2015/04/10

SACERDÓCIO UNIVERSAL DE TODOS OS CRENTES

Chegando-vos para ele, a pedra que vive, rejeitada, sim, pelos homens, mas para com Deus eleita e preciosa, também vós mesmos, como pedras que vivem, sois edificados casa espiritual para serdes sacerdócio santo, a fim de oferecerdes sacrifícios espirituais agradáveis a Deus por intermédio de Jesus Cristo. Vós, porém, sois raça eleita, sacerdócio real, nação santa, povo de propriedade exclusiva de Deus, a fim de proclamardes as virtudes daquele que vos chamou das trevas para a sua maravilhosa luz.
 (1 Pedro 2.4-5,9)

No Antigo Testamento os sacerdotes ofereciam sacrifícios e intercediam pelo povo. O que os sacerdotes eram para Israel, Israel, como comunidade do reino de Deus, deveria ser para as nações: se diligentemente ouvirdes a minha voz e guardardes a minha aliança, então, sereis a minha propriedade peculiar dentre todos os povos... vós me sereis reino de sacerdotes e nação santa (Êxodo 19.5-6). Deus predisse: vós sereis chamados sacerdotes do Senhor, e vos chamarão ministros de nosso Deus (Isaías 61.1). Na interpretação do Novo Testamento, esta profecia se cumpre sob dois aspectos: (1) Jesus Cristo é o grande sumo sacerdote (Hebreus 4.14) e (2) todos os crentes partilham deste sacerdócio (1 Pedeo 2.4-9). O princípio da igreja como uma comunidade de sacerdotes foi defendido pelos reformadores e nos faz refletir o quanto é importante para a nossa vida como cristãos nos dias de hoje.

Em primeiro lugar, este princípio resgata um legado, ou seja, a disposição feita por Deus em testamento tanto para a nossa salvação quanto para a missão especial que ele dá a cada um de nós. Este legado vem de Deus: ele fez o resgate da criação caída (Adão e Eva) para nos tornar filhos amados (Jesus) com a função de que sirvamos igualmente a Deus. Em outras palavras, se você é convertido, quer seja um profissional liberal, um funcionário público, um professor ou exerça qualquer outra função, você é um sacerdote no reino de Deus.

Em segundo lugar, com base neste princípio, firmamos a nossa identidade em Cristo Jesus. Nele, a pedra eleita e preciosa, somos, como pedras vivas, edificados casa espiritual para sermos sacerdócio santo (1 Pedro 2.4-5). Em Cristo somos raça eleita, sacerdócio real, nação santa, povo de propriedade exclusiva de Deus (1 Pedro 2.9a). Quando ele morreu, o véu do santuário se rasgou em duas partes de alto a baixo (Mateus 27.51). Agora, não apenas o sumo sacerdote, mas todos nós, temos acesso ao Santo dos Santos para a adoração do Deus vivo (Hebreus 10.19-22). Todos nós, discípulos de Cristo, podemos contemplar a glória do Senhor e refletir esta glória no mundo (2 Coríntios 3.18).

Em terceiro lugar, este princípio nos leva a uma tomada de posição, pois toda essa batalha travada no mundo físico e espiritual, chamada Reforma Protestante, não teria valor se apenas fosse contada como uma história. Como parte do povo de Deus, somos sacerdócio real com o objetivo definido de proclamar as virtudes daquele que nos chamou das trevas para à sua maravilhosa luz (1 Pedro 2.9b). O que somos em Cristo (identidade) está ligado ao que fazemos por Cristo (missão).

Por muitos anos esta verdade ficou obscurecida e o sacerdócio ou ministério foi destinado a pastores e missionários de carreira. Porém, voltando-nos para as Escrituras, percebemos que Jesus revelou ao mundo em todas as gerações que essa é a missão de todos os crentes. Ao relembrar os princípios da Reforma Protestante, não apenas celebramos seu aniversário, mas temos a expectativa de que Deus reavive esses princípios em nosso coração, por meio do Espírito Santo. Cabe a cada um de nós não atrapalhar esta ação do Espírito Santo, para que vivamos o grande desafio expresso no lema: "Uma vez reformados sempre reformando".

A liderança Cristã



Introdução: Interessante Pedro terminar essa carta com conselhos à liderança. Dá-nos a entender que os líderes têm de fato grande importância e responsabilidade na tarefa de pastorear as ovelhas do rebanho de Deus.

v.1 – Pedro roga (rogar é um pedido mais forte, incisivo)
  • aos presbíteros (presbíteros, no plural, indica que na igreja cristã não deve haver somente um líder, pois a pluralidade é mais benéfica).
  • Eu, Presbítero como eles – Pedro, além de apóstolo (cf. 1.1), colocava-se na mesma posição dos demais líderes das igrejas para as quais escreve.
  • Testemunha e coparticipante da glória de Cristo a ser revelada, Pedro, com essas palavras, estimula àqueles irmãos a prosseguirem firmes na condução das igrejas mesmo diante dos sofrimentos, pois eles têm como certa a futura  glorificação com Cristo.
v.2 – pastoreai – presbítero (ancião, não necessariamente na idade, mas essencialmente na experiência com Deus)  também é pastor e bispo (supervisor). O pastor é aquele que deve alimentar o rebanho, ou seja, no caso aqui, o alimento é o ensino da palavra, entre outras características, conforme 1Tm 3.2-7
  • Não por constrangimento, mas espontaneamente: Ninguém deve ser obrigado a exercer qualquer função no corpo de Cristo que não queira. Agora, a partir do momento que aceita a incumbência, não deve ser negligente, nem preguiçoso.
  • Nem por sórdida ganância:  Outro perigo que ronda quem quer que seja a servir como líder na igreja de Cristo é o dinheiro. Apesar das Escrituras ensinarem que os pastores devem ser bem remunerados, ensina também que a vocação não deve ser motivada por outra coisa qualquer, senão pelo amor a Deus e à sua Igreja. (1Tm 5.17,18 ; 1Co. 9.7-14).
v.3 – Nem como dominadores: dominador aqui significa manipular ou intimidar os seus liderados. Ao invés disso, a liderança deve ser espiritual e baseada no exemplo.

v.4 – Supremo pastor se manifestar – O supremo pastor é CRISTO. (Hb. 13.20-21) Essa manifestação se dará quando da sua volta, então haverá o julgamento de todos, inclusive dos líderes. Imarcescível – a palavra grega é o nome de uma flor e neste contexto aqui significa que não murcha, não se acaba. Coroa de glória – é a glória eterna. No NT as coroas eram dadas como símbolo de vitória. Todo cristão tem a promessa de receber uma coroa de glória.
De vida ( Tg. 1.12), de justiça (2Tm. 4.8) e de alegria, gozo (1Ts. 219)


Conclusão: Toda igreja deve ser liderada por homens honestos e piedosos. Também devem buscar servir a igreja da melhor maneira. O sofrimento que o mundo impõe sobre o cristão deve ser amenizado pelo trabalho e amor dos pastores que Deus mesmo escolheu para essa importante tarefa. Os líderes que assim agem serão, certamente, mais respeitados e consequentemente seguidos.

DIA DA BÍBLIA, TODOS OS DIAS

A Bíblia é mais que um livro, mais que uma biblioteca, não contém a palavra de Deus,
É a Palavra de Deus. Nela aprendo verdadeiramente quem sou e como sou, pois
Ela não esconde nada, tudo revela.

Através da Bíblia, e da ação poderosa e graciosa do Espírito Santo de Deus, me é
revelado o Amor Incondicional de Deus por mim, na Pessoa maravilhosa de Cristo Jesus.

Descubro também que tão somente movido por Amor, Deus, o Pai, enviou Jesus Cristo, seu Unigênito filho, como meu substituto, para dar a Sua vida por mim, um miserável pecador.

Soube disso por que alguém, um dia, falou sobre isso para mim.

Há muita gente que ainda precisa e pode ficar sabendo a respeito disso, por isso:

"Não cesses de falar deste Livro da Lei; antes, medita nele dia e noite, para que
tenhas cuidado de fazer segundo tudo quanto nele está escrito; então, farás
prosperar o teu caminho e será bem sucedido".
 Josué 1.8

A prosperidade de que fala o texto vai além da material.
É a "Canaã Celestial", a "Morada Eterna", a "Cidade do Deus Vivo", é para lá que irão todos os que ouviram e creram na Palavra de Vida, Jesus!

"Respondeu-lhe Jesus: "Eu sou o caminho, e a verdade, e a vida; ninguém vem ao Pai senão por mim". João 14.6

Que Deus nos abençoe, amém!

Quem é Cristão de verdade?

Vivemos na parte ocidental do globo terrestre, e esta região é universalmente conhecida como cristã. Mais ainda, vivemos num país que é considerado pelo mundo e também particularmente se considera cristão.


 Um país dividido entre católicos, a maioria, e evangélicos, que a cada ano, segundo as pesquisas, vem crescendo em número. Mas, especificando um pouco mais, nascemos numa família que se considera cristã.


 Surgem então alguns questionamentos: Será que por nascermos num país considerado cristão, ou por pertencermos a uma igreja chamada cristã, católica ou evangélica, nos credencia como cristãos autênticos? A Bíblia ensina em Romanos 9.6 que:


 “Nem todos os que são de Israel são de fato israelitas” Temos a tendência de olhar para o nosso país, para os católicos ou evangélicos, para as igrejas e até mesmo para as nossas famílias e dizer:


 Somos todos Cristãos. Porém, necessariamente, não é essa a conclusão correta. Há cristãos e “cristãos”. Há cristãos nominais, cristãos que se denominam cristãos, porque não são muçulmanos ou budistas, mas que pelo simples fato de terem nascido num país cristão se consideram cristãos.


 Mas há um cristão real, verdadeiro, autêntico e esse é o que nasce do espírito. E é esse o verdadeiro cristão. O verdadeiro cristão é aquele que está em Cristo; que se sente bem na igreja de Cristo; que está à vontade no meio dos demais cristãos; que se sente em casa quando está junto do povo de Deus.


 É cristão de verdade quando se interessa pelas coisas de Deus, se alegra no trabalho para Deus, pois está com o coração na obra do Deus e Pai do nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo. Para o cristão a obra de Deus não é questão de esforço ou dever mas de obediência e satisfação pessoais acima de tudo.


 O cristão de verdade procura entender sobre o caráter de Deus, Sua Pessoa, Suas Obras, Seus Atributos – santidade, poder, fidelidade, amor, justiça, etc. – como também busca obedecer em amor os mandamentos do Senhor conforme estão registrados nas Sagradas Escrituras, pois entende como o apóstolo João em 1João 5.3 que diz: “Porque este é o amor de Deus; que guardemos os seus mandamentos; ora, os seus mandamentos não são penosos”.


 Contudo, somente os que estão em Cristo agirão assim. E acima de tudo, é verdadeiramente um cristão aquele que crê em Jesus Cristo como o Filho Unigênito de Deus e na Sua Obra perfeita e completa na cruz do calvário, porque como está registrado no evangelho segundo João 1.12 “Mas, a todos quantos o receberam, deu-lhes o poder de serem feitos filhos de Deus, a saber, aos que creem no seu nome”; aqueles que “o mesmo Espírito (Espírito de Deus) testifica como o nosso espírito que somos filhos de Deus” Romanos 8.16, são cristãos.


 Para e reflita sobre esta questão, e se você chegar à conclusão de que ainda não é cristão de acordo com que a Bíblia ensina, então busque, insista, vá a Jesus com certeza de fé, pois o próprio Cristo disse: "Eu sou o pão da vida; o que vem a mim jamais terá fome; e o que crê em mim jamais terá sede” e “Todo aquele que o Pai me dá, esse virá a mim; e o que vem a mim, de modo nenhum o lançarei fora”. João 6.35,37. Deus abençoe.                                              Rev. Luiz Eduardo.



"Sola Scriptura" - 2Tm 3.16,17

 

A Reforma Protestante ocorrida no século XVI teve, dentre tantas marcas, o propósito de colocar a Bíblia Sagrada nas mãos do povo. O acesso livre era possível apenas ao clero e, na maioria das vezes, apenas nas línguas originais e em latim, portanto, os leigos, que raramente conheciam outra língua além da materna, ficavam a mercê da Igreja de então. Sola Scriptura é uma das teses defendida pelos reformadores, que afirma, solenemente, que SOMENTE A ESCRITURA:

·         Revela quem Deus verdadeiramente é – Is. 6.3, Sl 145.17
·         Mostra quem e o que é o ser humano – Rm. 2.23
·         Ensina como Deus quer e deve ser adorado – Jo 4.23,24
·         Instrui como viver de maneira que agrade a Deus – 1Sm 15.22
·         Indica o único modo para ser salvo – At. 16.30,31
·         Conduz os homens à santificação – Jo 17.17
·         Habilita a igreja a amar a Deus – Mt. 22.37
·         Capacita os irmãos a se amarem mutuamente – Mt. 22.38
·          Sustenta o crente em todas as coisas – Is 41.10
·         Ajuda afastar o cristão dos prazeres mundanos – 1Co 5.8-11
·         Educa na justiça de Cristo – 2Tm 3.16,17
·         Vivifica o aflito – Sl. 119.107
·         Firma os passos no caminho Senhor – Sl 37.23
·         Fundamenta a fé na Pessoa de Deus – Tt. 1.1-3
·         Desvenda os mistérios de Deus através de Cristo– Cl. 1.26
·         Tira as vendas dos olhos espirituais – At. 9.18
·         É a viva, infalível e inerrante Palavra de Deus – Hb. 4.12; Is. 55.10,11.

Por isso o salmista disse: Quanto amo a tua lei! É a minha meditação, todo o dia! Os teus mandamentos me fazem mais sábio que os meus inimigos; porque, aqueles, eu os tenho sempre comigo. Compreendo mais do que todos os meus mestres, porque medito nos teus testemunhos. Sou mais prudente que os idosos, porque guardo os teus preceitos. De todo mau caminho desvio os pés, para observar a tua palavra. Não me aparto dos teus juízos, pois tu me ensinas. Quão doces são as tuas palavras ao meu paladar! Mais que o mel à minha boca. Por meio dos teus preceitos, consigo entendimento; por isso, detesto todo caminho de falsidade.” Salmos 119.97-104. 
Deus abençoe!                                                                                                                        Pr. Luiz Eduardo.

2015/04/09

A Piedade e a Igreja


A pietas de Calvino não subsistia à parte das Escrituras ou da igreja. Pelo contrário, era fundamentada na Palavra e nutri­da na igreja. Embora tenha rompido com o absolutismo da Igreja de Roma, Calvino tinha um elevado ponto de vista sobre a igreja. "Se não preferimos a igreja a todos os outros objetos de nosso in­teresse, somos indignos de ser contados como membros da igreja", ele escreveu.

Agostinho dissera: "Aquele que se recusa a ter a igreja como sua mãe não pode ter a Deus como seu Pai”. Calvino acrescentou: "Não há outra maneira de entrarmos na vida, se esta mãe não nos conce­ber em seu ventre, der-nos à luz, alimentar-nos em seu seio e, por último, não nos manter sob os seus cuidados e orientação, até que, despidos desta carne mortal, nos tornemos como os anjos". À parte da igreja, há pouca esperança de perdão dos pecados ou salvação, Calvino escreveu. Sempre é desastroso deixar a igreja.

Calvino ensinava que os crentes estão enxertados em Cristo e sua igreja, pois o crescimento espiritual ocorre na igreja. A igreja é a mãe, educadora e nutridora de todo crente, visto que o Espírito Santo age na igreja. Os crentes cultivam a piedade por meio do Espí­rito Santo mediante o ministério de ensino da igreja, progredindo da infância espiritual à adolescência e à maturidade em Cristo. Eles não se graduam na igreja enquanto não morrem. Essa educação vitalícia é oferecida numa atmosfera de piedade genuína, uma at­mosfera na qual os crentes cuidam uns dos outros em submissão à liderança de Cristo. Essa educação encoraja o desenvolvimento dos dons e do amor uns dos outros, uma vez que somos "constrangidos a receber dos outros".

O crescimento na piedade é impossível sem a igreja, porque a piedade é fomentada pela comunhão dos santos. Na igreja, os cren­tes "se unem uns aos outros na distribuição mútua dos dons". Cada membro tem o seu próprio lugar e dons para serem usados no corpo. Idealmente, todo o corpo usa esses dons em simetria e propor­ção, sempre reformando e desenvolvendo em direção à perfeição.

A PIEDADE DA PALAVRA

A Palavra de Deus é central ao desenvolvimento da piedade no crente. A piedade genuína é uma "piedade da Palavra". O modelo relacional de Calvino explica como.

A verdadeira religião é um diálogo entre Deus e o homem. A parte do diálogo que Deus inicia é a revelação. Nisso, Deus vem ao nosso encontro, fala conosco e se nos torna conhecido na pre­gação da Palavra. A outra parte do diálogo é a resposta do homem à revelação de Deus. Essa resposta, que inclui confiança, adoração e temor reverente, é o que Calvino chama de pietas. A pregação da Palavra nos salva e nos preserva, enquanto o Espírito nos capaci­ta a apropriar-nos do sangue de Cristo e responder-Lhe com amor reverente. Por meio da pregação de homens dotados de poder pelo Espírito Santo, "a renovação dos santos se realiza, e o corpo de Cris­to é edificado", disse Calvino.8

A pregação da Palavra é o nosso alimento espiritual e o remédio para nossa saúde espiritual. Com a bênção do Espírito, os pastores são médicos espirituais que aplicam a Palavra à nossa alma, assim como os médicos terrenos aplicam remédio ao nosso corpo. Com a Palavra, esses médicos espirituais diagnosticam, prescrevem re­médios e curam doenças espirituais naqueles que estão contami­nados pelo pecado e pela morte. A Palavra pregada é um instru­mento para curar, limpar e tornar frutífera nossa alma propensa a enfermidades.9 O Espírito, ou "o ministro interior", desenvolve a piedade usando o "ministro exterior" na pregação da Palavra. Con­forme disse Calvino, o ministro exterior "proclama a palavra falada, e esta é recebida pelos ouvidos", mas o ministro interior "comunica verdadeiramente a coisa proclamada... que é Cristo".10

Para desenvolver a piedade, o Espírito usa não somente o evan­gelho para produzir fé no profundo da alma dos seus eleitos, como já vimos, mas também a lei. A lei promove a piedade de três maneiras:

1. A lei restringe o pecado e promove a justiça na igreja e na socie­dade, impedindo que ambas cheguem ao caos.

2. A lei disciplina, educa, convence e nos move de nós mesmos para Jesus Cristo, o fim e o cumpridor da lei. A lei não pode nos levar a um conhecimento salvifico de Deus em Cristo. Pelo contrário, o Espírito Santo usa a lei como um espelho para nos mostrar nossa culpa, nos privar da esperança e trazer-nos ao arrependimento. Ela nos conduz à necessidade espiritual que gera a fé em Cristo. Esse uso convencedor da lei é essencial à pie­dade do crente, pois impede a manifestação da justiça própria, que é inclinada a se reafirmar até no mais piedoso dos santos.

3. A lei se torna a norma de vida para o crente. "Qual é a norma de vida que Deus nos outorgou?" Calvino pergunta no catecismo de Genebra. E responde: "A sua lei". Posteriormente, Calvino disse que a lei "mostra o alvo que devemos ter em vista, o objetivo que devemos perseguir; e que cada um de nós, de acordo com a medida de graça recebida, pode se esforçar para estruturar sua vida em harmonia com a mais elevada retidão e, por meio de es­tudo constante, avançar cada vez mais, ininterruptamente.

Calvino escreveu a respeito do terceiro uso da lei na primeira edição de suas Institutas: "Os crentes... se beneficiam da lei porque dela aprendem mais completamente, cada dia, qual é a vontade do Senhor... Isto é como se um servo, já preparado com total disposi­ção de coração para se recomendar ao seu senhor, tivesse de des­cobrir e considerar os caminhos de seu senhor, para se conformar e se acomodar a estes. Além disso, embora sejam impulsionados pelo Espírito e mostrem-se dispostos a obedecer a Deus, os crentes ainda são fracos na carne e prefeririam servir ao pecado e não a Deus. Para a nossa carne, a lei é como uma chicotada em uma mula ociosa e obstinada, uma chicotada que a faz animar-se, levantar-se e dispor-se ao trabalho".

Na última edição das Institutas (1559), Calvino é mais enfático a respeito de como os crentes se beneficiam da lei. Primeiramente, ele diz: "Este é o melhor instrumento para os crentes aprenderem mais completamente, a cada dia, a natureza da vontade do Senhor, a qual eles aspiram, e para confirmá-Los no entendimento dessa vontade". Em segundo, a lei faz o servo de Deus, "por meio de me­ditação freqüente, ser despertado à obediência, ser fortalecido na lei e restaurado de um caminho de transgressão". Calvino conclui que os santos devem prosseguir desta maneira, "pois o que seria menos amável do que a lei, com importunações e ameaças, atribular as almas com temor e as afligir com pavor?"

O ponto de vista que considera a lei primariamente como um guia que estimula o crente a apegar-se a Deus e a obedecer-Lhe ilustra outra instância em que Calvino difere de Lutero. Para Lute­ro, a lei é primariamente negativa. Está ligada ao pecado, à morte e ao diabo. O interesse predominante de Lutero é o segundo uso da lei, o uso convencedor ― mesmo quando ele considerava o pa­pel da lei na santificação. Por contraste, Calvino entendia a lei como uma expressão positiva da vontade de Deus. Como disse John Hesselink: "O ponto de vista de Calvino podia ser chamado de deuteronômico, porque ele entendia que o amor e a lei não são contrários, e sim correlatos". Para Calvino, o crente segue a von­tade de Deus, não motivado por obediência obrigatória, e sim por obediência agradecida. Sob a tutela do Espírito, a lei produz grati­dão no crente; e esta conduz à obediência amorosa e à aversão ao pecado. Em outras palavras, para Lutero o propósito primordial da lei era ajudar o crente a reconhecer e confrontar o pecado. Para Calvino, o propósito primário da lei era levar o crente a servir a Deus motivado por amor.

Um povo culturalmente dominado

UM POVO CULTURALMENTE DOMINADO, COM AUTO-ESTIMA BAIXA,
ACREDITA QUE “SER BOM É SER COMO O DOMINADOR”. NÃO
PERCEBE QUE OS MALES QUE O AFLIGEM SÃO CONSEQUÊNCIA DESSA
DOMINAÇÃO E NÃO DE SUA PSEUDO-INFERIORIDADE. RESISTIR AO
COLONIALISMO E CONSTRUIR UMA IDENTIDADE CULTURAL PRÓPRIA
E POSITIVA É CONDIÇÃO INDISPENSÁVEL PARA O SEU
DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO E SOCIAL.

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Como qualquer outro povo, o brasileiro também tem sua maneira característica de ser e viver, seu modo original de resolver problemas, estabelecer regras de convivência, transmitir valores, exprimir desejos etc. Tem, enfim, sua própria cultura: a cultura brasileira.
É ela que faz com que reconheçamos um outro brasileiro em qualquer lugar e brasileiros nos sintamos, mesmo entre pessoas ou em locais que não o são. Da mesma forma, por causa dessa cultura, constatamos facilmente quem é estrangeiro em nosso meio. Em outras palavras, temos uma identidade cultural.

A cultura não é, porém, uma coisa imóvel, acabada. Como ela se faz na prática coletiva, está eternamente se transformando e criando novas possibilidades de ser.
Quando falamos em cultura brasileira, não estamos nos limitando a pensar em coisas como samba, carnaval, feijoada, caipirinha e “jeitinho” para resolver problemas, pois são aspectos usados muito mais para compor sua caricatura, ou seja, a cultura brasileira “tipo exportação”, para consumo dos turistas.

Não estamos nos referindo também a algum modelo cristalizado, produzido pela síntese do encontro do português, africano e índio em nosso passado, mesmo porque esse encontro se produziu em momentos, espaços e situações diferentes durante o processo em que se formou nossa nação.

Além disso, nos séculos XIX e XX, recebemos influências dos franceses e ingleses, dos imigrantes europeus, árabes e japoneses e, a partir da Segunda Guerra Mundial, dos “enlatados” norte-americanos.

 É natural que desses encontros e das convivências, resistências e dominações deles decorrentes tenham surgido formas de expressão cultural que interferiram no significado e no sentimento de brasilidade.
Por ser o Brasil também uma “terra de contrastes” não temos, igualmente, uma cultura homogênea em todo o território nacional.

Por isso, como diz Renato Silveira em seu artigo “Uma arte genuína nacional e popular”, não devemos, com o objetivo de nos defender da cultura enlatada estrangeira, levar a nossa própria cultura a um enlatamento geral, partindo de uma visão conservadora e de um modelo-padrão de nossa nacionalidade.

Somos um povo colonizado e neocolonizado e evidentemente expressamos isso, embora o façamos de maneiras diferentes, segundo nossa própria postura diante do fato.
O processo de dominação pode despertar um sentimento de inferioridade e autodesprezo e, consequentemente, o desejo de ser diferente do que somos, porque acreditamos que “ser bom é parecer com o invasor”.

Um povo que resiste ao domínio, ao contrário, reflete sobre ele, problematiza e questiona o processo de invasão, a ele contrapondo uma identidade cultural positiva que lhe propicia o reconhecimento dos seus verdadeiros interesses, potencialidades e valores nacionais. Esse povo se reconhece então como “o outro”, ele mesmo, diferente, mas não inferior ao dominador.

A resistência ao colonialismo implica a não aceitação da imposição de valores estrangeiros em detrimento dos nacionais, mas não deve jamais estimular atitudes de recusa diante de outras influências culturais.

 Tanto mais rica é uma cultura quanto mais contatos teve e mais influências recebeu. Se cada povo fosse inventar e descobrir por si mesmo todos os elementos de que se utiliza, necessitaria para isso de um tempo muito maior do que o representado pela história da humanidade. É por isso que as denúncias feitas neste livro se dirigiram não à influência mas à hegemonia e, em algumas situações, ao exclusivismo do modelo cultural norte-americano e aos seus objetivos.

Ultimamente tem-se falado muito no surgimento de uma civilização mundial como consequência da internacionalização da economia e do desenvolvimento tecnológico nos campos da comunicação e da informática. Estaríamos, pois, assistindo à emergência de uma cultura planetária e de um novo personagem histórico: o cidadão do mundo.

Da maneira como se fala, esse fato por si só já invalidaria qualquer tentativa de preservação de identidades nacionais. Essa civilização entretanto não seria mais do que a americanização da cultura em âmbito internacional e a globalização, mais uma etapa da invasão dos padrões e valores do american way of life em todos os cantos do planeta, ainda que efetivada por produtos made in outros lugares que não os USA, como, por exemplo, Taiwan, Hong Kong, Coreia e Japão, só para citar alguns.

Essa identificação da “nova cultura ou civilização mundial” com a cultura norte-americana não esconde certa tendenciosidade ao considerar essa última como a mais “cumulativa e rica”, legitimando-se assim sua hegemonia sobre as demais. Está ligada também a uma concepção linear e evolucionista da história,

segundo a qual todos os povos deveriam caminhar em direção a um grau mais elevado de desenvolvimento, seguindo as pegadas dos países capitalistas centrais.

Na realidade, porém, as sociedades caminham em sentidos, ritmos e com objetivos próprios e diferentes, nem superiores nem inferiores umas às outras. Segundo Claude Lévi-Strauss em Raça e história, vistas sob outros aspectos que não o do avanço tecnológico, por exemplo, algumas culturas, por nós consideradas estagnadas, se revelariam mais bem equipadas até do que as do chamado mundo ocidental. Por exemplo, a dos esquimós e a dos beduínos, na aptidão para vencer meios geográficos hostis; as orientais, como a da Índia e do Tibete, com relação aos sistemas filosófico e religioso, e no conhecimento das relações entre corpo e mente.

Impressionados com o domínio da cultura norte-americana sobre diversos países, os adeptos da “civilização mundial” parecem se esquecer da existência de um grande número de outros povos que não sofreram, ou estão resisitindo até hoje ou, ainda, que já se libertaram dessa dominação.

Além disso, a realidade dos fatos está constantemente a desmentir a necessidade de se passar sempre por determinados estágios culturais e a possibilidade de se chegar por imitação ao estágio alcançado por uma determinada nação. 

No caso brasileiro, em particular, a história tem mostrado que a adoção do modelo norte-americano nos tem distanciado cada vez mais do modelo de desenvolvimento econômico acompanhado de desenvolvimento social e os fatos indicam, ao contrário, que o que é bom para os USA muitas vezes não tem sido utilizado a nosso favor e, sim, contra nós.

Por fim, vejamos como nós, brasileiros, com todo esse passado de “colônia cultural”, chegamos ao século XXI.

Enquanto uma parcela insignificante da população tem acesso aos bens importados ou aqui produzidos pelo capitalismo internacional, milhões de brasileiros têm vivido em absoluta ou quase absoluta miséria, recebendo, no entanto, os mesmos estímulos desencadeadores de desejos da propaganda característica da sociedade de consumo.

O que se encontra à venda no mercado interno é abocanhado em sua maior parte pela chamada classe A; a pequena parcela da população composta dos brasileiros mais ricos (5%) concentra em suas mãos uma renda quase equivalente à da imensa parcela formada pelos brasileiros mais pobres. O salário mínimo é sempre menor do que o mínimo necessário para uma vida digna, e o desemprego é a maior ameaça à segurança e paz dos trabalhadores.

Milhões de crianças e adolescentes carentes vivem em pleno abandono nas nossas principais cidades e, quando cometem alguma infração, são confinados em instituições que deveriam protegê-los mas, ao contrário, só lhes provocam mais amargura, frustração e explosões de violência. Ainda temos entre nós milhões de analfabetos, alguns na faixa etária em que deveriam estar frequentando o ensino básico.

Nossos dados estatísticos referentes à subnutrição
, mortalidade infantil, falta de acompanhamento das gestantes durante a gravidez e o parto e às condições sanitárias dos bairros onde vivem as populações mais pobres nos colocam entre os países com menor Índice de Desenvolvimento Humano (IDH).
Chegamos ao final do século XX ocupando o 79.º lugar, numa lista de 174. Vínhamos atrás do Chile, Uruguai, Argentina, Cuba, Equador, Venezuela, Cazaquistão, Suriname e Arábia Saudita.

Como o escritor Eduardo Galeano afirmou em As veias abertas da América Latina, nosso subdesenvolvimento não seria uma etapa que precede o desenvolvimento, mas consequência
da ação exercida pelas potências imperialistas e condição mesma da manutenção de suas riquezas.

 Segundo ele informa, em 1968, antes, portanto, do “milagre econômico” que acabaria por entregar o Brasil às multinacionais, a desnacionalização de nossa economia chegava a tal ponto que os estrangeiros, dos quais metade eram norte-americanos, detinham 82% dos nossos transportes marítimos, 67% dos aéreos externos, 100% da produção de veículos motorizados e de pneumáticos, 80% da indústria farmacêutica, 50% da indústria química, 59% da produção de máquinas, 90% da produção de cimento etc.

A transfusão de capitais externos para nossa economia era, contudo, cinco vezes menor do que a “hemorragia” causada pela remessa de lucros, juros, pagamento de licenças, assistência técnica etc. às matrizes das multinacionais.

A partir desse processo sempre crescente de descapitalização, o Brasil se veria obrigado a apelar constantemente para organismos financeiros internacionais, controlados em grande parte pelos USA, tais como FMI, BID, AIO, Eximbank etc., que imporiam ao Brasil, como condição para o empréstimo, a política de arrocho salarial e de desvalorização da moeda, a não destinação dos créditos à produção de artigos que concorram com os norte-americanos ou que sejam vendidos a países cuja economia os USA desejam boicotar, além de orientarem esses recursos segundo interesses diretos desse país.

Assim, grande parte desses empréstimos tem sido aplicada nas subsidiárias das multinacionais, em obras de infra-estrutura que favoreçam a sua instalação e a circulação de suas mercadorias, ou no financiamento de compras de produtos norteamericanos.
No que se refere à “transferência de tecnologia”, quando importamos know-how (conhecimento especial) estamos simplesmente obtendo uma licença ou autorização de uso da parte daquele que, na verdade, continua sendo o único detentor do saber tecnológico ou científico. Tanto é que no caso de introduzirmos alguns aperfeiçoamentos a esse saber, eles passam a ser propriedade do licenciador (exportador).

Os contratos de “transferência” em geral estabelecem não só um preço fixo pela licença concedida como também uma porcentagem sobre a venda dos produtos decorrentes da sua utilização e ainda a participação acionária do exportador no empreendimento. Não é raro que sejam impostas restrições de vendas a determinadas regiões e estabelecidos compromissos de compra de matéria-prima e componentes do licenciador.

É bom relembrar que muito da tecnologia exportada comumente já está superada no país de origem, embora seus preços de venda sejam sempre muito atuais.
Países desenvolvidos também importam know-how, mas gastam muito menos nisso do que investem em desenvolvimento de tecnologia nacional. Na América Latina, porém, esses investimentos são muitas vezes menores do que nos USA, por exemplo.

Condições bastante desiguais caracterizam também as relações comerciais do Brasil com os norte-americanos. O que importamos custa sempre mais e o que exportamos sempre menos do que os preços do mercado internacional, e, enquanto damos aos produtos dos USA tratamento preferencial em nossas alfândegas, os nossos encontram barreira naquele país.

Não é nada difícil perceber a ligação entre nossa miséria e a associação de interesses da nossa classe dominante com o imperialismo norte-americano. É a seu serviço que estão os enlatados culturais consumidos por nós e os meios de comunicação de massa que os veiculam e que ocultam informações que possam colocar em questão a validade do sistema capitalista e revelar os esquemas de dominação do imperialismo.

Por isso, não é raro que no Brasil se atribua a pobreza à corrupção política, à má escolha dos governantes, ao conformismo da população e a uma suposta incompetência do brasileiro para gerir o destino da nação. Na verdade, o que é mera consequência ou agravante passa a ser visto como causa dos problemas e desigualdades sociais.

Conforme dados apresentados pelo historiador Chico Alencar, em 1999, no Brasil havia apenas 4 milhões de internautas, ao mesmo tempo que, em média, 90 milhões de brasileiros assistiam à TV diariamente, menos de 20 milhões tinham o costume de pelo menos folhear jornais e menos de 10 milhões o hábito de ler livros sem ser por obrigação. Enquanto nos USA eram produzidos anualmente 11 livros per capita, a média em nosso país era de 2,4, incluindo nesse total os livros didáticos.

Nessas condições, evidentemente fica muito difícil desenvolver a consciência de que temos de defender o que é nosso. Contudo, e felizmente, difícil não significa impossível.

(Júlia Falivene Alves