada nas Escrituras Sagradas que garanta a noção de que Jesus retornará dentro do período de vida desta geração." 29
O mundo talvez ainda seja jovem. Certamente Deus não nos deu nenhuma exibição do que ele pode fazer com um mundo verdadeiramente convertido à retidão e justiça. O que temos visto parece ser somente o estágio preliminar, uma vitória temporária do diabo, cuja obra será completamente derrotada. A obra de Deus estende-se através dos séculos. Mesmo os milênios são insignificantes para Aquele que habita a eternidade. Quando associamos nossa teologia com nossa astronomia, vemos que Deus opera em uma incrivelmente vasta escala. Ele criou e estabeleceu milhões, mesmo bilhões talvez, de flamejantes sóis em todo o universo, -- algo como dez milhões já foram catalogados. Os astrônomos nos contam, por exemplo, que a terra encontra-se a 92.000.000 milhas (algo em torno de 147.200.000 Km - n.t.) de distância do sol e que a luz, viajando à velocidade de 300.000 Km por segundo leva somente oito minutos para atravessar aquela distância. Eles vão além, ao dizer que a estrela fixa mais próxima encontra-se tão longe que são necessários quatro anos para que a luz dela chegue até nós; que o brilho, a luz da estrela polar que hoje vemos esteve a caminho durante 450 anos. À vista do que a ciência moderna revela, podemos perceber que o período de tempo durante o qual o homem tem vivido na terra é comparativamente insignificante. Para a raça humana, Deus pode ter reservado desenvolvimentos tais que poderão ser assombrosos, -- desenvolvimentos dos quais não podemos sequer remotamente sonhar.
9. A VASTA MULTIDÃO DOS REDIMIDOS
O decreto do amor de Deus, que elege e que predestina, embora discriminativo e particular, é, não obstante, muito extensivo. "...vi, e eis grande multidão que ninguém podia enumerar, de todas as nações, tribos, povos e línguas, em pé diante do trono e diante do Cordeiro, vestidos de vestiduras brancas, com palmas nas mãos; e clamavam em grande voz, dizendo: Ao nosso Deus, que se assenta no trono e ao Cordeiro..."[Apocalipse 7:9, 10]. Deus o Pai elegeu milhões incontáveis da raça humana para a salvação e gozo eternos. Apenas que proporção da família humana Ele incluiu em Seu propósito de misericórdia, nós não sabemos; mas, à vista dos dias futuros de prosperidade que estão prometidos à Igreja, pode-se inferir que a maior parte deles serão eventualmente encontrados entre o número dos Seus eleitos.
No capítulo dezenove do Livro do Apocalipse escrito pelo apóstolo João, está relatada uma visão que mostra em termos figurativos a luta entre as forças do bem e do mal, no mundo. Com relação àquela descrição, o Dr. Warfield diz: "A seção abre-se com uma visão da vitória da Palavra de Deus, o Rei dos Reis e Senhor dos Senhores sobre todos os Seus inimigos. Nós O vemos chegar do céu em um corcel de guerra, seguido pelos exércitos do céu; as aves que voam no céu são convocadas para a festa de cadáveres que será preparada para elas; os exércitos do inimigo -- os animais e os reis da terra -- estão reunidos contra Ele e são totalmente destruídos; e todas as aves se fartaram da sua carne (Ap 19:11-21). Temos aqui um retrato vívido de uma vitória completa, uma conquista por inteiro; e o cenário de guerra e batalha é usado para dar vida a tal retrato. Este é o símbolo. O que está simbolizado é obviamente a vitória completa do Filho de Deus sobre todas as hostes de perversos. Somente um único traço deste significado é proporcionado pela linguagem descritiva, mas é o bastante. Em duas ocasiões somos cuidadosamente informados que a através da qual a vitória é conquistada procede da boca do conquistador (versículos 15 e 21). Não devemos pensar, enquanto lemos, num combate manual ou numa guerra literal, portanto; a conquista é alcançada pela palavra falada -- em resumo, pela pregação do Evangelho. Ou seja, temos diante de nós uma figura da carreira vitoriosa do Evangelho de Cristo no mundo. Todo imaginativo da batalha ferrenha e seus detalhes sangrentos são mostrados para dar-nos a impressão exata de quão completa é a vitória. O Evangelho de Cristo vai conquistar a terra; Ele vencerá a todos os Seus inimigos." 30
Para nós que vivemos entre a primeira e a segunda vinda de Cristo, é dado a conhecer o palco da batalha. Não nos é dito, contudo, quanto tempo levará até que seja coroada com a vitória, ou quanto tempo o mundo convertido esperará a vinda do Senhor. Hoje vivemos num período que é relativamente dourado se comparado com o primeiro século da era Cristã, e este progresso deve perdurar até que aqueles que viverem nesta terra presenciem um cumprimento prático da oração, "Venha o Teu reino, seja feira a Tua vontade assim na terra como no Céu." Quando temos uma visão mais ampla da maneira graciosa de Deus lidar com o mundo pecador, vemos também que Ele não distribuiu a graça da Sua eleição com a mão fechada, mas que o Seu propósito foi o da restauração do mundo todo para Si.
A promessa foi feita a Abraão que a sua posteridade seria uma vasta multidão, -- "que deveras te abençoarei e certamente multiplicarei a tua descendência como as estrelas dos céus e como a areia na praia do mar ..."[Gênesis 22:17]; "Farei a tua descendência como o pó da terra; de maneira que, se alguém puder contar o pó da terra, então se contará também a tua descendência."[Gênesis 13:16]. E no Novo Testamento descobrimos que esta promessa refere-se não meramente aos Judeus como um povo separado, mas que aqueles que são Cristãos estão no mais alto conceito de verdadeiros "filhos de Abraão". "Sabeis, pois, que os da fé é que são filhos de Abraão"; e de novo, "E, se sois de Cristo, também sois descendentes de Abraão e herdeiros segundo a promessa."[Gálatas 3:7, 29].
Isaías declarou que a vontade de Jeová prosperaria nas mãos do Messias, que Ele veria o trabalho penoso de Sua alma e ficaria satisfeito. E em vista do que Ele sofreu no Calvário nós sabemos que Ele não seria facilmente satisfeito.
A idéia de que o número dos salvos em muito superará o dos perdidos também é mostrado nos contrastes encontrados na linguagem das Escrituras. O Céu é uniformemente retratado como o próximo mundo, como um grande reino, um país, uma cidade, enquanto que por outro lado o inferno é uniformemente representado como um lugar comparativamente pequeno, uma prisão, um lago (de fogo e enxofre), uma vala (funda, talvez, mas estreita), (vide Lucas 20:35; I Timóteo 6:17; Apocalipse 21:1, Mateus 5:3; Hebreus 11:16; I Pedro 3:19; Apocalipse 19:20; 20:10, 14, 15; 21:8-27). Quando os anjos e os santos são mencionados na Bíblia, é dito estarem em hostes, miríades, uma multidão inumerável, dez mil vezes dez mil e milhares de milhares mais; mas tais figuras de linguagem não são nunca usadas com relação aos perdidos, e por contraste o seu número parece ser relativamente insignificante (Lucas 2:13; Isaías 6:3; Apocalipse 5:11). "O círculo da eleição de Deus," diz Shedd, "é um grande círculo dos céus e não o de uma moenda. O reino de Satã é insignificante em contraste com o reino de Cristo. Na imensa amplidão do domínio de Deus, o bem é a regra, e o mal é a exceção. O pecado é um ponto na brancura da eternidade; uma mancha no sol. O inferno é somente um canto do universo."
A julgar por estas considerações então parece (se pudermos arriscar um palpite) que o número daqueles que são salvos pode eventualmente ser de proporção tal para o número daqueles que estão perdidos como o número de cidadãos livres em nossas comunidades hoje em dia tem para com o número daqueles que estão em prisões e penitenciárias; ou que a companhia dos salvos pode ser comparada às árvores que crescem e florescem, enquanto que os perdidos comparam-se aos ramos e gravetos que são cortados fora e que queimam nas fogueiras. Quem mesmo entre os não Calvinistas não gostaria que isto fosse verdade?
Mas, pode ser questionado, será que os versículos, "...estreita é a porta, e apertado, o caminho que conduz para a vida, e são poucos os que acertam com ela," e, "...muitos são chamados, mas poucos, escolhidos." [Mateus 7:14; 22:14] ensinam que muitos mais são perdidos do que salvos? Nós cremos que tais versículos intencionavam serem compreendidos num sentido temporal, como descrevendo as condições que Jesus e os Seus discípulos encontraram na Palestina em sua época. A grande maioria das pessoas ao seu redor não estavam trilhando caminhos de justiça e retidão, e as palavras são proferidas muito mais do ponto de vista do momento do que do ponto de vista do Dia do Julgamento ainda distante. Nessas palavras é nos apresentado um quadro que era verdadeiro para a vida como eles a viam, e que descreveria, naquele sentido, o mundo como tem sido mesmo até os dias de hoje. "Mas", pergunda o Dr. Warfield, "à medida em que os anos e os séculos passam, será que nunca poderá ser -- ou será que não é para ser -- que a proporção seguindo "os dois caminhos" se reverta?"
Aqueles versículos também têm a incumbência de ensinar-nos que o caminho da salvação é de dificuldade e de sacrifício, e que é nossa tarefa ater-nos a ele com diligência e com persistência. Ninguém deve assumir que a sua salvação como ponto pacífico. Aqueles que adentram ao reino dos céus assim o fazem através de muitas tribulações; daí o comando, "...Esforçai-vos por entrar pela porta estreita..."[Lucas 13:24]. A escolha na vida é representada como uma escolha entre duas estradas, uma larga, bem pavimentada e fácil de trafegar, mas que conduz à destruição. A outra é estreita e difícil, e conduz à vida. "Não há mais razão para supor que tal similitude ensina-nos que os salvos serão em menor número que os perdidos, do que supor que a parábola das Dez Virgens [Mateus 25:1 e subsequentes] nos ensina que os números de ambos, salvos e perdidos, serão precisamente iguais, e há muito menos razão para supor que tal similitude mostra que os salvos serão em menor número comparativamente aos perdidos do que supor que a parábola do Joio [Mateus 13:24 e subsequentes] ensina-nos que os perdidos serão de número inconsiderável quando comparados com os salvos -- pois tal é, verdadeiramente, uma parte importante do ensinamento daquela parábola." 31. E nós podemos acrescentar que não há mais razão para supor que a referência aos dois caminhos ensina que o número dos salvos será menor que o número dos perdidos do que para supor que a parábola da ovelha perdida ensina que somente um dentre uma centena será perdido e ainda assim será eventualmente resgatado, o que seria verdadeiramente caso de absoluto 'restauracionismo'.
10. O MUNDO ESTÁ MELHORANDO
A redenção do mundo é um processo longo e vagaroso, estendendo-se pelos séculos, todavia certamente aproximando-se de um objetivo já apontado. Vivemos dia de vitória crescente e testemunhamos a conquista tomar lugar.
Há períodos de prosperidade espiritual e períodos de depressão; todavia há progresso em geral. Olhando para os dois mil anos passados desde que Cristo veio ao mundo, podemos ver que tem havido progresso maravilhoso. Este curso será completado, e antes que Cristo venha novamente nós veremos um mundo Cristianizado. Isto não quer dizer que todo o pecado será erradicado -- sempre haverá algum joio no meio do trigo até a hora da colheita, e mesmo os justos, enquanto permanecerem neste mundo, algumas vezes cairão vítimas do pecado e da tentação. Mas isto significa que como hoje vemos alguns grupos e comunidades Cristãos, também eventualmente veremos um mundo Cristão.
"A verdadeira forma de julgar o mundo é comparar seu presente com a condição passada e notar em qual direção ele se move. Estará indo para trás ou para frente, piorando ou melhorando? Pode estar envolto num lusco-fusco, mas será a luz do anoitecer ou do raiar do dia? Estarão as sombras se aprofundando como numa noite sem estrelas ou estarão elas dissipando-se ante o nascer do sol? .... Um vislumbre do mundo como ele é hoje comparado ao que era a dez ou vinte séculos atrás nos mostra que passou por um grande arco e que move-se em direção da manhã." 32
Hoje em dia há muito mais riqueza consagrada ao serviço da Igreja que nunca dantes; e, apesar da triste tendência ao Modernismo em muitos lugares, cremos que há hoje muito mais atividade evangelística e missionária realmente honesta que jamais se tenha tido notícia. O número de Escolas Bíblicas, colégios Cristãos, e seminários nos quais a Bíblia é sistematicamente estudada está crescendo muito mais rapidamente que a própria população. No último ano mais de 11.000.000 exemplares ou porções da Bíblia foram distribuídos em vários idiomas somente pela Sociedade Bíblica Americana, seja no seu próprio país como no estrangeiro -- um fato que significa que a Bíblia está sendo propagada como nunca antes.
A Igreja Cristã tem feito grande progresso em muitas partes do mundo, e especialmente durante os últimos dois ou três séculos ela desenvolveu milhares e milhares de igrejas individuais e tem sido uma influência benéfica poderosa na vida de milhões de pessoas. Através dela foram fundadas inúmeras escolas e hospitais. Sob a sua influência benigna, o serviço social e a ética cultural avançaram grandemente no mundo todo, e os padrões morais das nações são hoje em dia muito mais elevados que quando a Igreja foi primeiramente estabelecida.
"A Igreja já penetrou em cada continente e estabeleceu-se em cada ilha e estende seus estandartes através da linha do equador e de um polo ao outro. Ela é hoje em dia a maior organização na terra, é "o" empreendimento no mundo. E os resultados não são desalentadores. No nosso país ( * ) a Cristandade tem crescido no mínimo cinco vezes mais rápido que a população. Cem anos atrás havia um Cristão professo em cada quinze habitantes, ao passo em que hoje há um em cada três, e isso excluindo-se crianças, um em dois. Ao redor do mundo os resultados são impressionantes. No ano de 1500 AD havia no mundo todo 100 milhões de Cristãos nominais; no ano de 1800 seu número era de 200 milhões; e as últimas estatísticas mostram que, de uma população total de 1.646.491.000 pessoas ( * * ) cerca de 564.510.000 ( * * ) são Cristãos nominais, ou seja, aproximadamente um terço da população total da terra. O Cristianismo cresceu mais nos últimos cem anos que nos oitocentos anos anteriores." 33 (*= nos EUA ; **= à época em que o presente trabalho foi escrito/publicado à nota do tradutor)
A afirmação de que o Cristianismo cresceu mais nos últimos cem anos que nos oitocentos anos anteriores parece ser aproximadamente correta. De acordo com as estatísticas, em 1950, o Cristianismo tem um número consideravelmente maior de adeptos que o total combinado de qualquer outras duas religiões do mundo. Estes números mostram que há aproximadamente de Cristãos, 300.000.000 de Confuncionistas (incluindo os Taoístas), 230.000.000 de Hinduístas, de Maometanos, de Budistas, de Animistas, 20.000.000 de Shintoístas e 15.000.000 de Judeus (e enquanto muitos dos que arrolados como Cristãos o sejam só "nominalmente", a proporção de Cristãos verdadeiros é provavelmente tão grande ou maior que a proporção de qualquer outra das religiões pagãs). Todas essas outras religiões, com exceção do Maometanismo, são muito mais antigas que o Cristianismo. Ademais, só o Cristianismo é capaz de crescer e florescer sob a civilização moderna, enquanto todas as demais religiões cedo desintegram-se quando expostas à sua brilhante luz.
Somente no último século é que as missões internacionais realmente vieram a existir. Uma vez que elas foram desenvolvidas recentemente, com grandes organizações eclesiásticas na retaguarda, elas estão em posição de desenvolver um trabalho de evangelismo em países ateus, tal como nunca antes o mundo pode testemunhar. É seguro dizer que a geração presente vivendo na Índia, na Coréia e no Japão tem tido maiores chances na religião, na sociedade e no governo do que ocorreu nos dois mil anos anteriores. E quando contrastamos o rápido desenvolvimento do Cristianismo nos anos recentes com a rápida desintegração que está ocorrendo com todas as demais religiões do mundo, parece bastante claro que o Cristianismo é a futura religião mundial. À luz desses fatos nós encaramos o futuro confiantes de que o melhor ainda está por vir.
11. SALVAÇÃO INFANTIL
Muitos teólogos Calvinistas têm sustentado que aqueles que morrem durante a infância estão salvos. As Escrituras Sagradas parecem ensinar bastante claramente que os filhos de crentes são salvos; mas elas praticamente silenciam quanto aos filhos dos ateus. A Confissão de Westminster não faz nenhum julgamento quanto aos filhos de ateus que morrem antes de chegarem à idade da razão. Onde a Bíblia silencia, a Confissão de Westiminster também preserva o silêncio. Nossos destacados teólogos, contudo, cientes do fato de que "as doces misericórdias de Deus estão sobre toda as Suas obras," e dependendo em Sua misericórdia ser dispensada tão amplamente quanto possível, têm entretido uma esperança caridosa de que desde aqueles infantes não tenham eles próprios cometido nenhum pecado real, sua herança de pecado seria perdoada e eles seriam salvos na totalidade dos princípios evangélicos.
Esta é, por exemplo, a posição sustentada por Charles Hodge, W. G. T. Shedd e B. B. Warfield. Com relação àqueles que morrem durante a infância, o Dr. Warfield diz que "Seu destino é determinado não importa a sua escolha, por um decreto incondicional de Deus, cuja execução não é suspensa por nenhum ato deles próprios; e a sua salvação é assedurada por uma aplicação incondicional da graça de Cristo para com as suas almas, através da operação imediata e irresistível do Espírito Santo, anterior e sem qualquer relação com qualquer ação proveniente da sua própria vontade . . . E se a morte durante a infância depende da providência de Deus, é seguramente Deus em Sua providência que seleciona a vasta multidão a participar da Sua salvação incondicional . . . Isto é dizer nada menos que eles foram incondicionalmente predestinados para a salvação desde a fundação do mundo. Se somente uma única criança, ainda fora da idade da responsabilidade, que morrer durante a infância for salva, todo o princípio Arminiano é contestado. Se todos os infantes que morrerem forem salvos, não somente a maioria dos salvos, mas indubitavelmente a maioria da raça humana destarte, veio a existir através de uma maneira que não a Arminiana." 34
Certamente não há nada no sistema teológico Calvinista que nos preveniria de crer nisto; e até que seja provado que Deus não poderia predestinar para a vida eterna todos aqueles a quem Lhe aprouvesse chamar durante a infância, nós podemos aceitar este ponto de vista.
Os Calvinistas, é claro, sustentam que a doutrina do pecado original aplica-se tanto às crianças como aos adultos. Como todos os demais filhos de Adão, os infantes são verdadeiramente culpados por causa do pecado da raça e podem justamente serem castigados por isso. A sua "salvação" é real. Ela é possível somente através da graça de Cristo e é tão imerecida como é a salvação de adultos. Ao invés de minimizar o demérito e o castigo que lhes é devido em decorrência do pecado original, o Calvinismo magnifica a misericórdia de Deus na sua salvação. A sua salvação significa algo, pois é a remissão de almas culpadas do tormento eterno. E é custosa, pois foi paga pelo sofrimento de Cristo na crus. Aqueles que assumem outra visão do pecado original, a saber, que não é propriamente pecado e que não merece castigo eterno, fazem com que o mal do que as crianças são "salvas" seja muito pequeno e consequentemente o amor e a gratidão que eles devem a Deus pequeno também.
A doutrina da salvação infantil encontra um lugar lógico no sistema Calvinista; pois a redenção da alma é assim infalivelmente determinada, sem nada a ver com qualquer fé, arrependimento ou boas obras, seja real ou prevista. Não encontra, contudo, um lugar lógico no Arminianismo ou em qualquer outro sistema teológico. Ademais, seria como se um sistema como o Arminianismo, que detém a salvação num ato pessoal de escolha racional, logicamente demandasse que, ou outro período de provação devesse ser concedido àqueles que morrem durante a infância, de maneira que o seu destino pudesse ser afixado; ou que eles devessem ser aniquilados.
Com relação a esta questão, o Dr. S. G. Craig escreveu: "Assumimos que nenhuma doutrina da salvação infantil é Cristã se ela não professar que os infantes são membros perdidos de uma raça perdida, para quem não há salvação a não ser em Cristo. Deve ser óbvio para todos, portanto, que a doutrina de que todos os que morrem durante a infância são salvos não se encaixa com as linhas de pensamento Católico Romano ou Anglo-Católico, com os seus ensinamentos de uma regeneração batismal; já que claramente a maioria daqueles que morreram durante a infância não haviam ainda sido batizados. Também é óbvio que a linha de pensamento Luterana não prevê lugar para a noção de que todos quantos morrem durante a infância estão salvos por causa da necessidade que tal fato implicitamente anexa aos métodos da graça, especialmente a Palavra e os Sacramentos. Se a graça está somente nos meios da graça -- no caso dos infantes no batismo -- parece claro que a maioria daqueles que morreram durante a infância não foram recipientes da graça. Parece igualmente claro que o Arminiano não tem o direito de acreditar na salvação de todos quantos morrem durante a infância; de fato, não é assim tão claro que ele tenha qualquer direito de acreditar na salvação de qualquer um que tenha morrido durante a infância. Pois de acordo com os Arminianos, mesmo os Arminianos evangélicos, Deus em Sua graça meramente proveu os homens com uma oportunidade para a salvação. Não parece, contudo, que uma mera oportunidade para a salvação possa ser de qualquer valia para aqueles que morrem na infância." 35
Embora rejeitando a doutrina da regeneração batismal, e esvaziando o batismo dos não eleitos, o Calvinismo, por outro lado, estende a graça salvadora muito além das fronteiras da Igreja visível. Se é verdade que todos quantos morrem na infância, tanto em terras pagãs quanto em nações Cristãs, são salvos, então mais da metade da raça humana até hoje está entre os salvos. Ademais, pode ser dito que desde que os Calvinistas assumem que a fé salvadora em Cristo é o único requerimento para a salvação da parte dos adultos, eles nunca poderiam fazer com que o fato de ser membro na Igreja externa de Cristo seja um requerimento ou uma garantia de salvação. Eles crêem que muitos adultos que não têm nenhuma conexão com a Igreja externa são, contudo, salvos. Cada Cristão consistente submeterá, é claro, a si mesmo ao batismo, de acordo com o mandamento pleno da Bíblia e se tornará um membro da Igreja externa; todavia muitos outros, seja por causa da fraqueza de sua fé ou porque eles não tenham a oportunidade, não cumprirão tal mandamento.
Tem sido constantemente acusado que a Confissão de Fé de Westminster, ao declarar que "Infantes eleitos, morrendo durante a infância, são regenerados e salvos por Cristo" (Capítulo X, seção III), implica que não há infantes não eleitos, que, morrendo durante a infância estão perdidos, e que a Igreja Presbiteriana tem ensinado que alguns que morrem durante a infância estão perdidos. Com relação a isto, o Dr. Craig diz: "A história da frase 'Infantes eleitos que morrem durante a infância' deixa claro que o contraste implícito não era entre 'infantes eleitos que morrem durante a infância' e 'infantes não eleitos que morrem durante a infância', mas sim entre 'infantes eleitos morrem durante a infância' e 'infantes eleitos que vivem e crescem'." Contudo, de maneira a salvaguardar de qualquer mal entendido, seguido por inamistosas controvérsias, a Igreja Presbiteriana nos EUA adotou em 1903 uma Declaração de Posicionamento que diz o seguinte: "Com referência ao Capítulo X, Seção III, da Confissão de Fé, o conteúdo não deve ser considerado como ensinamento de que qualquer um que morra durante a infância esteja perdido. Cremos que todos quantos morrem durante a infância estão inclusos na eleição da graça, e estão regenerados e salvos por Cristo através do Espírito, que opera quando e onde e como Lhe apraz."
Com relação a esta Declaração de Posicionamento, o Dr. Craig diz: "É óbvio que a Declaração de Posicionamento vai além do ensinado no Capítulo X, Seção III da Confissão de Fé, tanto quanto positivamente declara que todos quantos morrem na infância estão salvos. Alguns detêm que a Declaração de Posicionamento vai além da Bíblia ao ensinar que todos aqueles que morrem durante a infância estão salvos; mas, seja como for, torna impossível para qualquer pessoa ao menos plausivelmente manter que os Presbiterianos ensinam que há crianças não eleitas que morrem durante a infância. Sem dúvida, tem havido indivíduos Presbiterianos que sustentam que alguns daqueles que morrem na infância estão perdidos; mas tal nunca foi o ensinamento oficial da Igreja Presbiteriana e como o tema agora se apresenta, tal posição é contradita pelo credo da Igreja." 36
Algumas vezes tem sido taxado que Calvino ensinou a danação real de alguns daqueles que morrem na infância. Um exame cuidadoso dos seus escritos, contudo, não sustenta tal acusação. Ele explicitamente ensinou que alguns dos eleitos morrem na infância e que eles são salvos como infantes. Ele também ensinou que houveram infantes rejeitados, pois ele sustentava que tanto a rejeição como a eleição são eternas, e que os não eleitos vêem à vida rejeitados. Mas em nenhum lugar ele ensinou que os rejeitados que morrem enquanto infantes estão perdidos. Ele é claro rejeitou o ponto de vista Pelagiano que negava o pecado original e fundamentava a salvação daqueles que morrem na infância na suposta inocência e falta de pecado. Os pontos de vista Calvinistas a esse respeito têm sido investigados minuciosamente pelo Dr. R. A. Webb e as suas descobertas são resumidas no seguinte parágrafo: "Calvino ensina que os rejeitados 'procuram' -- (suas próprias palavras) -- 'procuram' sua própria destruição; e eles procuram a sua destruição com os seus próprios atos pessoais e conscientes de 'impiedade', de 'perversidade,' e 'rebeldia'. Agora, crianças rejeitadas, embora a culpa do pecado original e sob a condenação, não podem, enquanto crianças, portanto 'procurar' a sua própria destruição através de atos pessoais de impiedade, perversidade e rebeldia. Eles deveriam, portanto, viver até os anos de responsabilidade moral de maneira a perpetrar atos de impiedade, perversidade e rebeldia, os quais Calvino define como o modelo através do qual eles procuram a sua própria destruição. Portanto, enquanto Calvino ensina que há infantes rejeitados, e que aqueles estarão finalmente perdidos, ele em lugar algum ensina que eles estarão perdidos como infantes, e enquanto eles são infantes; mas, ao contrário, ele declara que todos os rejeitados 'procuram' a sua própria rejeição com atos pessoais de impiedade, perversidade e rebeldia. Consequentemente, seu próprio raciocínio o compele a sustentar (de maneira a ser consistente consigo mesmo), que nenhuma criança rejeitada pode morrer durante a infância, mas todos que assim o são devem viver até a idade de responsabilidade moral, e traduzir o pecado original para pecado real." 37
Em nenhum dos escritos de Calvino ele diz, seja diretamente ou através de inferência boa e necessária, que qualquer um que morra durante a infância esteja perdido. Muitas das passagens que são mencionadas por oponentes para provar este ponto são meramente asserções da sua doutrina bem conhecida do pecado original, na qual ele ensina a culpa universal e a depravação de toda a raça. Muitas delas estão em altamente controversas seções onde ele discute outras doutrinas, e onde ele fala sem restrições, mas quando consideradas no contexto o significado fica invariavelmente em dúvida. Calvino simplesmente diz de todos os infantes o que Davi especificamente disse dele próprio: "Eu nasci na iniqüidade, e em pecado me concebeu minha mãe."[Salmo 51:5]; ou o que Paulo disse, "...em Adão, todos morrem..." ou ainda, que todos são "...por natureza, filhos da ira..."[Efésios 2:3].
Acreditamos haver mostrado que a doutrina da eleição é Bíblica em cada aspecto e um ditado pleno de bom senso. Aqueles que se opõem a esta doutrina assim o fazem seja porque não entendem ou porque não consideram a majestade e a santidade de Deus, ou a corrupção e a culpa de sua própria natureza. Eles esquecem-se de que se colocam ante o seu Criador não como quem justamente pode reclamar a Sua misericórdia, mas como criminosos condenados que somente merecem castigo. Ademais, eles querem ser independentes para efetuar o seu próprio esquema de salvação, ao invés de aceitar o plano de Deus, o qual é pela graça. Esta doutrina da eleição não se harmonizará com qualquer pacto de obras, nem com um pacto híbrido de obras e graça; mas é a única saída plausível de um pacto de pura graça.
12. SUMÁRIO DA DOUTRINA REFORMADA DA ELEIÇÃO
A Eleição é ato livre e soberano de Deus, através do qual Ele determina quem será feito herdeiro do céu.
O decreto da eleição foi feito na eternidade.
O decreto da eleição contempla a raça humana como já caída.
Os eleitos são trazidos de um estado de pecado para um estado de bênçãos e de gozo.
A eleição é pessoal e determina que indivíduos em particular serão salvos.
A eleição inclui tanto meios como fins, -- eleição para a vida eterna inclui a eleição para uma vida justa neste mundo.
O decreto eleitor é feito efetivo pela obra eficiente do Espírito Santo, que opera quando, e onde, e como Lhe apraz.
A graça de Deus inclinaria todos os homens ao bem, se não fosse resistida.
O decreto eleitor deixa aqueles que não são eleitos -- outros que sofrem as justas conseqüências do seu pecado.
A alguns homens é permitido seguir o mal, que eles livremente escolhem, para a sua própria destruição.
Deus, em Sua soberania, poderia regenerar a todos homens, se Ele assim escolhesse.
O Juiz de toda a terra exercerá direito, e estenderá a Sua graça salvadora até multidões não merecedoras.
A eleição não está baseada em fé prevista ou em boas obras, mas somente no soberano beneplácito de Deus.
Muito maior é a porção da raça humana que foi eleita para a vida.
Todos quantos morrem durante a infância estão entre os eleitos.
Tem também havido uma eleição de indivíduos e de nações para os favores e privilégios temporais e externos -- uma eleição que não contempla a salvação.
A doutrina da eleição é repetidamente ensinada e enfatizada em toda a Bíblia.
O decreto da eleição foi feito na eternidade.
O decreto da eleição contempla a raça humana como já caída.
Os eleitos são trazidos de um estado de pecado para um estado de bênçãos e de gozo.
A eleição é pessoal e determina que indivíduos em particular serão salvos.
A eleição inclui tanto meios como fins, -- eleição para a vida eterna inclui a eleição para uma vida justa neste mundo.
O decreto eleitor é feito efetivo pela obra eficiente do Espírito Santo, que opera quando, e onde, e como Lhe apraz.
A graça de Deus inclinaria todos os homens ao bem, se não fosse resistida.
O decreto eleitor deixa aqueles que não são eleitos -- outros que sofrem as justas conseqüências do seu pecado.
A alguns homens é permitido seguir o mal, que eles livremente escolhem, para a sua própria destruição.
Deus, em Sua soberania, poderia regenerar a todos homens, se Ele assim escolhesse.
O Juiz de toda a terra exercerá direito, e estenderá a Sua graça salvadora até multidões não merecedoras.
A eleição não está baseada em fé prevista ou em boas obras, mas somente no soberano beneplácito de Deus.
Muito maior é a porção da raça humana que foi eleita para a vida.
Todos quantos morrem durante a infância estão entre os eleitos.
Tem também havido uma eleição de indivíduos e de nações para os favores e privilégios temporais e externos -- uma eleição que não contempla a salvação.
A doutrina da eleição é repetidamente ensinada e enfatizada em toda a Bíblia.